sexta-feira, 28 de agosto de 2015

SEREIS LIVRES

Em uma de suas discussões com os judeus durante seu ministério, Jesus abordou o tema da liberdade em oposição à escravidão.  Embora os filhos de Abraão se julgassem completamente livres, Jesus os compreendia como escravos, pois ainda viviam sob o jugo do pecado – e um é consequência direta do outro (leia em Jo 8:34-36 e veja também 2Co 3:17 onde Paulo apresenta o mesmo argumento).
Seguindo o Mestre, devo entender da mesma maneira a relação íntima de oposição representada pela fórmula: [pecado = escravidão ≠ Cristo = liberdade].  Com esta certeza em mente, quero aqui passar um pouco as páginas bíblicas para refletir sobre os desdobramentos de cada lado da equação.
O ponto de partida é logicamente as palavras de Cristo: quem vive pecando é escravo do pecado, mas se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres (no já citado Jo 8:34-36).  Neste sentido alguns aspectos podem ser destacados; não são os únicos, mas vamos a eles.
# Quem é livre em Cristo Jesus sabe que nada no tempo presente é definitivo e por isso pode se apegar à esperança de que o tempo de Deus haverá de chegar para fazer novas todas as coisas (sobre isso há textos em demasia na Bíblia, veja alguns: 1Co 13:10 / Rm 8:18 e 24 / Ap 21:5).
# Quem vive em estado de servidão é forçado a entregar tudo o que produz ao seu senhor, esta é a sua condição inapelável.  Por mais que se esforce e trabalhe, nunca nada será seu.  A condição de escravidão não permite usufruir o resultado de seu trabalho e produção. 
# Quem já experimentou a liberdade de Cristo pode também experimentar o resultado do seu trabalho e desfrutar daquilo que conquistou.  Enquanto o pecado rouba nosso suor em vão, Deus valoriza o nosso empenho (leia 1Co 15:58).  E o Salmo vai além cantando que quem serve ao Senhor é feliz e próspero (o Sl 128:1-2 fala em comer o fruto do trabalho).
# Quem vive sob o regime de escravidão, por definição, não possui direito a movimentação e decisão.  A falta de liberdade tira a opção de ir e vir e de escolher o que fazer.  Aquele que é escravo do pecado sabe que vícios, erros e defeitos são mais fortes que sua própria vontade e lhe dominam todas as decisões, ações e reações.
A liberdade que Cristo oferece para quem lhe serve é completa e definitiva (confira Gl 5:1).  No Espírito temos a liberdade de fazer escolhas (esta foi a proposta de Josué em Js 24:15).
Agora, conhecendo a verdadeira liberdade que há no Espírito de Deus e que foi ofertada por Cristo através de seu amor, que possa eu usá-la para servir livremente e com gratidão àquele que é nosso amado Senhor.

(Mesmo com algumas correções pontuais, esta reflexão é uma republicação do sítio ibsolnascente.blogspot.com – 25 /06/2010)

