– Jesus era rico?
Eis aí uma questão interessante que já me levantaram várias vezes.
E nesses tempos de pregação de prosperidade e polarização entre capital
e trabalho a questão se mostra bem pertinente.
Do ponto de vista bíblico-teológico, como Deus, Jesus é dono de toda
prata e ouro (leia Ag 2:8). Também dele é a terra e a sua plenitude (leia Sl 24:1).
Mas quanto ao Jesus histórico? O
homem de Nazaré? Era rico?
Vou tentar pensar um pouco.
Apenas apresentar algumas considerações e pensar, sem chegar
necessariamente a alguma conclusão.
A questão da riqueza e pobreza no contexto social em que Jesus viveu é
bem diferente do mundo em que vivemos – e por isso mesmo bem mais complexa.
Hoje vivemos num mundo capitalista.
Essa é a lógica do príncipe desse mundo que impera (penso em 2Co
4:3-4). Essa lógica é estranha e
desconhecida dos tempos bíblicos. Então
fazer uma análise da situação colocando parâmetros de comparação com o mundo moderno
de aquisição, uso, acumulação e desfrute de bens é impossível.
Olhando, então para a questão no contexto em que ela aconteceu, vemos a
Galileia e Judeia como províncias romanas extremamente exploradas e empobrecidas
e que a grande maioria da população era carente de tudo. Foi com esse povo que Jesus se identificou e
levou a cabo seu ministério.
Outros pontos que geralmente acompanham essa questão:
(1) Os tesouros ofertados pelos magos (citados em Mt 2:11) não se
constituíram um fundo inicial de capital para Jesus e seu
ministério. Isso é bíblica e
historicamente estapafúrdio! É forçar demais a compreensão.
(2) Todos os principais estudantes do contexto da Palestina do século
primeiro reconhecem que a profissão de carpinteiro (literalmente no grego de Mc
6:3 – τέκτων – um artesão ou mestre de obras) era uma ocupação desprestigiada e
que quem a exercia se situava bem em baixo na pirâmide social. Bem como a profissão de pescador de alguns de
seus discípulos.
Além de que o conceito de classe média é inexistente no mundo
antigo. Ou você era da elite
político-militar e religiosa, ou pobre explorado. O conceito de classe média é uma inovação da
modernidade.
(3) Dizer que Jesus dispunha de bens para usufruto porque “tinha
credibilidade social” é no mínimo ignorância do modus vivendi de
então. Naquele contexto, muitos outros
profetas e mestres perambulavam por ali e eram supridos pela população que os
via como emissários de Deus e esperavam que eles subvertessem o domínio romano
– é o que ficou conhecido como expectativa messiânica de Israel. Então Jesus também foi visto, a princípio,
como mais um candidato a mestre-messias, e assim foi suprido.
A diferença de Jesus sobre os outros mestres seus contemporâneos foi sua
vitória final sobre a morte, o que deu impulso aos seus discípulos para levarem
adiante sua proposta de fé e vida.
Quanto as mulheres citadas por Lucas (em Lc 8:1-3), elas colocavam a
disposição de Jesus e de seu ministério recursos necessários. Mas, embora o evangelista reconheça que pelo
menos Joana era parte da elite de Jerusalém, o que caracteriza aquelas mulheres
e as atrai para o grupo de Jesus não são as suas posses, mas o fato de terem
sido curadas de espíritos malignos (verso 2).
No âmbito no Evangelho de Lucas, essa citação amplia a compreensão de
que Jesus veio alcançar os desfavorecidos – incluindo as mulheres que tinham um
papel em seu ministério. Para aquele
contexto social, faz muita diferença.
Realmente Jesus conviveu com toda sorte de pessoas: ricos e pobres, maus
e bons, pecadores e convertidos. A todos
ele acolheu da mesma maneira (e foi criticado por isso).
É verdade que ele tinha também um administrador da bolsa no grupo (ladrão,
por sinal – Jo 12:6). Mas isso não
indicava mentalidade de acumulação de capital.
É bom considerar também que o próprio Jesus fez a seguinte consideração:
... mas o Filho do Homem não tem onde encostar a cabeça (Lc 9:58).
Sobre a Teologia da Prosperidade: Tenho dificuldade em enxergar um
pensamento assim em homens como João Batista, Estêvão, Pedro, João e outros dos
quais o mundo não era digno (cito Hb 11:38 – nesse sentido, vale ler a galeria
dos heróis da fé na perspectiva narrada a partir do verso 32 desse capítulo 11).
Deus abençoe sempre.
Muito bom. Jesus era rico de bens espirituais e nunca lhe faltou nada material, assim, pois, nós devemos ser. ycléa
ResponderExcluirExatamente. É assim que eu entendo.
ExcluirAbr