terça-feira, 23 de maio de 2023

DIVERSOS INFERNOS – culturas e religiões

 

O que seria realmente o inferno?

Onde ele fica?

 

Num post anterior (reveja aqui link) eu listei alguns dos termos mais usados na tradição judaico-cristã para se referir ao mundo pós vida.  Agora quero continuar com os questionamentos e citar o que dizem algumas culturas, religiões e mitologias de outros lugares e origens.

 

IMPORTANTE novamente:  Esse NÃO é um artigo de doutrina cristã, ensaio teológico, ou coisa parecida.  É apenas um post de curiosidade!

 

A Divina Comédia

No início do sec. XIV o italiano Dante Alighieri escreveu um poema em estilo épico intitulado "A Divina Comédia".  O texto é de ficção, mas acabou por fornecer a base do que o ocidente pensa sobre o mundo pós vida, o inferno, e o diabo.

Na obra, o autor se imagina numa jornada espiritual pelos três reinos do além-túmulo, tendo como guia e mentor o poeta romano Virgílio (que viveu no sec. I a.C.).

A Terra estaria no meio de uma sucessão de círculos concêntricos e Jerusalém seria o lugar atingido por Lúcifer quando foi expulso das esferas mais superiores, assim, a Terra Santa seria o Portal do Inferno e lugar de todas as batalhas espirituais.

Nesse mundo dantesco, há inferno, purgatório, e paraíso – cada um com suas características próprias e subdivididos em níveis.

O inferno, criado da queda de Lúcifer do Céu, é formado por nove círculos, três vales, dez fossos e quatro esferas.  Em sequência, o inferno torna-se mais profundo a cada círculo, pois os pecados ali castigados são mais graves.

Há ali na entrada do inferno um portal em forma de arco onde pode ser lido: "Deixai toda a esperança, vós que entrais!"

 

Islamismo

Na crença mulçumana, os que não creem em Alá e não seguem os princípios do Alcorão serão conduzidos ao Inferno (Jahannam – em árabe: جهنم) onde queimarão vivos para sempre.

O sofrimento no inferno islâmico é tanto físico quanto espiritual e, tal como descrito no Alcorão, tem sete níveis; sete portas; um fogo ardente, água fervente e a Árvore dos Tormentos.

 

Mitologia grega

Para os gregos o mundo inferior – mundo dos mortos – era o domínio de Hades e estava dividido no Tártaro, poço onde eram castigadas as almas amaldiçoadas, a Ilha dos Afortunados, lugar dos heróis e os Campos Elísios para onde iriam as almas virtuosas.

 

Budismo

Nas sequências de reencarnações, causadas pelo karma, algumas implicam em maiores sofrimentos.  O pior deles: o Reino dos Fantasmas Famintos é comparável à noção de inferno, onde, em estado de consciência, sente-se forte privação sem que haja possibilidade de ser saciado.

 

Mitologia chinesa antiga

A antiga cultura chinesa falava do Diyu – o reino do inferno, ou submundo (em chinês tradicional: ).  Com semelhanças ao conceito sânscrito de Naraka, o Diyu é um lugar onde os pecadores são torturados com pregos de metal martelados no corpo, esfolados vivos, seus corpos serrados ao meio, e tendo que se ajoelhar sobre pontas de metal.  Esse reino é dominado pela divindade Yama e tem por objetivo renovar os espíritos que, após cumprirem as penas, poderão reencarnar.

 

Antiga religião egípcia

Na mitologia egípcia, o Duat é uma espécie de purgatório pelo qual a alma de um recém-falecido deve passar.  O cenário ali é como um gigantesco mundo similar à Terra, mas que possui diversos espíritos perigosos que tem parte humana e parte animal, além dos muitos outros monstros sobrenaturais.  Somente depois que a alma conseguisse atravessar todo o Duat, ela teria seu coração pesado por Anúbis – deus das necrópolis – que, dependendo da avaliação, enviaria a alma para viver com os deuses na eternidade ou a entregaria a Ammit, a "devoradora de corações".

