terça-feira, 30 de abril de 2019

A MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO – distinções comparativas entre Atos 8 e 10


Dentre as manifestações perceptíveis do Espirito Santos no livro de Atos do Apóstolos duas nos chamam a atenção, são elas: as manifestações narradas nos capítulos oito e dez.
Elas são destacadas não por terem objetivos específicos, pois todas as manifestações do Espírito Santo registradas neste livro também o tiveram, mas por serem tão distintas entre si e, mesmo assim, ainda expressarem os mesmos princípios gerais.
No capítulo 8 de Atos o Espírito Santo é derramado sobre os samaritanos. Ali é quando o evangelho rompe a primeira a barreira, saindo dos círculos fechados dos judeus e galileus em Jerusalém. No capítulo 10 ele vem sobre os gentios ainda pela primeira vez para que o preconceito contra eles também fosse quebrado. Porém, em ambas, a causa primeira é única: fazer com que o evangelho nesses lugares e contextos pudesse ser reconhecido pelos cristãos de Jerusalém. Além do mais, em nenhum dos casos os que receberam, pediram a manifestação.
No caso no capítulo 8, a manifestação ocorre sob a instrumentalidade da imposição de mãos sobre os que receberam o Espírito, enquanto que no capítulo 10 o Espírito se manifestou enquanto Pedro ainda falava.
Outra diferença significativa é que em At 8 os que receberam o Espírito já haviam sido batizados em água, enquanto que em At 10 os que receberam a manifestação são tidos apenas com tementes a Deus e estavam tendo contato com a mensagem cristã pela primeira vez. Logo, o Espírito Santo e sua manifestação não é fruto de aperfeiçoamento cristão e nem se caracteriza como uma segunda bênção e nem, muito menos, como privilégio de alguns pois em ambos os casos a manifestação se deu sobre todos os que estavam presentes na reunião.
Também merece atenção que no capítulo oito não é registrado o falar em línguas enquanto que, no capítulo dez, tal fato é registrado. Isso nos leva a crer que falar em línguas estranhas não é uma forma fixa ou padrão único de o Espírito Santo se manifestar de modo perceptível – pode acontecer ou não.
E, por fim, outra diferença é que depois da manifestação anotada em At 8 os discípulos voltaram anunciando o evangelho de cidade em cidade e na manifestação de At 10 apenas é dito dos que receberam o Espírito, que eles foram batizados.
A verdade bíblica exposta, comparando as diferentes manifestações perceptíveis do Espírito Santo, é que ele sempre age no meio da igreja mas se manifesta quando e como quer, e onde ele mesmo julga necessário.


