Para conhecer um pouco da religião grega antiga e
do sistema religioso que o envolvia – inclusive sua mitologia – é inevitável
comparar com a nossa compreensão de fé e crenças.
Primeiro ponto: As fontes. Na religiosidade grega antiga, eles não
tinham um livro sagrado, ou compêndio (como os cristãos têm a Bíblia, ou
o Islã tem o Alcorão). Em geral
as suas crenças estavam baseadas nas narrativas e nos mitos contados desde os
antigos.
As principais fontes eram as obras de épicas de
Homero: Ilíada e Odisseia, e de Hesíodo: Teogonia e Os
Trabalhos e os Dias.
Mas, por volta do século II de nossa era, um autor
que ficou conhecido como Pseudo-Apolodoro se propôs reunir as distintas
narrativas em um único volume – ou sumário – que levou o título de Biblioteca
(em grego: Βιβλιοθήκη).
Assim, quero convidar para uma breve observação
(bastante breve!) sobre a religiosidade grega a partir das algumas palavras.
Religião – θρησκεία (no NT grego aparece somente em At 26:5;
Cl 2:18 e Tg 1:26-27).
O termo é usado desde os antigos para se referir à religião enquanto
sistema de culto, ritual ou liturgia; a forma exterior da manifestação
religiosa.
Deus – θεός e suas derivações: θεοί (plural) e θεά
(feminino). Deferentemente da ideia
cristã de um Deus, os gregos criam em diversos e distintos deuses que abarcavam
os vários aspectos da vida pessoal, social e política – eles eram politeístas.
A noção grega tratava como deuses tanto os seres que são relacionados a coisas
não físicas – sentimentos, sensações – como a coisas físicas – céu, terra,
oceano – e que influenciavam na vida, nas ações e no pensamento humano.
Basicamente, os seus deuses seriam as forças naturais, em forma e com hábitos,
virtudes e defeitos humanizados, porém superiores ao ser humano, dotados de personalidade,
vida e imortalidade.
Os relacionamentos, porém, entre os diversos deuses – e consequentemente os
seus cultos – por vezes eram conflitantes e por vezes cooperavam entre si.
Panteão – literalmente: πάν + θεός = todo + Deus. Assim, um lugar físico ou religioso onde se
concentravam e se referiam a todos os deuses.
A primeira referência no mundo grego a um panteão apareceu na cidade de Pérgamo
onde construíram um templo para abrigar todos os deuses cultuados.
Mito – μυθός (essa palavra aprece no NT grego em texto como 1Tm 4:7,
por exemplo). O mito seria uma narrativa
tradicional que tinha a função de explicar, ou justificar, a realidade que
circundava a vida humana e lhe dar sentido e orientação.
Os gregos levavam a sério seus mitos e as interpretações desses. Não pensavam como uma narrativa fantasiosa
que contava uma história inverídica e improvável.
Nesse sentido o mito para os gregos seria tanto a base de sua religiosidade e
culto, como o ponto de coesão da própria sociedade.
Oráculo – μαντείος (nessa forma é ausente no NT grego). Na antiguidade, se referia às fórmulas pelas
quais os sacerdotes, adivinhos ou outros agentes de cultos respondiam às questões
formuladas pelos fiéis.
Daí, os santuários onde tais diálogos entre divindades e seres humanos eram
facilitados.
As mais famosas portadoras de oráculos entre elas eram as pitonisas: sacerdotisas
do templo de Apolo no Monte Parnaso.
Santo – ἅγιος (bastante citado no NT grego. Por exemplo: 1Pe 1:16). O significado que os gregos atribuíam a essa
palavra se referia ao distinto, próprio, separado, diferente. Daí os lugares que, em meio a outras
edificações, eram designados aos deuses e as pessoas consagradas exclusivamente
a eles.
Sagrado – ιερός (esse adjetivo é citado no NT grego em 1Co 9:13 e em 2Tm
3:15). A origem do termo grego deve estar
ligada ao conceito daquilo que é a própria natureza das coisas em sua essência
e que “não se pode tocar” – daí o transcendente; que depois será atribuído às
divindades.
Esse termo estaria ligado a uma ideia mais geral e dispersa do espírito e
sentimento que move o ser humano ao contato com o sobrenatural e a reverência.
Consagrado – ὅσιος (no NT grego apenas em Hb 7:26 e Ap 15:4 / 16:5). Em geral implicando naquele – ou naquilo –
que era indicado ou sancionado por e para os deuses. Seria o aspecto mais palpável da
religiosidade, aquilo que o ser humano faz de concreto e objetivo e que lhe
torna aceitável para os ritos sagrados.
Assim, essa palavra está em contiguidade ao conceito de ética, moralidade e
conduta social.
Piedade – σέβεια. Para os gregos
seria aquilo que era feito na intenção das divindades. Daí: εὐσέβεια – as boas ações ou
piedade – e ἀσέβεια – as más ações ou impiedade.
Nesse conceito também o verbo venerar – σέβομαι – que seria o ato de
adoração ou serviço de culto propriamente dito.
⋇ Na imagem lá em cima: um frame da Ilíada –
Livro VIII, linhas 245-53, manuscrito grego, final do século V e começo do VI
(fonte: wikipedia.org).
⋇ Aproveitando.
Eu já publiquei aqui no Escrevinhando
alguns posts sobre a Grécia, sua cultura e religião. Veja uma relação aí:
⋇ A Palavra de Deus – Logos ou Rhema? – link
⋇ Amor em grego – link
⋇ As religiões de mistério na Grécia antiga – link
⋇ O Credo Apostólico – versão em língua grega – link
⋇ O culto cristão e a religiosidade grega – link
1ª parte / link
2ª parte
⋇ O mundo no Novo Testamento – link
⋇ Os deuses do Olimpo grego – link
⋇ Religião no Novo Testamento – link
⋇ Situando o Apocalipse – O final do 1º século cristão – link
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