terça-feira, 29 de agosto de 2017

Conselhos de um Psiquiatra para quem deseja ser pastor ou líder cristão

Já faz mais de dez anos que Deus tem me dado a oportunidade de atender líderes cristãos de diferentes denominações com níveis diversos de adoecimento emocional.
Nestes anos, pude ver atitudes, comportamentos e escolhas que ao meu ver são grandes gatilhos para um ministério frustrante, adoecido e com sequelas para líderes e seus familiares.
Neste ínterim, talvez de maneira pretensiosa, resolvi fazer uma lista de alguns conselhos, principalmente para os jovens (ainda não tão moldados), que hoje almejam o ministério como um chamado para suas vidas.
Já adianto que a lista é também para mim.

1) Mostrem suas fraquezas.  Com o tempo, aprendi a admirar os líderes inseguros, frustrados, sinceros, depressivos e cheios de dúvida.  Os mais perversos que atendi eram os com respostas prontas para tudo, com convicções inabaláveis, sempre “cheios de Deus” e com um ar de espiritualidade vazia que inibia um contato mais íntimo.  Usavam de uma espiritualidade afetada para esconder sérias doenças emocionais.  Tenham medo dos “muito crentes”, dos sempre “cheios de fé” e dos que frequentemente tem uma “revelação espiritual” na ponta da língua.

2) Avaliem quem está ao se redor.  Não se iludam, líderes cristãos vivem rodeados de pessoas para eventos sociais e eclesiásticos mas tem poucos amigos e confidentes.  Me assusta que as vezes é diante de um Psiquiatra que os líderes falam pela primeira vez de seus problemas e vicissitudes.  Estar rodeado de gente não é sinal de estar aprovado por Deus; lembrem-se que celebridades de diversas áreas tem seguidores (físicos e virtuais) mesmo que vivam uma vida fútil e cheia de frivolidades.  Tenham amigos com os quais você possa compartilhar suas dúvidas, angústias, imperfeições, tentações e compulsões mais íntimas, sem medo de ser julgado.

3) Não use o diabo como álibi.  Ele existe e é atuante, mas, normalmente somos tentados por nossas próprias concupiscências.  Você sempre será tentado a atribuir ao diabo responsabilidades e erros que são seus.  É tentador buscar soluções mágicas em inúmeras sessões de “batalha espiritual” e libertação, sem olhar para dentro de si e aceitar que há processos na alma que precisam ser tratados.  Nossos maiores “demônios” são nossas fantasias e fortalezas da mente, que necessitam de um longo prazo de luta e dedicação para serem “exorcizados”.

4) Cuidado com os números.  Números são frios e trazem ansiedade.  Não meça seu ministério pelo crescimento numérico e tampouco se angustie se ele não ocorrer.  Da mesma forma, não abra mão de suas convicções teológicas ou busque soluções de marketing eclesiástico para promover um crescimento artificial que só lhe trará sofrimento físico e emocional.  Vi muitos que em busca de um crescimento numérico a qualquer custo, longe de uma verdadeira intimidade com Deus, se tornaram frios, depressivos ou ditadores de comunidades regidas pelo medo.  Não se deprima com números aparentemente fracos, creia que se estiver fazendo o que Deus mandou ele dará uma comunidade saudável compatível com sua estrutura emocional e espiritual.  Há muita angústia envolvida em querer crescer um ministério a qualquer custo.

5) Se dedique a família.  Atendi vários líderes em que presenciei uma incongruência entre suas vidas nos púlpitos e dentro do lar.  O ministério saudável não pode produzir filhos e esposas machucadas e revoltados com Deus ou Igreja.  Conheço vários filhos de pastores e líderes que tem ataques de pânico se simplesmente passarem na porta de uma igreja.  São vítimas de pais “cristãos” que, com a desculpa de que estavam servindo a Deus, trocaram minutos preciosos de conversa, amizade, brincadeira e diversão com os filhos por reuniões ministeriais que normalmente não levam a nada.  Há esposas que chorando me dizem querer serem casadas com o esposo que está no púlpito e não com o que está dia a dia dentro de casa.  Uma família equilibrada será sempre um bom termômetro de uma vida abençoada por Deus.

