sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Doenças da Alma – VERMINOSES


Um grupo de moléstias entre as mais comum no Brasil ao longo de sua história são as verminoses. E, sem nenhum tipo de preconceito, verme é um problema que atinge a todos, tanto da cidade quanto do campo, tanto crianças quanto adultos, tanto homens quanto mulheres, tanto ricos como pobres. É um mal infelizmente geral e igualitário!
Vamos às definições para entender melhor. A primeira constatação deve ser no sentido de esclarecer que não se trata de uma doença única (por isso o uso do plural). Trata-se de um conjunto de doenças. Daí prevenções, causas, cuidados e tratamentos serem também diferenciados.
Segundo o site do Ministério da Saúde, “verminoses é um grupo de doenças causadas por vermes parasitas que se instalam no organismo. Causadas especialmente pela falta de saneamento básico e hábitos de higiene, os vermes geralmente se alojam nos intestinos, mas podem abrigar-se também em órgãos, como o fígado, pulmões e cérebro”.
Outra definição também importante é o conceito de verme – ou parasita. De acordo com o Dicionário Michaelis: “diz-se de ou organismo que vive em outro organismo (hospedeiro), dele retirando seu alimento e geralmente causando-lhe dano”.
Os casos mais comuns de verminoses que atacam o brasileiro são a ascaridíase (mais conhecida como lombrigas), a teníase (ou solitária), a esquistossomose, a oxiuríase e a tricuríase.
Mas essa compreensão é apenas o ponto de partida para uma constatação maior e mais dura. Embora estejamos estudando nessa série sobre doenças da alma que afligem os crentes, muitas vezes de maneira individual e pessoal. Creio que aqui o problema se mostra mais grave e contundente. Há verminoses atacando e infectando a igreja brasileira. É um mal infelizmente geral e igualitário!
Considere comigo. A igreja é um corpo – o apóstolo Paulo disse isso de maneira clara e direta em 1Co 12:27. E como corpo que somos, temos sido atacados por vermes e parasitas que têm trazido danos à igreja como um organismo vivo como um todo.
Eu sei que tudo deve começar com o indivíduo que vem à comunidade cristã para cultuar e comungar. E é para eles que a advertência do Salmo faz sentido:
Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo?
Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente (Sl 24:3-4).
E lembre que verminose está ligada a problemas de limpeza e higiene!
Porém o problema realmente fica mais sério quando levamos nosso olhar para a igreja como um corpo. Ela está contaminada com parasitas.
A igreja vive de maneira contante e inevitável em meio a um mundo terrivelmente contaminado. Foi Jesus quem constatou quando rogou que não nos tirasse desse mundo, apenas que nos livrasse da contaminação dos vermes que habitam nele (na oração descrita em Jo 17:15).
E entendo que a instrução apostólica tem esse contexto quando alerta: Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo (Fl 1:17).
Mas muitas vezes a falta de higiene espiritual e cuidados com a vida santa e o proceder cristão, a frouxidão moral, o desleixo com as pequenas atitudes tem infestado a igreja de parasitas que estão sugando nutrientes indispensáveis à vida saudável do corpo de Cristo e lhe causando danos tremendos.
Penso que as pequenas raposinhas para as quais Ct 2:15 já nos alertava também podem ser observadas aqui. São pequenas atitudes, brechas e vacilos. São pequenas concessões que nunca deveriam ser dadas pelo Corpo de Cristo, mas que nos infectam de vermes e parasitas e vão-lhe destruindo a sua saúde espiritual.
Considere que orgulho, vaidade, murmuração, fofoca, partidarismo, ciúmes (e a lista de obras da carne é grande…), são parasitas que como doenças se instalam na alma da igreja e a destroem.
Porém, contra todo esse tipo de infestação parasita só há uma salvaguarda realmente eficaz, é o próprio Cristo, nosso médico sanitarista supremo quem diz: Vós já estás limpos pela palavra que vos tenho falado; permanecei em mim, e eu permanecerei em vós (Jo 15:3-4).