 

Mitologia nórdica

Nilfheim – reino da névoa – é o inferno na mitologia nórdica.  Um mundo completamente tomado de gelo, localizado no ponto mais profundo do universo sustentado pela Yggdrasil – a árvore dos mundos.  Em seu centro, há uma fonte gelada (Hvergelmir), de onde brotam de vários rios.  Ali é o reino de Hel, deusa dos mortos.  Lá também mora a serpente Nidhogg, que se alimenta da carne dos cadáveres e desgasta as raízes da Yggdrasil para derrubá-la.

 

Cito para finalizar:  No Apocalipse bíblico cristão, o Filho de Homem assim se apresenta:

 

Não tenha medo.

Eu sou o primeiro e o último.

Aquele que vive –
passei pela morte,
mas conquistei a vida para sempre.

Tenho as chaves da morte e do Hades.

(Ap 1:17-18)

 

terça-feira, 16 de maio de 2023

DIVERSOS INFERNOS – termos

 

Em 1945, o filosofo francês Jean-Paul Sartre escreveu uma peça de teatro intitulada Huis Clos (Entre Quatro Paredes, na versão brasileira) na qual duas mulheres e um homem são condenados a permanecerem para sempre juntos.  É nessa peça que uma das personagens profere a frase: “O inferno são os outros”.

 

Mas: o que seria realmente o inferno?

Onde ele fica?

 

Para procurar respostas a essa questão humana, vou me ater aqui a termos e expressões que a tradição judaico-cristã consagrou para se referir ao mundo pós vida.

 

IMPORTANTE:  Esse NÃO é um artigo de doutrina cristã, ensaio teológico, ou coisa parecida.  É apenas um post de curiosidade linguística!

 

Inferno – termo de origem latina: infernum – derivados de inferus, que significa "as profundezas" ou o "mundo inferior". 
Detalhe: os romanos usavam a palavra no cotidiano como referência a um lugar abaixo, ou posto sob algo.

Sheol – transliteração do hebraico שאול.  Literalmente o lugar dos mortos, sepultura ou câmara sepulcral.
Ocorre cerca de 65 vezes no Antigo Testamento Hebraico (como no Sl 6:5).  Em geral, a versão grega dos LXX traduz por ᾅδης (Hades) e a Vulgata Latina por infernum.
Em Português, tanto Almeida como a NVI traduzem sepultura.
Em alemão, Lutero usou Hölle (inferno).  Em inglês, a KJV fala grave (cova).  E a Reina Valera em espanhol se refere a sepulcro.

Geena (AT) – da expressão hebraica גיא בן־הנם ou גיא הנם – o Vale [do Filho] de Hinom.  Um desfiladeiro em torno da Cidade Antiga de Jerusalém usado como um depósito onde o lixo era incinerado.  Atualmente o lugar é chamado de Uádi er-Rababi.
Aparece em cerca de 13 citações no Antigo Testamento Hebraico (como em Jr 7:31-32).  Sempre com referência ao ponto geográfico de Jerusalém.
Em geral, em tais textos, a versão grega dos LXX traduz a expressão como ἐν φάραγγι υἱοῦ Ἑννόμ (no desfiladeiro do filho de Hennom) e a Vulgata Latina por in valle Benennom.

Geena (NT) – no grego do Novo Testamento: γέεννα.  Há 12 ocorrências nos Evangelhos Sinóticos e mais uma em Tg 3:6 (com essa grafia não ocorre na versão grega dos LXX).
O fraseado do Evangelho (Mt 5:22), em grego bíblico, é: ... εἰς τὴν γέενναν τοῦ πυρός.  Na versão em grego moderno: ... στη φωτιά της κόλασης (aqui a palavra γέεννα é atualizada para κόλαση – inferno).
Na Vulgata Latina, as palavras são gehennae ignis.
Lutero traduziu a expressão para o alemão como: höllischen Feuers.  Em inglês lê-se na KJV: hell fire.  E em espanhol na Reina Valera: infierno de fuego.

Hades – na mitologia grega, Άͅδης era um dos irmãos de Zeus e deus do mundo inferior e dos mortos (os romanos chamavam de Plutão). 
No Novo Testamento grego o termo implica em um lugar de habitação dos mortos, ou o mundo invisível (como em Ap 20:14).
Para essa passagem, nas versões: a Vulgata Latina: infernus; a NVI em português: Hades; Lutero em alemão: Hölle; a KJV em inglês: hell; e, também em inglês, a NIV: Hades.