terça-feira, 25 de agosto de 2015

O contexto eclesiástico das epístolas joaninas – 1ª parte

A TÍTULO DE INTRODUÇÃO –
Os escritos joaninos são, sem dúvida, os mais singulares dentre os neotestamentários.  Isso não somente pelo fato de não terem paralelo entre os outros escritos do Novo Testamento mas principalmente por abrirem possibilidades e horizontes para o cristianismo que até então nenhum autor bíblico tinha se proposto.  O fato é que tais escritos, mesmo destinados a uma comunidade específica, não impediu que o autor vislumbrasse novas implicações para a igreja e isso fez sem jamais perder de vista as verdades essenciais do cristianismo: a obra salvífica do Cristo encarnado e a responsabilidade ética do amor fraternal.
Um dado interessante que deve ser levado em conta é que o termo "igreja" (grego: Έκκλησία) não aparece em lugar algum no texto das epístolas e sempre as referências à comunidade são indiretas.  Também considerável é não terem elas características epistolares (a primeira sob a forma de opúsculo ou sermão e as outras duas de bilhete).  Certo é todavia que foram escritas com o objetivo específico de corrigir erros na interpretação e aplicação do Evangelho de João e assim evitar desvios dentro da comunidade.
Partindo agora deste caminho já identificado, passemos a conhecer o contexto eclesiástico onde foram germinados estes escritos.
UM PALAVRA SOBRE DATA E LOCAL –
Antes de entrar e conhecer a comunidade, creio ser válido uma rápida passagem sobre a questão da data e local onde os escritos apareceram.
Com toda certeza as informações dadas pelo próprio texto não são suficientes para determinar estas questões e as notas externas também não são muito freqüentes.  Juntando-se agora estes dados, algumas conclusões podem ser tiradas: historicamente sabemos que na região de Éfeso (Ásia Menor) a igreja cristã no final do primeiro século enfrentou problemas quanto a grupo que pregavam uma cristologia desencarnada, influenciada por correntes gnósticas e por outras heresias contemporâneas, o que trouxe consigo a idéia de uma ética e moral frouxa e a falta de um amor fraterno encarnado.  Isso nos leva a crer que lá estavam os destinatários originais destes escritos joaninos.
Quanto a data, o mais provável é que tenham sido escritos entre os anos de 80 e 90 quando as comunidades provenientes do ministério do Discípulo Amado já estavam razoavelmente estabelecidas e começavam a ganhar alguma estrutura.  Nesta época o Evangelho já havia sido escrito e, com quase certeza, também já circulava nas comunidades co-irmãs provocando interpretações nem sempre muito fieis.  Mais para o final do século, não seria muito provável pois de lá nos vem o Apocalipse e a possível assimilação da comunidade joanina no restante da cristandade de então – o que não parece ser o caso dos leitores das epístolas.  O que só vem a confirmar a tese da data na penúltima década do primeiro século cristão.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

DEUS DESCE PARA ESTAR COM O SEU POVO

Disse Deus:
 "De fato tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egito, tenho escutado o seu clamor.  Por isso desci para livrá-los...".
(Êx 3:7-8)
Tivemos a oportunidade de refletir um pouco sobre o encontro do Senhor com Moisés no Monte de Deus (Êx 3 – reveja aqui); mas paramos no verso 6 quando Moisés esconde o seu rosto por temer olhar para o Senhor.  Realmente a certeza da presença sagrada de Deus deve nos conduzir a um sentimento de temor e reverência.  Agora, então, vamos continuar aprendendo do diálogo entre Deus e Moisés.
A partir do verso 7 é o Deus Santo e Todo Poderoso quem toma a iniciativa de falar.  E neste falar está a ação e reação do próprio Deus diante das circunstâncias humana.  Três verbos nos chamam a atenção: ver / ouvir (v. 7); descer (v. 8) e livrar (v. 8). O Deus que exige correção em sua presença é o Deus que se deixa tocar pelas circunstâncias humanas.
O Senhor disse a Moisés que o clamor dos filhos de Israel chegou até ele e por isso agora estava descendo para estar no meu do povo: a dor do seu povo é o seu sofrimento; o choro do seu povo são as suas lágrimas, mas o sonho do seu povo é a sua obra.  Ele diz que irá fazê-lo subir para uma nova terra.  O Deus a quem celebramos e adoramos é santo e tremendo, mas não é um Deus distante e alheio – é um Deus presente, compassivo e misericordioso.  É isto que celebramos em Cristo Jesus: Deus na sua justiça exigia a morte dos pecadores, mas em Cristo esta justiça foi satisfeita; e agora com ele podemos ter comunhão pois é o próprio Deus quem se compadece do pecador e por ele dá a vida.
O Deus a quem adoramos é um Deus santo e justo – deve ser temido – mas também está no meio do seu povo – deve ser amado.  Celebremo-lo assim!

