terça-feira, 30 de janeiro de 2018

VIDA CRISTÃ E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA – resenha

Recebi no final do ano passado uma cópia do livro "VIDA CRISTÃ E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA: para não se enganar nas eleições" do mestre João Ferreira Santos – com direito a dedicatória e tudo. Sem dúvidas, eu me senti privilegiadíssimo.
Quanto ao autor: fui seu aluno no curso teológico no Recife lá pelos anos de oitenta e alguma coisa e desde então tenho reconhecido sua erudição e conhecimento bíblico-teológico e pastoral. Ou seja, ao ter o livro em mãos, antes mesmo de ler, eu já sabia que era coisa boa.
Então o li com a atenção e cuidado devidos. E digo: o estilo e a capacidade continuam dignos de nota.
Mas vamos deixar estas palavras introdutórias e falar do livro em si. Não quero aqui fazer uma resenha técnico acadêmica do texto; bem que merecia, inclusive para publicação em periódico especializado. Também não convém um discurso laudatório, pois seria desnecessário. Neste caso vou apenas fazer poucas observações para atiçar a vontade de ler.
O livro começa com algumas considerações preliminares sobre a religião e a política no tempo de Jesus e, a partir daí, qual foi a proposta do cristianismo e como ela de encaminhou até se confundir com o próprio Império Romano. Pensa também sobre as bases políticas que deram origem ao protestantismo para então considerar o desafio da participação política hoje.
O texto segue analisando o direito do voto como conquista da democracia, da agremiação partidária como conquista do estado moderno e da resistência como conquista da cidadania.
Bem, até aqui eu praticamente fiz apenas citar o sumario. Mas eis que chego ao capítulo cinco – a meu ver o mais importante: o direito à educação como uma necessidade política. Aqui está a tese principal da obra.
Com um bom embasamento teórico dos clássicos e de outros textos de reflexão moderna, João Ferreira entende que a única solução para o problema político que o Brasil se vê emaranhado atualmente é assumir um projeto sério e abrangente de educação política. E aqui entendido educação política como o processo de formação do caráter ético e moral dos que constituem a polis – a cidade (daí os termos: política, do grego, relativo à polis e cidadania, do latim, à cidade).
Mas deixe-me passar a palavra ao próprio professor. É inegável que o Brasil está em crise moral e institucional...

Ora, considerando o Brasil como o paciente, é necessário que se entenda que a enfermidade foi causada pelos próprios políticos, logo o remédio não pode proceder deles. Tomando como base a ideia platônica, o remédio vem da educação, mas no Brasil, a educação também está enferma, confundiu-se com doutrinação (p. 60).

Como resolver este dilema? Mais uma vez as palavras são do mestre:

Assim a educação política não deve ser entendida como a arte de fazer quem não quer querer, mas como a arte de fazer com que cada um descubra o que é legítimo querer.
(...)
Assim, o educador e o educando assumem, cada um a seu modo, a condição de sujeito do processo educativo. Com isso, a curiosidade ingênua se transforma em curiosidade epistêmica; a doutrinação se transforma em educação; a pedagogia do oprimido se transforma em pedagogia da autonomia; e a vontade de poder se transforma em vontade de saber (p. 95-96).

O livro, que foi publicado em 2016 mas continua relevante e atual, finaliza com valiosas dicas para não se enganar nas eleições. Sem sobra de dúvida ele é indispensável para quem quer pensar e entender o tempo presente e participar no projeto de um Brasil melhor e possível. Essa precisa ser uma nossa contribuição como cristãos neste mundo.


sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

ESTÁ CONSUMADO

Os últimos momentos de vida aqui na terra, Jesus os passou em tremenda agonia.  Sem dúvida, as horas na cruz, depois de ter experimentado o Getsêmani, passando pelos julgamentos e pela via crucis, levaram o Filho de Deus – na condição de homem – a sentir o ponto máximo de dor, sofrimento e humilhação que alguém pode passar.
Os evangelistas nos contam que no Calvário Jesus pronunciou apenas frases curtas porém de profundo significado.  A última delas é a convicção de que o ápice da história havia chegado: ESTÁ CONSUMADO! (leia em Jo 19:30).  Desta descrição de cena e da frase proferida pelo Mestre podemos extrair algumas verdades fundamentais à nossa fé.
A expressão final de Cristo na cruz soou a partir daquele monte nos arredores de Jerusalém e ecoou na eternidade.  "Está consumado" é a declaração final de Deus: eu fiz o que tinha que fazer!
Está consumado para o ser humano.  Em Jo 1:14 nós lemos que Cristo é a revelação da glória de Deus.  Tudo que Deus tinha para dizer aos homens e mulheres de toda a história está dito no Verbo que se fez carne.  Na cruz esta revelação do amor e do poder divino está completa. 
Mais ainda, ao ser humano a obra consumada de Cristo é o exemplo, modelo e padrão de vida submissa à vontade de Deus que nós devemos seguir (leia Ef 4:13).  Como servos de Deus temos que aprender a viver e morrer com Cristo para que venhamos a ressuscitar com ele (veja ainda 1Co 15:20).
Está consumado para Satanás.  O brado de Jesus é a exclamação de que a vitória está definitivamente ganha.  A batalha está finda pois Cristo já foi declarado vencedor (vá a 1Pe 3:18-22 e confirme que o próprio inferno ouviu de Cristo que a vitória está consumada).
Satanás ainda tem que saber que na vitória do Calvário o poder do pecado sobre as vidas humanas está terminado: ele não mais tem domínio sobre os que estão debaixo da graça (conforme diz Paulo em Rm 6:14).
Está consumado para Deus.  O Filho disse ao Pai que a missão estava completa.  Hb 9:22 alerta para a exigência de derramamento de sangue para satisfazer os desígnios eternos de Deus e na sua declaração Jesus está afirmando que Deus estava satisfeito com a obra do seu Filho.
O perdão, a salvação e a graça agora podem ser concedidos a todo aquele que crer pois a obra de Cristo para com Deus está consumada (tenha Ef 2:9-10 sempre em mente).
Diante de tão triunfante exclamação, devemos dar glórias a Deus pois desde agora e para toda a eternidade a obra poderosa de Deus está consumada através de Cristo Jesus no Calvário.   Louvemo-lo com todo fervor.

(De uma publicação feita no sítio ibsolnascente.blogspot.com em 20/10/2009)

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

DEUS FORTE


Conheço a música Deus Forte de Kleber Lucas já faz algum tempo, e continuo cantando com vibração e convicção.  Ela é uma boa declaração sobre quem é o Deus que a si mesmo revelou, a ele adoramos e diante do qual nos prostramos.
Mas, verdade seja dita, o repertório de língua hebraica que foi distribuído ao longo da canção é impressionante!
Então, para ajudar na compreensão dos atributos divinos listados, aí vai uma relação em resumo do que cantamos nesta música:

♫ Deus forte começando pelo título: é um dos nomes pelos quais o menino que haveria de nascer seria chamado em Is 9:6.

El-Shaddaido hebraico אל־שדי.  O Deus Todo-Poderoso.  Com tal atributo Deus se apresentou a Abrão em Gn 17:1.  Assim Jesus se apresenta na Revelação – leia Ap 1:8.

Adonaiformada a partir do hebraico אדון acrescido do pronome pessoal, daí: אדוני – meu Senhor.  Tido como expressão de respeito e reverência em relação (ou em substituição) ao nome de Deus – veja por exemplo em Ex 15:17 e 23:17.

♫ Maravilhoso Conselheirotambém no texto profético de Is 9:6.

♫ Príncipe da Pazsequência do mesmo texto profético de Is 9:6.

Yeshuaé uma forma hebraica do nome de Jesus (ישועה – também do patriarca Josué – Nm 13:16).  A partir do verbo ישע – salvar, ajudar.

Hamashia no hebraico המשיח (precedido de artigo): o ungido, o Messias, o Cristo.  O Sl 2 usa este termo para se referir ao enviado de Deus (leia também o Sl 20:6 e Dn 9:25).

♫ Emanuelnome que o anjo apresentou a José quando do nascimento de Jesus – confira Mt 1:23.  A forma grega (Ἐμμανουήλ) vem do hebraico significando: Deus conosco – em Is 7:14 (אל עמנו).

