terça-feira, 28 de junho de 2011

Fruto do Espírito - AMABILIDADE

Continuando a tirar e saborear bagos na jaca do Espírito chegamos ao quinto elemento da relação apresentada por Paulo aos Gálatas: a amabilidade – ou na versão tradicional de Almeida: benignidade.  Com este bago chegamos àquela área em que os bagos naturalmente se misturam.  Mas isso não é estranho.  Quem já comeu jaca colocando a própria mão na fruta sabe que sempre há aqueles bagos que se ligam tanto uns aos outros que não se mostra possível particularizá-los.  Tudo bem: a gente os come assim mesmo!
Assim acontece com a amabilidade que é fruto do Espírito.  Talvez não seja possível identificar individualmente seus traços e limites, mas com certeza ele poderá ser percebido quando ligado a outros bagos.  Amor e paciência que já degustamos e bondade e mansidão que ainda nos aguardam nunca se desgrudam da benignidade e nem é fácil demarcar seus limites.
Bem, vamos tentar destrinchar um pouco o bago da amabilidade.  Antes, só relembrando: este é um fruto do Espírito que é processado espiritualmente em minha vida – desculpe a redundância, mas não tive como evitá-la.  Ele não é resultado de cultura ou educação e não se trata apenas de um jeito social de ser.  É algo que só acontece quando estou impregnado pelo Espírito.
O bago da jaca do Espírito caracterizado como amabilidade é a disposição do servo de Cristo em se portar de modo dócil, cordato e afável entre as pessoas – e isto vem do coração.  É um modo de viver e tratar as pessoas que as faz serem especiais (veja como é significativo o texto que antecede o hino cristológico em Fp 2:1-4).
É aqui também interessante lembrar que quem encarna tal amabilidade sabe que a verdade não é desculpa para a grosseria e nunca se esquece que a língua pode matar e dar a vida (veja Pv 18:21), logo, tem cuidado em dominar as suas palavras (veja ainda Tg 1:26).
Na mesma linha de raciocínio, outro aspecto do bago da benignidade é que ela me faz gentil, educado, cavalheiro.  Impregnado e influenciado ao extremo pelo Espírito em minha vida sou necessariamente levado a ter atitudes de agradável trato social.  E é claro que tais procedimentos tornam-se padrão em minha vida (considere Fp 1:27).
Convém frisar que imbuído de amabilidade, nos pequenos gestos e atitudes do convívio humano estou sempre impulsionado a tratar bem a todos (o texto de Gl 6:10 é tradicional).  Iniciativas como respeitar cabelos brancos, apoiar os com necessidades especiais, estender as mãos com sinceridades e, indicar rotas certas e seguras são apenas alguns exemplos do que se pode fazer.  Além de um sorriso espontâneo que sempre é bem vindo.
O Espírito que age em mim faz produzir frutos muito gostosos, e um deles com certeza é a amabilidade na interação com os outros.  Que este seja o meu padrão.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Fruto do Espírito - PACIÊNCIA

