quinta-feira, 29 de março de 2018

NO JARDIM DO OLIVAL


Trago hoje em minha memória a cena de Jesus no Getsêmani. Ali era um jardim onde os judeus haviam plantado várias oliveiras e para lá iam em busca de um lugar tranquilo a fim de orar e encontrar a paz.
Lucas conta que Jesus também tinha este costume (confira Lc 22:39). Mas a cena em especial que os evangelistas narram com tendo acontecido pouco antes da páscoa parece se configurar de contrastes gritantes. Na companhia de alguns dos seus discípulos mais achegados, o Mestre foi àquele lugar para se encontrar com o Pai na perspectiva da hora fatal que se aproximava. Neste sentido, o jardim antecipava o calvário e se mostrava como um drama profundamente humano.
O contraste começa a se descortinar quando comparamos o ambiente do jardim com o estado de espírito de Jesus. Na Bíblia a oliveira é sempre símbolo de alegria e o seu florescer a certeza de que Deus renovou sua bênção para com o seu povo. Um bom exemplo é a história de Noé quando, ainda na arca, recebeu a pomba de volta com um ramo de oliveira e então soube que o castigo do dilúvio tinha acabado (leia em Gn 8:11).
Entre as oliveiras do jardim, o ânimo de Jesus era exatamente o oposto. Ele disse: "minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal" (Mt 26:38). Toda a beleza e alegria que o cercava não foram suficientes para mudar o abatimento e o desconsolo que se enraizava em sua alma. O homem Jesus estava triste no meio daquela alegria.
Mas isso tinha um porquê. Aquela agonia humana de Jesus era resultado de dois outros contrastes que ele vivenciava naquele instante.
O homem Jesus era a encarnação do Verbo – a segunda pessoa divina (leia Jo 1:14). Esta afirmação implica em dizer que o Cristo na eternidade experimentara a presença íntima, a companhia que interpenetra na Trindade. Ali o homem antecipava a solidão absoluta do martírio (atente para o grito na cruz em Mt 27:46). Este contraste atormentava Jesus. E nem os discípulos o acompanhavam (estavam dormindo com diz Mt 26:40 e 43).
Mas também o Deus-Filho era o criador da vida e a sua verdadeira essência (leia ainda Jo 1:4), e mais na eternidade ele se apresenta como o que era, o que é e o que há de vir, o Todo-poderoso (em Ap 1:8) – aquele que existe por si só. Naquele momento a certeza da morte, da limitação, da finitude assombrava Jesus em flagrante contradição com sua essência imortal. E ainda viu seu suor transformado em sangue (narrado por Lc 22:44).
Naquele jardim Jesus encarnou uma humanidade: amedrontada, solitária e mortal, coabitando com a sua divindade: poderosa, solidária e eterna.
Assim, trazendo em minha memória a cena de Jesus no Jardim do Olival, louvo a Deus porque ele passou por aquilo tudo por me amar e hoje a minha própria alma pode se sentir livre daquele terror. Glória a Cristo!
(Publicado originalmente em ibsolnascente.blogspot.com – 17/09/2010.
A imagem lá em cima eu achei no Wikimapa e retrata o local atualmente)

terça-feira, 27 de março de 2018

TITULUS – A sentença da cruz


João, ao narrar a crucificação de Jesus, informa que sobre a cruz, Pilatos mandou colar uma placa com a acusação que pesava sobre aquele condenado: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS (confira Jo 19:19).
É claro que a placa original o tempo cuidou de esquecer por aí… (embora teorias várias existam sobre sua atual localização – não vou perder tempo com isso). Mas aproveito para algumas observações e curiosidades sobre ela:

1. Todos os Evangelhos fazem, referência à placa. Mt 27:37 / Mc 15:26 /Lc 23:38 / Jo 19:19.
2. A placa ficou conhecida pelo termo latino titulus e Lucas observa que ela foi grafada em letras gregas, romanas e hebraicas.
3. Sobre o suplício da crucificação, sabemos que foi criado pelo persas, introduzido por Alexandre no Ocidente e bastante utilizado pelos romanos.
4. Também era costume romano indicar o crime do condenado para impingir terror e desestimular atos parecidos nos que assistiam a cena.
5. Conta-se que no ano 71 a.C. Pompeu teria mandado crucificar 200 mil escravos num único dia.
6. Por tradição, é comum ver crucifixos hoje em dia com uma plaquinha colada em cima com as letras latinas INRI. Esta é uma abreviatura da expressão em latim: Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum.
7. Para ilustração, aí vai a acusação com letras latinas, hebraicas e gregas (com grafia modernizada – ou atualizada):



sexta-feira, 23 de março de 2018

A 13ª EMENDA – um documentário


Estou cansado de viver todo dia sob ameaça de morte
Martin Luther King –
pastor e ativista negro norte-americano
citado em "A 13ª Emenda"
Atendendo a requisitos acadêmicos, assisti recentemente um documentário na televisão: "A 13ª Emenda" (em inglês 13th) produzido e dirigido por Ava DuVernay sobre o sistema prisional norte-americano com cerca de 1h40’. O documentário foi produzido pela Kandoo Films em 2016 e lançado no mesmo ano pela rede de streaming Netflix. Deixe-me compartilhar um pouco aqui sobre ele.
O filme apresenta fatos, dados estatísticos e depoimentos tendo como mote a 13ª emenda da Constituição Americana que diz: "não haverá, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito a sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados, salvo como punição de um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado". Assim, a partir da análise desta lei e de suas consequências, as questões raciais, históricas, socioeconômicas e culturais são apresentadas como característica marcante da nação norte-americana.
A narrativa começa com as consequências da Guerra Civil Americana ainda no século XIX quando foi promulgada a 13ª emenda à Constituição Americana. E de lá para cá, como a brecha da lei sobre a condenação por crime foi usado sucessivamente para manter o status quo daqueles que detêm o poder em detrimento dos menos afortunados.
Seguindo a mesma linha, o documentário cita a película de 1915 "O Nascimento de uma Nação" (em inglês: The Birth of a Nation) onde o negro é apresentado como figura caricata, irresponsável, indolente e sempre disposto a ações violentas. E a constatação é direta: Materiais como estes influenciaram na formação cultural dos EUA como uma nação altamente racista e desigual.
A 13ª Emenda segue com vários depoimentos e análise em primeira pessoa com o registro de sucessivos episódios como o programa Law and Order do presidente R. Nixon nos anos 1970 e seus desdobramentos no mandato do presidente Reagan. O documentário declara: "O que era retórica em Nixon passou a ser literal em Reagan". E por consequência, passou a ocorrer um verdadeiro "genocídio em comunidades pobres e de cor".
Continua citando as ações do presidente B. Clinton e os casos da ativista Angela Y. Davis – perseguida pelo FBI por suas posições contrárias às políticas racistas. Mas principalmente como o caso das drogas foi usado para legitimar as ações policiais e a exploração e exclusão perpetradas sobre negros e latinos norte-americanos.
Também merece citação aqui a boa análise da atuação da ALEC na fomentação de políticas segregacionistas e de como tais políticas têm feito enriquecer a alguns brancos e suas corporações sobre a exploração do trabalho de negros e migrantes.
Antes que descreva mais spoiler a respeito do excelente documentário, permita-me alguma reflexão pessoal sobre a impressão que ele me passou.
Em primeiro lugar, confirmou o que já sabia que toda a propaganda norte-americana sobre eles serem um país livre, justo e exemplo para o mundo nada mais é que isso mesmo: propaganda. Os EUA não são justos e nem servem de paradigma de valores cristão para o mundo que eles pretendem liderar. As chagas, mazelas e dívidas sociais internais são gritantes e com certeza o Deus que eles dizem professar vai requer o sangue do todos os inocentes americanos que eles covardemente deixaram derramar.
Mas também o documentário me trouxe a refletir sobre o Brasil e o racismo daqui, muitas vezes disfarçado, mas que tem privado muitos de nossos irmãos brasileiros de vida digna – e o pior, em diversas vezes com a aquiescência e legitimação das igrejas cristãs!
Além de recomendar o filme como material obrigatório para reflexão e análise a todos que se entendem agentes do Reino de Deus nesse tempo, quero finalizar com o questionamento que inquieta no final do documentário:
Qual o valor da vida?


terça-feira, 20 de março de 2018

A MISSÃO COMO PROCLAMAÇÃO

Segunda parte das considerações sobre o livro Compromiso y Misión de Orlando Costas, publicado em 1979.