terça-feira, 27 de agosto de 2019

OS REFORMADORES E O CULTO 4 – O Culto Anglicano

Concordo com Jaci Maraschin quando diz que, ao contrário da reforma protestante na Europa continental, a “Reforma Anglicana foi essencialmente litúrgica”, e mais, a publicação do Livro de Oração Comum – LOC (Book of Common PrayerBCP, em inglês) em 1549 equivaleria ao “aparecimento da obra teológica de Lutero e Calvino”.
O nome que comandou toda a reforma litúrgica nas Ilhas Britânicas foi o Arcebispo de Cantuária, Thomas Cranmer (1533-1555).
Observando esta reforma, é possível constatar que enquanto a reforma continental deixou uma herança teológica fundamental para o protestantismo, a reforma inglesa legou os traços mais indeléveis na tradição litúrgica ocidental.
Na reforma litúrgica proposta por Cranmer, embora se conservasse algo do antigo rito, a doutrina do sacrifício achou expressão como um “sacrifício de louvor e ação de graças” e a oferenda de “nós mesmos, nossas almas e corpos, para ser sacrifício racional, santo e vivo para Deus”.
Quanto ao Livro de Orações Comum, a própria Igreja Anglicana assim o descreve em seu sítio oficial:

Os reformadores ingleses, liderados pelo brilhante bispo Thomas Cranmer, decidiram produzir um livro de culto que integrasse a adoração, unificasse o povo de Deus, restaurasse a simplicidade da oração da igreja primitiva e enfatizasse a dignidade do sacerdócio de todos os membros batizados da Igreja, em vez dos poucos ordenados. Em outras palavras, eles decidiram juntar tudo.

E nas palavras do Pe. Rodson Ricardo, pároco da Igreja Anglicana da Natividade, em Natal / RN:

Este Livro é a alma e o espírito do anglicanismo. É a obra que aglutina e dá unidade a toda à confissão anglicana (…). Isso porque a reforma anglicana foi muito mais litúrgica que dogmática. Os teólogos anglicanos sempre se preocuparam mais em adorar a Deus, com beleza e dignidade, que em definir dogmas sobre ele. A expressão latina “Lex orandi, lex credenti” (“A lei que oro é a lei que creio”) define bem essa característica anglicana.

É ainda importante lembrar que foi na tradição de culto de Cranmer e no LOC/BCP que homens como os irmãos Wesley tiraram inspiração para seu culto.

(Na imagem lá em cima, reprodução da página de título do “Livro de Oração Comum”, de 1549. Fonte: Wikipedia.com)

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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

ALÉM DA VITÓRIA



Todos nesta vida vivem em meio a disputas e situações conflituosas. O fato de sermos servos do Deus Altíssimo não nos livra desta condição. Pelo contrário, Jesus nos preveniu que passaríamos por tribulações (lembre Jo 16:33). Foi em meio a estes embates que Paulo escreveu à igreja em Roma apontando para a vitória (a citação é Rm 8:31-39).
Para o apóstolo a vida do cristão é um risco constante: Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias (Rm 8:36 citando o Sl 44:22). O texto ainda fala em tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada (Rm 8:35). Por tudo isto estamos sujeitos a passar. Não há isenção para os crentes. Todas estas coisas poderiam nos afastar de Deus.
E aqui está o cerne da questão: somos derrotados não quando ou porque passamos por todas estas situações, mas porque nos deixamos levar por elas e nos afastamos de Deus. É a distância do Senhor que propicia os nossos fracassos.
Ainda nos versos 38 e 39 há outra lista a se considerar: morte, vida, anjos, demônios, o presente, o futuro, poderes, altura, profundidade, quaisquer outras coisas – em resumo nada. Sim, nada pode nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus. Este é o segredo da vitória. Quando estamos ligados a Cristo Jesus de modo a que nada nos separe dele, aí então podemos vislumbrar a vitória.
E o texto vai além: por estarmos unidos a Cristo somos mais que vencedores (Rm 8:37). Não é apenas uma vitória simples. É além da vitória. Será a conquista completa que nos está reservada, afinal, a morte foi destruída pela vitória (1Co 15:54).
Para a glória dele, vamos além da vitória.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

