terça-feira, 30 de setembro de 2014

Uma Visão dos Salmos de Lamento nas Encruzilhadas Humanas – 2ª parte

O Livro do Saltério tem sido visto quase que com unanimidade como o cancioneiro do templo – em especial do segundo templo – mas deve ter tido as suas principais raízes no império davídico.  Como tal tem sido tratado como material canônico por ser a expressão da voz daquele que ora diante de Deus, para e por ele.  Como tal, este livro é a obra completa de referência para todo ser humano, em todos os tempos e em todas as situações que queira está cultuando a Deus.  Assim o Livro dos Salmos é o verdadeiro manual do culto judaico tendo sido herdado pelos cristãos primitivos e estendendo-se para toda a cristandade também como perfeito instrumento litúrgico.
Como material completo, ele traz no seu bojo elementos suficientes para que o orante possa expressar-se fiel e completamente ao seu Senhor.  Na oração com os Salmos o fiel pode fazer suas as palavras divinas ali descritas e assim apresentar um culto completo a Deus. 
Entre as diversas situações que o ser humano vivencia – e em especial homens e mulheres neste contexto de pós-modernidade – está a angústia e ansiedade de se saber finito e saber que o mundo ao seu redor lhe é bastante adverso não podendo esperar das circunstâncias dadas nada que possa lhe conferir alento.  É exatamente aqui que os chamados Salmos de Lamento – ou de desorientação – se mostram com a adequada voz do orante para apresentar suas queixas diante da divindade.  Quando a situação exige que ele reclame ao invés de apenas louvar e agradecer pelas benesses, então os Salmos de Lamento são a perfeita voz para se falar com Deus. 
Nos salmos também ouvimos a própria voz de Cristo que ora e canta aquelas palavras, então os Salmos de Lamento são a voz do Cristo que sofre com o seu povo, como comunidade fiel, e sofre com o seu servo, como filho querido.  Orar com os Salmos de Lamento é dar vazão à voz de Cristo que se compadece dos seus e como eles canta.
Os Salmos de Lamento como voz do Cristo que sofre e compartilha da angústia e ansiedade permite que se questione a Deus sobre até quando as situações permanecerão inalteradas afligindo os fieis e, questionando assim, reafirma-se a fé e esperança em um Deus que firmou um pacto que, independentemente do caos que gera uma ansiedade típica da pós-modernidade, sempre reafirmará a sua companhia inigualável junto com o seu povo; seja qual for a situação.





Você pode ler um ensaio completo sobre "U
ma Visão dos Salmos de Lamento nas Encruzilhadas Humanas" no livro: ENSAIOS TEOLÓGICOS

Disponível no:

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Uma Visão dos Salmos de Lamento nas Encruzilhadas Humanas – 1ª parte