Penso que talvez um dos bagos mais necessários nos dias de hoje seja a paciência.  Na versão tradicional em português, Almeida traduz como longanimidade – termo cuja pronúncia já parece nos desafiar a paciência, não só por que para sair certo precisa ser lido devagarzinho, como também por que sempre soa como interminável.
Comparando à fruta, paciência – ou longanimidade – é aquela característica própria de deixar um grude ou visgo na mão e na boca depois de se comer um bocado (sim, eu sei que a mangaba seria um exemplo mais marcante, mas vou continuar com minha jaca, que também tem visgo!).  Quanto ao Espírito, é a capacidade de se esticar sem romper, esperar firme enquanto a tempestade passa, dobrar-se sem quebrar e depois de tudo ainda manter o gosto inconfundível na boca.
Como disse no início, penso que este bago da jaca do Espírito é indispensável para hoje.  Não é preciso argumentar que vivemos num mundo caótico, corrido e estressado.  Foi-se o tempo da conversa tranquila, do abraço demorado e das outras histórias.  A gente vive com pressa, agenda lotada, e sempre cercado de pessoas esbaforidas.  A vida está escoando por entre os dedos e o pior é que até nossas igrejas estão entrando neste círculo vicioso.  Haja paciência!
Mas quem já pegou na jaca do Espírito um dos seus bagos sabe como a paciência gruda nos dedos e na boca.  Realmente não é fácil se acabar com ela.  Fica ali e não tem como disfarçar.  Quem tem o Espírito de Deus está marcado pela longanimidade.  E aqui eu tomo duas palavras de Paulo para entender melhor como isso acontece.
Em Rm 12:12 ele exorta a que sejamos pacientes na tribulação.  Isso não é fácil, mas no Espírito acontece.  Some-se a isso a previsão de Jesus de que no mundo as aflições são inevitáveis (confira Jo 16:33) então teremos o quadro de que diante das agruras pelas quais passamos: doenças do corpo e do espírito como gemidos doídos, ausência insistente dos queridos a gritar sua solidão, o mês que sobra no fim do salário cuja contabilidade insiste em não harmonizar necessidade com realização – além daquele chato que teima em sempre aparecer; diante disto só a paciência da jaca do Espírito para nos manter saudáveis e viçosos.
Mas há outra citação paulina.  Em Rm 5:3-4 o apóstolo diz que toda esta aporrinhação pós-moderna, quando temperada com o amor de Deus derramado em nós, haverá de produzir uma paciência esperançosa que não nos decepciona.  É no meio de todo este turbilhão da vida que me atravessa onde eu posso confiar naquele que deixa o Espírito como penhor da minha herança (importante a citação de Ef 1:13-14).   Aqui sou realmente marcado pelo bago de jaca tornando-me inabalável.
Que eu e você sejamos inquebráveis diante desta vida louca, longânimes e pacientes como é próprio da jaca de Espírito que marca a alma e a história.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

EXPERIMENTA

No último domingo lá na PIBA ouvindo o testemunho do Isaías sobre as bênçãos de ser fiel na mordomia ao Senhor me ocorreu uma possibilidade de leitura do texto profético de Ml 3:10 – "seja fiel em sua celebração ao Senhor no templo e depois experimente o que ele pode fazer em sua vida".
Antes, porém, algumas considerações iniciais.  Em primeiro lugar a ideia não é realmente nova, ela já havia me ocorrido antes, mas só agora resolvi deixá-la germinar em minha mente.  Segundo, também não tomei cuidado com as implicações linguísticas ou exegéticas nestas reflexões – os hebraístas que me perdoem – mas alguns conceitos passeiam pela minha cabeça sem nenhuma preocupação com agendas.  E terceiro, também não me cobrem um esboço homileticamente estruturado: são apenas ideias fluindo que compartilho aqui com vocês.
A expressão que saltou aos meus ouvidos foi "fazei prova", daí experimente.  Passei a semana me imaginando diante de um grande balcão de bufet de sorveteria e o Senhor em dizendo: a taça toda de sorvete você só vai tomar depois, mas vá logo experimentando – tirando um naco, dando uma beliscada, filando um bocadinho – de cada um dos sabores que temos aqui para ir acostumando a boca com o sabor.
É claro que esta ideia fica mais relevante quando o contexto é o calor significativo do nordeste brasileiro.  Quando o sol aquece esta terra por todos os lados, pouca coisa é tão convidativa quando um bom sorvete: gelado e saboroso.  Assim é Deus, sempre tem o refrigério em tempos de calor sufocante (é o que a gente lê no Sl 23:3).
E mais, o próprio Senhor é o dono da sorveteria.  E é ele mesmo quem convida: eu sei que sua vida está derretendo e eu tenho um sorvete especial para você.  Venha experimentar.
Agora, falando francamente, esta é uma dúvida deliciosa: qual sabor vou escolher?  Deus provoca isso em mim!  E sabe mais de uma coisa?  Já andei por alguns lugares do mundo, mas em nenhum há tanta variedade e tantos sabores diferenciados como por aqui.  Tem sorvete de tudo o que é tipo: menta com coco, abacaxi com hortelã, mangaba com chocolate, cupuaçu com goiaba, doce de leite com limão, banana caramelizada com tamarindo...  E Deus continua dizendo, eu tenho muito mais para você, mas por hora, vai experimentando destes daí.
Esta cena ainda me parece com alguns acordes de uma música de Bach, ou alguns verso de Gregório de Matos, ou ainda fragmentos de crônicas de Veríssimo, ou algumas matizes de da Vinci, ou um trailer do Almodóvar, ou um test drive numa Ferrari; só atiçam a vontade de mais.  Deus, da mesma maneira, diante do balcão da sorveteria está sempre me dizendo que não há como pagar pelo indescritível prazer que me aguarda e por enquanto é só uma pequena antecipação para aguçar os sentidos (creio que não desvirtuo Paulo citando Rm 8:18 aqui).
Mas falando sério – não que isto dito até aqui não tivesse seu quê de seriedade diante das promessas divinas – devo observar que não me parece que o profeta está falando de uma relação exata de causa e consequência, do tipo: traga a oferta que eu lhe dou o sorvete.  Deus não faz assim.  Pelo contrário, em Jesus toda a sorveteria já está quitada e o convite é feito para que eu possa desfrutar do privilégio de ser ofertante enquanto experimento das delícias dos sorvetes divinos.
E aí, quer experimentar?

