sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

VENHA PARA FORA!

 


No capítulo onze do Evangelho de João está narrado o episódio da morte de Lázaro em Betânia, um dos amigos de Jesus.

Envolvido no ambiente fúnebre, Jesus foi até o túmulo do amigo morto.  Entre o cortejo que o acompanhou muitos pensaram que seria apenas para um último adeus.  E João observa que alguns perceberam a compaixão de Jesus enquanto outros apenas duvidaram e questionam (observe os versos 36 e 37).

Diante do túmulo só havia duas coisas a se fazer: ou chorar a morte e deixar-se levar pelos seus rituais; ou vencê-la pelo poder divino que Jesus detinha.  E era isso que ele estava intentando fazer naquele lugar de morte.

Tirem a pedra.  Disse Jesus (v. 39).

Após quatro dias e já cheirando mal, a morte parecia uma sentença final.  Então Jesus, em primeiro lugar, se dirigiu ao Pai numa prece, e em voz alta falou com autoridade, chamando Lázaro da morte para vida.

Lázaro, venha para fora! (v. 43).

Ele poderia realizar o milagre apenas com um suave sussurro (ou até sem pronunciar uma palavra sequer), e também sabia que o pedido ao Pai era desnecessário (ele mesmo diz assim no verso 42).  Mas havia ali a multidão precisava ver para testificar que o homem que há pouco chorava também é o Deus-Filho enviado ao mundo.

Assim, estampado e demonstrado o poder de Jesus, ele deu mais uma última ordem: desamarrem ele e o deixem ir (v. 44). 

Jesus veio trazer vida e liberdade, e a ressurreição de Lázaro indicava muito bem todo o caráter da vinda e ministério de Jesus.  Além de vencer a morte, devolvendo-lhe a vida o Mestre queria que nada o impedisse de viver uma vida plena (relembre Jo 10:10).

  

Vá ao YouTube para ouvir uma reflexão sobre o choro de Maria e Jesus nesse episódio:

"JESUS E MARIA CHORARAM"

 


 

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

O CÉU DE GLÓRIA


 

Depois que todo o mal foi expurgado da ordem criada, João simplesmente declara: vi novo céu e nova terra (Ap 21:1 – noto um eco de Is 65:17).  E somente nesta curta frase temos o registro implícito de como o vidente compreende a ação de Deus na história.  Deus não fará um remendo na criação carcomida pelo pecado – ele fará nova (acrescente nesta compreensão o verso cinco).  Também Deus não cogita uma eternidade exclusivamente celeste, etérea, supra-histórica, pois o novo céu terá sempre por paralelo uma nova terra.  Assim é o Todo-Poderoso, o que era, que é, e há-de-vir (mais uma vez, leia Ap 1:8 e 4:8).  Assim é o que está por fazer.  Não uma simples continuação linear da história ou a pura supressão dela.  No primeiro caso seria apenas a perpetuação das tiranias e tribulações.  No segundo, postergar e diluir o juízo e controle de Deus na história.  Em ambos o mal venceria.  Mas não é assim.  Deus subverte a história, cria tudo novo, refaz sua criação a partir daquele que é o princípio e o fim; razão de ser, origem e destino de toda a criação.  Por nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17:28).

E tem mais: então o mar já não existe.  Quanto à inexistência do mar, entendo que merece uma reflexão à parte.  O texto não apresenta nenhum argumento sobre a ausência do mar, contudo, se me permitem uma suposição, entendida sob o ponto de vista do exilado e degredado João, onde o mar era não somente o limite de sua existência e a demonstração do poder tirano de Roma que o prendia, como também o obscuro domínio do pavor e desconhecimento num tempo quando a navegação em mar aberto representava inevitável risco; a extinção do mar seria certamente um consolo extra.

Continuemos.  João vê também a nova Jerusalém devidamente paramentada como uma noiva pronta para o casamento (Ap 21:2). As duas figuras são por demais importantes na descrição do Apocalipse (cidade e noiva), e João as vai retomar ainda neste capítulo.  Então vou aguardar também ainda mais um pouco.  Antes ele tem algumas palavras de conforto e ternura para dizer.