Tendo observado a trajetória que trouxe a missão da igreja desde a sua chegada às terras latino-americanas até aos impasses de hoje quando tem que se decidir entre a ênfase na tradição ou a busca pela reconstrução – tendo principalmente que encontrar um meio termo entre as duas visões por compreender que ambas são indispensáveis a integridade da missão; Costas se lança à tarefa de analisar teologicamente a missão em si em seus vários aspectos.
Um primeiro aspecto a se observar é a missão como proclamação. A Palavra de Deus – onde se fundamenta toda a fé cristã – é em última análise a proclamação de Deus ao ser humano. E esta palavra de Deus afirma que “a fé segue a mensagem, e a mensagem ao anúncio” (Rm 10:17). Toda a missão cristã principia pela proclamação, pelo anúncio. João anunciou a chegada do Messias e Jesus a chegada do Reino; daí a igreja ficou incumbida da missão de proclamar o Reino e as boas novas de Deus, Senhor do Reino, ao ser humano. A igreja é enviada a pregar, o que faz dela um arauto do reino, mas esta proclamação é efetivamente dinâmica o compromete toda a vida e a vida toda da comunidade cristã e não somente o “profissional religioso”. Além do que esta é uma tarefa “contínua e ininterrupta” (p. 30).
Ainda sobre a missão como proclamação é bom observar que o conteúdo da proclamação pode ser compreendido em três sentidos: proclamação do nome de Deus; proclamação do reino de Deus e proclamação do momento de Deus. A proclamação cristã anuncia o nome de Deus – ou seja: ele mesmo (Lv 24:11) – como sendo a razão de ser todas as coisas. A proclamação cristã anuncia o reino de Deus como uma realidade escatológica que é chegada para julgar o ser humano. A proclamação cristã anuncia o momento de Deus como um chamado a conversão e a mudança de vida.
Neste ponto, uma frase de Costas nos chama a atenção:
Não parece haver nenhuma evidência bíblica ou teológica sólida para a nítida e clara distinção que se encontra nas teologias protestantes tradicionais entre conversão e santificação. Pelo contrário, a santificação parece estar implícita na conversão e a conversão na santificação (p. 41).
Tradicionalmente a Teologia protestante tem compreendido que salvação é um ato único e histórico, resultado exclusivo da graça e a santificação como um processo transitório que cada cristão vai galgando ao longo de sua vida. Costas parece concordar com J. Stott que compreende as duas: salvação e santificação, andando lado a lado, ato e processo que precisam ser desenvolvidos.


terça-feira, 13 de março de 2018

COMPROMISSO E MISSÃO – 1ª parte


Considerações sobre o livro Compromiso y Misión de Orlando Costas, publicado em 1979.