terça-feira, 14 de junho de 2011

Fruto do Espírito - PAZ

A paz é o terceiro bago da jaca que Paulo retira da fruta e me oferece para saborear.  Pensar na paz hoje é citar assuntos palpitantes que estão na ordem do dia dos governos, organismos internacionais e instituições sérias preocupadas com o futuro do planeta: as revoltas do mundo árabe, conflitos na Palestina, narcotraficantes, Al Qaeda, ecologia, racismo etc... 
Realmente, embora tudo isso até faça sentido e seja importante, não os quero discutir agora.  O apóstolo também poderia considerar estes temas, mas me parece que ele está compartilhando um fruto mais particular e internalizado.
Seguindo esta linha de raciocínio, duas citações que os evangelhos fazem de Jesus me sobressaem naturalmente e para os quais eu quero chamar a sua atenção nesta reflexão sobre o fruto do Espírito caracterizado como paz.  João cita: "Deixo-vos a paz" (em Jo 14:27), e Mateus: "Bem-aventurados os pacificadores" (em Mt 5:9).
Quando Jesus, já em seus últimos discursos, anunciou que sobre seus seguidores estaria deixando a sua paz, ele estava disponibilizando algo que era próprio de sua natureza (lembre que ele foi anunciado como Príncipe da Paz em Is 9:6).  É o próprio Jesus quem explica: a paz que ele estava incutindo era a sua paz, como uma característica marcante e peculiar, não uma paz bélica ou forçada – como faziam os romanos – ou como daqueles que a procuram preparando-se para a guerra; mas a paz dos que não se perturbam nem têm medo, a paz dos desarmados, a paz dos que são simplesmente pacificadores.
Antes, contudo de falar nos pacificadores, deixe-me mexer na jaca.  A paz do Espírito na vida do crente é como o gosto da jaca que é próprio e inconfundível em qualquer dos seus bagos.  Não é preciso lhe acrescentar nada, nem açúcar, nem corante ou outro qualquer aditivo.  O seu gosto está ali, bastar saborear.  A paz está ali, basta experimentar.
Voltemos aos pacificadores.  Jesus afirmou que eles serão reconhecidos como filhos de Deus.  Por trazerem no seu íntimo a essência da verdadeira paz, característica intrínseca da fruta, e, como ela, espalharem seu sabor próprio onde andam, tais pessoas são sim portadoras de um DNA próprio de Deus. 
Como o bago da jaca: ela é o que é e tem o gosto único que tem porque nasceu e frutificou assim.  Está na sua programação biológica.  Como fruta saudável ela não pode negar a ser o que é. Basta deixar-se amadurecer e impregnar os que o rodeiam com suas características.
Agora, depois que a paz, como o gosto da jaca, já me determinou por dentro, como recebedor e herdeiro da graciosa paz com a qual Jesus me forjou; então agora eu até posso pensar e trabalhar pela paz nas revoltas do mundo árabe, conflitos na Palestina, narcotraficantes, Al Qaeda, ecologia, racismo etc...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A SIÃO NA QUAL DEUS HABITA