Na visão inicial, João foi confortado pelo que vive pelos séculos dos séculos: não temas (Ap 1:17).  A multidão diante do Cordeiro também se sente confortada de maneira carinhosa com a promessa de que Deus os apascentará (Ap 7:16-17).  Mas é agora, na visão do novo céu e da nova terra, que o amor e cuidado se mostram por inteiro.  Penso que aqui deveria citar alguns textos sobre o amor incondicional de Deus e como ele se releva para nós.  Sei que é tarefa por demais incompleta, já que em toda a Bíblia as referências são inúmeras; desde Jr 31:3 onde o próprio Senhor diz: Eu a amei com amor eterno; com amor leal a atraí; até o convite de carinho de Jesus: vinde a mim os cansados (em Mt 11:28).  Contudo, nenhuma expressão é mais enfática e contundente quanto 1Jo 4:8 – Deus é amor.

É exatamente este o tempero das palavras da visão registradas aqui: chegou o momento em que se enxugará toda lágrima, a morte não mais existirá, nem luto, nem dor.  Tudo isso já é passado (Ap 21:4).  Finalmente se cumpriram as profecias: ... pelas suas pisaduras fomos sarados (Is 53:5).  Com o que Paulo concorda: a morte foi vencida pela vitória (1Co 15:54-55 – citando Is 25:8 e Os 13:14).  E, dita para toda a eternidade: vinde benditos do meu Pai (palavras de Jesus em Mt 25:34), a frase recebe a chancela daquele que é o Alfa e o Ômega (Ap 1:8 e 21:6), que faz novas todas as coisas (Ap 21:5), que nos oferece de graça da fonte da água da vida (Ap 21:6 – ofertada também à mulher samaritana em Jo 4:13-14) e nos recebe como filhos amados (Ap 21:7 – leia mais Jo 1:12-13).

 

Do livro TU ÉS DIGNO –Uma leitura de Apocalipse

 

Leia todo o livro TU ÉS DIGNO – Uma leitura de Apocalipse.  Texto comovente, onde eu coloco meu coração e vida à serviço do Reino de Deus. Você vai se apaixonar por este belíssimo texto, onde a fidelidade a Palavra de Deus é uma marca registrada.

 

Disponível na:
AD Santos Editora

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

O RICO E O MENDIGO


Uma ênfase que Lucas dá ao seu Evangelho é o cuidado com os marginalizados e excluídos como aqueles que são atraídos para o Reino de Deus e da alegria que é tê-lo na companhia do Rei.

Com esta motivação, Jesus contou a história sobre um rico que vivia esplendidamente e um pobre mendigo que sofria com sua fome e chagas (leia a parábola em Lc 16:19-31).

Além do detalhe que esta é a única parábola de Jesus em que um personagem é nomeado – Lázaro, devemos dar atenção ao fato de que a ênfase não recai sobre este estado inicial dos personagens.  Afinal o próprio Jesus já tinha dito que a vida é mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes (Lc 12:23).

É a falta de atenção e compaixão demonstrada pelo rico da história em sua vida, voltada exclusivamente para si, que o condenou a uma existência longe de Deus.  Riqueza ou pobreza não são condições finais da existência, nem abrem ou fecham os portais do seio de Abraão.

A maneira como lidamos com a confiança em Deus e o cuidado com os que estão mais próximos que apontam o nosso lugar no Reino de Deus.  Jesus já havia ensinado isso diversas vezes.

