sexta-feira, 27 de abril de 2018

DAVI: A ARCA E A DANÇA


Sinto que fiquei devendo algo sobre o episódio de Davi dançando quando pesquisei sobre a dança de Miriam (reveja aqui). Então vai um pouco do que descubro quando estudo o texto.
A citação é de 2Sm 6:14-16 e é interessante observar o contexto em que é narrado o acontecido. Davi, ao assumir o reinado de Israel e conquistar Jerusalém a transformando em sua capital, entendeu que deveria trazer a Arca da Aliança para a cidade e assim legitimar o seu trono. Depois de contratempos, de idas e vindas, a Arca finalmente chega à cidade e Davi estava comemorando.
Entendido o contexto, permita-me ainda uma olhada na palavra usada no texto bíblico para descrever a atitude do rei. A palavra no original é מכרכר (mkrkr – de כרר – krr) que só aparece neste texto no hebraico do Antigo Testamento. A expressão pode ser traduzida como "saltar e dançar em círculo" e sua origem está ligada à descrição do ritual das cabras monteses que ficam pulando e rodopiando.
E o Google Translate sugere: "Ele chocalha".
Acho que esta explicação linguística já basta. Já deu para entender. Assim, vou propor uma parábola que pode ajudar a entender a dança de Davi. Como toda parábola, não se detenha nos detalhes da narrativa, apenas foque no principal.

Imagine seu time do coração.
Depois de um campeonato complicado, finalmente consegue avançar e chega às finais. Com certeza será um jogo duro e a possibilidade de derrota é grande.
A expectativa nos dias que antecedem ao grande jogo lhe consome. Adrenalina, ansiedade. Não se fala em outra coisa. Será que vai dar?
Chega o dia do jogo e você vai ao estádio se juntar a outros milhares de torcedores para apoiar e se preparar para a vitória – talvez até inesperada pelos críticos e comentaristas objetivos, mas desejada e incentivada pelos hinchas (essa gíria de uruguaios e portenhos cabe bem aqui!).
O jogo começa e vai se desenrolando – minuto a minuto – parece uma eternidade. Um gol somente e a alegria será completa. Mas o zero não sai do placar.
A torcida grita, incentiva, cobra, faz sua parte; mas nada…
Bola pra lá – bola pra cá – e o tempo passando. A tensão só aumenta.
O chute vai na trave. O goleiro tira em cima da linha. As chances dos dois lados se revesam.
Quem vai levar? Como vou aguentar?
Uuuuuu!!!! essa foi por pouco!
O primeiro tempo já foi – ainda tem o segundo.
A bola volta a rolar mas o sofrimento não termina. Com o andar do relógio, só aumenta.
E nada de gol.
Bola pra lá – bola pra cá – e o tempo passando.
15 / 25 / 35 / 45 minutos.
A última bola. Sobra no lateral que chuta pra frente alcançando o atacante. O último contra-ataque.
Cruzando os ponteiros, um chute certeiro – perfeito – inacreditável. A bola no ângulo, o goleiro se estica todo, ainda topa na bola. Mas a pelota entra estufando a rede.
Fim da tormenta. É CAMPEÃO!!!!
Você no meio da galera nem sabe o que fazer, tinha até sonhado e planejado aquele momento com cuidado várias vezes. Mas ali só cabe, gritar, pular, vibrar, rodopiar como uma cabra montesa. A alegria não pode ser contida.

Sempre penso que foi assim com Davi. A Arca ia na frente e ele pulando, saltando, rodando, gritando, celebrando, vibrando, comemorando (faltam gerúndios!).
A Arca da Aliança chegava triunfante a Jerusalém.
Mas sempre tem uma Mical que fica de longe só mandando meme com a hashtag #vergonha_alheia. E daí.
Sabe o que Davi postou de volta?
Foi diante do Senhor que eu dancei. Fica na sua. Foi por ele que celebrei. Oh glória!!! (#2Sm6:21).


Você encontra um estudo teológico sobre o Culto Cristo no meu livro:
DE ADÃO ATÉ HOJE– um estudo de Culto Cristão



Disponível no:
Clube de autores
amazon.com

 


Conheça também outros livros:
TU ÉS DIGNO – Uma leitura de Apocalipse
PARÁBOLA DAS COISAS



terça-feira, 24 de abril de 2018

Atualizando a parábola


Num domingo de manhã, uma família de indivíduos desgrenhados e desleixados estava desamparada ao lado da autoestrada. Eles estavam obviamente aflitos. A mãe estava sentada numa mala já muito gasta, os cabelos despenteados, as roupas mal-arrumadas, com os olhos parecendo de vidro, segurando uma criancinha malcheirosa, com pouca roupa, que chorava em seus braços. O pai estava sem fazer a barba e usava um macacão. Ele tinha um olhar de desespero enquanto procurava dar conta de mais duas crianças. Ao lado deles, havia um automóvel já surrado até as últimas, que obviamente acabara de entregar os pontos.