Tártaro – no texto de 2Pe 2:4 aparece o verbo grego ταρταρόω (somente nesse texto no NT) – "prender no tártaro".  Na mitologia grega, Tártaro era um deus primordial que personificava o mundo inferior, o lugar mais profundo e sombrio do Hades.
Na versão moderna do grego o verbo é distendido: έριξε στα τάρταρα (jogar no tártaro).  Para a Vulgata Latina: tartarum.  Lutero usou: Finsternis zur Hölle (cadeias de escuridão).

Lago de fogo – Apocalipse usa cinco vezes a expressão ἡ λίμνη τοῦ πυρός (no NT grego apenas no Livro da Revelação).  No grego moderno: λίμνη που ήταν από φωτιά (um lago que era de fogo).  A Vulgata Latina traduziu: in stagnum ignis.  Lutero também traduziu:  in den feurigen Pfuhl.  A versão em hebraico moderno diz: באגם אש (no lago de fogo).

 

Esses sãos alguns dos termos mais usados na tradição judaico-cristã para se referir ao mundo pós vida.  Num próximo post, quero explorar o que dizem crenças, culturas e mitologias de outros lugares e origens (veja no link).

 

Mas antes: não devo terminar sem citar as palavras do Evangelho:

 

“TU ÉS O CRISTO, O FILHO DO DEUS VIVO.”
... sobre esta pedra edificarei a minha igreja,
e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
(Mt 16:16-18)

 

sexta-feira, 12 de maio de 2023

O que é servido à mesa em sua casa?

 

O mês de maio é reconhecido como o mês para se honrar as Mães, o que acaba despertando o sentimento mais familiar nas pessoas.

Todavia o que acalora o meu coração é lembrar que sentados à mesa em família (sem precisar do Dia das Mães) era plantado em nós valores singulares e preciosos que moldaram o nosso CARÁTER.  À mesa aprendemos sobre: RESPEITO, GRATIDÃO, GENEROSIDADE, HONESTIDADE, PERDÃO ...  Poderia seguir com a lista com esses valores do céu, mas não é necessário (Mt 7:16).

Foi à mesa, ouvindo as Escrituras, no culto doméstico, onde sentimos nosso coração queimar e os nossos olhos foram sendo abertos por causa da PRESENÇA DE JESUS conosco (Lc 24:13-35).  Foi lá que, quando Jesus batia à porta, papai e mamãe conscientemente abria e ELE ceava conosco (Ap 3:20).

O exemplo permanece. 

Ainda hoje nos reunimos com mamãe em volta da mesa e em nossas casas também.  A família cresceu: noras, genros, netos.

Apesar da falta de papai, o legado de ensino e fé deles continua tatuado em nossa existência.  Não tem como remover.

Nos reunimos à mesa e nela continua presente JESUS. Fazendo o coração queimar e os olhos da NOVA GERAÇÃO se abrirem.

Não pensem que somos perfeitos.  Mas à mesa também aprendemos que nesse lugar podemos perdoar e recomeçar em nossos relacionamentos.

Nessa mesa, além da comida que sacia a fome física, SEMPRE é oferecido alimento espiritual e continuamos forjando em nossa nova geração o caráter de Jesus como aprendemos.

Por que não vem de nós é DOM DE DEUS (Ef 2:8).

SOLI DEO GLORIA

Obrigado mãe e pai (in memoriam)

O que é servido à mesa em sua casa?

Texto escrito por Elda Nogueira (minha esposa)

 

terça-feira, 9 de maio de 2023

A ORIGEM DO MAL

 

Sobre a questão da origem do mal, em geral devemos dividir em duas abordagens: (1) o mal em si; e (2) o mal moral.  Vamos tratar de modo separado.

 

(1) O mal em si.  Essa seria mais uma questão da Filosofia da Religião que da Teologia em si (para a Teologia a segunda abordagem será mais relevante).

 

A questão da dualidade na realidade, em que existem paralelamente o bem e o mal, as diversas mitologias tentaram dar respostas com um mínimo de coerência e que satisfizessem os questionamentos existenciais humanos. 

