Sobre
o tema da corda amarrada ao sacerdote no momento em que ele entraria para
ministrar, a resposta rápida e direta é simples: isso é lenda. Não está na Bíblia.
Mas, aproveitando a oportunidade do tema, vamos
aprofundar um pouco sobre o assunto – isso é possível fazer olhando por dois
ângulos:
O primeiro ângulo é bíblico (o mais importante):
Como disse, não está na Bíblia nenhuma instrução
ou narração que cite tal prática. Ou
seja, não tenho como lhe indicar nenhum versículo nessa direção.
Ainda assim, é interessante olhar as páginas
sagradas e procurar indicações que, pelo menos, possam tangenciar o assunto: santidade
no altar.
A afirmação bíblica é categórica: “O Senhor é
Santo!” (absolutamente santo – observe Is 6:3 e Ap 4:8). E o próprio Deus se apresenta em santidade,
exigindo uma contrarresposta também de santidade (considere Lv 11:44 e 1Pe
1:15-16)
Sendo assim, todo movimento de culto e adoração
deveria expressar essa santidade.
Observe mais:
Nas instruções de culto na antiga aliança, uma vez
por ano, no dia da expiação, o sumo sacerdote deveria entrar no lugar
santíssimo – o santo dos santos – e oferecer uma oferta específica pelos
pecados do povo (instruído em Lv 16). E,
importante, havia regras especificas de comportamento sacerdotal para que
cumprisse tal ritual.
No contexto, o episódio dos filhos do sacerdote
Arão – Nadabe e Abiú – ofereceram fogo estranho no altar e o fogo os
consumiu de imediato (a história está descrita em Lv 10). O detalhe a se considerar nessa passagem é
que aqui se passa no pátio externo do tabernáculo e o fogo referido é do incenso,
e não no santíssimo nem com o fogo sagrado.
E não há sequer citação de corda.
No Novo Testamento, no episódio do anúncio feito
pelo anjo ao sacerdote Zacarias (a história está em Lc 1:5-25), o sacerdote se
demorou no interior no santuário e o povo, do lado de fora, apenas ficou à
espera. Também sem referência a corda
alguma.
Um outro ângulo que podemos mirar o tema é do
ponto de vista do mito, da narrativa e da história:
É verdade que o povo judeu sempre foi muito dado a
lendas, mitos e tradições alheias à Bíblia.
E entre elas está a narração de que uma corda seria amarrada ao
sacerdote no momento em que ele entrasse para ministrar, porque, se ele
morresse ali poderia ser retirado.
E essa lenda ganhou variações, a corda já foi
amarrada no tornozelo ou na cintura, e já foi de couro, de ferro ou de ouro...
e por vai...
Então essa história foi sendo contada e recontada
até que, no século 13, judeus espanhóis consolidaram o mito passando a narrar
como se fosse verdade. E daí ficou...
Ainda, na descrição antiga, a roupa do sacerdote
tinha penduricalhos, tipo sinos, que chacoalhavam enquanto ele se movimentava e
adicionavam sons festivos à cerimônia (em Ex 28:33-34). Talvez tenha sido daí a origem da lenda. E só.
Voltando a verdade espiritual que a nova aliança
nos trouxe em Jesus Cristo. A vontade
explícita de Deus é a nossa santificação (1Ts 4:3). O autor aos Hebreus nos garante, contudo, que
podemos comparecer santificados diante de Deus, uma vez que Cristo,
sumo-sacerdote perfeito, se ofereceu a si mesmo como oferta por nossa redenção
(leia o argumento em Hb 9).