(do livro "No Baú da Adoração" publicado em 2004)

terça-feira, 18 de agosto de 2015

SAL DA TERRA NA CENTENÁRIO

Mas veja como são as coisas! Veja se não é assim que Deus faz! Há pouco tempo eu escrevi sobre o Forró pra Jesus (leia aqui) e ali citei, como um bom exemplo, o grupo pernambucano Sal da Terra.  E expie só que eles vieram cantar aqui em Sergipe este fim de semana.
É claro que fui lá ver e ouvir de perto!
Foi o aniversário da Igreja Batista do Centenário pastoreada por Elias Linhares na cidade de Riachuelo – a pouco mais de vinte quilômetros de Aracaju.  Dizer que a Igreja preparou uma grande festa para a ocasião é desnecessário – isso já está se tornando uma bela tradição nestes 33 anos da Centenário.  E este ano não foi diferente.
E antes de ir adiante, deixe-me deixar bem claro (fiz de propósito a redundância): Sal da Terra é bem mais que uma banda gospel.  Acho que este título até ofende.  Eles tocam forró – e do bom, daquele legítimo.  E o fazem para louvor e glória de Cristo.  Mas eles vão além.  Sal da Terra hoje tem desenvolvido um excelente ministério de evangelização em todo o sertão nordestino e promovido diversas ações que realmente se propõem a produzir nova vida para o sertanejo.  E tem conseguido resultados expressivos para a glória de Deus.
Se você não conhece o ministério, sugiro que dê uma olhada em sua página na Internet.  O endereço é este: http://www.bandasaldaterra.com.br
Mas vamos falar da celebração do fim de semana.  E antes que você espere outra coisa, só lembrando: não sou jornalista nem estou escrevendo uma reportagem.  Sou cristão nordestino e estive ali para adorar.
A formação estava composta por Nelito na sanfona, Washington na zabumba, Bill Crente no triângulo – todo pé-de-serra que se preze tem que ter isso – e mais Renatinho e Laércio Lins.
No sábado, eles abriram a noite nos convidando: Chegue pra cá, venha louvar! E daí, música não faltou, graças a Deus.  E nos falou o Nelito, que contou parte do seu testemunho, fortalecendo nossa fé e chamando a outros para terem também uma experiência pessoal com Cristo.
Na manhã do domingo eu não pude ir a Riachuelo.  Alguns compromissos eclesiásticos me seguraram em Aracaju.  Não que isso tenha sido um problema, sempre é bom servir a Cristo, e estar ocupado com sua igreja também.  Mas não fui ouvi-los pela manhã.  Disseram que foi maravilhoso e eu acredito.
No culto da noite, na Centenário, com a casa cheia e a área na frente do templo também, nossos irmãos pernambucanos começaram cantando uma toada, nos atraindo para a adoração.  E, novamente, forró não faltou.  Faço destaque para a canção Coração Nordestino – um verdadeiro hino:
Meu Jesus morreu também pelo Nordeste, pelo Sertão,
Pelo Agreste, pelo sanfoneiro
Pelo homem sem escola, homem sem vitória
Pelo violeiro...
Outra canção que destaco foi Se Não For Verdade, de Laércio Lins.  Essa eu não conhecia, mas principalmente depois de saber da história por detrás da letra, já acrescentei entre as minhas favoritas.  Ela diz:
Se o que na Bíblia diz não for verdade
Se não houver um céu, se Deus não existir. 
Se Jesus um mito for, eu nada perdi
Valorizei o meu viver, um legado deixei:
Vivi em paz!
Vivi com alegria,
Vivi com esperança
De passar a eternidade
Na presença do Senhor.
Na mensagem da noite, Bill Crente usou a citação de Mc 10:17-22 que fala do encontro do jovem rico com Jesus para apresentar a mensagem de salvação.  Foi uma bênção com várias pessoas entregando suas vidas ao Mestre.
Depois mais forró.  Cantamos a esperança do céu, a certeza de que com Cristo até as mazelas da vida podem ser superadas e a alegria da vida cristã.  Música assim eu ouvia até amanhecer e não me cansaria.  Vale cada acorde da sanfona e cada toque da zabumba para glória de Deus.
E ainda teve o privilégio da refeição em comum.  Coisa de crente! Agora, melhor do que comer é desfrutar da companhia e da boa conversa dos irmãos.  Nada vale mais a pena: as experiências compartilhadas, os bons causos contados, a fé mútua reanimada, a certeza de que somos todos filhos do mesmo Pai – ainda que espalhados no rico Nordeste brasileiro.  Isso é que é bênção!
Mas cabô! Ficou a certeza de que se não nos encontrarmos novamente por estas terras, com certeza estaremos juntos no céu entoando um grande forró pra Jesus.
Assim foi este fim-de-semana com o Sal da Terra na Centenário.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