O texto de Orlando Costas trata de um assunto “velho”, mas não “ultrapassado” – como chama a atenção o Prof. Bonilla na apresentação do trabalho. Compromisso e Missão é uma reflexão sobre a missão da igreja neste mundo de incertezas em que vivemos. Esta é a proposta do livro que está contida no subtítulo e a empreitada a que Costas – um teólogo porto-riquenho – se propõe nesta obra: uma reflexão sobre os desafios e implicações de missão da igreja no contexto histórico e de vida em que ela vive. Mas o texto não é simplesmente uma observação, mesmo que criteriosa, de fatos e contextos; é uma significativa reflexão teológica sobre o papel que a igreja tem a desempenhar dentro do projeto do Reino de Deus.
Segundo o próprio Costas, “o presente tomo surge de experiências teológico-pastorais em diferentes partes da América Latina” (p. 7). Assim cada capítulo foi originalmente preparado com objetivos distintos e somente depois foram reunidos neste trabalho. O primeiro capítulo – preparado para um congresso na Costa Rica em 1977 – trata da missão cristã na América Latina hoje. Os capítulos seguintes tratam da missão como atividades a serem desenvolvidas e vivenciadas pela igreja: proclamação; discipulado; mobilização; crescimento integral; libertação e celebração. Mas a reflexão sobre a missão da igreja deve conduzir-nos a uma visão e reafirmação do compromisso da igreja em missão com aqueles os quais “o mesmo Jesus Cristo se comprometeu” (Bonilla, p. 13).
Como se apresenta na América Latina hoje a missão cristã? Como se entende e que forma toma?
Refletindo sobre estas questões Costas apresenta duas categorias que ajudam a compreender como se apresenta hoje a missão da igreja na América Latina: “tradição” e “reconstrução”. Tradição é o processo de formulação e reformulação que caracteriza a missão na sua passagem de geração a geração. Neste aspecto a missão e a tradição andam de braços dados e conduzem a uma nova reflexão sobre a igreja e seu papel dentro da história. Por isto mesmo, toda tradição missional da igreja deve conduzi-la a uma reconstrução – reconstrução tanto da sociedade que precisa ser alcançada pela missão cristã como da própria missão em si com seus vários aspectos.
Na história da missão cristã protestante na América Latina a reconstrução sempre se mostrou como a via condutora que conduziu a igreja. As missões protestantes que chegaram a América Latina formaram-se, na sua grande maioria, com propostas de modelos “civilizador” e “evangelizador” (citando J.M. Bonino, p. 17). Costas comenta:
Estes dois modelos de reconstrução missional tinham, certamente, seus pontos de contato. Ambos procediam de mesmo ambiente geográfico-cultural: o mundo anglo-falante. E ambos se haviam feito possível econômica e politicamente graças ao movimento liberal modernista do século XIX (p. 18).
Vale aqui concordar com as observações do autor. As condições sociais e histórica peculiares do século XIX conduziram o cristianismo protestante, principalmente inglês e norte americano, a engajar-se no projeto de missionário. Paralelamente ao esforço de ganhar o mundo para Cristo, a empresa missionária protestante típica do século XIX, ocupou-se na criação de orfanatos, hospitais e principalmente escolas que serviriam para divulgar e fomentar as idéias do cristianismo anglo-saxão que chegavam como proposta civilizatória. Lembrando Max Webber: a ética protestante se apresentava como a fórmula que levaria os países latinos americanos ao progresso tão almejado, como o tinha feito nos países do norte da Europa e nos EUA. É neste contexto que Costas observa que a visão evangelizadora da missão propunha uma reconstrução da “imagem da igreja como instituição centrípeta e clerocêntrica em comunidade centrífuga e laicocêntrca” (p. 21).
Aqui floresce então um pentecostalismo, como expressão de uma cristianismo carismática que irá trazer sempre a tona os impasses entre o novo e o velho na vida da igreja. Ou seja, o cristianismo que chegou com as missões protestantes traziam no seu bojo uma proposta inovadora de progresso humano e social; ao se estabelecer formulou sua própria tradição que, por isto mesmo, tende a se institucionalizar e cristalizar. Costas observa:
Essa realidade se move entre o desejo e luta por novas formas de entender e efetuar a missão cristã entre os grandes desafios continentais, e o zelo e luta por conservar o legado missional de nossos antepassados. E entre essa dialética vive (e morre) a missão cristã na América Latina Hoje (p. 26).

Leia mais:
1. A MISSÃO COMO PROCLAMAÇÃO
2. A MISSÃO COMO DISCIPULADO
3. A MISSÃO COMO MOBILIZAÇÃO
4. A MISSÃO COMO CRESCIMENTO INTEGRAL
5. A MISSÃO COMO LIBERTAÇÃO
6. A MISSÃO COMO CELEBRAÇÃO

