As primeiras horas da manhã deitado na rede sempre são valiosas. E mais uma vez estava podendo desfrutar delas
no sábado passado.
Acordei cedo e tive a oportunidade de ir à rede que tenho armada em casa
– isso não é novidade: já tinha inclusive escrito sobre isso (leia neste link).
Facilmente a vista foi atraída para a resta de céu que dava para ver
daquela posição. E o céu de Aracaju
estava magnificamente límpido (tirei até uma foto com o celular para registrar –
está aí do lado).
Numa primeira vista, era apenas um azul limpo, sem maiores detalhes, sem
uma única nuvem sequer.
Naquele momento, um suave vento da manhã soprava e o azul infinito fez
ideias germinaram mansamente na mente. E
aos poucos elas já dialogavam com alvoroço querendo a primazia da consciência.
Assim funciona minha cabeça... e pela manhã então...
Bem, vou tentar aqui compartilhar alguns insights.
Tentei focar no azul infinito daquela manhã. Já parei várias vezes para me deixar ser
levado por estrelas em noites sem o brilho da lua (o Sl 8 sempre me evoca). Naquele momento, porém, era diferente: o dia estava
claro e o azul apenas me desafiava a olhar. E parecia que o azul me olhava de volta!
– Até onde minha vista estava alcançando?
– Há limite para aquele azul infinito?
Sei que a ciência astronômica teria
respostas objetivas para questões como aquelas – e até gosto de, vez em quando,
puxar conversa com ela. Mas o fascínio
da contemplação nunca é objetivo!
E uma ideia leva a outra.
É claro que aquele era apenas um frame do céu que eu conseguia
captar ali. O Cosmo sempre será bem maior que qualquer percepção. Por isso o azul também reluziu infinito.
Objetivamente depois vi que tinha, sim, nuvens no firmamento daquela
manhã. Eu só não conseguia ver dali.
É sempre assim. Nossa percepção
da realidade e do céu é sempre limitada. E por mais que esforços objetivos ou
concentração de foco queiram definir um ponto de vista, ele continuará sendo
apenas um frame, um ponto, um dado. Jamais o todo.
Chega a ser surpreendente como nossa alma nunca se satisfaz com menos
que o infinito.
E me lembrei de Rubem Alves que falava sobre nossa carência de beleza
(não guardo agora exatamente as palavras da citação, mas é algo assim!). E como aquele azul era lindo!
Mas, o infinito. Incontáveis
anos-luz não podem medir o alcance daquele azul de uma manhã de sábado. Era como se estivesse me dizendo que sempre
tem algo além, algo mais, algo a ir.
Pois quem olha um azul infinito assim saberá que sonhos podem ser até
inalcançáveis, mas nunca serão proibidos. E o que permanece longe do toque da mão se tateia
com a imaginação.
Então outro viés acusou seu momento naquele diálogo: a pequenez e o
infinito. Diante daquele azul sem fim, o
que era eu? Que importância ou
significado teria na ordem das coisas?
Mas ali eu podia simplesmente contemplar. Então me senti parte daquele instante
infinito.
Ora, por menor que seja qualquer partícula, ela também compõe o todo.
Assim, respirei calma e profundamente contemplando o azul infinito. As ideias já estavam se embaralhando entre o
limitado, o infinito, a parte e o todo (ah! Lembrei de ter lido uma vez um poema de Gregório de Matos sobre
o tema – ele era brilhante).
Só que, como a hora já urgia, deixei-me encerrar aquele momento de azul
infinito com uma voz teológica que sempre ocupa seu lugar de destaque em meu
castelo mental (também lembro Agostinho de Hipona usando
expressão semelhante em suas Confissões).
E, ainda na rede no sábado, eu fiz minha a oração de Salomão diante da
do templo recém construído:
Nem o céu
dos céus podem encerrar um Deus como tu.
Bendito sejas, ó Eterno.
(1Rs 8)
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