sexta-feira, 12 de abril de 2019

Doenças da Alma – ESCLERODACTILIA


Devo começar esta reflexão honrosamente me referindo ao brilhante texto do colega Diogo Magalhães, escrito quando ainda estávamos estudando no Seminário do Norte em Recife, lá pela segunda metade dos anos de 1980, intitulado: "Cuidado: O Mal da Esclerodactilia Anda Solto". Foi a primeira vez que vi o termo esclerodactilia.
Veja o que diz a ciência médica mais atual sobre este mal: esclerodactilia é uma espécie de esclerose sistêmica progressiva que consiste no endurecimento de juntas e articulações, principalmente nas extremidades digitais – o mal do dedo duro. Deixemos, porém, os males do corpo apenas e vamos nos ater à doença da alma.
No texto do Diogo este mal é descrito pelos seguintes sintomas: "mórbido desejo de preocupar-se com o alheio, vontade incontrolável de falar mal do próximo, criticando e apontando sempre o negativo e nunca o positivo, impiedade, incapacidade de amar verdadeiramente, irresponsabilidade para com o outro, impossibilidade de fazer elogios e de incentivar, alienação e desinteresse para com a própria vida, vazio interior e até casos extremos de sadismo".
Concordando com esta análise, eu diria que é uma relação de sintomas bastante preocupante e, infelizmente, bem presente em vários indivíduos e comunidades cristãs. O que só vem a provar que esta doença da alma ainda aflige a muitos. São cristãos enfermos que, acometidos deste mal espiritual, vivem com o dedo em riste buscando apontar erros e falhas alheias.
Diante de tal diagnóstico não é difícil perceber a causa do definhamento e invalidez de homens e mulheres outrora de espírito saudável. À medida que o mal avança, as mãos que deveriam ministrar amor, bondade, acolhimento e graça passam a impingir dor e culpa fazendo com que toda saúde espiritual seja comprometida e, sem dúvida, seus sintomas se alastrem fazendo adoecer o ser humano por completo.
Ora, Jesus já havia alertado sobre esta doença no seu Sermão da Montanha ao apresentar a ilustração do argueiro e da trave no olho como padrão de julgamento (confira em Mt 7:1-58). Contudo, para tais problemas só há uma cura verdadeira: o amor gracioso e curador de Deus, e este refletido em nossas vidas e procedimentos. E para embasar esta certeza alinhe textos como Rm 5:6-8; 1Pe 4:8 e 1Jo 4:10-11 entre outros.
Mas vamos um pouco além. Acredito que há uma outra perspectiva pela qual é possível identificar esta doença que tem vitimado muitos cristãos. A esclerodactilia da alma também pode ser diagnosticada como o mal que faz o doente sempre apontar para outro a culpa que lhe é devida.
O primeiro caso deste tipo de esclerodactilia descrito na Bíblia é o de Adão. O texto do Gênesis narra que naquela viração do dia, depois do pecado original, Deus foi ao seu encontro no jardim. O que veio a seguir foi que o primeiro homem em pecado e, exatamente por isso, acometido desta doença da alma manteve o dedo-duro e transferiu para mulher a culpa de suas ações: “… a mulher que me deste...” (Gn 3:12).
E assim, esse mal, como doença hereditária, tem contaminado outros tantos. A culpa é sempre do outro que me induziu, que me abusou, que não me protegeu, que me excitou, que não me alertou. A culpa é da outra geração, da família, dos amigos, da igreja, da internet, dos mais velhos, da sociedade, da mídia, da escola. E por aí se vai com o dedo sempre duro transferindo culpas e responsabilidades. E o mal continua se proliferando e adoecendo as almas.
Contra este tipo de esclerodactilia só há uma cura: arrependimento e confissão. E na Bíblia ela foi exemplificada na parábola do filho que volta à casa do Pai:
Eu pequei contra o céu e diante de ti (a parábola está contada em Lc 15:11-31 e a confissão do filho está no verso 18).
E que a nossa oração constante seja a feita por Davi, quando o profeta Natã imputou-lhe o grave pecado cometido, pois somente assim estaremos livres da esclerodactilia da alma:
Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões. Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável. Livra-me da culpa dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação! E a minha língua aclamará a tua justiça (Sl 51, aqui citados os versos 1, 10 e 14).


2 comentários:

  1. Um bom texto. Acho que em algum momento da vida agimos e altamente assim. Há vários fatores que lê am a isto. Vale explorar.

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    1. É verdade, querido. Estamos todos sujeitos a, em alguns momentos de nossas vidas, caírmos na tentação de manter um dedo duiro em relação ao outro, ao nosso irmão.
      Que o Senhor Deus nos cure desta doença da alma.

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