6) Examine-se frequentemente.  Tenha em mente que uma vida emocionalmente doente não irá gerar uma espiritualidade saudável e vice-versa.  Pastores doentes irão produzir uma comunidade igualmente doente, fragilizada e contaminada por emoções que distorcem sermões e atitudes práticas no dia a dia pastoral.  Saiba que há sempre uma transferência emocional explosiva entre o púlpito e os bancos da Igreja, para o bem ou para o mal.  Sermões duros, cheios de cobrança e desprovidos da graça podem esconder emoções desequilibradas por parte de quem os pregam.

7) Humanize-se!  Tenha momentos de lazer em família, mas também individual.  Pratique esportes e lembre-se que biblicamente somos corpo, alma e espírito.  Não perca a oportunidades de cultivar hobbies e passeios que te desconecte em alguns momentos da realidade pesada do dia a dia e desperte em você uma certa puerilidade que lhe cure e humanize.

8) Cuidado com os extremos teológicos.  O tradicionalismo em excesso, a erudição e o conhecimento bíblico seco e obsessivo podem lhe tornar um cristão chato, insuportável, insensível, vaidoso, pesado e distante de pessoas comuns que podem ser verdadeiramente abençoadas com o “conhecimento de Deus”.  Seja reformado, mas, seja também pentecostal.  Não se iluda.  A frieza tradicional desumaniza tanto quanto o misticismo pentecostal.  Por outro lado, se pentecostal, não paute suas decisões emocionais em profecias, campanhas ou amuletos cristãos que no fundo só aumentam sua ansiedade e imaturidade.


Autor: Ismael Sobrinho, psiquiatra e estudante de teologia.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

ANTECIPAÇÃO

Volto hoje ao tema da Ceia do Senhor, assim deve ser, pois temos a instrução de mantê-la como memorial.  Sempre a trazendo na memória para nunca nos esquecermos daquilo que foi feito por nós.  Mas a Ceia é mais que isso: Paulo disse que a comeríamos enquanto Cristo não vem.  Ou seja, além de memorial, a Ceia também é uma antecipação festiva do que nos aguarda.
Neste sentido, a Ceia do Senhor é uma celebração antecipada do grande banquete que nos será servido no Dia do Senhor (lembro que Davi já pedia por isso no Sl 23:5).  É como se diante da Mesa do Senhor estivéssemos a ouvir: enquanto não vem o prato principal, vão aproveitando aí as delícias da Ceia que lhes é servida por ora (talvez eu até possa entender 1Co 13:9-10 neste sentido).
Acompanhe comigo um pouco do conteúdo desta antecipação celebrativa:
+ Cremos já somos perdoados hoje.  Na Ceia celebro a certeza de que o pecado não mais terá domínio sobre nós (leia 1Jo 2:12 e Rm 6:14).
+ Não me falta o ânimo na caminhada da vida – apesar das circunstâncias – porque Cristo venceu o mundo.  Na Ceia antecipo a convicção que habitarei no lar onde habita a justiça (veja Jo 16:33 e 2Pe 3:13).
+ Sou salvo desde já na esperança.  Na Ceia festejo a alegria de que tragada foi a morte na vitória (palavras de Rm 8:24 e 1Co 15:54).
+ Já posso experimentar a cura, pois minhas dores foram levadas na cruz.  Na Ceia descanso, pois ele enxugará todas as lágrimas (compare Is 53:5 com Ap 7:17 e 21:4).
+ Hoje vivo a presença do que está conosco. Na Ceia celebro agora a chegada do grande dia que ouvirei: "vinde benditos do meu Pai" (devem ser lidos em paralelo Mt 28:20 e 25:34).
Sim, a Ceia é o provisório, mas antecipa o definitivo, e por isso desde já a sua celebração tem que ser motivo de muita alegria e regozijo por aqueles que, mesmo vivendo apenas na lembrança da promessa, mas já podem se sentir à mesa com o Pai. 
Que estejamos assim hoje diante da Mesa do Senhor, como quem saboreia a antecipação do grande dia (ainda Mt 5:12 e Lc 6:23).