Por volta do século X a.C. o império davídico-salomônico construiu em Jerusalém não apenas uma das estruturas arquitetônicas mais belas da história – considerada uma das sete maravilhas do mundo antigo – mas deu a ela uma vitalidade e visibilidade nunca dantes observada na fé judaica.  O chamado Templo de Salomão, com certeza, foi uma construção imponente nas dimensões e na riqueza e luxo do seu acabamento; mas a grande obra foi certamente a estruturação e organização do culto ali desenvolvida.  A ordem cultual estabelecida em torno da edificação de Jerusalém é a grande contribuição para a liturgia e para teologia no período.
Entre esta estruturação e contribuição, sem dúvida, uma das mais significativas é a formação da tradição do Saltério.  Mais do que um simples livro a compor a tradição canônica dos hebreus, o Livro dos Salmos é um manual de culto, liturgia e devoção que os fiéis judeus reconhecem oriundo da tradição davídica e que foi cultivado como parte importante de vida e fé.  Assim, estudar os Salmos é se debruçar sobre aquilo que foi importante na crença e percepção de vida dos judeus e que foi legado posteriormente aos cristãos, sendo incorporado como uma das riquezas herdadas e transmitidas de geração em geração como instrumento fundamental e central para o culto tanto dos judeus como dos cristãos.
Compreendendo os Salmos como a expressão da fé e da vida de judeus e cristãos, então é certo afirmar que cada um dos diversos aspectos da vida humana deve estar expresso e cantado no Saltério.  E compreendendo também que o texto foi herdado e citado como expressão fiel e atual do texto sagrado então também deve ser certo afirmar que para o ser humano de hoje as palavras expressas nos Salmos ainda lhes servem como expressão de sua voz nas suas manifestações cúlticas.  Assim, temos Salmos de louvor e gratidão, regozijo e júbilo; mas também Salmos de dor e lamento, arrependimento e solidão.
Nesta visão, podemos afirmar que o texto bíblico do Saltério é completo e atual.  Completo porque nenhum dos aspectos da vida humana está ausente na forma canônica recebida do texto e porque geográfica e historicamente todos os homens e mulheres podem se ver, cantar e orar nas palavras dos Salmos bíblicos.  Atual porque a vitalidade que fez surgir os textos ainda se pode perceber nos versos e porque tem e continua tendo respostas às perguntas e inquietações humanas hodiernas, como teve no momento em que foram escritas.  Ou seja, colocar os olhos nos Salmos ainda é hoje a melhor maneira de se chegar a alma humana e observar como ela se manifesta e dialoga culticamente com o seu Deus.
Entre estes temas que sempre estiveram na agenda humana e que hoje ganha espaço significativo e distinto com as mudanças e contradições pontuadas neste início de século – como esteve presente em todo o momento da história humana – é o tema da dor e da adversidade.  A vida humana sempre esteve diante da adversidade e hoje as condições de vida e o estilo dito pós-moderno tem infligido em homens e mulheres situações e condições em que a expectativa por satisfações favoráveis é lhe apresentadas como imperativas o que então gera uma frustração e desgosto bem próprio da vida hodierna.





Você pode ler um ensaio completo sobre "U
ma Visão dos Salmos de Lamento nas Encruzilhadas Humanas" no livro: ENSAIOS TEOLÓGICOS

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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

PIBA CELEBRA 101 ANOS

Nesta sexta-feira (dia 19/09) a nossa querida Primeira Igreja Batista de Aracaju – PIBA está celebrando 101 anos de fundação.  Depois das grandes festividades do nosso centenário que foi comemorado no ano passado, este ano a celebração é pelo primeiro aaniversário no pós-centenário.  E que data gostosa é esta para fazer festa!
Em consideração a esta data transcrevo aqui um pouco do que é a nossa igreja hoje.  Os parágrafos a seguir eu retirei do sítio oficial da Igreja (http://www.pibasergipe.com).


A PIBA –

A Primeira Igreja Batista de Aracaju (PIBA) é considerada a igreja precursora da denominação Batista no Estado de Sergipe.  Fundada em 19 de setembro de 1913, a PIBA completou um século de proclamação cristã no ano de 2013.  Com claros propósitos de ser uma fonte proclamadora do Evangelho de Jesus Cristo a igreja centenária continua a avançar nos trabalhos missionários.
Os primeiros cultos eram celebrados em uma humilde casa, situada à Rua São Cristóvão.  Sem sede fixa, a PIBA passou por diversas ruas como Simão Dias, Arauá, Divina Pastora, Santo Amaro, Geru e Maruim, até chegar à Rua Lagarto.  Hoje, a igreja conta com 1.127 membros, 5 congregações, 2 projetos sócio-evangelísticos e um total de 28 igrejas formadas.
A Primeira Igreja Batista de Aracaju é composta por ministérios, organizações e departamentos que promovem ações, lançam campanhas e motivam a membresia.  Programa de assistência a idosos, reforço escolar, campanhas missionárias, organização de retiros espirituais, conferências evangelísticas e ensino da Palavra evidenciam o compromisso e fidelidade que esta igreja tem a Deus. 
Ao longo dos anos a PIBA passou por diversas mudanças.  Diante da pós-modernidade precisou avançar.  Inserida nas redes sociais tem anunciado a Palavra de Deus e mobilizado os crentes a falar de Cristo Jesus.  Assim, perpetua até hoje, os claros propósitos de ser uma igreja proclamadora do evangelho de Cristo Jesus.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

NÃO SEI, MAS...