(Extraído da revista “Lucas” – Editora Sabre)

 


terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

O CULTO CRISTÃO E A RELIGIOSIDADE GREGA – 2ª parte

 

Outro aspecto que jugo importante a se destacar na formação do culto na igreja cristã e a sua relação com a religiosidade grega do primeiro século são os cultos de mistérios.  Na religião popular grega os ritos de mistério eram frequentes.  Enquanto Asclépio curava, os ritos de mistério de Elêusis, que associava promessas religiosas a garantias na agricultura, ofereciam também a certeza de renascimento depois da morte.  O culto eleusino estava ligado à deusa Demeter – deusa da agricultura – e à sua filha Perséfone.  Segundo a mitologia, Perséfone foi raptada por Hades.  Quando sua mãe sentiu sua falta ela saiu à sua procura.  Durante a viagem, Demeter foi recebida pelos habitantes de Elêusis, um sítio sagrado perto de Atenas.  Como gratidão a deusa lhes ensinou os ritos secretos dos deuses que garantiam aos mortais tanto a certeza de boas colheitas (a fertilidade da terra) quanto o retorno da vida após a morte (a periodicidade das estações).  Convém destacar que este culto atendia às duas características básicas da religiosidade: em primeiro lugar respondia aos anseios da vida e sua preservação aquém e além da morte, contudo também rompia com os cultos nacionais que se reservavam às camadas mais abastadas da população abrindo-se para qualquer homem ou mulher que tivesse conhecimento dos ritos secretos (mistérios) revelados.  Robert Coleman, em The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge observa que nos cultos de mistério "homens e mulheres, cativos e livres" obtinham as benesses da divindade através de um ritual de iniciação, ou purificação (myēsis) que os qualificava para a admissão em um culto anteriormente confinado aos cidadãos".  E completa:

A abertura do santuário eleusino aos atenienses coincidiu com uma onda de reavivamento religioso, o qual (expandindo para o território semítico no século sexto a.C.) infundiu na mente dos homens a ideia de uma possibilidade definida de felicidade numa vida futura, condicionada a uma comunhão íntima com os deuses que era alcançada na oferta do sacrifício.  Purificação é a chave do culto de mistério; pela palavra mistério se entende um rito no qual muitas coisas sagradas são exibidas, as quais não podem ser obtidas pelo cultuante sem ele ter passado completamente pela purificação prescrita.

Sabemos muito pouco como aconteciam as liturgias nos cultos de mistério pois suas práticas só eram reveladas aos iniciados que juravam mantê-las em segredo, assim não é possível comparar prática a prática os mistérios gregos e o cristianismo.  Contudo, como no primeiro século o cristianismo era difundido às escuras devido às constantes perseguições sofridas pelos adeptos do novo culto e por a pregação cristã afirmar a certeza da ressurreição em Cristo Jesus como a garantia da vitória sobre a morte (1Co 6:14 e 15:55-57), bem como o ingresso na comunidade se dar através do batismo (At 2:42 passim) o qual poderia ser interpretado como um ritual de purificação e salvação (1Pe 3:21), somos levados a entender que, na mentalidade sincretista popular grega, as duas práticas cultuais acabariam por trocar influências entre si.

Este amálgama religioso, porém, também mereceu críticas da nascente igreja, como foi no caso do culto a Asclépio citado antes, mas com um acréscimo: mesmo reconhecendo que provisoriamente ainda há mistérios na mensagem cristã, o evangelista Lucas cita declaração do próprio Cristo ao afirmar que "não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido" (Lc 12:2); além do mais a razão de ser de tais mistérios cristãos é que o oculto "resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado" (1Pe 1:7).

 

Do livro: DE ADÃO ATÉ HOJE – um estudo de CultoCristão.

A imagem lá em cima: ruinas de Elêusis (Ελευσίνα), Grécia –
crédito da imagem: Google Maps

 


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Conheça também outros livros:
TU ÉS DIGNO – Uma leitura de Apocalipse
PARÁBOLA DAS COISAS

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

ARREPENDIMENTO – A primeira das disciplinas cristãs


 

Todas as disciplinas cristãs são essencialmente um jeito próprio de viver, mas é preciso ficar claro também que elas começam no interior do ser humano (veja Mt 15:18).