(De uma publicação no sítio ibsolnascente.blogspot.com em 14 de maio de 2010)

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Conselhos bíblicos sobre adoração e culto – O HINO PASCOAL

Depois de terem cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras.
(Mt 26:30)


Aquele simples hino entoado por Jesus encerrando a celebração da páscoa junto com seus discípulos é um dos poucos momentos em que os evangelistas nos narram uma cerimônia formal de adoração.  Neste sentido, ele deve nos servir de parâmetro seguro sobre como a igreja – que se sabe herdeira dos primeiros discípulos – deve continuar adorando em seus cultos.
# Entoe ao Senhor sempre um hino com simplicidade e sinceridade (este foi o padrão da igreja primitiva em At 2:46).  Mesmo Deus sendo grandioso (cantado no Sl 48:1), ele se agrada dos louvores dos humildes (afirmado no Sl 138:6).
# Ocupe-se em satisfazer o Senhor com a sua solenidade.  Deus requer respeito e reverência em sua presença – isso é solenidade santa. Mantenha uma atitude de adoração prostrada e reverente diante do Deus supremo (assim exorta o Sl 99:5) e se esmere por fazer o melhor em sua adoração (cuidado com a maldição de Jr 48:10).
# Em toda e qualquer circunstância mantenha o louvor em seus lábios.  Sempre cante um hino em adoração.  Faça isso tanto pessoalmente como na comunidade da igreja.  O louvor e a ação de graças tem que ser o padrão de nossos pensamentos e atitudes (veja as instruções paulinas em Fl 4:8 e 1Ts 5:16-18).
# Já tendo se fortalecido no íntimo por meio do Espírito na adoração (esta expressão é de Ef 3:16), não tenha medo em enfrentar e vencer toda e qualquer prova (confie nas palavras de Jesus em Jo 16:33).  Não duvide que o louvor é uma poderosa arma de vitória.

(Na imagem lá em cima, uma reprodução da pintura A Última Ceia do italiano Leonardo da Vinci no Refeitório da Igreja de Santa Maria della Grazie em Milão concluída em 1497)

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

IDENTIDADE

Tomando como base o texto de 2Tm 2:22 que estabelece parâmetros do que evitar e do que seguir para forjar uma identidade cristã aprovada por Deus, quero pensar um pouco sobre IDENTIDADE.
Quanto ao verso bíblico, vemos logo que não é a juventude em si condenável (como também não é por si só louvável), mas que principalmente nesta fase da vida é preciso evitar as paixões, loucuras, inconstâncias e irresponsabilidades próprias do período de amadurecimento e procurar estabelecer valores perenes para a vida.  São eles: justiça, fé, amor, paz, coração puro; e isto só se consegue invocando a Deus.
É assim que se forma a identidade humana: deletando da vida valores impróprios que muitas vezes corroem nossas vidas como um vírus e agregando outros que realmente importam.
Assim, pensando primeiramente nos nossos jovens e adolescentes, mas estendendo a reflexão a todo cristão que deseja estabelecer e manter sua identidade real, permita-me listar pelo menos quatro fatores que contribuem na construção da identidade do cristão.
1. Imitação – sei que muito do que sou é resultado do meio em que vivo – claro que não atribuo tudo a tais fatores.  Fui me tornando o que sou imitando.  Falo uma língua, tenho gosto pela comida, pela roupa, pela música e outros aspectos muito devido ao meio em que vivi – e como isso é marcante entre os teens!  Aos efésios leio que meu modelo maior a imitar deve ser Cristo (confira Ef 5:1).
2. Conhecimento – estabelecer uma identidade também é um processo de descobertas e conhecimentos, tanto de si mesmo quanto do mundo que me cerca.  Ampliando as descobertas da infância, este novo período sempre quer descobrir e experimentar novidades.  É o profeta Oseias quem convida a desenvolver este traço da identidade a partir do conhecimento progressivo do Senhor (leia Os 6:3 e compare ainda com Mt 22:29).
3. Interiorização – fui adquirindo minhas características básicas de identidade à medida que um conjunto importante de valores foram se moldando dentro de mim.  Passar pela adolescência é sim um caminho de construção de interiores.  Paulo aos filipenses dá uma lista bem interessante de quais valores eu devo procurar imprimir em minha mente e em minha alma (marque cada item da lista em Fl 4:8).
4. Constância – de pouca coisa vai adiantar passar por cada uma das etapas da formação da identidade se não se adquirir uma certa estabilidade e constância ao longo do caminho. Sei que nestes anos de passagens poucas coisas se mostram realmente duradouras, mas aos poucos as marcas vão sendo deixadas e a identidade se configurando.  Tiago tem uma advertência quando a instabilidade e suas consequências na vida do cristão (vá a Tg 1:6).
Que não somente nossos adolescentes, mas que cada um de nós possa estabelecer a sua verdadeira identidade como cristão para a glória daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.