OS REFORMADORES E O CULTO 3 – Os Anabatistas


O termo anabatista foi cunhado a partir do grego: ἀνά + βαπτίζω – literalmente: batizar de novo (em alemão eles dizem: Wiedertäufer) e estariam incluídos entre os grupos que poderiam ser classificados como a ala mais radical dentre os da Reforma Protestante.
No dia 21 de janeiro de 1525, próximo a Zurique, na Suíça, os anabatistas fundaram sua primeira igreja reconhecida, tendo como base as seguintes afirmações:
(1) nas Escrituras Sagradas, em especial no Novo Testamento, estão toda a autoridade final;
(2) a igreja é uma irmandade formada unicamente de pessoas renascidas;
(3) a essência do cristianismo consiste no discipulado de Cristo; e
(4) a ética do amor rege todas as relações humanas.
Considerando que as práticas anabatistas deixavam às igrejas locais a autonomia necessária para gerir suas vidas individuais e na comunidade, então nem o grupo apresentou um nome de um teólogo reformador que se sobressaísse, nem naturalmente as práticas de culto que foram desenvolvidas pelos diversos grupos de anabatistas apresentavam uniformidade em todas as suas manifestações.
Então, mesmo não havendo um legado de culto unificado que remonte aos anabatistas, contudo, convém destacar que as suas celebrações, em geral, se caracterizavam por:
(a) um forte fervor espiritual;
(b) uma ênfase escatológica;
(c) ausência de ritos sacramentais e
(d) uma hinologia bastante desenvolvida.
Em geral, os grupos dos anabatistas foram bastante perseguidos, tanto por líderes católicos como por protestantes e pouco deixaram de herança para as gerações seguintes, porém sua influência pode ser sentida nos vários movimentos pietistas alemãs e ainda hoje é possível reconhecê-los entre os Menonitas e os Amish norte-americanos.
(Na imagem lá em cima, uma representação do início do século XVII da disputa sobre o batismo de 17 de janeiro de 1525 na prefeitura de Zurique. Fonte: wikipedia.org)

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sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Doenças da Alma – VÍCIOS DE REFRAÇÃO


Em relação ao sistema ocular humano pode-se citar diversos males e problemas que atingem a visão e o olho em si, como a catarata, a conjuntivite, o estrabismo e o glaucoma por exemplo. Mas aqui quero focar minha atenção num conjunto de problemas que o Conselho Brasileiro de Oftalmologia chamou de Vícios de Refração e a partir deles compreender como tais alterações afetam a alma humana.
Em geral, tais vícios podem listados em quatro problemas, a saber:
Miopia – É a condição em que os olhos podem ver objetos que estão perto, mas não são capazes de enxergar claramente os objetos que estão longe.
O cristão míope na alma, por sua visão espiritual danificada, é incapaz de ver com clareza o que está um pouco além de si mesmo. Em consequência, não enxergando o outro, o próximo, acaba por se tornar egoísta, insensível e sem amor, e assim comprometendo toda a sua saúde cristã.
Hipermetropia – Ocorre quando o olho é menor do que o normal. Isso cria uma condição de dificuldade para que o cristalino focalize na retina os objetos colocados próximos ao olho.
Com uma condição assim, o cristão de olho pequeno, não é sequer capaz de notar o que Deus tem feito bem ao seu lado. Não conseguindo focalizar nas extraordinárias ações da graça divina manifestas próximas a si mesmo, ele fatalmente acaba não experimentando toda a grandeza do seu amor pessoal.
Astigmatismo – É causado por diferentes curvaturas corneanas ou por irregularidades na córnea, formando a imagem em planos diferentes o que ocasiona a distorção da mesma.
A retina espiritual irregular do cristão o impede de ver com nitidez a realidade que está ao seu redor pois suas lentes a captam de forma distorcida ou desfocada a qualquer distância. Essa impossibilidade de percepção correta gera uma alma fragmentada, insegura e doentia.
Presbiopia – Conhecida como “vista cansada”, manifesta-se normalmente após os 40 anos, criando uma dificuldade para enxergar de perto e de longe.
O peso dos anos, a mesmice dos horizontes e das experiências, o cansaço das retinas espirituais embaçam as vivas e vibrantes cores que enchiam e embelezavam os primeiros anos de caminhada cristã, tornando a jornada cada vez mais opaca e sem brilho.
Além destes vícios, há ainda outros problemas relacionados à capacidade do cristão de ver adequadamente tanto o mundo e as pessoas que nos cercam quanto a Deus e as suas manifestações multicoloridas e multiformes (confesso que gosto da expressão como ela aparece em Ef 3:10).
Para estes outros há um termo técnico: discromopsia. Mas podemos chamá-lo mais comumente apenas de daltonismo, que tem a ver com a incapacidade de percepção de espectros de cor específicos. E no que se refere ao olho físico, enquanto as primeiras estavam mais no campo de trabalho da oftalmologia, estas outras afetam mais a especialidade da neurologia.
Seja qual for o caso, quanto aos problemas de visão espiritual aos quais os cristãos se veem acometidos, o especialista médico de nossas almas tem a nos receitar não apenas óculos que corrijam a visão ou atenuem o problema. Ele é a cura.
E para comprovar isso, quero deixar que ele mesmo se apresente. Tomando para si as palavras proféticas, Jesus assumiu que sua missão consistia inclusive em recuperar a vista dos cegos (quando leu o livro de Isaías na Sinagoga de Nazaré em Lc 4:18).
Sei que há nessa passagem toda uma contextualização histórica e que a missão de Jesus deve aliar aspectos físicos e espirituais (já notaram quantos cegos, durante seu ministério terreno, ele curou!?). E até por crer que Jesus tanto cura o cego físico quanto corrige vícios e males de refração, daltonismo e demais incapacidades de visão espiritual é que posso ter a convicção de que ao ter minha visão tocada por Jesus poderei exclamar:
Uma coisa sei: eu tinha visão prejudicada e comprometida; era cego e agora vejo! (repetindo a expressão do ex-cego em Jo 9:25).

