quinta-feira, 28 de abril de 2022

JOÃO E O CORDEIRO

  


João, o Batista é uma figura de destaque no início do ministério de Jesus – isto é evidente.  É ele quem dá o primeiro testemunho acerca do Cristo.

Por aquela época, os judeus viviam um tempo que chamaríamos de expectativa messiânica.  Isto quer dizer que todos, de alguma forma, viviam a espera da chegada do Messias prometido de Deus que viria para mudar toda aquela realidade. 

Com a pregação, batismo e demais demonstrações do ministério de João, o Batista surgiu naturalmente a questão: seria ele o Messias que esperavam?  E para que não houvesse nenhuma dúvida, é o próprio Batista quem responde: Eu não sou o Messias – o Cristo (Jo 1:20).

João, o Batista sabia muito bem qual era seu lugar e importância: apenas preparar o caminho como uma voz que clamava no deserto (leia o verso 23 adiante). 

Ele não era nem sequer Elias ou qualquer figura ilustre, muito menos o Messias.  Este sim, estava por chegar.

O Messias teria a primazia.  Ao anunciador não caberia nem desatar as sandálias dos pés (atente para o verso 27).  E esta atitude de humilde serviçal diante do Cristo deve ser o modelo de nossa própria atitude diante do Cristo.

E com a chegada de Jesus, o verdadeiro Messias prometido, João, o Batista reconheceu que sua missão estava concluída.  Só lhe restava apresentá-lo: Veja: o Cordeiro de Deus – Aquele que leva o pecado do mundo (Jo 1:29). 

Ali estava ele e esta era sua missão: livrar o mundo dos seus pecados.

 

terça-feira, 26 de abril de 2022

HOLOCAUSTO E OBEDIÊNCIA – Considerando Jeremias 7:22

 

A questão principal é em torno da ordenação ou não do sacrifício – e isso em relação ao culto celebrado em Israel.

Tema interessante.  Vamos lá.  Creio que é possível dividir a análise para compreender melhor o texto e seu significado.

 

¶ Para começar: a tradução em português.

 

“... nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocausto ou sacrifícios.” – Almeida

“... nada lhes falei nem ordenei quanto a holocaustos e sacrifícios.” – NVI

“... não eram ofertas e holocaustos que eu queria deles.” – NVT

 

Elas parecem seguir a mesma compreensão de tradução.

 

A palavra aqui traduzida é o hebraico צוה (tsavah) que literalmente, nesse contexto, pode ser traduzido como comandar, ordenar ou dar instrução.

Curiosidade para acrescentar: a versão LXX em grego traduziu a expressão como ἐνετειλάμην (aoristo do verbo ἐντέλλομαι) que em português indica dar ordem ou instruir (mesmo termo presente em Mt 28:20).  E a Vulgata Latina usou præcepi (particípio do verbo præcepio) que pode significar tanto aconselhar como prescrever.

 

¶ Vamos olhar no texto do Êxodo o que ele nos diz sobre o que Deus queria na saída o Egito (depois voltamos a Jeremias).

 

Quando Moisés apresentou o requerimento do Deus de Israel a Faraó, as palavras foram as seguintes: “Deixe meu povo sair para adorar” (Êx 8:1).

Aqui a palavra em hebraico é עבד (avad) que significa exatamente curvar, prostrar, submeter-se – ou, por extensão: servir (gosto como os ingleses traduzem: service).  Obs.  Essa é provavelmente a palavra mais comum para adoração e culto no AT.

 

Chegando ao Sinai, nos 10 Mandamentos (em hebraico: דברdabarpalavras), a proibição do primeiro mandamento é sobre adorar outros deuses (ainda em hebraico é עבדavad).

 

As instruções para o holocausto – sacrifício sangrento – só vão aparecer no desdobramento da Lei no Levítico.

Ou seja, o que Deus ordenou ao povo como proposta para sair do Egito era para adorá-lo (não necessariamente para sacrificar animais e derramar sangue).

 

Essas citações me levam a entender que a adoração e o culto ao Senhor – como ele mesmo requeria – seriam algo mais abrangente que apenas holocaustos sanguinolentos de animais.  Incluía, além das ofertas do culto, uma vida de piedade espiritual, submissão ética pessoal e compromissos sociais.

 

E aqui, já incluindo uma compreensão cristã na questão.  Todo o sistema sacrificial que foi legislado no Êxodo e no Levítico seriam apenas uma ilustração – ou sombra daquilo que Deus realmente queria e apontaria para realização completa em Jesus Cristo (tanto Paulo como o autor aos Hebreus trabalham nessa linha de raciocínio – Cl 2:17 / Hb 10:1).

 

¶ Outras citações, antes de voltarmos a Jeremias.