 

Para os antigos – como os povos da Mesopotâmia e do Egito – o bem e o mal sempre coexistiram, e da ação conjunta dessas forças (deuses) o mundo fora criado.

Os maniqueístas – doutrina que flertou com o cristianismo na sua origem – criam basicamente na existência de um conflito cósmico entre o reino da luz (o Bem) e o das sombras (o Mal) – como forças equiparadas.

 

Agostinho de Hipona, que dominou a Filosofia e a usou para defender a fé cristã contra os maniqueus, argumentou que o Bem é a essência da criação de Deus, assim como a Luz criada por Deus.  O Mal, por outro lado, é o “não-criado”, aquilo que carece na criação para que esta se manifeste em supremo bem, assim como as trevas não existem enquanto ente criado, mas apenas como ausência de Luz.

 

Como comecei dizendo, é uma questão filosófica.  Mas como definição do mal em si, é como podemos tratar: o mal é a carência, a ausência dentre a criação.

 

(2) O mal moral.  Vamos partir das teses de Agostinho, para compreender como o mal se manifesta.  Essa é a questão teológica que realmente importa.

 

O Bispo Africano dedica toda uma secção de suas Confissões para argumentar sobre o problema de Deus e o problema do mal (Livro VII).  Ele declara:

 

“Procurei o que era a maldade e não encontrei uma substancia, mas, sim uma perversão da vontade da substancia suprema – de Vós, ó Deus – e tendendo para as coisas baixas: vontade que derrama as suas entranhas e se levanta com intumescência”.

 

Sendo o mal em si a carência da criação, essa, contudo, só se mostra efetiva na existência humana como é movida – ou ativada – pela vontade da criatura.  Ou seja, é a pura vontade do ser humano, que usa de sua liberdade, o que gera o mal moral.  E por esse, homens e mulheres sempre serão responsabilizados.

 

E para ecoar nas Sagradas Escrituras, Tiago, em sua Epístola, afirma que a tentação – a inclinação para o mal – não tem origem em Deus, mas cada um é levado à maldade quando se deixa seduzir pela concupiscência (a vontade), e é desse desejo que o mal é gerado (confira Tg 1:13-15).

 

sexta-feira, 5 de maio de 2023

MAIO LARANJA – porque Deus ama nossas crianças


 

Já temos como certa a tradição de marcar o mês de maio como o mês da família – e em especial o segundo domingo como o Dia das Mães.

E na disposição colorida que temos emprestado ao nosso calendário, esse mês desde o ano 2000 é o MAIO LARANJA, em referência ao dia 18 de maio como o Dia Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.

 

Segundo a Agência Brasil: A data instituída pela Lei Federal 9.970/00 é uma conquista que demarca a luta pelos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes no território brasileiro.  Esse dia foi escolhido porque em 18 de maio de 1973, na cidade de Vitória, no Espírito Santo, um crime bárbaro chocou todo o país e ficou conhecido como o “Caso Araceli”.  Ela tinha oito anos de idade, quando foi raptada, estuprada e morta por jovens de classe média alta daquela cidade. O crime até hoje está impune (fonte: agenciabrasil.ebc.com.br).

 

Nessa publicação breve quero apenas me somar na defesa de nossas crianças e adolescentes brasileiras, lembrando de algumas passagens bíblicas sobre o tema:

 

Preste atenção: nem [pense] em desprezar sequer um destes pequeninos
 (
Mt 18:10).

 

Ensine a criança a tomar decisões e, mesmo quando crescer, ela saberá fazê-las
(Pv 22:6)

 

Deixem as crianças vir a mim.  Não as impeçam.  O Reino dos céus pertence aos que se parecem com elas (Mt 19:14)

 

As suas ruas ficarão cheias de meninos e meninas que nelas brincarão
(
Zc 8:5)

 

Quem recebe uma criança em meu nome, a mim me recebe
(Mc 9:36)

 

Javé, nosso Senhor, como é nobre o teu nome sobre a terra toda!
Tu que puseste tua imponência acima dos céus.
A partir de bocas infantis e daquelas que ainda amamentam comandaste a força.
(
Sl 8:1-2)

 

#  Sobre a atenção e o cuidado em relação as crianças – como grupo mais vulnerável e frágil na comunidade – eu fiz a seguinte afirmação (sugiro ler todo a análise sobre Mt 18:10 no artigo: SOBRE OS ANJOS DA GUARDA no link seguinte: Escrevinhando):

 

O que fica em destaque nestas passagens é cuidado zeloso por aqueles que mais precisam: crianças, pupilos e ovelhas.  Deus se importa que eles.

