sexta-feira, 27 de maio de 2022

JESUS ERA RICO?

 


– Jesus era rico?

 

Eis aí uma questão interessante que já me levantaram várias vezes. 

E nesses tempos de pregação de prosperidade e polarização entre capital e trabalho a questão se mostra bem pertinente.

 

Do ponto de vista bíblico-teológico, como Deus, Jesus é dono de toda prata e ouro (leia Ag 2:8).  Também dele é a terra e a sua plenitude (leia Sl 24:1).

 

Mas quanto ao Jesus histórico?  O homem de Nazaré?  Era rico?

Vou tentar pensar um pouco.  Apenas apresentar algumas considerações e pensar, sem chegar necessariamente a alguma conclusão.

 

A questão da riqueza e pobreza no contexto social em que Jesus viveu é bem diferente do mundo em que vivemos – e por isso mesmo bem mais complexa.

Hoje vivemos num mundo capitalista.  Essa é a lógica do príncipe desse mundo que impera (penso em 2Co 4:3-4).  Essa lógica é estranha e desconhecida dos tempos bíblicos.  Então fazer uma análise da situação colocando parâmetros de comparação com o mundo moderno de aquisição, uso, acumulação e desfrute de bens é impossível.

Olhando, então para a questão no contexto em que ela aconteceu, vemos a Galileia e Judeia como províncias romanas extremamente exploradas e empobrecidas e que a grande maioria da população era carente de tudo.  Foi com esse povo que Jesus se identificou e levou a cabo seu ministério.

 

Outros pontos que geralmente acompanham essa questão:

(1) Os tesouros ofertados pelos magos (citados em Mt 2:11) não se constituíram um fundo inicial de capital para Jesus e seu ministério.  Isso é bíblica e historicamente estapafúrdio! É forçar demais a compreensão.

(2) Todos os principais estudantes do contexto da Palestina do século primeiro reconhecem que a profissão de carpinteiro (literalmente no grego de Mc 6:3 – τέκτων – um artesão ou mestre de obras) era uma ocupação desprestigiada e que quem a exercia se situava bem em baixo na pirâmide social.  Bem como a profissão de pescador de alguns de seus discípulos.

Além de que o conceito de classe média é inexistente no mundo antigo.  Ou você era da elite político-militar e religiosa, ou pobre explorado.  O conceito de classe média é uma inovação da modernidade.

(3) Dizer que Jesus dispunha de bens para usufruto porque “tinha credibilidade social” é no mínimo ignorância do modus vivendi de então.  Naquele contexto, muitos outros profetas e mestres perambulavam por ali e eram supridos pela população que os via como emissários de Deus e esperavam que eles subvertessem o domínio romano – é o que ficou conhecido como expectativa messiânica de Israel.  Então Jesus também foi visto, a princípio, como mais um candidato a mestre-messias, e assim foi suprido.

A diferença de Jesus sobre os outros mestres seus contemporâneos foi sua vitória final sobre a morte, o que deu impulso aos seus discípulos para levarem adiante sua proposta de fé e vida.

Quanto as mulheres citadas por Lucas (em Lc 8:1-3), elas colocavam a disposição de Jesus e de seu ministério recursos necessários.  Mas, embora o evangelista reconheça que pelo menos Joana era parte da elite de Jerusalém, o que caracteriza aquelas mulheres e as atrai para o grupo de Jesus não são as suas posses, mas o fato de terem sido curadas de espíritos malignos (verso 2).

No âmbito no Evangelho de Lucas, essa citação amplia a compreensão de que Jesus veio alcançar os desfavorecidos – incluindo as mulheres que tinham um papel em seu ministério.  Para aquele contexto social, faz muita diferença.

Realmente Jesus conviveu com toda sorte de pessoas: ricos e pobres, maus e bons, pecadores e convertidos.  A todos ele acolheu da mesma maneira (e foi criticado por isso).

 

É verdade que ele tinha também um administrador da bolsa no grupo (ladrão, por sinal – Jo 12:6).  Mas isso não indicava mentalidade de acumulação de capital.

É bom considerar também que o próprio Jesus fez a seguinte consideração: ... mas o Filho do Homem não tem onde encostar a cabeça (Lc 9:58).

Sobre a Teologia da Prosperidade: Tenho dificuldade em enxergar um pensamento assim em homens como João Batista, Estêvão, Pedro, João e outros dos quais o mundo não era digno (cito Hb 11:38 – nesse sentido, vale ler a galeria dos heróis da fé na perspectiva narrada a partir do verso 32 desse capítulo 11).

 

Deus abençoe sempre.

 

2 comentários:

  1. Muito bom. Jesus era rico de bens espirituais e nunca lhe faltou nada material, assim, pois, nós devemos ser. ycléa

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