terça-feira, 16 de abril de 2019

EU SOU O PÃO


A Ceia do Senhor é um momento sublime na vida e na liturgia da igreja. É quando trazemos à lembrança e fazemos aflorar tudo o que de mais significativo temos em nossa vivência e em nossa fé. Em nossos cultos, a Ceia é apresentada na Mesa do Senhor em dois elementos: o pão que simboliza o corpo de Cristo e o vinho que aponta ao sangue (veja explicado didaticamente em 1Co 11:23-26). Assim quis o próprio Cristo.
Quando o Mestre fez associar na memória dos discípulos o pão com a sua própria carne e o vinho com seu sangue, mais que uma ligação aleatória ou simplesmente simbólica, ele evocou lembranças profundas dos seus.
Creio que na Ceia deve haver pontos de ressignificação dos elementos pascoais; porém com certeza o que Jesus trouxe à memória apostólica naquela celebração foi sua apresentação como o Pão enviado por Deus para saciar a fome humana (tenha em mente Jo 6:51).
Hoje, quando celebramos a Ceia do Senhor, Jesus continua se apresentando como o Pão Vivo que desceu do céu e nos alimenta, sacia, nos torna plenos e satisfeitos.
Como pão, ele nos alimenta com sua paz (marque Jo 14:27). Num mundo onde a paz está na ordem do dia, mas que nunca a encontra por completo, Jesus nos inunda com a sua paz. Quando comemos deste pão somos lembrados da verdadeira paz do Senhor que excede todo entendimento (Paulo usou esta expressão em Fl 4:7).
Comungando do pão na Ceia, também nos lembramos que fomos repletos do amor inigualável e consequente (é fundamental Jo 13:1). É claro que não há amor como este e somos tomados por ele de maneira graciosa. A memória que é evocada no comer do pão faz-nos repletos deste amor doado (ainda são de Jesus as palavras de Jo 15:13).
Duas outras lembranças devem ser destacadas enquanto se come do pão na mesa do Senhor – talvez elas sejam menos tangíveis e, assim por isso mesmo mais poéticas e belas. O Pão de Deus nos sacia de vida (considere Jo 10:28). Não é só vida eterna num sentido temporal – isto é muito pouco – somos saciados de vida plena, completa. Quando comemos deste pão devemos nos lembrar que em Cristo nos tornamos cheios de vida (considere como promessa cumprida e celebrada no pão o que é dito em Jo 10:10).
O Pão Vivo que de maneira memorial comemos na Ceia também nos faz cheios, repletos, saciados da divindade (está claro o que é dito em Jo 12:45). Toda alma humana precisa do inefável, do algo mais, para se saber realizada, satisfeita, plena: Jesus nos deu esta oportunidade ao apresentar o Pai e outorgar o Espírito (note Jo 14:9 e 20:22). Comendo deste pão minha mente e alma têm que ser levadas a adorar àquele que se fez carne para que contemplássemos a glória divina (como é lindo Jo 1:14!).
Hoje, quando celebramos a Ceia do Senhor e trazemos à memória o Pão da Vida, principalmente tão próximo da celebração da Páscoa Cristã (maior evento de nosso calendário), devemos comê-lo como quem celebra a alma plena e saciada de paz, amor e vida; satisfeitos por estar na presença do Eterno.
Que comamos deste pão pascal louvando a Deus por ter nos dado tal privilégio.
(Publicado originalmente no sítio ibsolnascente.blogspot.com em 19 de março de 2010)

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