Mexendo em alguns papeis antigos, encontrei um esboço da mensagem que preguei na aula de homilética no tempo de seminarista ainda lá em Recife (isso lá pelos anos de 1988, se não estiver enganado, e a nota que recebi por ele agora já não interessa mais).  O tema é sobre "a Sião na qual Deus habita" baseado na profecia de Zacarias (Zc 8:1-6).  Agora, passado todo este tempo, e tendo em mãos apenas o esboço com poucas referências – como continuo fazendo meus esboços – quero retomá-lo neste espaço.
Zacarias foi um profeta da reconstrução.  Ele trabalhou no final do exílio babilônico (século V a.C.) e sua mensagem consistiu num chamado ao arrependimento e um novo despertamento para a reedificação nacional baseada em níveis mais justos e santos.  Com esta configuração, Zacarias profetizou sobre tempos sombrios, crises, insuficiência humana, mas principalmente sobre esperança e confiança na obra do Senhor: quando o mundo se desconstroi, é preciso manter a esperança de que o Senhor vai intervir.  Ele vai estabelecer uma cidade nova, a Sião na qual Deus habita.
1. Esta cidade leva os atributos divinos (Lv 26:12).  É uma cidade fiel ou cidade da verdade (verso três) – o Deus verdadeiro e digno de nossa confiança imprime na cidade seu senso de justiça e equidade (Am 5:24).  Também é um monte santo / sagrado (ainda verso três) – Ele mesmo exige e gera santidade no lugar onde habita (Lv 11:45).
2. A cidade será habitada por novos moradores (diferencie de Lm 1:1).  Lá há velhos e velhas (verso quatro) – por causa da sua muita idade eles se sentam prazerosamente nas praças apenas para conversar e narrar as bênçãos do passado.  Novamente haverá meninos e meninas (verso cinco) – crianças que brincam e criam uma nova realidade com seus folguedos (Mt 18:3).
3. Isto será realização da graça e não resultado das obras ou da Lei (importante lembrar que ainda estamos no AT).  Impossível aos homens (verso seis) – a cruel impotência dos sonhos dos remanescentes.  Possível a Deus (também verso seis) – é resultado da graça, dom, dádiva e presente de Deus (Lc 18:27).
Igualmente quando nos deparamos com este tempo presente e ainda nele, a concretização do Reino de Deus que almejamos já começa a despontar (Rm 8:23).  Ele só será inteiramente real no futuro, mas eu já vivo hoje com se o tocasse.  Por isso já gozo suas delícias.  É como a mulher grávida: embora ela só poderá ter seu filho nos braços e embalá-lo no futuro, ela já pode agora antecipar suas alegrias.

Neste esboço simples – acrescentei apenas algumas palavras para fazer as frases mais fluidas e legíveis – quero deixar minha oração que o Senhor nos faça a cada dia mais grávidos do seu Reino.  Para a glória dele.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Fruto do Espírito - ALEGRIA

Paulo estava prova-velmente preso quando escreveu aos filipenses.  Naquela situação, nada sugeria que ele estivesse em condições de demonstrar alegria.  A verdade, contudo, é que não há outra carta como aquela no NT.  Ainda hoje, quando leio seu texto, me sinto contagiado por aquela alegria que tomou conta do apóstolo e isso me traz de volta à jaca do Espírito, já que um dos seus bagos é a alegria.
Penso que com certeza Paulo concordaria comigo que gostoso mesmo é sentar com amigos debaixo da sombra de uma jaqueira e ir tirando um a um os bagos enquanto lenta e suavemente o fim-de-tarde – a viração do dia – vai se enchendo da doçura da fruta.
Mas eu também concordo que esta cena tem se tornado cada vez mais improvável em nosso cotidiano.  Falta-nos a sombra da jaqueira, os amigos se contam nos dedos, os ventos da tarde foram trocados pelo ar condicionado e o tempo livre de fruição está rareando em nossas agendas.
Então é exatamente para este tempo que a carta aos filipenses me faz atentar para o valor e a realidade do fruto do Espírito em minha vida.  Mesmo preso em um pote plástico na geladeira, jaca é jaca.  Era isso que Paulo estava apresentando aos crentes de Filipos.  Veja comigo como a alegria de Paulo é jaca do Espírito.
Um bago de jaca traz todas as marcas essenciais da fruta por que as recebeu da árvore (relembre as palavras de Jesus em Jo 15).  O crente produz aquilo para o qual ele foi geneticamente programado nutrido para ser.  A alegria como bago da jaca do Espírito é aquilo que se desenvolve em mim, independente das circunstâncias.
A jaca também é altamente contagiante – já falei isso quando apresentei a jaca como modelo do fruto do Espírito.    O próprio Paulo vivenciou isso quando, em outra ocasião, também preso ele cantava na companhia de Silas e os demais encarcerados os ouviam (leia em At 16:25).  É deste jeito que o fruto do Espírito se desenvolve: primeiro me inunda com seu cheiro e visgo e depois contagia os que estão ao meu redor.
E depois disso a jaca ainda deixa as suas marcas impregnadas na minha vida.  Além das lembranças do tempo gostoso que desfrutei debaixo da jaqueira – e isso já é bom por si só – algo da fruta ainda tratei comigo por algum tempo.  Foi isso que o Sinédrio constatou em Pedro e João: as marcas de Jesus estavam impregnadas neles de tal maneira que não podiam disfarçar que estiveram com o Mestre (a constatação está citada em At 4:13).
Essencial, contagiante e marcante.  Que eu possa trazer em minha vida uma alegria assim, fruto saboroso do Espírito.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