Pela estrada afora, veio um automóvel guiado por um pastor local; estava a caminho da igreja. E embora o pai de família fizesse sinais frenéticos, o pastor não poderia deixar os membros de sua igreja esperando, de modo que fez de conta que não via a família.
Logo veio outro automóvel, e mais uma vez o pai acenou freneticamente. Mas o motorista era presidente do clube de negociantes do local e estava atrasado para uma reunião estadual dos presidentes do clube, numa cidade próxima. Ele também agiu como se nãos os tivesse visto, e manteve os olhos fitos na estrada em frente.

O próximo carro que passou era guiado pelo ateu local, que não media palavras contra a religião, e nunca pusera o pé numa igreja, em toda a sua vida. Quando viu a aflição da família, levou-a para o hotel local e pagou uma semana de estadia enquanto o pai procurasse um emprego. Além disso, pagou ao pai as despesas de aluguel de um carro para que pudesse procurar serviço, e deu à mãe dinheiro para comprar alimentos e roupas novas.

Essa versão atualizada da parábola contada por Jesus (leia a “versão original” em Lc 10:25-37), eu encontrei no livro: Entendes o que lês? Escrito por Gordon Fee & Douglas Stuart (em português foi publicado pela Vida Nova). Como gostei demais desta releitura e atualização, por que entendi que tanto respeita a ideia original da narrativa do Mestre como a aplica adequadamente, provocando reações similares aos primeiros ouvintes, eu a estou compartilhando.
Eu a intitularia: “A Parábola do bom ateu”.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

JESUS – um nome


Já tive a oportunidade de comentar em outras ocasiões que para o mundo antigo oriental o nome era muito mais que uma referência e distinção pessoal. O nome era parte da formação do ser: ou seja, você era o que seu nome indicava – e necessariamente indicava o que você tinha que ser.
A Bíblia foi escrita a partir desta perspectiva e sempre tenho que respeitá-la para poder chegar o mais próximo possível daquilo que os autores originais queria dizer.
Mas, apesar desta premissa que acato com reverência, eu sou ocidental e meu jeito de pensar é diferente. Então vou me dar a liberdade de ir ao texto por outro atalho.
O texto em questão é: … e lhe deu um nome que está acima de todo nome … (parte de Fl 2:9). É o chamado “Hino Cristológico”. Mas também não vou analisar. Só quero falar do nome: JESUS.
Para nós ocidentais, o nome é só um vocativo, uma referência e uma maneira de chamar alguém e diferenciá-lo entre os outros. Assim, no caso aqui com o nome de JESUS – um nome muito especial a quem podemos chamar e em quem podemos confiar.
Observe: basta lembrar que cada nome que conhecemos nos traz uma referência e uma lembrança que a associa. É desse jeito! O nome de alguém que amamos é sempre uma boa referência de uma boa lembrança: é doce falar. Por outro lado, o nome do chato só de pronunciar já é uma chatice. É claro, a referência e a lembrança faz o nome!
Como disse lá em cima, aqui há uma referência especial ao nome de Jesus. O nome do nosso amado nos faz lembrar daquilo que ele fez por nós, de todo o seu gesto de amor e cuidado que ele tem para conosco.
O nome de Jesus me traz a mente que ele, como um pai amoroso, tem me trazido para bem perto dele e me feito mais que servo e sim amigo (leia Jo 15:15).
Eu não sei como você se refere a ele, o quanto de respeito, intimidade ou distinção você atribui ao Senhor. Para mim, o nome de Jesus, quando pronuncio, é um pouco disso tudo: respeito, intimidade e distinção.
Respeito por que ele é o soberano dos reis da terra. Esse título foi atribuído a ele em Ap 1:5. E eu reverencio.
Intimidade por que ele está comigo, compartilhando da caminhada como prometeu em Mt 28:20. E eu aprecio a companhia.
Distinção por que somente ele é a expressão exata da divindade. Alie a expressão de Hb 1:3 com Cl 2:9. E eu reconheço.
Então é fácil entender e aceitar de bom grado quando na Bíblia diz que toda língua haverá de confessar o nome de Jesus. Com uma referência desta, sim vale muito a pena encher a boa para chamá-lo assim: JESUS.