NENHUMA CONDENAÇÃO HÁ

Estamos mais acostumados à expressão que nos serve de título a esta reflexão através da canção do pastor Armando Filho – isso não é ruim.  Contudo a verdade é que a frase é de Paulo e está em Rm 8:1.  O apóstolo afirma que agora já não há mais condenação para os que estão em Cristo Jesus.  Pensando nesta verdade bíblica, mesmo não me sentindo preso ao texto, porém respeitando muito o contexto, quero refletir sobre o tema.
Depois de discorrer sobre o tema da graça divina em oposição à justiça da lei e da luta contra o pecado, Paulo declara que em Cristo estamos completamente livres de qualquer condenação.  Isto nos remete à visão do tribunal espiritual eterno: nele há um acusador, um defensor e o ser humano no banco dos réus.
No papel de acusador está o diabo.  Ele é apresentado na Bíblia como o caluniador, o adversário (veja 1Pe 5:8).  O que ele tem feito com os servos de Deus é apontar e acusá-los procurando condenar mulheres e homens.  Foi assim no caso do patriarca Jó (leia em Jó 1:6-11) em que o diabo quis incriminar Jó diante de Deus desmerecendo sua fidelidade.  Também foi com o sacerdote Josué quando o acusador apontou suas roupas sujas (confira em Zc 3:1-3).
Mas há o outro lado.  O próprio Paulo questiona: Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus?  Quem os condenará?  Ao que responde: Foi Cristo Jesus que morreu, ressuscitou, está a direita de Deus e intercede por nós (em Rm 8:33-34).
Cristo é nosso advogado de defesa (e aqui incluo a obra do Espírito como dito em 1Jo 2:1).  Como nosso defensor, Cristo Jesus é a garantia de que real e completamente nenhuma acusação vinda do diabo será capaz de nos atingir e nos tornar culpados diante de Deus.  E sabe o motivo?  Isaías profetizou que ele levou sobre os nossos pecados (leia Is 53:12) e aos Hebreus é dito que temos um sumo sacerdote sem pecado que verteu seu próprio sangue para remir nossa culpa (compare Hb 4:15 com 9:11-22).
Diante do tribunal que nos julga estamos livres de qualquer acusação.  Nada mais pesa sobre nossa alma, pois tudo já foi pago por Cristo.  O esforço diabólico de nos acusar está fadado ao fracasso.  Diante de Deus estou justificado em Jesus (mediante confissão com está dito em Jo 5:24).  Diante de minha própria consciência é o Advogado maior quem atesta que nada me condena (ainda é João em 1Jo 3:19-21).
Assim, posso viver e encarar a vida de frente e com a fronte erguida, para a glória de Deus porque "nenhuma condenação há para quem está em ti, querido Senhor".