sexta-feira, 9 de março de 2018

JUSTIÇA E VINGANÇA EM APOCALIPSE


No contexto das batalhas do Apocalipse, principalmente quando é mostrada a queda a Grande Babilônia, aparece o tema da justiça e da vingança de Deus sobre os arrogantes, infiéis e adoradores do mal (Ap 18). Este é um tema por vezes complicado. Mas acredito que mesmo não sendo central – o importante é a verdadeira adoração ao Cordeiro – mas vale uma reflexão. Acompanhe o raciocínio.
Uma luta feroz foi travada entre os agentes da maldade – o dragão, as bestas e seus seguidores – e os que permaneceram fieis a Deus e somente a ele prestaram culto. E a Babilônia representa tudo de ruim e diabólico que pode se juntar para tentar afrontar Deus e sua dignidade única de receber adoração. É neste contexto beligerante que a justiça de Deus será exercida e a exultação dos seus ocorrerá.
De um lado estão os agentes da morte, do caos, da destruição: aquele que só vem para matar, roubar e destruir (fraseado de Jo 10:10). São estes que ao longo da história humana se concentraram na Babilônia sempre e de diversas formas para atentarem contra os que se mantiveram santos.
Do outro lado está o Cordeiro que é digno de toda adoração porque foi morto e com seu sangue comprou gente de todo canto da terra. E embora em alguns momentos até tenha parecido que o dragão da maldade estivesse ganhando a luta, a história sempre se manteve sob o controle do único que pode abrir os selos do livro da história humana (leia Ap 5:9).
Mas onde entra a vingança e a exultação neste arrazoado todo? Prossiga comigo. Há pontos a se considerar. Primeiro que a ação divina na história humana não é resultado de um intento apenas punitivo. Ou seja, Deus não almeja punir, mas purgar a terra e a humanidade decaída (considere Rm 8:18-25).
Ao contrário de Satanás que planeja se vingar de Deus destruindo sua obra-prima, o próprio Deus tem um plano para remir e trazer para junto de si toda a criação, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (o bem conhecido Jo 3:16). E enfatizo o pronome todo. Deus providenciou o meio de resgatar a sua obra das consequências do mal. Ora, isso não é vingança pura, é ato corretivo apaixonado e gratuito.
E tem mais. Apocalipse não traduz a história com olhos universais. Isso seria pura ingenuidade e certamente haveria de desconsiderar a realidade de que ao longo do tempo muitos se deixaram seduzir (embriagar) pelo poder e fascínio da besta encarnada na Babilônia (considere Ap 13:8-9 e 17:6). E contra estes Deus certamente exercerá seu justo juízo (indispensável ler Jo 3:36).
Antes de terminar, vou estender um pouco mais esta reflexão. Durante este processo de justiça e purgação que Deus tem produzido na obra criada, é certo que até os crentes fieis acabam sofrendo – e algumas vezes antes dos outros e de forma mais dura! – então, por que isso acontece?
Entendo que é na carta de Pedro que a resposta está mais clara e ajuda a entender todo este desenrolar da purificação. A epístola apostólica me diz que Deus já começou o julgamento (purificação) pelos seus (confira 1Pe 4:17) e continua: “Qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?”
Assim, volto ao Apocalipse entendendo o cântico de gratidão, alívio e principalmente louvor executado pelos santos pois finalmente chegou o momento de Deus colocar todas as coisas nos seus lugares devidos e agora a história humana pode encontrar seu destino apropriado.
Aleluia! A salvação, a glória e o poder
pertencem ao nosso Deus,
pois verdadeiros e justos
são os teus juízos.
(Ap 19:1-2)

 


Leia também o livro TU ÉS DIGNO - Uma leitura de Apocalipse.  Texto comovente, onde eu coloco meu coração e vida à serviço do Reino de Deus. Você vai se apaixonar por este belíssimo texto, onde a fidelidade a Palavra de Deus é uma marca registrada.


Disponível na:
AD Santos Editora

 

terça-feira, 6 de março de 2018

VIDAS SECAS


Lendo o livro do professor João Ferreira sobre livro "Vida cristã e participação política" (publiquei uma resenha recentemente, veja aqui), a certa altura, comentando sobre a triste realidade que a corrupção chegou ao Brasil a bordo das caravelas de Pedro Álvares Cabral – logo não pode atribuída como cria do governo petista (p. 89) – ele apresenta dois termos gregos clássicos: 'eulabeia' e 'foerbeia' (literalmente: vergonha e cabresto) para analisar o que estão querendo fazer conosco.
Lendo o texto do mestre, eis que me veio logo à lembrança a canção de Luiz Gonzaga e Zé Dantas composta em 1953 para criticar a atitude humilhante e pouco eficiente das elites que governaram o país por décadas e nunca resolveram o problema da seca nordestina, mas apenas nos ofereceram humilhações e discursos vazios.
Mas vou deixar toda conversa mole e apenas transcrever a letra. Ela fala por si só.