terça-feira, 13 de agosto de 2019

OS REFORMADORES E O CULTO 2 – O Culto Reformado


O grande reformador ligado ao movimento franco-suíço foi João Calvino (1509-1564), contudo sua influência foi exercida principalmente na área teológica e administrativa.
Quanto ao culto, Calvino tinha uma meta dupla: dar às Sagradas Escrituras seu lugar de autoridade e restaurar na eucaristia a sua singeleza e verdadeiras proporções primitivas com o culto semanal central.
Além de Calvino, quanto ao culto, pelo menos três nomes se destacaram no movimento reformado original na Suíça e na França: Theobald Schwarz (1485-1561), Ulrico Zwínglio (1484-1531), e Martinho Bucer (1491-1551).
O primeiro deles, Schwarz, manteve a estrutura da missa romana porém apresentou novidades litúrgicas significativa. Por um lado ele passou a adotar os serviços em língua alemã, sendo porém menos radical que Lutero, contudo, por outro, deu mais voz à congregação e apresentando mais criatividade na sua liturgia.
Zwínglio, por sua vez, apresentou uma visão extremamente antissacramental de todas as celebrações litúrgicas cristãs. Assim, o culto na visão dele, expressa na Action oder Bruch des Nachtmals (1525), era quase que somente uma recitação de salmos com ênfase exclusiva na prédica, deixando as cerimônias litúrgicas esteticamente vazias. Há de se destacar, contudo que um ponto forte de Zwínglio era a ênfase na comunhão e na união espiritual dos participantes que confessavam em conjunto a fé, uma transubstanciação de pessoas em vez de elementos.
O último nome da liturgia reformada em Estrasburgo é Bucer. Sob sua liderança, a cidade francesa aboliu a vida monástica como ideal religioso passando a desenvolver ofícios diários celebrados em igrejas paroquiais que tinham por objetivo atender não somente monges e religiosos, mas a todo o povo.

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sexta-feira, 9 de agosto de 2019