Não sei por que Deus me fez livre, mesmo sabendo que eu iria pecar.  No inicio de Gênesis encontro a minha história, mesmo que os nomes das personagens sejam Adão e Eva.  Nessa narrativa aprendo que escolhi me afastar de Deus.  Nela, Adão põe a culpa em sua mulher por ter fracassado.  Presciente, Deus já sabia que nós iríamos pecar.  Assim mesmo, nos dotou de uma liberdade radical.  Por quê? Não sei, mas sei que aprecio a minha liberdade porque ela me torna à imagem e semelhança de Deus.  Quando errar, não quero fazer o mesmo que Adão e Eva, pondo a culpa em Deus.  Não porei a culpa nos meus ancestrais.  Contudo, de uma coisa eu sei e me basta: Deus apostou e aposta em nós.
Não sei por que Deus permite o sofrimento meu e dos outros, especialmente das crianças.  Entendo que alguns sofrimentos são realmente humanos, decorrendo de sua liberdade e suas consequências.  Não consigo ver, no entanto, a ação humana no sofrimento de nascença, na tragédia sem causas descobertas.  Contudo, eu sei que Deus está com os que sofrem como esteve com Jesus durante a sua execução.  Deus não explica o sofrimento, ele sofre conosco.  Que deus faz isso? Isso me basta!
Não sei por que pelo sacrifício de Jesus o meu pecado foi perdoado, mas sei que foi.  Não sei como será a vida no céu.  Leio todas as descrições bíblicas sobre o céu e me encanto com tanta poesia.  Lamento e agradeço que Paulo não ofereça seu relato da viagem que fez até o terceiro céu.  Aprendo com sua recusa a não especular porque quando especulo, encho-me com resultados da minha imaginação, quando devo me contentar com a revelação.  Sobretudo, eu sei que minha vaga (eu não teria uma palavra menos humana?) no céu está reservada.  É para lá que eu vou, não sei se ex-vivo ou ex-morto, não sei em que meio de transporte.  E para que saber?

(Texto escrito pelo Pastor Israel Belo de Azevedo – Igreja Batista Itacuruçá / RJ. 
Publicado originalmente em
O Jornal Batista – Ano CXIV / Edição 34 / 24.08.2014)