 

Essa implicação do culto requerido a Israel está demonstrada em textos como o Salmo onde Deus – até com certa ironia – assevera: “não preciso dos novilhos do seu estábulo” (Sl 50:9).

A leitura de todo o Salmo é interessante para demonstrar que, no culto ao Senhor, embora os sacrifícios ainda fossem uma metodologia, o que realmente importava eram o arrependimento e a gratidão.

 

E ainda é preciso citar os profetas quando declaram que “misericórdia é o que eu quero e não sacrifícios” (Os 6:6).  Ou, ainda mais enfático, “Devemos trazer holocausto ao Senhor? ... o Senhor declara que pratique a justiça e ame a misericórdia e ande humildemente” (Mq 6:6-8).

 

¶ Agora, voltando ao texto de Jeremias 22:7.

 

Achei aqui uma citação de John Wesley especificamente sobre esse versículo:

 

Deus não condena essas ofertas, exceto comparativamente em relação à obediência, não tanto quanto à obediência aos seus mandamentos.

 

¶ Agora, lendo o contexto em que o verso aparece, o profeta claramente demonstra conhecer não somente a letra fria da Lei, mas o seu contexto e as implicações espirituais, morais e sociais que ela traz.  Como também a sociedade para a qual ele foi chamado a profetizar.

E é a essa compreensão radical que Jeremias desafia o povo com as palavras de Jr 22:7. 

 

– Sim. Deus ordenou os holocaustos. Mas, de que adiante manter os rituais de sacrifício e culto em funcionamento, como se Deus em algum momento precisasse ser satisfeito com tais liturgias, se não havia obediência ao conjunto dos mandamentos?

– Quando o Senhor libertou Israel do Egito, ele o fez para que o povo o servisse e seguisse seus preceitos, e não para que o alimentasse com suas ofertas e holocaustos (como o faziam os povos ao redor de Israel).

– Holocausto e rituais são importantes, mas não são o essencial.

 

¶ E concluindo, citando novamente o apóstolo Paulo:

 

– O nosso próprio corpo apresentado a Deus é o holocausto que implica em nosso culto que faz sentido (Rm 12:1).


sexta-feira, 22 de abril de 2022

UM CULTO INTENCIONAL



Tendo estudado sobre adoração e culto, venho buscando refletir e conhecer o que a Palavra de Deus tem a dizer sobre este tema.  Mas, também, tenho observado o comportamento e as atitudes de cristãos que se reúnem para o culto público.

Nesse intuito, creio que convém destacar alguns questionamentos:

– Se venho à comunhão dos santos para adorar a Deus, como isso fica demonstrado?

Importante, vou destacar a intenção – olhando a Bíblia.

Na profecia de Jeremias (29:13) leio que certamente acharemos a Deus quando o buscamos de todo o nosso coração.  Isto tem a ver com a intenção da busca no culto e na adoração.  

E o nosso culto deve sempre partir desta premissa: Eu venho à Casa de Deus porque tenho uma verdadeira intenção de me encontrar com Cristo.

Se minha intenção e prioridade é buscar a Deus com todo o coração, então as outras coisas podem – e devem – ficar para depois! 

– Como explicar ter sempre um assunto dito urgente que não pode esperar o desfrutar da companhia sagrada do amado? 

– Como entender que o metaverso me atraia mais que a divina presença real na celebração?

– Como justificar alguém que diz ter vindo buscar a Deus em primeiro lugar e a todo momento sai de seu culto para ir ao banheiro? para beber água? 

 Que prioridade e intenção são estas? 

– Não seria mais razoável entender que, sendo minha intenção prioritária o encontro com Cristo, todas as minhas atitudes me conduzissem a esse encontro? 

Continuo orando a Deus para que ele nos conduza a atitudes mais relevantes em nossa intencionalidade de cultuá-lo. 

(A partir de uma sugestão do livro No Baú da Adoração publicado em 2004)

terça-feira, 19 de abril de 2022

ELES VIRAM – a visão em João 20

 

Vamos conversar um pouco sobre a língua grega e a riqueza que seu vocabulário pode nos trazer.

Veja o caso da passagem do capítulo 20 do Evangelho de João. 

 

A narrativa em resumo conta que, no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo e viu que a pedra da entrada estava removida.  O texto então diz que ela correu e encontrou Pedro e o outro discípulo – provavelmente João.

Então todos correram de volta à cena e dirigiram seus olhares para ali.

 

Aqui está um pouco dessa riqueza vocabular helênica.  Cada um olhou e viu de um jeito diferente.

 

Verso 5 – O primeiro que chegou foi o discípulo.  Ele se abaixou, olhou para dentro da tumba vazia, e ainda do lado de fora viu as faixas de linho.

Aqui o autor evangélico usa o verbo grego βλέπω (blepo) para dizer que apenas uma olhada rápida e descuidada foi feita – uma passada de olho sem maior clareza de percepção ou compreensão. 