Em outubro de 2010, em um outro contexto eclesiástico, eu escrevi sobre a formação da identidade dos adolescentes.  Aqui eu aproveitei os pontos centrais, refiz a introdução e o estou trazendo (se quiser ler o original, ele está em ibsolnascente.blogspot.com).

terça-feira, 15 de agosto de 2017

PAUL TILLICH E A MUDANÇA DOS TEMPOS

Desde que o ser humano chegou ao autoconhecimento de sua existência, aquilo que sabe e aquilo que crê tem sido dois lado de uma mesma moeda, mas que nem sempre se coadunaram.  O ideal e o desejado é que se saiba no que se crê e se creia no que se sabe.  Mas nem sempre isto acontece.  Foram os clássicos helênicos os que, detectando a dicotomia entre estes dois aspectos humanos, organizaram-nos e sistematizam-nos em campos distintos.  Na Hélade a fé continuou voltada para o Olimpo e para os templos, atendendo às almas humanas; e ao conhecimento coube assento nas academias e ocupação na administração das coisas públicas.
Esta concepção perdurou no Ocidente até a chegada à Idade Média quando a crença passou a ocupar um espaço privilegiado, relegando ao conhecimento apenas um espaço irrelevante no espectro da produção humana.  A equação entre crença e conhecimento – fé e ciência – tornou-se resolvida calando a ciência e dando à fé um papel capaz de apresentar todas respostas para as questões humanas.  Esta solução durou todo o medievo e fez com que tudo se subordinasse ao crivo da fé, e de suas instituições, que tiveram poder de ditar normas, valores de certo e errado, do que deveria ser crido e do que deviria ser sabido e conhecido.
Durante o período medieval, o cristianismo ocidental levou a efeito uma sociedade cristã – dita cristandade – que se propôs hegemônica, não somente por seu aspecto geográfico, mas também por se apresentar como portadora de soluções universais para as questões humanas.  Esta cristandade tomou como base teórica o escolasticismo medieval que, nas palavras de Paul Tillich em sua História do Pensamento Cristão, tinha como verdadeira intenção a "interpretação teológica de todos os aspectos da vida".  Mas a compreensão da cristandade medieval não tinha como base exclusivamente a sua teoria escolástica.  Talvez o ponto central esteja no binômio hierarquia-sacramentos, ao qual toda a sociedade estava subordinada.  Ainda nas palavras de Tillich:
Os sacramentos representavam a objetividade da graça de Cristo, presente no poder objetivo da hierarquia. [...] Os sacramentos eram a continuação da realidade sacramental básica da manifestação de Deus em Cristo.  Em cada sacramento, presentefica-se uma substância de caráter transcendente.
Esta construção teórica, ou cosmovisão própria do período medieval, contudo também não perdurou ininterruptamente.  Dentro do próprio medievalismo já se estava gestando um novo tempo; é que a história humana gira em torno dos conceitos de "autonomia" e "heteronomia" – na linguagem kantiana usada por Tillich – e quando qualquer destes conceitos tende a se sobressair, o conceito antagônico volta a mostrar sua força, tendendo a um equilíbrio que nem sempre se apresenta duradouro, realimentando o processo.
Convém lembrar que este conceito da história humana segue um modelo grego de concepção cíclica de história – ao contrário do conceito judaico mais teleológico.  No campo das ciências o conceito segue a "teoria do pêndulo" formulada pelo astrônomo e matemático holandês Christiaan Huygens que, segundo a tradição, teria se inspirado nas observações de Galileu Galilei o qual observando o balanço da lâmpada de bronze da Torre de Pisa teria formulado o conceito geral do "pêndulo eterno".  Artur Schopenhauer foi o primeiro a aplicar este conceito à descrição dos fatos históricos.
Sobre isso, Tillich diz:
Sob as condições da existência os elementos estruturais da razão se movem uns contra os outros.  Embora nunca separados, eles incorrem em conflitos autodestrutivos que não podem ser resolvidos à base da razão atual.  Uma descrição destes conflitos deve subsistir os ataques populares religiosos ou teológicos contra a fraqueza ou cegueira da razão.
Dentro desta concepção, o próprio Tillich observa que um novo período já estava sendo gerado a partir da própria cosmovisão medieval.  Tendo reinado a heteronomia durante a Idade Média, uma tendência à autonomia seria necessário surgir, o que realmente veio a acontecer:
Ao final do período medieval a heteronomia se tornou todo-poderosa (Inquisição), isto em parte foi reação contra tendências autônomas na cultura e religião (nominalismo).  Mas destruiu a teonomia medieval.  No período do Renascimento e Reforma o conflito cobrou nova intensidade.  O Renascimento, que mostrava caráter teônomo em seus inícios platônicos (Cusa, Ficino), se tornou amplamente autônomo em seu desenvolvimento posterior (Erasmo, Galileu).