Ora, sendo o arrependimento a primeira das disciplinas cristãs, então, naturalmente ela é o ponto de partida para que o cristão possa viver de maneira adequada toda a sua vida de modo disciplinado e consciente diante de Deus e dos homens (veja Lc 2:52).

Mas, para nos aprofundarmos na disciplina do arrependimento é preciso que primeiro se diga algo sobre o pecado.

A Bíblia nos diz que fomos criados de acordo com a imagem de Deus (veja Gn 1:27), mas pelo pecado do primeiro casal, toda a espécie humana foi contaminada pelo pecado (veja Rm 3:23 e 5:12).  

O pecado é a separação que o ser humano experimenta da vontade e do projeto de Deus para sua existência.  Ele rompe o relacionamento do Criador com as suas criaturas e gera um abismo que pode ser compreendido como uma falta ou dívida do ser humano para com Deus.

Também o pecado é um desvio da rota traçada, um erro do alvo estabelecido para homens e mulheres.

Tudo isto que afirmamos sobre o pecado produz consequências, principalmente no interior do ser humano, mas também traz sequelas para sua vida exterior.  

Neste ponto é que a disciplina do arrependimento começa a ser entendida mais profundamente.

Nos exemplos bíblicos, o arrependimento verdadeiro, experimentado como uma disciplina cristã, tem que começar no interior do ser humano.  O arrependimento tem início quando há no interior da alma a certeza muito clara de que algo está errado – não deveria ter acontecido desta maneira, nem tomado estas implicações.

E esta certeza interior, que já é a manifestação da presença do Espírito Santo no coração do crente, gera uma sensação de abandono e rejeição.

O arrependimento começa com a alma que se sente perdida e desamparada por causa do distanciamento do Criador, distância esta que foi provocada pelos seus próprios atos e decisões.

Mas a disciplina do arrependimento não para por aqui: se for apenas um sentimento de que algo está errado é apenas remorso que leva à morte e não arrependimento verdadeiro.  É preciso que este sentimento venha a motivar a tomar uma decisão séria e definitiva que produza resultados concretos.

A decisão é séria porque envolve o destino da sua própria vida; é definitiva porque vai exigir uma nova postura em relação aos erros cometidos; e produz resultados concretos porque leva a uma tomada de resoluções que envolvem toda a vida, tanto interiormente quanto nas atitudes externas.

Ou seja, para que não seja sentimento vazio, é preciso que mude completamente a forma, o jeito, de viver e agir em relação àquele pecado cometido e do qual o fiel se arrepende.

Que assim comece nossa vida e caminhada cristã.

 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

O CULTO CRISTÃO E A RELIGIOSIDADE GREGA – 1ª parte

  

A fé cristã, logo cedo, se expandiu em várias direções; enquanto apóstolos como Paulo, Pedro e João seguiram rumo ao ocidente estabelecendo igrejas da Ásia Menor até a Europa romana, outras levas de apóstolos e discípulos de Cristo seguiram em outros sentidos.  Assim, por exemplo, se firmaram comunidades cristãs tanto no Egito de fala grega em Alexandria como de fala copta.  Também comunidades surgiram na Armênia e na Arábia e outras indo ainda mais além das fronteiras do Império Romano.  Cada uma destas comunidades agregou à incipiente herança cristã comum e às formulações judaicas compartilhadas desde o início várias outras tradições locais com mais ou menos liberdade e distanciamento desta herança.  Aqui, contudo, interessa-me o ramo da igreja que se estendeu para o mundo greco-romano, não somente porque numericamente se tornou majoritário, mas principalmente porque é dele que nascerá a Igreja no Brasil e dele receberá suas principais tradições, práticas e manifestações, inclusive de culto.

Ao romper os limites do judaísmo e entrar no helenismo, a igreja cristã encontrou uma cultura classicamente estruturada e uma religiosidade e mitologia arraigadas.  Entretanto o contato maior do cristianismo primitivo não foi com a cultura clássica grega, foi com a fé popular e com as manifestações cultuais mais em voga nas camadas da população mais carentes e menos letradas – onde a igreja encontrou maior número de adeptos.  Aqui duas manifestações cultuais se destacaram: o culto a Asclépio e os cultos de mistério gregos. 