 

# Sobre a disciplina como um ato de amor na formação das nossas crianças, em 2016 eu comentei o tema respondendo a um questionamento a cerca a vara com a seguinte conclusão (pode ler todo o artigo sobre A VARA E A DISCIPLINA no link seguinte: Escrevinhando):

 

Ora se o objetivo primário motivado pelo amor pastoral é trazer a ovelha para o redil, então trazer dor física, moral ou espiritual e deixar sequelas está completamente fora de questão – seria um contrassenso!

 

Que Deus abençoe nossas crianças.

 

terça-feira, 25 de abril de 2023

FRIO OU QUENTE



– Como entender a citação da Igreja que não é nem quente nem fria de Apocalipse?

 

Vamos lá, vou tentar explicar:

 

A citação é da sétima e última das cartas às igrejas do Apocalipse – Carta à Igreja de Laodiceia.  Por estar incluída na relação indicada por aquele que é o Alfa e o Ômega entre os destinatários originais a quem deveria ser enviado o texto (Ap 1:11), creio não restarem dúvidas: ali era uma igreja cristã.

Tinha seus problemas – inclusive bem acentuados – mas isso não a excluiu do rol dos cristãos.

Aquela era uma igreja que se achava rica e poderosa (a cidade era assim), mas, aos olhos da fiel testemunha, não passava de uma miserável (Ap 3:17).

Também uma igreja que se sentia auto suficiente e que se bastava a si mesma a ponto de dispensar o próprio Jesus em sua comunhão (Ap 3:20).

 

Mas o Amém não desistiu dela.

 

Assim, nessa conversa, chegamos ao ponto: frio ou quente (Ap 3:15-16).

Como proposta de tradução para essas palavras, a partir do Grego – são adjetivos – eu faria com uma referência a água (talvez facilite na compreensão):

"Já que o copo d'água não está nem refrescante nem fervendo..."

 

Detalhe:

* A palavra para frio/refrescante (no Grego: ψυχρός) aparece aqui e mais na citação de Mt 10:42 apenas – ali sim: um copo de água fria.

* A palavra para quente/fervendo (no Grego: ζεστός) só aparece aqui em Apocalipse.

 

Então vamos entender o problema da Igreja de Laodiceia.

Digo logo: não tem nada a ver com fervor – ou quentura – pentecostal.  Nem com frieza espiritual

Como sempre afirmo: esse tipo de interpretação literal traz mais problemas que soluções hermenêuticas.

A reprimenda feita a Igreja ali é no sentido de eles não fazerem uma opção radical por Cristo, mas viverem uma espécie de Cristianismo insosso, meia boca, relaxado.

 

Lembre-se de que Jesus advertiu que para segui-lo era preciso ser radical em suas decisões (leia Mt 12:30).

 

Os cristãos de Laodiceia queriam um Cristianismo que não fosse nem frio nem quente, nem sim nem não, nem dentro nem fora, nem ajuntando nem espalhando. Como diriam os franceses: " À la vontê mon chéri ".

Um sal que só serviria para ser pisado pelos homens (lembro ainda Mt 5:13).

 

O compromisso com o Cordeiro que esteve morto e com seu sangue comprou para Deus todo tipo de gentes (importante em Ap 5:9) – esse compromisso requer radicalidade.

 

Ou refrescante (pois ele mesmo é nosso refrigério – Sl 23:3).  Ou fervente (sua glória sempre vai nos parecer quente como fogo – Ex 24:17).

 

E vou além.  Chego a entender que para Cristo o ideal é preservar juntas as duas características na caminhada cristã.  Ele próprio foi manso e humilde (Mt 11:29) e se viu tomado pelo zelo da santidade (Jo 2:17).

 

É a tal convite radical que ele nos convida batendo à porta. Pois em sua Ceia há vinho fresco e pão quente (marque aí Ap 3:20).