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

AOS JOVENS PAIS

O segundo domingo de agosto é dedicado aos pais: o Dia dos Pais.  Como eu ainda estou criando o meu filho – tenho muito que aprender – sei que há alguns outros com mais experiência que eu – inclusive o meu próprio pai – que poderiam usar deste espaço para trazer lições valorosas.  Neste dia, reconhecendo as minhas limitações naturais, quero convidar aos jovens pais como eu, e àqueles que ainda pretendem ser pais, a passearem nas páginas bíblicas procurando instruções e conselhos válidos.
Aos jovens pais assim diz o Senhor:
Vou começar lendo o tradicional texto de Pv 22:6.  Ele diz que os pais devem ensinar, instruir e disciplinar seus filhos.  É claro que isso não tem a ver necessariamente com idade.  É dever de todo pai prover a educação adequada aos seus filhos.  No livro de Provérbios em vários trechos lê-se o convite para que os filhos ousam a instrução paterna (veja, por exemplo, Pv 4:1).  Esta deve ser uma postura a ser seguida. Instrua e treine seu filho para que ele saiba como se portar em toda e qualquer ocasião – isso vale tanto para questões sociais quanto espirituais.
Em segundo lugar, e igualmente conhecida, está a passagem que fala em não provocar ira, irritação, moléstia ou vingança nos filhos (em Ef 6:4).  A autoridade dos pais sobre os filhos deve ser natural e sempre buscar o entendimento – a maturidade esperada no comportamento dos pais deve levar a isso.  Os jovens pais precisam aprender esta lição: exerça a autoridade devida sobre seus filhos não através do medo ou terror, mas debaixo da orientação do Senhor (sublinhe o final do mesmo verso).
Nesta mesma linha de raciocínio: os pais sempre devem amar, cuidar, dar carinho a seus filhos.  Na parábola do filho pródigo contada por Jesus, o pai demonstra uma atitude de acolhimento que refaz e agrega o perdido e regressado (leia a parábola em Lc 15:11-32).  Filhos são para serem valorizados, desejados, queridos, respeitados e abraçados.  Desde cedo os jovens pais devem manter uma postura de afago para com seus filhos.  Lembre-se de abraçá-los e beijá-los.  Faça do seu colo e de sua casa um recanto gostoso de acolhimento e segurança.
Outro conselho importante eu posso tomar das palavras a Timóteo (conhecido como jovem pastor).  Em 1Tm 4:12 a atenção dele é chamada para que seu valor estivesse demonstrado em ele ser exemplo.  Mais que palavras, a postura correta do pai é ser um modelo e padrão do comportamento e vida para seus filhos – e como tenho aprendido isso em minha pouca experiência!  O comportamento e os valores da próxima geração são influenciados de maneira invariável pelo que esta faz ou deixa de fazer.  Assim, jovem pai, viva de modo a ser imitado (acrescente aqui as palavras de Paulo em 1Co 11:1).