Principalmente entre estas camadas populares nas comunidades greco-romanas, uma das divindades de maior popularidade e veneração no primeiro século era Asclépio, o qual passou a ser conhecido pelos romanos pelo nome de Æsculapius – Esculápio, e rivalizou com as crenças e celebrações cristãs pela preferência popular não-judia.  Seu templo principal ficava na cidade de Epidauro, no Peloponeso, mas existiram diversos locais de culto ligados a ele.

Segundo a Mitologia Grega, Asclépio era filho de Apolo e da ninfa Coronis, tendo sido educado pelo centauro Quiron de quem aprendeu as artes da cura e chegou a se tornar um grande médico.  Considerando a situação precária em que viviam as populações carentes ao longo do mundo greco-romano, a presença de um deus taumaturgo seria sempre alvo de grande devoção.  Quanto ao culto a Asclépio propriamente dito, chamado pelos gregos de Ασκλέπιος Σωτήρ (Asclepios Soter – Salvador), os santuários dedicados a ele se tornaram refúgios para toda espécie de doentes que os procuravam na esperança de que um deus lhes oferecesse a cura.  As práticas ali desenvolvidas consistiam na prescrição de regimes terapêuticos que teriam sido ensinados pela divindade e que incluíam prescrição de exercícios e dietas e rituais de incubação.

Como uma das ênfases da pregação da igreja sobre a divindade de Jesus atribuía-lhe o poder de curar, então, na visão popular, Jesus e Asclépio seriam em certo aspecto deuses rivais, consequentemente os seus respectivos cultos seriam também rivais.  Acontece que nas crenças politeístas, ao contrário da visão do monoteísmo ético pregado em Israel e recebido pela igreja, a rivalidade entre divindades não significaria necessariamente que um culto deveria anular o outro e sim que poderiam ser complementares.  Nesta concepção de sincretismo religioso tão em voga, o cristianismo acabou por ser influenciado pelo culto a Asclépio.

Em relação ao culto sincretista grego e sua influência sobre a Igreja Primitiva devo, porém, destacar a carta dirigida a Igreja de Pérgamo no Apocalipse (Ap 2:12-17).  Naquela cidade da Ásia Menor estava construída uma acrópole dedicada a vários deuses – entre eles Zeus, Atenas e o próprio Asclépio – além de ter sido ali estabelecido desde muito cedo o culto ao imperador – reconhecido como o "Divino Augusto".  Sobre este ambiente George Ladd observa:

Pérgamo também era o centro do culto a Asclépio, o deus-serpente das curas, e o seu colégio de sacerdotes-médicos era famoso.  Pérgamo, assim era uma fortaleza das religiões pagãs e do culto ao imperador, um ambiente extremamente difícil para uma igreja cristã.

Na carta do Apocalipse, embora se elogie a fidelidade dos cristãos dali, há o reconhecimento de que os cultos praticados na cidade eram na sua essência anticristãos: "Sei onde você vive – onde está o trono de Satanás" (Ap 3:13).  Por isso a reprimenda é enfática: "Tenho contra você algumas coisas: [...] comer alimentos sacrificados a ídolos e praticar a imoralidade sexual" (Ap 3:14).  Considerando que um dos enfoques principais do Apocalipse é a adoração ao Cordeiro – como já comentei acima – então qualquer manifestação cultual que incluísse outra divindade, mesmo que apenas tangencialmente (e aqui em especial devo incluir o culto popular a Asclépio e o culto oficial ao imperador), deveria ser encarada pela igreja como influência satânica e para tal atitude dever-se-ia exigir arrependimento (Ap 3:16).  Este posicionamento neotestamentário então me leva a compreender que, embora nas camadas mais populares possa ter havido uma tendência ao sincretismo; na sua formação doutrinária e cultual a igreja desde cedo primou pela exclusividade do culto a Cristo.