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A PEDRA NO MEIO DO CAMINHO

O texto de 1Sm 7:12 narra que o profeta Samuel, tendo subjugado os filisteus em Mispá, ergueu uma pedra de testemunho e a chamou de Ebenézer, dizendo: "Até aqui o Senhor nos ajudou".  Aquele era um momento singular na vida pessoal e no transcorrer da história nacional de Israel. O sacerdote Eli já havia morrido; a Arca da Aliança que fora tomada, com o líder Samuel à frente, retornara ao seu lugar; e a vitória contra seus inimigos fechava um ciclo.  Logo depois Israel pediria um rei e a história prosseguiria.
Mas o que me interessa hoje é a pedra.  Ela é um marco.  Foi colocada ali com um propósito.  E hoje, onde estão e quais são as nossas pedras?  E mais: o que a pedra de Ebenézer tem a me ensinar sobre a atitude de Samuel?  Creio que posso buscar respostas em dois planos: no horizontal e no vertical.
Olhando Ebenézer pela linha do horizonte, num plano bem humano, aquela pedra deveria representar para os filhos de Israel um importante monumento histórico.  Com ela Samuel estava ensinando a sempre manter a vista também no passado, ou seja, a ler a história, pois ela é importante.
Nos relatos bíblicos muitas vezes os herois da fé assim fizeram (o próprio texto de Hb 11 é uma excelente resenha histórica que trata de tais herois).  Poderia citar Josué sua na despedida (Js 23), ou o profeta Ezequiel ao lembrar os pecados nacionais (Ez 20).  No NT o bom exemplo vem de Estêvão em sua defesa (At 7) que a partir da narração da história de Israel, fez a aplicação devida.
Neste mesmo plano, a pedra é ainda o registro do testemunho daquilo que o Senhor fez, para que tais intervenções sejam anunciadas às próximas gerações.  Um monumento estrategicamente colocado é um recurso válido de divulgação de uma mensagem.
Depois de repetir as Leis ditadas pelo Senhor, Moisés no Deuteronômio enfatizou para que além do coração, aquelas palavras deveriam estar amarradas fisicamente nos braços e na testa e fixadas nos batentes e portais de cada casa (Dt 6:8-9).  O testemunho de Deus precisa ser visivelmente divulgado, ocupar espaços e ser constantemente lembrado (acrescente aqui a ordem do registro em Ap 21:5).
Olhando Ebenézer num ângulo em que ela aponta para o alto, verticalmente: aquela pedra era o reconhecimento de que tudo o que aconteceu a Israel era por ação do Senhor.  Todas as vitórias e conquistas, a terra em paz e a ordem estabelecida eram dádivas divinas.
Anos depois, Davi soube bem cantar esta certeza de fé quando declarou que se não tivesse sido o Senhor intervindo em sua história, há muito já teria sido engolido pelos seus inimigos (leia o Sl 124).
Deste ponto de vista, ainda resta algo que a presença da pedra naquele lugar trazia para o povo e que também deve trazer para nós.  Ela esteve não somente no meio da história e do caminho onde Israel tinha que passar, ela também apontava para cima.  Olhá-la seria como ser chamado a encarar o Senhor e os compromissos com ele (penso que Am 4:12 vai neste sentido). 
Ebenézer para mim hoje é a pedra no meio do caminho que me desafia ter e manter um tempo reservado exclusivamente para a aliança e a busca sincera pelo Senhor.  Não há como evitá-la.  Entre lutas a serem travadas e vitórias a serem conquistadas; entre idas e vindas de cada história pessoal e familiar; por entre o caminhar da igreja e da sociedade será sempre preciso reservar um tempo e um lugar para o Senhor.
Que o Senhor me faça colocar uma pedra assim no meio do meu caminho.  Para a glória dele.

(Publiquei esta reflexão em 30/12/ 2010 no sítio ibsolnascente.blogspot.com)

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Parábola das coisas – O PÃO JACÓ