sexta-feira, 26 de abril de 2019

Doenças da Alma – HEPATITE


Mais uma doença da alma merece nossa atenção, a hepatite – neste caso, um termo genérico para se referir a diferentes tipos de moléstias que afligem o ser humano. Em linhas gerais, hepatite é uma inflamação do fígado causada por vírus, acúmulo de gordura, reação alcoólica ou medicamentosa, ou ainda outros fatores de menor incidência.
Antes de dar atenção à hepatite, como mal, é importante conhecer o fígado, o órgão diretamente afetado pela inflamação. O fígado é a maior glândula do corpo humano e pertence ao sistema digestivo, funcionando como a principal usina de processamento do corpo. Ele produz a bile que atua na digestão, armazena nutrientes e promove uma verdadeira desintoxicação do organismo.
Sendo assim, o bom funcionamento do fígado é sinal de que toda a ‘máquina’ está funcionando bem. O contrário também é verdade: a hepatite aponta para problemas que, muitas das vezes, vão além do próprio órgão.
Da mesma forma acontece com a alma. Para manter uma vida espiritual saudável e produtiva é sempre necessário se alimentar adequadamente e esse alimento ser absorvido, processado e fornecer nutrientes para todo o corpo. Mas fatores diversos inflamam o fígado espiritual impossibilitando o mesmo de funcionar a contento – e ainda tem a problemática da intoxicação da alma.
É certo que o ser humano está constantemente exposto a vírus espirituais e, por falta de vacinação ou proteção adequada, eles podem se infiltrar causando males e doenças. A própria Bíblia já instrui para se estar alerta e vigilante pois o diabo, como terrível vírus, nos circunda procurando a quem infectar (de 1Pe 5:8).
Mas quando esta barreira espiritual falha, por falta de vigilância quer na proteção adequada quer na insistência em uma alimentação não-saudável, a hepatite espiritual compromete toda a vida humana. A digestão espiritual não se realiza como deveria, os nutrientes necessários não são armazenados nem distribuídos de forma correta e suficiente, e nem a desintoxicação da alma nos livra de outros tantos males.
Fica o alerta. Como muitas vezes somos relaxados na proteção devida às investidas do vírus-diabo! Como comemos tanta ‘porcaria’ espiritual por aí e nosso fígado sofre!
E pode piorar. Em alguns casos a infamação hepática chega a tal ponto que se configura como cirrose – que é uma condição médica em que o fígado deixa de funcionar por completo. E da mesma forma na alma. Há casos em que a inflamação do fígado espiritual é tão grave que ele deixa de funcionar, trazendo como consequência a morte espiritual do cristão.
Essa é a sequência: uma prevenção mal feita ou alimentação inadequada, uma infecção viral no fígado espiritual, o vírus diabólico do pecado se aloja e, se não tratado, inutiliza o órgão impossibilitando a absorção dos nutrientes pela alma humana e o contaminando por completo, daí segue-se a morte espiritual.
Um mal espiritual como esse requer toda a atenção, exames preventivos e cuidados ininterruptos. Há vacinas a serem tomadas. Barreiras a serem estabelecidas. E a alimentação deve ser balanceada e saudável – lembre-se de que o fígado está ligado ao aparelho digestivo.
Quanto à alimentação, a recomendação é simples e conhecida. Prefira a saudável alimentação espiritual que provém da palavra de Deus (nunca se esqueça de Mt 4:4 e observe também Jr 15:16 e 1Pe 2:2). A escolha correta do se come fará uma diferença fundamental. O outro caminho é doença e morte.
Quanto à barreira de proteção contra as infestações virais, o receituário bíblico aponta para uma aproximação e submissão integral ao próprio Deus para que não haja contaminação (leia em Tg 4:7-10). E o texto ainda fala em mãos lavadas, coração puro, tristeza pelo pecado e humilhação diante de Deus.
Quem assim procede e se alimenta de Deus terá vida e saúde (leia o desafio de Am 5:4).

terça-feira, 16 de abril de 2019

EU SOU O PÃO


A Ceia do Senhor é um momento sublime na vida e na liturgia da igreja. É quando trazemos à lembrança e fazemos aflorar tudo o que de mais significativo temos em nossa vivência e em nossa fé. Em nossos cultos, a Ceia é apresentada na Mesa do Senhor em dois elementos: o pão que simboliza o corpo de Cristo e o vinho que aponta ao sangue (veja explicado didaticamente em 1Co 11:23-26). Assim quis o próprio Cristo.
Quando o Mestre fez associar na memória dos discípulos o pão com a sua própria carne e o vinho com seu sangue, mais que uma ligação aleatória ou simplesmente simbólica, ele evocou lembranças profundas dos seus.
Creio que na Ceia deve haver pontos de ressignificação dos elementos pascoais; porém com certeza o que Jesus trouxe à memória apostólica naquela celebração foi sua apresentação como o Pão enviado por Deus para saciar a fome humana (tenha em mente Jo 6:51).
Hoje, quando celebramos a Ceia do Senhor, Jesus continua se apresentando como o Pão Vivo que desceu do céu e nos alimenta, sacia, nos torna plenos e satisfeitos.
Como pão, ele nos alimenta com sua paz (marque Jo 14:27). Num mundo onde a paz está na ordem do dia, mas que nunca a encontra por completo, Jesus nos inunda com a sua paz. Quando comemos deste pão somos lembrados da verdadeira paz do Senhor que excede todo entendimento (Paulo usou esta expressão em Fl 4:7).
Comungando do pão na Ceia, também nos lembramos que fomos repletos do amor inigualável e consequente (é fundamental Jo 13:1). É claro que não há amor como este e somos tomados por ele de maneira graciosa. A memória que é evocada no comer do pão faz-nos repletos deste amor doado (ainda são de Jesus as palavras de Jo 15:13).
Duas outras lembranças devem ser destacadas enquanto se come do pão na mesa do Senhor – talvez elas sejam menos tangíveis e, assim por isso mesmo mais poéticas e belas. O Pão de Deus nos sacia de vida (considere Jo 10:28). Não é só vida eterna num sentido temporal – isto é muito pouco – somos saciados de vida plena, completa. Quando comemos deste pão devemos nos lembrar que em Cristo nos tornamos cheios de vida (considere como promessa cumprida e celebrada no pão o que é dito em Jo 10:10).
O Pão Vivo que de maneira memorial comemos na Ceia também nos faz cheios, repletos, saciados da divindade (está claro o que é dito em Jo 12:45). Toda alma humana precisa do inefável, do algo mais, para se saber realizada, satisfeita, plena: Jesus nos deu esta oportunidade ao apresentar o Pai e outorgar o Espírito (note Jo 14:9 e 20:22). Comendo deste pão minha mente e alma têm que ser levadas a adorar àquele que se fez carne para que contemplássemos a glória divina (como é lindo Jo 1:14!).
Hoje, quando celebramos a Ceia do Senhor e trazemos à memória o Pão da Vida, principalmente tão próximo da celebração da Páscoa Cristã (maior evento de nosso calendário), devemos comê-lo como quem celebra a alma plena e saciada de paz, amor e vida; satisfeitos por estar na presença do Eterno.
Que comamos deste pão pascal louvando a Deus por ter nos dado tal privilégio.
(Publicado originalmente no sítio ibsolnascente.blogspot.com em 19 de março de 2010)