E um último e mais importante conselho que leio na Bíblia: os pais devem sempre colocar seus filhos em oração diante do Senhor.  Foi num dos momentos de maior dor que Davi deixou a lição: o homem segundo o coração de Deus orou pelo seu filho (leia em 2Sm 12:16).  É dever sagrado de todo pai orar pelos seus filhos, interceder por eles e suplicar para que as misericórdias do Senhor estejam sempre em favor deles.  Esta instrução é fundamental a cada jovem pai crente: ocupe muito do seu tempo em oração pelo seu filho (lembre do que disse uma mãe – Ana – ao sacerdote em 1Sm 1:27).
Como disse lá em cima, estou consciente que ainda não tenho uma larga experiência no assunto, mas baseado na Palavra de Deus, que neste Dia dos Pais, nós jovens pais, possamos receber bem a herança que o Senhor nos deu (cito o Sl 127:3).  E o façamos para a glória divina, nesta e nas próximas gerações.

Escrevi este texto em agosto de 2010 (publicado em ibsolnascente.blogspot.com – a foto lá em cima é anterior).  Hoje já mais experiente, meu filho já maior, entendo que os conselhos continuam válidos aos jovens pais e aos mais amadurecidos: ensine e discipline seus filhos; exerça autoridade sem provocar ira; acolha-os e seja exemplo.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Conselhos bíblicos sobre adoração e culto – JESUS E A MULHER SAMARITANA

Jesus declarou: “Creia em mim, mulher: está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém.  Vocês, samaritanos, adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus.  No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade.  São estes os adoradores que o Pai procura.  Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”.
(Jo 4:21-24)


A exemplo da samaritana, questionar Jesus e ouvir dele as instruções sobre a forma e o conteúdo do verdadeiro culto que agrada a Deus é a garantia de que quando estivermos em sua presença, seremos efetivamente aceitos na adoração.
Vamos aplicar as lições do Mestre:
# Lembre-se que a essência divina é espiritual, logo sua atitude de adorador tem que refletir também a sua espiritualidade individual.  Busque-o com o coração contrito e a alma sincera em sua presença (lembre-se ainda do Sl 51:17).
# Não faça dos ritos ou dos elementos físicos a base de sua adoração (veja o texto de Os 6:6).  Pode usar deles como instrumentos – ou canais – da sua adoração, mas não faça deles um fim em si mesmo.
# Sempre acrescente a verdade contida na Palavra de Deus e seu estudo em sua adoração.  Não erre como os saduceus criticados por Jesus em não conhecer nem o poder de Deus nem as Escrituras (leia o episódio em Mc 12:24).  Faça do conhecimento bíblico profundo uma marca de sua adoração espiritual.
# Citando a instrução paulina sobre o culto realizado com ordem e decência (a citação é de 1Co 14:40), que cada encontro transformado em culto seja a expressão da vontade de Deus através de uma espiritualidade racional (ainda é Paulo em Rm 12:1).