E sobre o tema do nome, aí vai uma relação de postagens que publiquei:

terça-feira, 17 de abril de 2018

A MISSÃO COMO MOBILIZAÇÃO


Quarta parte das considerações sobre o livro Compromiso y Misión de Orlando Costas, publicado em 1979.

Um outro aspecto que Orlando Costas nos apresenta é a missão como mobilização. Enquanto que outros aspectos da missão produzem ênfases teológica (ou espiritualizantes) da missão, pensar na missão como mobilização traz à tona características mais gerenciais da missão da igreja e do seu compromisso com a vida e as pessoas que pretende alcançar na sua missão. Embora se compreenda que em última análise quem mobiliza a igreja é o Espírito Santo a idéia de mobilização implica numa organização dos recursos humanos e materiais de que se dispõe para o cumprimento da missão.
O projeto de Deus para o mundo é
Criar uma nova humanidade mediante a fé em seu filho Jesus Cristo e o poder do Espírito, produzir toda uma nova ordem de vida mediante seu governo redentor e justo por meio do Espírito e transformar totalmente a história e o cosmos pela ação escatológica do Espírito na segunda vinda de Cristo (p. 67).
O aspecto mobilizador da missão visa criar as condições objetivas para a concretização do projeto de Deus para o mundo. Isto implica inicialmente numa conscientização que desperta a consciência “evangelística do povo de Deus” (p. 64). O passo seguinte é a análise da situação vivencial do povo e da perspectiva histórica da comunidade que se almeja alcançar com a mensagem do evangelho. Daí planejamento, coordenação e avaliação completam o ciclo de cuidados como a mobilização da missão.
Costas observa que para garantir um processo eficaz de mobilização deve-se considerar a necessidade de haver uma transformação mental que retire da liderança a responsabilidade da missão transportando-a para o corpo da igreja; mas também é necessário uma ação sacrificial que reordene as prioridades e uma fé abarcante que faça-se crer que o Deus ressuscitou a Jesus Cristo dos mortos é o mesmo que chama a igreja a fazer discípulos.


sexta-feira, 13 de abril de 2018

DANÇANDO COM MIRIAM

O texto bíblico nos diz que logo depois de terem passado pelo sufoco do mar, enquanto saiam do Egito, Miriam – a irmã de Moisés e Arão – pegou um tamborim, reuniu as mulheres de Israel cantou e dançou (leia em Ex 15:20-21).
Sei que o tema da dança e do seu uso em nossas liturgias não é novo (para se ter uma ideia, Agostinho de Hipona no século IV já falava sobre a dança), então não quero ter a pretensão de apresentar nenhuma novidade, apenas investigar um pouco sobre como ele é tratado na Bíblia. Venha comigo.
Vou começar com a própria personagem que tomei como referência: Miriam (vou preferir esta grafia pois respeita melhor o hebraico). Estando a cronologia tradicional correta, a altura da narrativa, Miriam já não era nenhuma garotinha ou adolescente com hormônios e sensualidade em polvorosa, era uma anciã respeitada e líder da comunidade. Logo sua dança deve ser visualizada nestes termos.
Eu sei que a citação do Êxodo é bem curta, apenas dois versos, sendo um a transcrição do refrão que acompanhou a dança. Mas o texto não parece demonstrar exatamente um episódio de culto, como muitas vezes vai ser caraterizado no próprio Êxodo e em todo o Antigo Testamento. Ali não há sacrifício, não há oferta; apenas celebração.
É verdade que há outros relatos de bailado no AT: a filha de Jefté dançando também com tamborim pela vitória de seu pai frente os amonitas (em Jz 11:34); as garotas de Siló em momento de descontração (em Jz 21:21-23); e as mulheres de Israel enaltecendo as vitórias de Davi e humilhando Saul (em 1Sm 18:6-7). O problema é que nestes casos temos finais inesperados: a filha de Jefté morreu inocente; as garotas de Siló foram raptadas; e em Saul fez brotar um ciúme doentio por Davi.
No Novo Testamento, as poucas citações sobre dança (como no caso da filha de Herodias que seduziu o rei em Mt 14:6 ou na volta do filho pródigo em Lc 15:25) não ajudam em nada em nossa reflexão, já que se tratam de episódios alheios ao tema bíblico central de adoração e culto ao Senhor.
Então vamos voltar ao caso de Miriam. E para entender melhor, vou pedir ajuda ao hebraico do texto: ali a expressão usada é מחלה (mhlh) – aqui no plural. A origem do termo é o verbo חול (hwl) que pode ser traduzido como rodear, vibrar ou dançar em roda. E esta mesma palavra eu encontro no Sl 150:4.
Deixe-me propor uma tradução alternativa para o texto da dança de Miriam, sem nenhuma preocupação com o rigor literal, mas tentando expressar a ideia do texto:

Então a profetisa Miriam, a irmã de Arão,
respondeu ao cântico de Moisés pegando um tamborim
e chamando as mulheres de Israel
para uma roda de ciranda ao som da cantiga:
– Vamos cantar ao Senhor porque sua vitória foi grande.
Ele jogou no mar o cavalo e seu cavaleiro.

Assim eu entendo a alegria e a dança de Miriam. Mais que uma liturgia ou um momento solene, nem sequer uma coreografia pré-fixada e ensaiada. Uma grata celebração que invade a vida com tudo que ela tem de melhor, inclusive com uma gostosa e espontânea roda de ciranda.
E Deus é louvado em tudo.

(Na imagem lá em cima, reprodução da obra The Songs of Joy do francês James Tissot pintado em 1900. Atualmente exposto no The Jewish Musuem – New York)

terça-feira, 10 de abril de 2018

JESUS E A DIVINDADE – traduzindo Fl 2:5-6


Compartilho mais uma análise linguística, atendendo a consulta via zap (e para constar: sempre o faço com bastante alegria!).

Eis a análise (como todo zap deve ser, curto e objetivo):

Bom dia
Dei uma examinada na
palavra, o léxico sugere
“prêmio” como tradução. Mas
“produto do roubo” não é
impossível – pela raiz
etimológica da palavra
Vamos um pouco mais:
+ A palavra nesta forma
de substantivo só aparece aqui

+ O verbo correlato está
também em Mt 11:12 e ali o
sentido é “tomar posse” ou
“se apoderar”
+ A Chave Linguística
oferece como interpretação
para o fraseado: “Cristo não
usou a sua igualdade a Deus
a fim de adquirir ou ter
poder e domínio”
No versículo em si, o
negativo que precede
a palavra deve chamar a
atenção
Eu traduziria:
Cristo Jesus NÃO usou de
força ou qualquer outra
prerrogativa para se apegar
aos seus direitos de
divindade, mas...

E para quem precisa – ou gosta – da grafia helênica das palavras, aí vai:
=> ἁρπαγμός – o substantivo que só é encontrado em Fl 2:6.
=> ἁρπάζω – o verbo que aparece em Mt 11:12 (e mais outras treze vezes no NT grego).

Aproveito para compartilhar minha intenção: assim que a agenda (principalmente acadêmica) folgar um pouco, pretendo aprontar a análise do grego do Hino Cristológico de Fl 2:5-11 e compartilhar aqui.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