Todo sergipano que se preze sabe que na padaria se compra é pão Jacó.  Sei que por aí a fora ele tem nomes variados e também, para falar a verdade, já ouvi muitas histórias sobre a origem deste nome especificamente nosso, mas não vou cuidar disso por agora.  O que importa é que por aqui se conhece diversos pães: cilindro, doce, carrapicho, de forma, e outros.  Contudo, o pão nosso de cada dia é o pão Jacó.
Quando qualquer mãe daqui diz para o filho:
— Menino, vá na padaria e me traga meia dúzia de pão.
Com certeza ela está pensando no inigualável pão Jacó.  O mais é agregado, ou variação.
Com ele tudo vai bem.  Parta-o e coloque manteiga, margarina, queijo, tomate, salame, patê, carne, presunto, molho de frango, requeijão, alface. Ou então geléia, doce de leite, goiabada... Ou nada disso, já que ele é uma delícia até puro! Para acompanhá-lo pode ser chá mate gelado, café, suco de qualquer coisa, chá quente, refrigerante, leite, iogurte e mais o que tiver.
Algumas poucas moedas já são suficientes para se voltar da padaria com pelo menos um pão Jacó ('tá certo! Vou concordar que cada dia ele fica mais caro!).  Mas ainda é alimento encontrado na mesa do rico e do pobre.  Come dele a empregada e a patroa, o peão e o engenheiro e toda criança aprende a gostar dele desde cedo.
Pode ser comido no café-da-manhã ou no jantar, mas também não pode ser esquecido em nenhum outro momento em que a barriga acusa.  Ele é bom a toda hora.
A versatilidade do pão é tanta que se poderia escrever diversas laudas sobre ele.  Não vou fazer isso.  Apenas tomá-lo como parábola.  E para isso quero me lembrar das palavras de Jesus Cristo.  Ele declarou: Eu sou o pão da vida.  Aquele que vem a mim nunca terá fome (leia em Jo 6:35).
Ora, o que eu sei é que se o próprio Jesus estivesse andando pelas ruas de Aracaju enquanto pregava sua mensagem e se apresentava aos seus discípulos ele teria dito: eu sou igualzinho a pão Jacó.  Todo mundo e qualquer um pode vir a mim e a ninguém eu me nego.  A todos ofereço alimento para a alma.  O rico e o pobre, a empregada e a patroa, o peão e o engenheiro e toda criança deveria aprender a gostar de mim desde cedo.
O mais é agregado, ou variação.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

DO SENHOR É A TERRA

Estamos chegando ao momento das decisões eleitorais.  Por opção ministerial, tenho me mantido em silêncio durante todo este processo.  Entendo e respeito os que assim não fizeram, mas repito: por vocação e opção me dediquei ao trabalho pastoral (gosto de assumir At 6:2).  Exatamente por isso, por ter me ocupado com o ministério da palavra, quero aproveitar a ocasião e olhar para a Bíblia buscando ver o que ela tem a me dizer para o dia de hoje.
Devo tomar como base o Sl 24, até por que este é um salmo de contornos bem políticos.  Observe que nele o Senhor é enfaticamente nomeado como o Rei da glória, para quem os portais devem ser abertos.
No contexto atual, contudo, o que deve chamar a minha atenção é o verso primeiro.  Enquanto muitos disputam legitimamente postos de poder (e continuo entendendo que não é este o espaço para debater o tema), Davi afirma: do Senhor é a terra...
Mas permita-me aprofundar esta compreensão a partir do próprio texto.  Inicialmente vejo que a Deus tudo pertence, pois foi ele quem o fez (verso dois).  O Senhor tem direito de posse e mando porque foi sua voz quem fez tudo existir (vá ao início da Bíblia em Gn 1 quando o poema sagrado atribui à voz do Senhor os atos criativos).
E mais: Hb 11:3 afirma que pela fé entendemos que tudo o que existe é resultado da vontade divina; e o Sl 90:2 declara que antes que houvesse firmamento, de eternidade a eternidade tu és Deus.  Antes que qualquer outra autoridade se levantasse, o Senhor já era soberano.
Deixe-me voltar ao Rei da glória (verso oito).  Além das prerrogativas que lhe cabem pela criação, o Senhor é o forte e valente nas guerras.  Assim foi cantado por Moisés em Êx 15; e assim foi dito a Isaias em Is 43:13. 
Não há força, poder ou domínio que possa se opor ao Senhor dos exércitos.  A sua vontade é soberana e seu trono eterno.  Como cristão devo ir ainda além: reconheço que a Jesus foi dado todo poder (veja Mt 28:18) e que não há sistema, entidade ou reino que possa deter o seu agir.
Neste tempo, quando dirigentes e líderes humanos estão sendo escolhidos para terem a responsabilidade de conduzir a nação e os estados brasileiros, possamos nós, acima de tudo, reconhecer que mais que mulheres ou homens no poder, ou mesmo que a força do voto popular: do Senhor é a terra e a ele pertencem domínio e poder sobre o universo e a história dos povos e nações.  Então, como pastor, desde já convoco a você se unir para aclamar o Todo-Poderoso, como o faremos na eternidade (cante Ap 19:6-7).  Para a glória do Rei.