(Esta reflexão publiquei no sítio ibsolnascente.blogspot.com em 18 de junho de 2010.  Aqui eu achei necessário fazer algumas pequenas correções antes de publicá-la novamente)

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

ADORAÇÃO E LOUVOR – uma visão africana

A adoração e o louvor são dois elementos inseparáveis na vida cristã.  Louvar significa agradecer e honrar a Deus – glorificá-lo especialmente com cânticos e danças.  Pode ser algo simples como a saudação diária Bwana Asifiwe, "Louvado seja o Senhor" , ou elaborado como um festival de louvor de três horas de duração, reunindo cantores e corais cristãos.  Numa igreja africana típica, o culto inclui expressões de reverência como curvar-se, ajoelhar-se com as mãos erguidas acima da cabeça ou prostrar-se diante de Deus (Ne 8:5-6; Ap 4:9-10).
Na religião tradicional africana (RTA), não é costume reunir os adoradores num local fechado como uma igreja ou mesquita.  O culto individual é realizado em um lugar sagrado ao ar livre, como junto a uma árvore ou riacho.  Mas esses lugares não são usados para a reunião semanal de adoradores.  A congregação só se reúne para festas anuais ou sazonais.  Nos lares, o chefe de família realiza rituais simples de adoração entoando nomes que descrevem o caráter de um deus ou ancestral e derramando uma libação diária para um ídolo do lar.  Quer em suas formas simples quer em suas formas mais complexas, o culto na RTA só é considerado completo quando inclui sacrifícios e oferendas.
A RTA também difere do culto cristão no sentido de que raramente adora o Ser Supremo de forma direta.  Antes, os sacrifícios são oferecidos a divindades e antepassados considerados mediadores entre Deus e as pessoas.  Trata-se de um culto utilitário: "Os africanos não anseiam por Deus em si.  Procuram apenas obter aquilo que ele oferece, bênçãos materiais ou mesmo espirituais; não parecem buscá-lo com recompensa ou satisfação suprema para a alma ou o espírito humano" (John Mbiti).
Na RTA, os deuses existem para os seres humanos, e a adoração tem como principais objetivos restaurar o equilíbrio entre a humanidade e os seres espirituais, evitar males como enfermidades, insucessos e esterilidade e aumentar o sucesso.
Muitos desses conceitos tradicionais foram transportados para o cristianismo, como mostra um programa de televisão nigeriano no qual um casal consulta um herbolário acerca de uma soma em dinheiro que alguém lhe deve.  O herbolário dá ao homem uma mistura de ervas e lhe garante que a dívida será paga em breve.  Ao receber o cheque, o casal dança e canta: "Ele é um Deus que opera maravilhas!" – exemplificando o caso de muitas pessoas que vivem com um pé no cristianismo e outro na RTA.  Esse tipo de sincretismo é proibido na Bíblia.
A chave para entender o significado e propósito da adoração no AT pode ser encontrada em Êxodo 20:1-8.  Jesus citou essa passagem quando o diabo o tentou oferecendo todos os reinos do mundo em troca de sua adoração, ao que Jesus respondeu: "Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto" (Mt 4:8-10), deixando claro que o culto segundo as Escrituras só pode ser prestado a Deus.
O culto bíblico é fundamentado na redenção, no relacionamento e na representação.  Esses três elementos podem ser vistos na definição de adoração dada por Cristo: "Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade" (Jo 4:24).  Os adoradores de Deus são remidos pelo sangue do Cordeiro.  Relacionam-se com ele de forma dinâmica como seus filhos e filhas (Jo 1:12) e o representam no mundo como seus embaixadores (2Co 5:20).  A adoração nasce da gratidão (Ap 5:9-10), proclama a grandeza e a glória de Deus (Sl 19:1) e antevê a volta de Cristo (1Co 11:26).