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Doenças da Alma – ESCLERODACTILIA


Devo começar esta reflexão honrosamente me referindo ao brilhante texto do colega Diogo Magalhães, escrito quando ainda estávamos estudando no Seminário do Norte em Recife, lá pela segunda metade dos anos de 1980, intitulado: "Cuidado: O Mal da Esclerodactilia Anda Solto". Foi a primeira vez que vi o termo esclerodactilia.
Veja o que diz a ciência médica mais atual sobre este mal: esclerodactilia é uma espécie de esclerose sistêmica progressiva que consiste no endurecimento de juntas e articulações, principalmente nas extremidades digitais – o mal do dedo duro. Deixemos, porém, os males do corpo apenas e vamos nos ater à doença da alma.
No texto do Diogo este mal é descrito pelos seguintes sintomas: "mórbido desejo de preocupar-se com o alheio, vontade incontrolável de falar mal do próximo, criticando e apontando sempre o negativo e nunca o positivo, impiedade, incapacidade de amar verdadeiramente, irresponsabilidade para com o outro, impossibilidade de fazer elogios e de incentivar, alienação e desinteresse para com a própria vida, vazio interior e até casos extremos de sadismo".
Concordando com esta análise, eu diria que é uma relação de sintomas bastante preocupante e, infelizmente, bem presente em vários indivíduos e comunidades cristãs. O que só vem a provar que esta doença da alma ainda aflige a muitos. São cristãos enfermos que, acometidos deste mal espiritual, vivem com o dedo em riste buscando apontar erros e falhas alheias.
Diante de tal diagnóstico não é difícil perceber a causa do definhamento e invalidez de homens e mulheres outrora de espírito saudável. À medida que o mal avança, as mãos que deveriam ministrar amor, bondade, acolhimento e graça passam a impingir dor e culpa fazendo com que toda saúde espiritual seja comprometida e, sem dúvida, seus sintomas se alastrem fazendo adoecer o ser humano por completo.
Ora, Jesus já havia alertado sobre esta doença no seu Sermão da Montanha ao apresentar a ilustração do argueiro e da trave no olho como padrão de julgamento (confira em Mt 7:1-58). Contudo, para tais problemas só há uma cura verdadeira: o amor gracioso e curador de Deus, e este refletido em nossas vidas e procedimentos. E para embasar esta certeza alinhe textos como Rm 5:6-8; 1Pe 4:8 e 1Jo 4:10-11 entre outros.
Mas vamos um pouco além. Acredito que há uma outra perspectiva pela qual é possível identificar esta doença que tem vitimado muitos cristãos. A esclerodactilia da alma também pode ser diagnosticada como o mal que faz o doente sempre apontar para outro a culpa que lhe é devida.
O primeiro caso deste tipo de esclerodactilia descrito na Bíblia é o de Adão. O texto do Gênesis narra que naquela viração do dia, depois do pecado original, Deus foi ao seu encontro no jardim. O que veio a seguir foi que o primeiro homem em pecado e, exatamente por isso, acometido desta doença da alma manteve o dedo-duro e transferiu para mulher a culpa de suas ações: “… a mulher que me deste...” (Gn 3:12).
E assim, esse mal, como doença hereditária, tem contaminado outros tantos. A culpa é sempre do outro que me induziu, que me abusou, que não me protegeu, que me excitou, que não me alertou. A culpa é da outra geração, da família, dos amigos, da igreja, da internet, dos mais velhos, da sociedade, da mídia, da escola. E por aí se vai com o dedo sempre duro transferindo culpas e responsabilidades. E o mal continua se proliferando e adoecendo as almas.
Contra este tipo de esclerodactilia só há uma cura: arrependimento e confissão. E na Bíblia ela foi exemplificada na parábola do filho que volta à casa do Pai:
Eu pequei contra o céu e diante de ti (a parábola está contada em Lc 15:11-31 e a confissão do filho está no verso 18).
E que a nossa oração constante seja a feita por Davi, quando o profeta Natã imputou-lhe o grave pecado cometido, pois somente assim estaremos livres da esclerodactilia da alma:
Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões. Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável. Livra-me da culpa dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação! E a minha língua aclamará a tua justiça (Sl 51, aqui citados os versos 1, 10 e 14).