Seu doutô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão

É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage

Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão
Como vê nosso distino mercê tem nas vossa mãos


sexta-feira, 2 de março de 2018

GOSPEL vs. WORSHIP


Recebi na semana passada um pequeno questionário sobre o tema da música e da adoração nos cultos em nossa igreja. Antes do fim do dia pude responder.
Deixe-me adiantar logo que as respostas que dei foram ali apenas colocações inicias sobre o tema, sem maiores explicações. Entendo que cada uma das questões mereceria análises mais profundas.
Aqui vou esticar um pouco a resposta original mesmo sem a pretensão de esgotar o assunto. Vou insistir: é preciso aprofundamento e reflexão ampla, sincera e despida de preconceitos para se encaminhar qualquer resposta satisfatória.

1. Você gosta dos estilos musicais tocados na sua igreja?
Resp. Em geral gosto dos estilos, mas pode ser sempre enriquecido.
Acrescento: Se a questão se resume a gosto pelo estilo, então estamos no campo das preferências pessoais. Para cada estilo há boa música e som ruim (mas aqui também já vai mais discussão!). Cada estilo tem “jeito” e sua aplicação. É preciso saber usar.

2. Acha que o estilo musical americano (worship) influenciou muito as igrejas no Brasil?
Resp. Sim. O estilo americano nos influenciou. Mas isso não é um problema se for bem trabalhado.
Acrescento: Todo o nosso cristianismo evangélico nos chegou via nossos irmãos norte-americanos, então logicamente é de lá que recebemos as maiores influências. Mas como disse, isso não é um problema. Pelo contrário, entendo que a troca de influências vai acrescentar qualidade à nossa fé e culto.

3. Você gosta desse estilo ou prefere o modelo antigo?
Resp. Os estilos podem conviver e contribuir mutuamente.
Acrescento: Volta ao ponto da preferência pessoal (já me referi a ele na primeira resposta). Entendo que há riqueza na adoração quando colocamos nossa alma nela. E sempre nossa alma é multifacetada. Além de que, quando adoro a Cristo devo me achegar a ele em sintonia (termo musical) com a sua multiforme graça. O antigo e novo são indispensáveis.

4. Você acha que o worship é o estilo correto para adoração?
Resp. O problema não é o estilo em geral, mas quem e como é trabalhado.
Acrescento: Insisto. Quem adora a Deus sou eu quando faço minha alma vibrar os acordes divinos (continuo musical!) e não minha guitarra elétrica ou meu órgão de tubo. Ponto. Com isso esclarecido vamos entender que o conceito de “correto” quando se trata de adoração sempre é cultural e historicamente circunstancial. Porém não posso desleixar no uso do bom senso que o próprio Deus me deu.

5. Nesse estilo existem muitos espontâneos, você gosta?
Resp. Todo espontâneo exige muito de quem lidera. Preparo espiritual / técnico / sincronia, inclusive com demais lideranças e estruturas. Há lugar para ele.
Acrescento: Convém lembrar que nosso culto por vezes chamado de “tradicional” é herdado do movimento de Wesley (século XVIII) que privilegiou a celebração espontânea em detrimento à liturgia fixada do culto anglicano que ele conheceu. Ou seja, a adoração espontânea está em nossa raiz. Com certeza em tais espontâneos sempre há riscos de sustos, bobagens e até absurdos doutrinários. Mas ensaiando também se pode fazer isso! O importante é se deixar ser conduzido pelo Espírito Santo em todo e qualquer tipo de movimento e adoração.
E deixe-me tangenciar algo mais. Disputa entre ministro de louvor e da palavra é inaceitável, mata qualquer adoração e ofende a Deus.

Antes de fechar este texto, vou repetir: Entendo que cada uma das questões mereceria análises mais profundas. É preciso aprofundamento e reflexão ampla, sincera e despida de preconceitos para se encaminhar resposta satisfatória.
Estou disposto ao debate e a reflexão para que Cristo seja sempre glorificado.