Essa também foi a palavra usada no verso 1 para a olhada da Madalena quando chegou e viu o túmulo sem a pedra. 

Outra citação – o apóstolo Paulo também usa esse verbo para descrever como agora conseguimos ver os mistérios de amor, antes que a perfeição nos seja revelada face a face (em 1Co 13:12)

 

Verso 6 – Depois chegou Simão Pedro, entrou no sepulcro e também notou as faixas de linho.

Agora já há uma maior atenção ao que cerca o observador.  O verbo usado em grego nesse verso é θεωρεώ (theoreo).  Com esse termo é dito que algo lhe chamou a atenção e ele começou a compreender o que havia ocorrido.  Já foi possível elaborar uma teorização da cena.

Outra citação – Lucas, no seu Evangelho, usa esse verbo para descrever alguém que observa e a avalia as implicações e custos para a construções de uma torre (em Lc 14:29).

 

Verso 8 – novamente o discípulo que chegou primeiro, agora também já dentro da tumba vazia, ele viu e creu.

Aqui a presença dos dois verbos ajuda a entender o significado dessa percepção.  Em grego é: καὶ εἶδεν καὶ ἐπίστευσεν.  O primeiro verbo é ὁράω (orao) – ver.  E o segundo é πιστεύω (pisteo) – crer.

O discípulo conseguiu ver e se deixou se tocado e envolvido pela cena.  Foi mais que uma passada de olho.  Mais que um vislumbre intelectual.  Seus olhos contemplaram algo que lhe tocou por dentro em sua existência.  Agora fez todo sentido!

Outra citação – no Apocalipse, é assim que João se refere quando viu a Nova Jerusalém, o novo céu e a nova terra.  E isso trouxe para ele a clareza do desfecho da visão.

 

terça-feira, 12 de abril de 2022

PRESO E CONDENADO

 

Traído por Judas Iscariotes, Jesus foi preso e levado a julgamento, primeiro pelo Sinédrio – a corte suprema dos judeus – depois por Pilatos – o representante romano.

Aconteceu, contudo, que em nenhum destes julgamentos seus acusadores acharam como o condenar. 

— Como condenar um homem bom e justo e que só fez o bem e falou a verdade!?

Vou seguir a sequência dos fatos como narrado pelo evangelista Marcos:

Os líderes judeus já tinham decidido condenar Jesus e, como não encontraram ninguém que desse um testemunho coerente o suficiente para acusá-lo, eles se aproveitaram de uma declaração verdadeira para incriminar Jesus (Mc 14:56).

Perguntado se ele era o Filho de Deus, Jesus respondeu: Eu sou (Mc 14:62).  E foi essa declaração que revoltou o Sinédrio e os fez entregar a Pilatos pedindo sua morte.

Pilatos, por sua vez, interrogou a Jesus e, mesmo não encontrando nenhum motivo para sacrificá-lo, decidiu agradar a multidão entregando Jesus aos soldados para que fosse crucificado (Mc 15:15).

Dali, condenado sem culpa e abandonado pelos seus seguidores, Jesus foi entregue para ser morto.

A história seguiu.

Os soldados romanos bateram e humilharam bastante Jesus e depois o levaram ao Gólgota – que quer dizer Caveira, uma colina perto de Jerusalém onde eram executados os inimigos de Roma.

Ali, por volta das nove horas da manhã, Jesus foi pregado numa cruz e sobre ele afixada sua acusação: O Rei dos Judeus (Mc 15:26). 

O texto também narra que, enquanto na cruz, Jesus foi alvo de toda espécie de zombaria (Mc 15:29-32).  E dos seus seguidores mais próximos, apenas algumas mulheres testemunharam de perto o momento de dor (Mc 15:40).

Ao final da tarde do mesmo dia o corpo já sem vida de Jesus foi entregue a José de Arimateia, para o sepultar.  E ainda somente as mesmas mulheres o acompanharam (Mc 15:42-47).

Naquele momento Jesus Cristo cumpria as profecias (no AT em Is 53:4-5) e atendia à justiça de Deus providenciando a salvação para os seres humanos (no NT em Hb 9:22).

 

sexta-feira, 8 de abril de 2022

APOCALIPSE – Adoração na tribulação

 

Em meio a adoração, um dos anciãos toma a palavra e questiona sobre a identidade dos selados (Ap 7:13).  Ao que João responde dizendo desconhecer, porém certo de que o próprio ancião pode informar.  Assim eles são identificados: são os que, tendo passado por grande tribulação, poderam alvejar suas vestes no sangue do Cordeiro (Ap 7:14).

