Devo
começar esta reflexão honrosamente me referindo ao brilhante texto
do colega Diogo Magalhães, escrito quando ainda estávamos estudando
no Seminário do Norte em Recife, lá pela segunda metade dos anos de
1980, intitulado: "Cuidado: O Mal da Esclerodactilia Anda
Solto". Foi a primeira vez que vi o termo esclerodactilia.
Veja
o que diz a ciência médica mais atual sobre este mal:
esclerodactilia é uma espécie de esclerose sistêmica progressiva
que consiste no endurecimento de juntas e articulações,
principalmente nas extremidades digitais – o mal do dedo duro.
Deixemos, porém, os males do corpo apenas e vamos nos ater à doença
da alma.
No
texto do Diogo este mal é descrito pelos seguintes sintomas:
"mórbido desejo de preocupar-se com o alheio, vontade
incontrolável de falar mal do próximo, criticando e apontando
sempre o negativo e nunca o positivo, impiedade, incapacidade de amar
verdadeiramente, irresponsabilidade para com o outro, impossibilidade
de fazer elogios e de incentivar, alienação e desinteresse para com
a própria vida, vazio interior e até casos extremos de sadismo".
Concordando
com esta análise, eu diria que é uma relação de sintomas bastante
preocupante e, infelizmente, bem presente em vários indivíduos e
comunidades cristãs. O que só vem a provar que esta doença da
alma ainda aflige a muitos. São cristãos enfermos que, acometidos
deste mal espiritual, vivem com o dedo em riste buscando apontar
erros e falhas alheias.
Diante
de tal diagnóstico não é difícil perceber a causa do definhamento
e invalidez de homens e mulheres outrora de espírito saudável. À
medida que o mal avança, as mãos que deveriam ministrar amor,
bondade, acolhimento e graça passam a impingir dor e culpa fazendo
com que toda saúde espiritual seja comprometida e, sem dúvida, seus
sintomas se alastrem fazendo adoecer o ser humano por completo.
Ora,
Jesus já havia alertado sobre esta doença no seu Sermão da
Montanha ao apresentar a ilustração do argueiro e da trave no olho
como padrão de julgamento (confira em Mt 7:1-58). Contudo, para
tais problemas só há uma cura verdadeira: o amor gracioso e curador
de Deus, e este refletido em nossas vidas e procedimentos. E para
embasar esta certeza alinhe textos como Rm 5:6-8; 1Pe 4:8 e 1Jo
4:10-11 entre outros.
Mas
vamos um pouco além. Acredito que há uma outra perspectiva pela
qual é possível identificar esta doença que tem vitimado muitos
cristãos. A esclerodactilia da alma também pode ser diagnosticada
como o mal que faz o doente sempre apontar para outro a culpa que lhe
é devida.
O
primeiro caso deste tipo de esclerodactilia descrito na Bíblia é o
de Adão. O texto do Gênesis narra que naquela viração do dia,
depois do pecado original, Deus foi ao seu encontro no jardim. O que
veio a seguir foi que o primeiro homem em pecado e, exatamente por
isso, acometido desta doença da alma manteve o dedo-duro e
transferiu para mulher a culpa de suas ações: “… a mulher que
me deste...” (Gn 3:12).
E
assim, esse mal, como doença hereditária, tem contaminado outros
tantos. A culpa é sempre do outro que me induziu, que me abusou,
que não me protegeu, que me excitou, que não me alertou. A culpa é
da outra geração, da família, dos amigos, da igreja, da internet,
dos mais velhos, da sociedade, da mídia, da escola. E por aí se
vai com o dedo sempre duro transferindo culpas e responsabilidades.
E o mal continua se proliferando e adoecendo as almas.
Contra
este tipo de esclerodactilia só há uma cura: arrependimento e
confissão. E na Bíblia ela foi exemplificada na parábola do filho
que volta à casa do Pai:
–
Eu
pequei contra o céu e diante de ti (a
parábola está contada em Lc 15:11-31 e a confissão do filho está
no verso 18).
E
que a nossa oração constante seja a feita por Davi, quando o
profeta Natã imputou-lhe o grave pecado cometido, pois somente assim
estaremos livres da esclerodactilia
da alma:
–
Tem
misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão
apaga as minhas transgressões. Cria em mim um coração puro, ó
Deus, e renova dentro de mim um espírito estável. Livra-me da
culpa dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação! E a
minha língua aclamará a tua justiça (Sl
51, aqui citados os versos 1, 10 e 14).
Um bom texto. Acho que em algum momento da vida agimos e altamente assim. Há vários fatores que lê am a isto. Vale explorar.
ResponderExcluirÉ verdade, querido. Estamos todos sujeitos a, em alguns momentos de nossas vidas, caírmos na tentação de manter um dedo duiro em relação ao outro, ao nosso irmão.
ExcluirQue o Senhor Deus nos cure desta doença da alma.