Tokunboh Adeyemo – nigeriano
Comentário Bíblico Africano (2006)

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

NA MONTANHA SAGRADA

Então disse Deus:
 "Não se aproxime.  Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em que você está é terra santa".
(Êx 3:5)
Lemos no capítulo 3 do Livro de Êxodo que Moisés estava no Monte Sinai apascentando o rebanho de seu sogro quando viu uma "chama de fogo que saía do meio de uma sarça".  Com curiosidade natural ele então se aproximou para ver melhor o que era aquilo.  Aquela visão e aproximação haveria de transformar por completo, não somente a sua vida, como também a história da relação de Deus com os seres humanos.
Do meio da sarça – na Montanha Sagrada – Deus falou: "Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em que você está é terra santa".  Todo encontro com Deus é, por natureza, um encontro com o sagrado e o sobrenatural.  Para que Deus se revelasse a Moisés seria preciso que ele compreendesse e temesse a santidade do lugar e do ato que estava ali se desenrolando.
Com certeza, aquele Deus da sarça é o mesmo Deus com o qual temos nos encontrado semanalmente na sua igreja.  E para que este encontro seja verdadeiramente um momento de adoração e possamos celebrar o Deus revelado a nós é necessário que cada um tenha a consciência e o temor da santidade divina envolvida neste encontro.  Todo crente quando vem em busca do contato com Deus no culto precisa trazer a certeza de que vai estar diante daquele que é sobrenaturalmente santo e por isto exige temor e reverência diante de sua presença augusta.
Que o próprio Deus nos faça absorver estes valores de santidade divina para que possamos adorá-lo no seu lugar sagrado como lhe convém.

(do livro "No Baú da Adoração" publicado em 2004)

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Versões antigas do Texto Bíblico

Antes de chegar à forma canônica que conhecemos hoje, o texto bíblico passou por um processo de formação e fixação.  Veja uma relação destas principais versões.  Nem todas foram conservadas por inteiro até os dias atuais.

ANTIGO TESTAMENTO –
Massoreta – Contendo os 24 livros que conhecemos, escrito em hebraico antigo, com letra quadrada, os massoretas levantaram a pronúncia tradicional do texto de consoantes (o hebraico não tinha vogais), graças a um sistema de pontuação inventado para atender a acentuação vocálica.  Obra do século IV da nossa era.
Septuaginta (LXX) – Esta é uma tradução do original hebraico do Antigo Testamento para o grego.  Foi feita em Alexandria/Egito, entre os séculos III e I a.C., por diversos tradutores.
 Latim Antigo – Usamos esta denominação para distinguir dos manuscritos posteriores, como os da Vulgata.  Estes manuscritos já existiam ao final do II século d.C.  Suas traduções são da LXX e chegaram até nós muito fragmentadas.
Vulgata Latina – Feita ao final do século IV d.C., por Jerônimo.  Ele fez três traduções do livro de Salmos, sendo que a segunda é que foi adotada.  Sua tradução do Antigo Testamento, a princípio, deixou de lado os livros apócrifos, por não desejar que os mesmos fossem incluídos em sua versão, embora já houvesse traduzido os livros de Judite e Tobias.  Ao final, estes livros foram adicionados, fazendo parte da Vulgata.  Esta foi a Bíblia oficial durante toda a Idade Média, na Europa ocidental.  Existem cerca de oito mil manuscritos da Vulgata
Siríaco Peshitta – Foi traduzida do hebraico, no II século d.C. e era o texto padrão dos cristãos sírios.  Posteriormente houve uma revisão, pela LXX.
Hexapla Siríaca – Foi traduzida com base na LXX de Orígines, pelo bispo de Tela, em 617 d.C.  Este manuscrito foi bastante estudado no exame da LXX, em virtude de ter preservado as notas críticas do original grego de Orígines.
Copta (egípcio) – São quatro as versões do Antigo Testamento nesta língua.  A versão conhecida como saídica ou tebaica foi preparada no século II d.C., no sul do Egito, com base na LXX.  No século IV d.C., no norte do Egito, foi preparada a versão boárica ou menfítica.  Com poucos fragmentos, conhece-se também as versões fayúmica e akhmímica.
Versões Menores – Foram traduzidas para o gótico, etíope e o armênio, no século IV d.C.