terça-feira, 9 de abril de 2019

Antídotos contra a arrogância

Na semana passada, minha cunhada Ester me encaminhou alguns pontos, frutos de sua devocional, que ela rascunhou baseados no texto de Provérbios capítulo 3 e que intitulou como ANTÍDOTOS CONTRA A ARROGÂNCIA. Na ocasião eu sugeri que ela explorasse mais cada um dos pontos listados pois tinha potencial para enriquecer a reflexão. Ela se prontificou para fazer.
Também aproveitei para pedir autorização para compartilhar os pontos iniciais de sua devocional. Então, com a devida autorização, compartilho aqui os pontos.

1. Não dependa do seu próprio entendimento. Confie no Senhor intensamente/radicalmente.
2. Não se impressione com sua própria sabedoria. Tema ao Senhor e afaste-se do mal/mantenha a vigilância quanto a si mesmo e às armadilhas/gatilhos/pontos vulneráveis que ainda existem dentro de você.
3. Honre o Senhor com suas riquezas. Do contrário, elas podem se tornar fonte de arrogância.
4. Não rejeite* a disciplina do Senhor. Não desanime quando ele o corrigir.
  • Aqui há uma observação interessante a se fazer: em outra tradução o rejeitar aparece como “não te enojes”. Isso traz uma ideia muito mais densa que aprofunda o confronto da Palavra. Pois, traduz a emoção por trás da atitude ou postura do arrogante – DESPREZO. De acordo com uma pesquisa básica, amplia a possibilidade de traduzir esse termo por detestar, enfadar-se, estar farto.
5. Encontre-se com A SABEDORIA. A partir do verso 13, a fonte agora é outra: o Espírito Santo que personifica aqui a sabedoria vinda de Deus. Ao encontrar-se com ela o ser humano é feliz, tem vida longa, riqueza e honra. É guiado por estradas agradáveis e tem uma vida de paz.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