 


Leia também o livro TU ÉSDIGNO – Uma leitura de Apocalipse.  Texto comovente, onde eu coloco meu coração e vida à serviço do Reino de Deus. Você vai se apaixonar por este belíssimo texto, onde a fidelidade a Palavra de Deus é uma marca registrada. 

Disponível na AD Santos editora

 

Recomendo também que ouça uma reflexão sobre as Cartas as Igrejas no Apocalipse no YouTube


 

terça-feira, 18 de abril de 2023

DEIXA QUE EU TE DEFENDO!

 


O Instagram me sugeriu um cartum de @umsabadoqualquer, do desenhista brasileiro Carlos Ruas (reproduzo aí).  Em geral eu gosto de seu traço mesmo que, algumas vezes, eu ache que ele pega um pouco pesado.  Faz parte! – mas, tudo bem, eu não me sento na cadeira de julgador do trabalho alheio.

 

Bem, desde que vi, ontem, estou com a imagem na mente e vou aqui compartilhar um pouco as ideias que sopraram em minha mente.  Tentarei fazer isso numa certa ordem.

 

Em primeiro lugar, eu consigo enxergar muita alegria e bom humor nas páginas Sagradas da Bíblia.  Talvez alguns de seus autores seriam bons cartunistas.   Inclusive o próprio Jesus foi acusado de ser festeiro e contador de histórias – vez ou outra escancarou quão burlesca pode ser a seriedade grave dos defensores da fé, da tradição e da moral.

 

Quanto ao "pegar pesado", o humor tem mesmo essa função social e infantil de denunciar que o rei está nu (como na história de Hans Cristian Andersen).  Ao expor quão ridículas são nossas certezas e frágeis nossos pressupostos, o cômico nos força a reavaliar nossos fundamentos.

 

Detalhe UM – só se ri do que é sério!

Detalhe DOIS – não é por acaso que humor e graça sejam conceitos correlatos!

Detalhe TRÊS – em 2017 eu declarei que permaneço no fundamento.  Reli agora o que escrevi e continuo permanecendo.  Click no link para ler o texto – Escrevinhando.

 

Mas estou fugindo da charge.  E como não sei desenhar (bem que gostaria!), vou voltar às palavras:

 

Um fiel engravatado e convicto de suas convicções (ô redundância boa!) determina que Deus se recolha para trás para que ele – o paladino – possa defendê-lo (É verdade: uma imagem pode valer mil palavras).

 

E o interessante é a cara divina de espanto:

– Hein!?!?!?

 

Desde quando Deus precisa ser defendido?

E vai ser defendido de quê?

Quem deu procuração para o engravatado religioso?

A defesa inclui dogmas? Lógica? Apologética? Tribunal? Inquérito Santo?  Cruzada? Jihad? Guerra? Excomunhão?

 

Ufa!!! Até cansei!!!

 

Mas, vamos continuar pensando:

Um deus que precisa ser defendido não vale sequer assentar entre outras divindades.

Em verdade: eu não sei o que seria tão ofensivo que me exigiria ter que pugnar em defesa do meu Deus.

Também.  Se esse deus atribuiu garantias religiosas exclusivas aos engravatados religiosos de cabelo escovado, então um Deus Encarnado que come com bufões não pode compartilhar dos mesmos atributos.

 

É hilário que ainda tem uns engravatados que se prestam a esse papel.

 

E ridículo também é a diferença de tamanho entre o defensor e o defendido (e olhe que é só um cartum!)

 

Mas estou achando que o Vento que sopra como quer – e apenas se faz ouvir a sua voz – está fazendo um vendaval em minhas ideias.

 

Então, antes que me tenham por provocador, vou deixar que Deus mesmo se defenda por Sua Palavra.

E ali eu leio que a alegria do Senhor é a nossa força pois o Reino de Deus é feito exatamente dessa alegria (em Ne 8:10 e Rm 14:17).

Também vejo Jesus dando prioridade a crianças que brincam no seu Reino (compare Mc 10:14 com Zc 8:5).

No Salmo Real o poeta sacro até percebe que gentes se levantam para pelejar contra o Senhor, mas a resposta divina consiste em rir e caçoar deles (no Sl 2:4).

 

E eu não preciso defender um Deus que ri.