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

MENTISTES CONTRA O ESPÍRITO!

Lá no início do cristianismo, quando a igreja estava ainda se afirmando, a presença e a manifestação do Espírito Santo no meio dos convertidos confirmava a cada dia o grupo dos fieis (deixe-me dizer logo que não estou negando a presença do Espírito hoje, apenas tomando uma verdade histórica como ponto de partida).
Naquele contexto apareceu o casal Ananias e Safira (a única citação deles é em At 5), e é dito sobre eles que cometeram um acúmulo de erros – denunciados por Pedro na expressão mentistes ao Espírito! – e que acabaram por provocar a própria ruína e morte.  Para evitar que caiamos nos mesmos erros, vamos aprender com eles o que não se deve fazer.
Em primeiro lugar o casal planejou enganar a igreja trazendo apenas uma parte do dinheiro apurado na venda de sua fazenda.  O texto deixa claro que houve uma combinação de ações para que os apóstolos não soubessem do quanto realmente foi apurado na venda. 
É sempre assim, o erro e o pecado são primeiramente arquitetados e só depois executados (veja Tg 1:13-15).  Caso semelhante foi com Caim que antes de trazer sua oferta agasalhou o pecado em seu coração (leia esta constatação em Gn 4:7).  Em todo caso, quem comete tal erro ainda não percebeu que Deus vê todas as coisas (observe o que Jesus disse em Lc 16:15).
Este erro é resultado de um outro: o casal vivia uma fé aparente.  Naqueles dias os convertidos mostravam sua fé trazendo toda a oferta aos pés dos apóstolos (confira em At 4:34-37).  Ananias e Safira pensaram que trazendo algum dinheiro eles aparentariam uma piedade que na verdade não tinham.
Não podemos esquecer que este tipo de religiosidade aparente Jesus a chamou de hipocrisia (confirme na crítica aos fariseus em Mt 23).  Pouca coisa nos afasta tanto de Deus como uma fé superficial e ritual.  Ao profeta Amós Deus chega a dizer que está enojado destas cerimônias piedosas vazias (leia a passagem de Am 5:21-27).
Antes de tudo lugar, porém, o que o casal demonstrou é não ter conhecimento de quem era Deus de verdade.  Eles certamente ainda precisavam passar por uma experiência de intimidade profunda com o Deus manifesto (no caso deles não houve tempo de voltar ao quarto fechado para refazer a vida como propôs o Mestre em Mt 6:6). 
Quando não conhecemos a Deus estamos sujeitos a todo tipo de erro e fracasso (é o que Jesus diz em Mc 12:24).  Este deve ser o primeiro passo e quando ele é falso, todo o resto está comprometido.  É por isso que o profeta Oséias conclama o povo a sempre prosseguir no conhecimento de Deus (anote Os 6:3).
Assim como uma sequência de equívocos e pecados (cumprindo-se o Sl 42:7).  O casal, que não teve intimidade com Deus, manteve uma fé apenas formal e por isso tomou atitudes que lhes trouxeram resultados catastróficos.
Como disse logo acima, que a narração e estudo de casos como o do triste casal nos faça refletir sobre nossa relação com Deus e nos impulsione a um aprofundamento em nossa fé e vida cristã para que nosso fim seja diferente, para a glória de Deus.

(Publicação original em 08/01/2010 – ibsolnascente.blogspot.com)

terça-feira, 1 de agosto de 2017

A ORAÇÃO DO PAI NOSSO – Análise grega

Antes de todo bom trabalho de exegese e interpretação do texto é indispensável fazer uma tradução confiável do texto bíblico.  Pode parecer cansativo mas sempre é gratificante o trabalho com a Palavra de Deus.  Sempre tenho feito isso em meus labores pastorais (sobre isso veja algumas sugestões aqui).
Nos quadros abaixo estou compartilhando uma análise linguística da Oração do Pai Nosso como tenho trabalhado (o texto bíblico é Mt 6:9-13).  Bom estudo.