(Escrevi esta reflexão quando da eleição de 2010 e a publiquei no sítio ibsolnascente.blogpsot.com em 1º de outubro daquele ano.  Como continuo com o mesmo posicionamento, resolvi republicá-la aqui)

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Bonhoeffer: Liturgia e Comunhão

Jacy Maraschin afirmou que “não existe liturgia sem teologia”, aqui poderemos compreender que o inverso também seja verdadeiro: não existe teologia sem liturgia.  Teologia e liturgia andam de mãos dadas.  Dietrich Bonhoeffer compreendeu isto de maneira muita clara.  Vivendo numa época em que suas decisões poderiam lhe trazer conseqüências de vida ou morte para si mesmo e para o seu povo, este jovem teólogo alemão implicou a sua vida e a sua teologia de modo a fazer com que cada ato de sua existência estivesse comprometido liturgicamente com a vida cristã e com a existência enquanto cidadão neste mundo secularizado.
Bonhoeffer, com a sua teologia, compreendeu que a vida e a liturgia do cristão devem necessariamente está comprometidos com um discipulado que encarne no meio de sua existência o seguir os passos de Jesus Cristo, como o encarnado, crucificado e ressurreto que na posição de enviado e divino tanto promoveu o relacionamento entre Deus e o ser humano como estabeleceu as bases para uma nova vivência em comunidade, bases estas que o cristão – como discípulo – deve seguir em qualquer tempo para que cumpra seu papel como parte do corpo de Cristo vivo, atuante e transformador.
Na vida de Bonhoeffer, contudo, um momento é mais significativo: sua experiência em Finkenwalde.  Lá ele pode vivenciar a experiência da liturgia e comunhão levada às suas reais últimas conseqüências, como seria o projeto cristão de uma comunidade que vive a sua fé, prega e encarna a Palavra de Deus e se ocupa em fazer sentido no mundo em que vive.  A liturgia e comunhão que brotou em Finkenwalde é uma comunhão que começa e termina na busca sincera da presença de Deus em oração, louvor e escuta da palavra de Deus que direciona o cristão.  Esta liturgia cristã também passa por momentos de solidão, onde a fé deverá ser fermentada, passa pela confissão mútua e tem seu ponto alto na celebração sacramental da Ceia que reaviva na alma do fiel a experiência da cruz.  Tudo isto então deve não ser um fim em si mesmo, mas dar forças e orientação para que cristão, nos seus trabalhos diários no meio da sociedade, possa ser um cidadão melhor e assim dá a sua contribuição para que todos possam viver de maneira mais justa e fraterna – valores do Reino de Deus os quais a Igreja deve ser o primeiro instrumento na sua implementação.
Hoje a Igreja evangélica é chamada a viver a sua fé e experimentar a sua liturgia de modo significativo no meio do seu povo, fazendo com que o Reino de Deus se faça presente no meio desta nação.  Sua comunhão litúrgica deverá ser então muito mais do que reuniões para momentos devocionais, deve ser momentos em que a comunidade de discípulos de Cristo vem e se reúne para se alimentar do contato sagrado com Deus e sua Palavra e assim poderem voltar para suas vidas com os corações e mentes preparadas para viverem o cristianismo real e significativo em seus dia-a-dia.
Compreende-se que a situação na Alemanha nazista não se equipara a vivida no Brasil agora, mas o exemplo do teólogo europeu com certeza ainda deve encontrar ecos em nossas igrejas e academias, buscando produzir liturgias que incorporem o Cristo encarnado, crucificado e ressuscitado em nossa sociedade, fazendo a Igreja relevante com construção histórica nacional.