 

NOVO TESTAMENTO –
Latim Antigo – Foi produzida no fim do século II d.C., provavelmente na África.  Existe a forma africana e européia.  A européia, ou itálica, serviu como uma das bases da Vulgata de Jerônimo, quanto ao Novo Testamento.  A africana foi usada por Cipriano.  A versão em Latim Antigo é um importante testemunho do tipo de texto anterior ao Textus Receptus. 
Diatessaron – Preparada em grego cerca de 160 d.C. e traduzida para o siríaco.  Tratava-se basicamente de uma harmonia dos evangelhos de autoria de Taciano. 
Siríaco Antigo – Traz este nome para não ser confundida com a versão Peshitta posterior, que era a versão popular em siríaco.  Essa versão existe nos manuscritos sinaítico e curetoniano. 
Peshitta – É uma tradução para o siríaco, do fim do século IV d.C.  Seu cânon é composto por apenas 22 livros, não trazendo os textos de 2Pe, 3Jo, Jd e Ap. 
Copta – São conhecidas cinco versões do Novo Testamento em copta ou egípcio.  A versão saídica é a mais antiga e apareceu no sul do Egito no século II d.C.  Do norte do Egito veio a versão boárica e tornou-se a versão dominante, pois é representada por um número maior de manuscritos.  As outras versões são a fayúmica, a akhmímica e a do Egito Médio. 
Armênia – É do final do século V d.C. e tem sua base numa fonte cujo texto tinha similaridade com os manuscritos gregos Q, 565 e 700.  Afasta-se muito dos melhores manuscritos gregos, aproximando-se do Textus Receptus.  Há 1.244 cópias dessa versão. 
Geórgia – Seu manuscrito mais antigo é o Adysh, de 897 d.C.  É possível que essa tradução tenha sua origem do texto armênio.  Era a Bíblia da Geórgia. 
Vulgata Latina – Preparada por Jerônimo, ao final do século V, é uma revisão dos manuscritos mais antigos.  Tornou-se o texto latino do Novo Testamento.  A partir do Concílio de Trento, 1546, é considerado o texto oficial da Igreja Católica Romana.  Cerca de oito mil manuscritos da Vulgata apresentam uma mistura de tipos textuais, visto suas adições, exclusões e contaminações, feitas por muitos escribas através dos séculos. 
Versões Secundárias – Destacamos a gótica, etíope, eslavônica, árabe e persa. 
Outras Versões – Mesmo antes da Reforma Protestante houve muitas traduções da Bíblia para as diversas línguas faladas.  Em 1382, com John Wycliff, teve início a Bíblia inglesa, com base na Vulgata Latina; por isso inclui também os livros apócrifos.  Em 1280 e 1400 surgiram porções da Bíblia em português (veja artigo sobre a Bíblia em Português).  Mas somente com a Reforma Protestante é que a Bíblia começou a ser traduzida para o inglês, alemão, francês, italiano, espanhol, português e outras línguas européias.  Para obter-se uma obra, para que não fosse volumosa, então mais cara, os tradutores procuravam produzir o texto com economia de palavras, perdendo em muito o significado das línguas originais.  Isso foi corrigido em tempo e começaram a surgir traduções mais fieis ao texto original, sem preocupação com economia de palavras.  Destas novas traduções destacamos a Amplified New Testament, da Zondervan Publishing House; The New Testament de Charles B. Williams e The New Testament, an Expanded Translation, de Kenneth S. Wuest.  Outras traduções tornaram-se importantes: A Bíblia de Tyndale, traduzida em 1525 diretamente do hebraico e grego.  A Versão do Rei Tiago (King James), baseada na Bíblia de Tyndale, sob a encomenda do Rei Tiago, surgiu em 1611 e popularizou-se entre os países de língua inglesa.  The American Standard Revised Bible, lançada por ingleses e americanos em 1901, sendo uma espécie de revisão da versão do Rei Tiago.  A partir de 1804, com a British and Foreign Bible Society surgiram as modernas Sociedades Bíblicas que muito vêm contribuindo para a divulgação da Bíblia.