ACUMULADORES



Esta semana assistindo televisão, deparei-me com um programa intitulado "Acumuladores" no canal Discovery.  Durante o episódio são mostrados três casos de pessoas que por razões distintas passaram a acumular objetos de todos os tipos em suas casas chegando a ponto de apresentarem problemas sociais.
No programa, os três casos vão sendo descritos em paralelo mostrando a que situação chegaram as pessoas por não conseguirem se desfazer de coisas que guardam, acumulando até não ser mais possível sequer entrar, caminhar, sentar ou fazer qualquer outra atividade com um mínimo de conforto e dignidade.
Ainda ao longo da apresentação, os casos vão sendo analisados buscando as razões psicológicas que os levaram àquela situação, os desdobramentos familiares e sociais e como um profissional da psicologia os estavam ajudando. Concluindo com o encaminhamento de cura para cada um.
Não desconsidero as razões históricas, sociais e psicológicas implícitas nos casos citados, mas não são elas que me interessam aqui.  Creio que já deu para perceber que minha cabeça, mesmo do cotidiano, funciona teologicamente.  Então, é claro que diante da televisão, assim funcionaram as minhas engrenagens mentais.  Para mim transpareceu de maneira nítida que, mesmo sendo extremos patológicos, mas aqueles casos se mostraram como paradigmas perfeitos do mundo e da sociedade em que vivemos – estamos em um mundo de acumuladores.
Jesus já havia previsto que a acumulação seria um problema para os seus discípulos.  No Sermão do Monte ele apresentou o problema sob dois ângulos complementares (leia em Mt 6:19-24).  Em primeiro lugar que a acumulação de tesouros materiais está condenada ao fracasso vital – além de entupir e juntar traças no coração.
Uma sociedade como a nossa que estimula o consumo e a acumulação de bens como demonstração de sucesso, prosperidade e felicidade – é curioso como já não somos cidadão, mas consumidores – é uma sociedade estrutural e essencialmente doente pois tem colocado seu objetivo de existência (coração) em bens perecíveis e que não satisfazem.  Daí a necessidade de se acumular cada vez mais e nunca se satisfazer.
Seguindo o argumento de Cristo, ninguém pode buscar os tesouros da terra e labutar ao mesmo tempo pelos que não perecem, pois há de se dedicar a um e desprezar o outro.  Literalmente: "vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro" (no verso 24).  Com o padrão de vida acumulador, o grande deus a quem se dobra a sociedade acumuladora é o dinheiro, prestando-lhe culto, fazendo oferendas e comprometendo até a alma com este tirano.
E ainda há cristãos que se propõem a estas esparrelas (considere Rm 12:2).
Sei que vivemos numa geração de acumuladores – e alguns realmente doentes e compulsivos.  Não quero aqui julgar ninguém, e nem tenho este direito, mas seguindo as instruções do Mestre, tenho que, antes de tudo, olhar para mim mesmo e refletir que se valorizo a acumulação de bens materiais e perecíveis como os valores deste tempo presente estou mais que com problemas sociais e psicológicos, estou em pecado (é o 1º mandamento em Êx 20:3). 
Que o Senhor livre a minha alma da acumulação terrena.