ADORAÇÃO: ALTAR E VIDA


Lendo as advertências proféticas no Antigo Testamento sobre forma e conteúdo do culto e adoração é possível perceber que elas têm muito a nos dizer ainda hoje (tenha em mente inicialmente os capítulos seis de Oseias e cinco de Amós).
Hoje não temos mais um sistema sacrificial que exija trazer víveres para serem queimados em holocausto, mas trazemos formas e liturgias que delineiam nossa adoração. E é nesta assertiva que as lições dos profetas se tornam relevantes para nós quando chegamos para adorar.
Como no caso de Israel, o problema principal não estava em avaliar se tais formas eram adequadas ou não – embora ainda seja importante reconhecer que uma forma apropriada expressa melhor uma adoração que condiz à majestade gloriosa de Deus e nossa condição humana diante dele.
Por isso, os profetas advertiram que a questão principal está na conduta dos que se achegam ao altar trazendo seu culto e não nas suas liturgias.
Em primeiro lugar, culto não é um conjunto de ritos mágicos que procuram manipular a Deus e convertê-lo em operário de nossas causas.
E mais: (1) Deus é eternamente imutável em si (leia o que ele diz em Ml 3:6), logo não será a nossa adoração que o fará mudar para atender as nossas indicações; e (2) a vontade soberana de Deus nunca está subjugada a vontade humana, ele faz o que quer, como quer e quando quer (olhe o que ele mesmo diz em Dt 32:39).
O culto e a adoração não podem ser compreendidas como forma de vincular – amarrar ou atrelar – Deus a nossa vontade, pois isso seria paganismo. A adoração deve ser sempre a resposta de gratidão e louvor pelo que o Senhor se dispõe a fazer pela sua graça.
Quem se achega para adorar, deve saber que culto é reação e nunca o contrário. Davi entendeu exatamente assim ao nomear levitas com a função específica de louvar e agradecer a Deus pelo que ele tinha feito (1Cr 16:4).
Também, para que o culto seja aceito é preciso haver obediência à Lei. O culto não acontece como um processo alheio à vida humana, como se o Senhor estivesse interessado naquilo que lhe trazemos em adoração e não cuidasse do restante de nossa existência.
A Lei do Senhor é perfeita (palavras do Sl 19:7). Isto quer dizer que Deus, no seu amor, cuida do ser humano por inteiro, logo o culto não pode ser realizado sem considerar o que fazemos no restante de nosso dia-a-dia.
A adoração não pode ser uma espécie de intervalo em nossa existência. Pelo contrário, tem que refletir toda a nossa vida de comprometimento com o Senhor Jesus, seu Espírito em nós e o Reino que construímos com nossas ações cotidianas.
Esta compreensão nos leva a entender que os requisitos do culto transcendem a ele mesmo. Ou seja, como compreendemos das palavras proféticas, o culto não pode ser um fim em si mesmo.
Diante do altar em adoração tenho que atentar: se por um lado nossa vida nos traz ao culto, por outra a adoração deve nos levar de volta à vida e ao serviço, só que recompensado e por ter estado na presença do Senhor (isso foi o que aconteceu com o publicano na parábola de Jesus em Lc 18:9-14).

terça-feira, 6 de agosto de 2019

OS REFORMADORES E O CULTO 1 – O Culto Luterano


Frei Martinho Lutero (1483-1546) é tido como o principal articulador da Reforma Protestante na Europa continental do século XVI. Ele se apresentou nas suas 95 teses afixadas na porta do Castelo de Wittenberg em 31 de outubro de 1517 como “Mestre de Artes, Mestre de Sagrada Teologia e Professor oficial da mesma”.
Seu trabalho inicial como reformador se concentrou naquilo que considerou como um erro dos “pregadores de indulgências que dizem ficar um homem livre de todas as penas mediante as indulgências do papa” ampliando-o posteriormente para incluir uma reflexão teológica embasada na afirmação da graça de Cristo como único suporte para a igreja e para o cristão.
Com esta visão, Lutero classificou como adiáforos, todos os outros temas, inclusive a reflexão sobre o culto e a liturgia cristã mantendo a estrutura da missa em suas paróquias. Observe-se que na Fórmula da Concórdia de 1577 Lutero chamou de adiáforos (do grego ἀδιάφορον – literalmente: coisa diferente, em alemão mitteldinge: questões secundárias) “os ritos eclesiásticos que não são ordenados, nem proibidos, na Palavra de Deus” (artigo 10).
Posteriormente, Lutero, porém, não se limitou a ser simplesmente um imitador das formas litúrgicas recebidas do passado. Buscando levar a fé consciente ao povo, ele tanto traduziu a Bíblia para o vernáculo, possibilitando o acesso do Livro Sagrado à língua alemã, como influenciou as formas litúrgicas e musicais do seu culto.
Quanto ao posicionamento de Lutero em relação à missa, no prólogo de A Missa Alemã e a Ordenação do Ofício Divino de 1526 o reformador afirma:

Há três formas de serviço divino e da missa. Em primeiro ligar, uma latina que publicamos antes e que se chama Formula missae (...). Em segundo lugar, existe a missa e o serviço divino em alemão (...). Porém a terceira forma, que deveria possuir a genuína ordenação evangélica, não deveria ser celebrada com tanta publicidade nas praças nem diante de todo o povo; senão (...) quando houverem pessoas que desejarem seriamente ser cristãs, aí se elaborariam imediatamente as ordenações do culto e suas formas.