MARTIN LUTHER KING JR. - o mundo não era digno dele


No dia 04 de abril de 1968, um tiro na cidade de Memphis/Tennessee/USA calou Martin Luther King Junior. Agora já se passaram cinquenta anos.
Na época não havia internet nem redes sociais e o mundo vivia não lá muito bem! Naquele dia, enquanto os lixeiros faziam greve, a NASA lançava o foguete Apolo 6 e o governo brasileiro endurecia o regime militar afrontando a democracia ao apreender revistas e livros; na sacada de um hotel tombava um Prêmio Nobel da Paz.
Quanto a mim, naquele dia ainda nem tinha completado o primeiro ano de vida e o nome do Pastor Luther King Jr. só se tornaria relevante anos bem depois.
Sei que não há necessidade de apontar aqui notas biográficas sobre ele, nem descrever o quandro sociopolítico ou religioso em que ele viveu e morreu – é fácil achar isso por aí. Vou então aproveitar a ocasião para compartilhar um pouco – só um pouco mesmo – de como o Dr. King Jr. me deixou um legado do qual tenho sincero respeito espiritual e moral.
Martin Luther King Junior era filho e neto de pastores batistas (sei o que é ser a terceira geração em ambiente eclesiástico!). Na adolescência teve seus questionamentos existenciais mas decidiu seguir a vocação e se formou em Teologia, assumindo a liderança de uma Igreja Batista em Montgomery/Alabama.
Foi do seu púlpito, então, que a mensagem que ele pregava começou a se fazer relevante para a comunidade e a nação – para um tempo como esse… (Et 4:14 – acho que o pastor entendeu o desafio!). E as leis americanas foram mudadas e a história reescrita.
Hoje M.L. King Jr. é citação obrigatória em qualquer trabalho sobre direitos civis – sobre o Século XX (até quando o assunto é Star Trek ele aparece!).
Quando entrei para o Seminário em 1985, eu já tinha ouvido falar de um pastor negro norte-americano que tinha ajudado a forjar a consciência humana moderna e que sua interpretação das verdades e ensinamentos cristãos o levaram à tarefa de transformar o mundo, mas foi lá nos anos acadêmicos que li pela primeira vez sobre seu sonho, e as implicações de seu chamado.
É impossível negar. Como não ser influenciado por um cristianismo desse!? Como não estabelecer como padrão um ministério igualmente relevante!? Como não dizer para todo mundo – com uma pitada de orgulho santo e inocência de aprendiz – que ela era pastor batista, assim como eu!?
O tempo passou, vi e li muita coisa, meus horizontes se diversificaram, notei a presença da herança daquele pregador na Itália, na Índia, e por aí afora. Há um rio caudaloso que o Deus que ama a todo mundo fez jorrar a partir da vida e ministério daquele homem e ele ainda traz suas águas para nos batizar.
Ser batista e ser pastor, nos moldes do Dr. Martin Luther King, é desafio por demais enorme. Requer conhecimento e envolvimento com a Palavra de Deus e intimidade com o Deus da Palavra – e isso deve resultar em comprometimento com o ser humano histórico, alvo supremo do amor divino, suas lutas e seus anseios. Homens e mulheres que caem pelo pecado, mas que devem ser resgatados pela nossa mensagem de paz – Bem-aventurados os pacificadores... (Mt 5:9)
E nem sei se conseguiremos imitá-lo – homens assim são únicos na história!!!
Mas de uma coisa eu não tenho dúvidas: Para Deus todas as coisas são possíveis (Mt 19:26).
Foi então que esta semana, conversando em casa, nos damos conta que os cinquenta anos da morte de Martin Luther King Junior podem ser descritos nas mesmas palavras atribuídas pelo autor de Hebreus sobre o patriarca Abel: Depois de morto ainda fala (Hb 11:4). Meio século depois, depois de morto, pela sua fé pugnante, ainda me fala.
Só que continuei lendo o capítulo bíblico e cheguei aos versos finais. E é fácil concluir que o texto sagrado – de maneira profética – já se referia exatamente à memória do Luther King: O mundo não era digno dele (Hb 11:38).
Dê-nos o Senhor honrar este legado cristão para sua glória.

terça-feira, 3 de abril de 2018

A MISSÃO COMO DISCIPULADO



Terceira parte das considerações sobre o livro Compromiso y Misión de Orlando Costas, publicado em 1979.

Um segundo aspecto da missão é vê-la como discipulado. Costas inicia chamando a atenção que “a missão, para ser congruente com sua natureza abarcante, deve conduzir a um labor que os Evangelhos do Novo Testamento descrevem como formação de discípulos” (p. 45-46). Mas que quer dizer fazer discípulos? Em primeiro lugar significa seguir a Jesus. Jesus convidou seus discípulos para seguí-lo. Seu projeto não seria apenas um conjunto de doutrinas a serem cridas e propagadas, era um estilo de vida a ser aprendido seguindo-se o mestre. Aqui, para se evitar o risco claro do que R. Padilla chamou de “cristianismo cultural”, as palavras do sociólogo D. Moberg nos chamam a atenção:
Temos equiparado o “americanismo” com o cristianismo até o ponto que estamos tentados a pensar que as gentes de outras culturas devem adotar as pautas institucionais dos Estados Unidos quando se converte. Mediante processos sociológicos naturais chegamos a crença inconsciente de que a essência do American way of life é basicamente, quando não no todo, cristã (p. 50 – inglês no original).
Discipulado também é, ademais, participar da missão de Jesus. Ao convidar os discípulos, Jesus os desafiou a pescar homens, isto é, chamar homens ao arrependimento e para dentro do Reino de Deus. Esta era a missão de Jesus e esta foi a missão que ele repassou a igreja: fazer discípulos e neste processo está a dinâmica de obediência, que, para a tradição bíblica quer dizer: “inclinar o ouvido, escutar em fé e responder por fé à Palavra de Deus” (p. 56-57). Esta é uma faceta da missão da igreja que se desenvolve com um compromisso vital com Jesus.