O BEM AVENTURADO DO SALMO PRIMEIRO


O primeiro dos Salmos abre o livro de Saltério com uma declaração de bem-aventurança: Bem-aventurado o homem... Para então fazer uma rápida descrição daquele que pode conhecer prosperidade em sua vida.
Neste Salmo a oposição entre o justo abençoado e o ímpio condenado à ruína é evidente e não pode ser ignorada.
Vejamos rapidamente o que não deve fazer o bem-aventurado: ele não deve seguir pelas trilhas indicadas pelos ímpios, não pode perseverar em caminhos de pecadores, e muito menos estar em associação com quem somente se volta contra Deus.
Mas o importante mesmo é observar o que é preciso ser feito para alcançar de Deus a aprovação. Note dois destaques:
O verso dois fala em ter prazer na Lei do Senhor. Mais do que apenas ler ou aprender algumas verdades, é preciso se deleitar, ter desejo, gostar das palavras deste livro. A meditação e o tempo ocupado com este livro têm que ser o melhor momento do meu dia (veja Js 1:8).
No verso número 3 encontramos a indicação de que o justo está plantado junto a ribeiros. Ele não está ali de passagem, nem por acaso. O bem-aventurado tem que estar firmado na água-viva que é Cristo. Aconteça o que for, o bem-aventurado sempre está seguro e devidamente alimentado pois as suas raízes estão bem postas junto daquele que nunca falha e que determina a constância na vida cristã como característica do homem e da mulher abençoados (veja Mt 7:24).
O Salmo primeiro termina lembrando que o Senhor conhece o caminho dos justos. Façamos deste caminho – o prazer da Lei de Deus e a firmeza ao seu lado – a nossa trilha. Para a glória de Deus.


terça-feira, 2 de abril de 2019

SOBRE O ENSINO RELIGIOSO – um início de abordagem


O estudo e debate sobre a problemática do ensino religioso nas escolas de ensino fundamental – principalmente – e médio é atual, urgente e imperioso. Em primeiro lugar por está prescrito na LDB (Lei nº 13.415/2017), que prescreve em seu artigo 33:
O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
Porém, antes de analisar um pouco da problemática que envolve a questão, é válido destacar dois pontos:
1º – Por princípio, defendemos que Igreja e Estado, embora devam nutrir harmonia proveitosa, mas não lhes cabe qualquer ingerência institucional entre si;
2º – De outra perspectiva, a Teologia enquanto discurso sobre Deus, mesmo fazendo uso de instrumentais das ciências, nunca poderá se coadunar que os pressupostos científicos – compreendendo um diálogo necessariamente limitado.
Tendo posto isso, devo lembrar que a história da incumbência estatal do ensino religioso no Brasil remota ao início da colonização portuguesa com a instituição do padroado (século XVI), instituto pelo qual a Coroa de Lisboa tornava o Catolicismo a religião oficial do Império e dele se tornava mentor e patrono.
Somente com o advento da Proclamação da República no final do século XIX é que tais leis foram revogadas. O problema é que a prática já tinha se tornado comum nas escolas brasileiras e só tenderia a piorar com o surgimento e crescimento de outros e diversos matizes religiosos entre a população nacional.
Transpondo para o momento atual, quando o estudo das Ciências da Religião procura dar ao tema uma conotação puramente científica e objetiva, o problema da abordagem nas escolas fundamentais no Brasil apresenta complicadores.
Analisando as questões legais envolvidas no tema hoje observa-se que, pelo menos, três entraves precisam ser esclarecidos para que o ensino religioso nas escolas possa ser ministrado de maneira coerente e eficiente:
(1) embora a LDB fale em ensino religioso, a confusa relação entre obrigatoriedade de oferecimento e matrícula facultativa precisa ser melhor pontuada e de maneira prática;
(2) a falta de parâmetros definidos na Lei e Base Curricular Comum torna a questão simplesmente subjetiva em qualquer dos seus pontos; e
(3) não há sequer critérios claros que indiquem a formação e qualificação dos docentes que ministrarão tais disciplinas, causando situações bastante disformes entre os diversos Estados e municípios.
Diante deste quadro, o que se tem observado é que, em geral as aulas de Ensino Religioso nas escolas brasileiras têm tomado um dos seguintes modelos:
a) Ensino Confessional – mais presente nas escolas ligadas a uma religião ou denominação – quer católicas, quer protestantes – onde se procura formar o caráter religioso do aluno;
b) Ecumênico ou Fenomenológico – alegando uma neutralidade em relação ao tema, procura estudar a religião apenas como acontecimento ou fenômeno social, ficando assim como parte das ciências humanas; e
c) Histórico – modelo que procura apenas abordar a religião como evento histórico e as crenças distintas em seus desdobramentos temporais, e assim como o modelo fenomenológico, também procurando não fazer nenhum juízo de valor sobre as diversas manifestações religiosas conhecidas.