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sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Doenças da Alma – FIBROMIALGIA


Chego aqui a mais uma doença que tem afligido o ser humano, a fibromialgia. Somente em tempos recentes este mal começou a ser identificado e tratado como uma doença distinta. Tanto é que a própria ciência ainda tateia buscando conhecer causas, sintomas específicos, prevenção e tratamento adequado.
Para um conhecimento inicial deste mal, vamos observar o que diz a Mayo Clinic, um centro médico americano especializado em fibromialgia: “A fibromialgia é um distúrbio caracterizado por dor musculoesquelética generalizada acompanhada por problemas de fadiga, sono, memória e humor. Os pesquisadores acreditam que a fibromialgia amplifica sensações dolorosas, afetando a forma como o cérebro processa os sinais de dor.”
Passando estas informações em linguagem mais leiga: fibromialgia é um mal generalizado em que a cabeça do doente interpreta qualquer coisa que aconteça com o corpo como se fosse dor. Por isso doi tudo – sempre.
Dando mais olhadas em sites especializados, pode-se perceber que para esta doença ainda não há tratamento que leve a um estado de superação e cura da doença e que possa ser indicado de forma científica e padronizada para todos os casos detectados. Como disse lá em cima, a ciência médica ainda tateia quando o assunto é fibromialgia.
Em geral o que se recomenda e pode ser feito é buscar cuidados paliativos como terapia cognitivo-comportamental, hidroterapia, técnicas de tratamento quiroprático, alongamento, massagem e acupuntura. E o principal é recomendar alguns truques para distrair-se da dor como exercício físico, gerenciamento de estresse e técnicas de relaxamento, além de incentivo a ocupação com tarefas ligadas a arte, música e alegria.
Mas já falei muito sobre a fibromialgia física. O importante aqui é destacar a fibromialgia do espírito. Temos diagnosticado este mal em diversos cristãos. Como um mal generalizado, a alma destes doentes espirituais interpreta tudo que lhe acontece como sendo algo que lhe inflige dor. E por isso vivem em constante sofrimento doloroso. Qualquer exortação, qualquer movimento ou exercício espiritual, qualquer toque – ainda que carinhoso – lhe causa dor profunda.
E por causa desta constante sensação de dor na alma, seus sintomas vão se irradiando e provocando dores morais, dramas existenciais, complexos de incapacidade, mau humor e indisposição espiritual, isolamento e inaptidão comunitária cristã.
E o pior que a dor não passa!
Agora observe que se para o problema da fibromialgia física, por enquanto, tudo o que os médicos podem oferecer é um prognóstico de possível esperança de vida normal, apesar da dor; para a fibromialgia do espírito o nosso Médico Supremo já providenciou a cura e a eliminação completa de toda a nossa dor ao executar aquilo que o receituário profético já prescrevia:
Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si mesmo levou todas as nossas dores. O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e nas suas dores fomos curados (a profecia está em Is 53:4-5 e o cumprimento foi completo na cruz do Calvário).
É verdade. Eu sei que enquanto transitamos nessa vida aqui, algumas vezes um espinho ou outro realmente fere nossa alma e a sensação de dor e incômodo se mostra inevitável. Mas o santo remédio divino já foi ministrado e seus efeitos já devem começar a ser sentidos por aqui enquanto a profilaxia completa da doença não se dá.
Contudo é a certa esperança da cura definitiva que deve me mover a continuar a jornada cristã, apesar das dores que não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada.
Por enquanto disfarçamos a dor da caminhada com arte, música, louvor e exaltação ao que é digno. Então chegará o dia em ele enxugará dos nossos olhos toda a lágrima pois não haverá mais dor alguma – é que estas coisas já passaram.