 

Do livro: DE ADÃO ATÉ HOJE – um estudo de Culto Cristão.

Na imagem lá em cima, a Acrópole vista a partir do Santuário de Asclépio –
crédito da imagem: Wikipedia.com

 


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PARÁBOLA DAS COISAS

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

EU PEDI AO ETERNO

 

 

Hoje eu quero tomar como minhas as palavras e sentimentos do salmista no Sl 27:4.  Entendo que o livro dos Salmos é o repositório de emoções e sentimentos humanos que encontramos na Bíblia.

 

Uma coisa eu pedi ao Eterno – e isso eu vou buscar: que eu possa permanecer ali, na casa do Eterno todos os dias da minha vida [apenas] para contemplar o esplendor do Eterno e possa meditar no seu templo.

 

Acompanhe comigo.

Em primeiro lugar o salmista pede ao Eterno: ele coloca diante de Deus o que realmente deseja.  Ele se sente livre para trazer diante do Senhor aquilo que mais deseja.  Assim deve ser o relacionamento com Deus: como Pai Amoroso e Deus Todo-Poderoso.  É a ele a quem dirijo as minhas súplicas.

Mas o salmista prossegue dizendo que não somente pediu, como também está disposto a se empenhar para que seu desejo se concretize. 

Tendo colocado nas mãos de Deus, agora posso dizer que meu coração está cheio de desejos e que não medirei esforços para que seja realizado em minha vida aquilo que eu mais almejo.

E o que eu realmente desejo: permanecer ali, na casa do Eterno.  Não há lugar melhor, nem companhia mais gratificante do que a casa e a presença do Amado.  É só isso que importa.  O que realmente eu quero é poder estar na presença de Deus, em sua casa, cultuando e louvando ali ao meu Deus.

Então, por isso mesmo, por estar na casa do Eterno, eu posso finalmente experimentar a razão de minha existência completa: contemplar o esplendor do Eterno.  Desejo estar diante de Deus para contemplar-lhe a beleza de sua santidade, desfrutar das alegrias de sua gloriosa presença: desfrutar simplesmente de sua companhia.  É isto que eu realmente quero.

Como disse lá em cima, fazendo minhas as palavras do salmista, gostaria de abrir meu peito e também expressar meu desejo ardentemente:

 

  Uma coisa eu pedi ao Eterno – e isso eu vou buscar

 

(Na imagem lá em cima, os vitrais da PIB em Curitiba – crédito: Google Maps)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Esse tempo já chegou?

 Conversa mantida pelo WhatsApp:

 


 

¶ Sobre Hebreus 8:10-13, esse tempo já chegou?

 

Boa noite querido

 

Deixe-me tentar uma resposta longa para entender a passagem bíblica.

0 texto aos Hebreus é um magistral tratado sobre a divindade e superioridade de Jesus Cristo e, consequentemente, um reconhecimento de que o que ele fez foi superior a tudo.

Isso vale para a compreensão que o texto tem das alianças de Deus com os seres humanos.

Dito isso, vamos olhar para o texto específico:

O autor vem argumentando que a antiga aliança – a do Sinai (do AT) – se esgotou por que era imperfeita e incapaz de cumprir propósitos eternos – mesmo sendo ordenada pelo próprio Deus.

Então em Cristo uma segunda aliança foi firmada – essa agora eterna e perfeita – pois baseada no sacrifício do Calvário.

Sendo assim, ao declarar consumada sua obra na cruz, Jesus estabeleceu a nova aliança (lembrando que é o que celebramos na Ceia do Senhor).

Hoje somos, como igreja, o novo Israel de Deus e ele começou a cumprir seus ditames da aliança ali no Calvário e vai concluir em sua segunda vinda (novamente, também celebramos na Ceia o intervalo entre os dois momentos da aliança do Calvário).