♫ Pastor de Israel o Sl 80 é uma oração ao Pastor de Israel.  Sobre o tema do pastoreio do Senhor, leia o Sl 23:1 e Jo 10:11.

♫ Guarda de Siãoembora essa expressão literal eu não encontre nas páginas bíblicas, o seu conteúdo é fácil de ser percebido.  O Sl 121:4 fala do guarda de Israel e o 127:1 reconhece que o Senhor é quem vigia a cidade.

♫ Estrela da Manhão próprio Jesus se apresenta como a resplandecente Estrela da Manhã em Ap 22:16.

Jirêhdepois do episódio do sacrifício de seu filho, Abraão nomeou o lugar da prova como Javé Jirêh – em hebraico יהוה יראה – o Senhor que providencia (Gn 22:14).

Shalomquando da vitória de Gideão frente aos midianitas, ele edificou um altar a Javé Shalom – em hebraico שלום יהוה – o Senhor é paz  (Jz 6:14).

Shamaho profeta Ezequiel encerra sua profecia confirmando a presença do Senhor na cidade restaurada: ela se chamará Javé Shamah – no hebraico שמה יהוה – o Senhor está aqui (Ez 48:35).

El ElionMelquisedeque é apresentado em Gn 14:18 como sacerdote do El Elion – o Deus Altíssimo (em hebraico עליון אל) e em seu nome abençoa Abrão.  Expressão similar pode ser encontrada no Sl 7:17.

Jeovahexpressão formada a partir do tetragrama sagrado que indica o nome santo e pessoal de Deus – יהוה (YHWH).

Rafa diante das águas amargas no êxodo, o Senhor prometeu que não traria nenhuma doença para os fieis filhos de Israel, pois ele é o Javé Rafa – em hebraico יהוה רפאך – o Senhor que cura (Ex 15:26).

Tsadiknua promessa de renovo feita por Deus a Israel é garantida pelo Javé Tsadiknu – em hebraico יהוה צדקנו – o Senhor é nossa justiça (Jr 23:6)   

Yahwehtambém expressão formada a partir do tetragrama sagrado que indica o nome santo e pessoal de Deus – יהוה (YHWH).  Aqui adequadamente compondo um termo único como visto no já citado Jr 23:6.

Elohimem hebraico: אלהים – Deus.  Assim, numa forma majestática e respeitosa.  O Deus criador e sustentador do universo (como em Gn 1:1).  O Deus acima de todos os deuses (em Dt 10:17).

♫ Meu Deus tudo governa – ao toque da sétima trombeta, as infindáveis vozes celestes cantarão triunfantes:

O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo,
e ele reinará para todo sempre.
(Ap 11:15)


sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

POSSO CRER NO AMANHÃ

Enquanto eu viver te bendirei,
E em teu nome levantarei as minhas mãos.
Sl 63:4

Terminei no último sábado de ler a autobiografia de Hélio Zampier Neto, o Neto, zagueiro da Chapecoense e sobrevivente do acidente aéreo que, no final de 2016, vitimou mais de setenta pessoas a caminho da Colômbia.
Quando vi numa entrevista que ele estava escrevendo um livro, logo entendi que sua leitura se mostraria indispensável. 
Sobre o livro, Leandro Castán, colega de profissão de Neto, assim o apresenta na contracapa: Posso crer no amanhã confirma o poder de um Deus que faz milagres e que continua a escrever lindas e marcantes histórias através de quem tem um relacionamento íntimo e uma vida dedicada a ele.
Então há pouco mais de um mês eu o encontrei na Livraria Shalom, do meu amigo Mangueira, aqui em Aracaju.  Com certeza trouxe uma cópia comigo.
Mas antes, comecei a leitura ainda na livraria.  Queria logo me jogar em todas aquelas páginas, mas a agenda pessoal e a correria retardaram a conclusão da leitura.  E aqui percebo uma cruel ironia: um livro que diz para se amar hoje, pedir perdão hoje, perdoar e aceitar perdão hoje, amar mais e ser mas feliz precisou ser trocado por compromissos burocráticos e rotineiros!
E aqui está exatamente a primeira lição da leitura.  O tempo hoje é uma dádiva e devemos valorizá-lo enquanto apenas esperamos o amanhã também como dom.
O livro.  Com certeza o relato é forte, impressionante, inspirador! E não poderia ser diferente.  Intercalando depoimentos de pessoas ligadas a ele e ao acidente com passagens da própria história e com reflexões e lições de vida que somente quem sobreviveu a uma tragédia aérea tem autoridade para apresentar, o livro não é piegas, mas é profundo, atual e relevante o suficiente para ser indicado como leitura indispensável para qualquer um, independente das preferências futebolísticas ou religiosas.
Neto conta no livro que depois de um início de carreira incerto – como a maioria das crianças brasileiras que sonham com o futebol – ele finalmente estava tendo a chance de se firmar como atleta profissional quando o avião que levava sua equipe para a final da Copa Sul-americana caiu e ele só chegou a ser resgatado ainda com vida horas depois do ocorrido.
Nas palavras do Dr.  Marcos Sonagli: o que manteve o Neto vivo foi um milagre, não há o que questionar.  Um homem de 2 metros de altura poderia ter sofrido muitos outros problemas irreversíveis, mas isso não aconteceu.
Confirmo: vale dedicar algum tempo nestas páginas.  São narrações como esta que indicam o verdadeiro caminho para se viver neste tempo e aguardar com tranquila fidelidade o amanhã.
Nas palavras do próprio Neto:
Literalmente noventas minutos definiram a minha vida – o primeiro e o segundo tempos juntos.  A minha grande final estava acontecendo.  Correndo mata adentro, mas, dessa vez, sendo defendido, não defendendo.  As forças eram mínimas.  Mas Deus é grande.  A minha comissão técnica tinha chegado a tempo.  Ele tinha ouvido a minha oração.


terça-feira, 16 de janeiro de 2018

O SENHOR JUSTIÇA NOSSA

Em toda a Bíblia o nosso Deus é conhecido por vários nomes.  Em cada novo aspecto de sua revelação, cada nova compreensão de sua infindável essência, um novo nome e atributo lhe era reconhecido.
Entre tais nomes e atributos, o profeta Jeremias o chamou de O Senhor Justiça Nossa (Jr 23:6).  Em outras palavras: o nosso Deus é absolutamente Justo.
Então, como observar esta justiça que define o Deus a quem hoje prestamos culto?
Numa visão rápida e inicial eu diria que a justiça perfeita de Deus pode ser percebida em diversos aspectos ainda do Antigo Testamento.  Veja por exemplo:
Um.  A justiça de Deus está em ter ele promulgado leis para seus povo (Lv 27:34).  Dois.  Está em tratar a todos por igual (Lv 19:15).  Três.  Está nas instruções quanto à equidade (Pv 11:1).  Ou quatro.  Está no fundamento das palavras proféticas (Am 5:24).
Mas, embora todas estas verdades sejam fundamentalmente bíblicas, não será por isso apenas que hoje quero reconhecer o meu Senhor como sendo a minha verdadeira justiça.  E para entender este que considero o principal argumento, vamos mais adiante.
Na Lei antiga, bênçãos e maldições haviam sido prescritas para homens e mulheres a partir da obediência ou não dos divinos ordenamentos (Dt 11:26-28).  Contudo ninguém foi capaz de se manter inocente diante de tais ditames (Rm 3:23).  Então as conseqüências seriam fatais, pois para que a justiça se fizesse era requerido o sangue (Rm 6:23 e Hb 9:22).
Mas Deus prova seu amor para conosco em ter enviado seu Filho (Rm 5:8).  No Filho de Deus toda a justiça da Lei é satisfeita.  No Unigênito Encarnado que se fez injusto está aplicada toda a nossa pena. 
Mas nele mesmo também se funde toda a manifestação da misericórdia e amor – ninguém tem maior amor que este!
Em Cristo Jesus está demonstrado todo o amor divino e sua justiça plena.  O Deus que é amor também é justiça nossa.
Por isso celebramos com júbilo ao Senhor; por que seu amor dura para sempre e a sua justiça é de geração em geração (Sl 100).

(A partir de um sermão pregado no culto de ação-de-graças pela formatura de meu filho André no curso de Bacharelado em Direito)