Aqui eu sei que a expressão grande tribulação também causa bastante discussão e controvérsia.  Propositadamente fujo dela, apenas lembrando que a única outra vez que a expressão aparece no Novo Testamento é em Mt 24, também num contexto escatológico.  E usando o mesmo critério de interpretação do texto, busquemos na Bíblia uma compreensão adequada para a passagem.  Antes, apenas para situar, lembremos que no primeiro século do cristianismo, a igreja esteve envolvida em frequentes e diferentes perseguições e ameaças, tanto por motivações puramente religiosas, como por política – tribulações não lhes faltavam.  Judeus e romanos, principalmente, procuraram minar e acabar com a fé cristã.  Este é o contexto do próprio livro de Apocalipse e de vários outros escritos do Novo Testamento.

Então, independente da compreensão que se tenha do evento escatológico específico que possa ser denominado como a grande tribulação, João em sua visão, contempla uma multidão de selados por Deus que, vindo das tribulações, agora podem adorar diante do trono.  Eles já podem experimentar em suas próprias vidas o desfecho final da certeza que a leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação (2Co 4:17).  O vidente não sabe como eles chegaram ali, nem a extensão dos tormentos que antecederam aquele momento, embora possa imaginar a partir das suas próprias tribulações e exílio.  Mas lhes foi dito que eles sobreviveram aos infortúnios da vida e, mesmo ainda lá, poderam ter a companhia do Deus que é fortaleza em tempos de tribulação (leia o Sl 46:1).  E a narração continua: razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário (Ap 7:15).

É a certeza contida nestes versículos que motivará os leitores de Apocalipse a continuar suas lidas em meio as tribulações do dia a dia – certeza que também deve nos acompanhar: as aflições do tempo presente não se podem comparar com a glória a ser revelada em nós (Rm 8:18).

(Extraído do livro TU ÉS DIGNO - Uma Leitura de Apocalipse)

 

 


Leia todo o livro TU ÉS DIGNO – Uma leitura de Apocalipse.  Texto comovente, onde eu coloco meu coração e vida à serviço do Reino de Deus.  Você vai se apaixonar por este belíssimo texto, onde a fidelidade a Palavra de Deus é uma marca registrada.

 

Disponível na:
AD Santos Editora

 

terça-feira, 5 de abril de 2022

ELA BERROU MALDIÇÃO?

 

Em primeiro lugar, gostei de você ter me instigado com a questão.  Já citei esse fraseado e a história que o envolve em diversas vezes, mas nunca tinha parado para estudá-la a fundo.  Aproveitei a oportunidade.

Vamos lá.

Antes.  Dei uma olhada aqui em vários comentários e em geral eles fogem da questão do termo especificamente.  E quando vamos ao hebraico, as dificuldades são grandes.  Principalmente se tratamos de maneira literal.

Um outro parêntese inicial.  Quando trabalho com exegese bíblica sempre assumo como lema a seguinte assertiva: “tratar o texto bíblico literalmente traz mais problemas que soluções!

Bem, topei o desafio de trabalhar a dificuldade.  E aí vai um pouco do resultado da pesquisa.

 

A frase hebraica: ברך אלהים ומת (barech Elohim vamu).

 

O contexto.  No embate entre o Acusador e Deus sobre a integridade de Jó, a mulher do patriarca foi a primeira a ceder e entender que não valia a pena manter a integridade.  Seria melhor dar as costas para Deus e morrer que viver naquela situação.  Atenção:  Essa era a expectativa do acusador!

Mas Jó reconheceu a loucura da proposta da mulher e a rejeitou, mantendo sua integridade (desafio vencido até aqui!).

 

As traduções.  Considerando que a palavra hebraica que aparece no texto é o verbo ברך (brch), algumas poucas versões preferiram a tradução literal – como a Vulgata Latina (“Benedic Deo, et morere”) e a Reina Valera 1909 (“Bendice á Dios, y muérete”).  A maior parte das versões modernas optou pelo verbo amaldiçoar/xingar para a expressão (inclusive as melhores em português e inglês).

 

Forma verbal.   É interessante acrescentar que no hebraico a forma verbal usada é o piel que exprime uma ideia intensiva e intencional.  A mulher de Jó berrou isso para o marido!

 

Literalmente.  A tradução literal do verbo hebraico ברך (brch) é abençoar.  Tanto no sentido de estender bênçãos e consagração (como em Gn 2:3), como numa saudação ou despedida (como em 2Rs 15:29).

 

Maldição no livro de Jó.  A língua hebraica tem palavras que traduzem, ao pé da letra, maldição. 

Em Jó 3:1 ele amaldiçoa – heb. קלל (qll) – o dia do seu nascimento = considera desprezível.

Em Jó 3:8 ele convida a amaldiçoar o dia – agora heb. נקב (nqb) = blasfemar – os que sabem amaldiçoar – dessa vez heb. ארר (‘rr) = rogar maldição / praguejar.

 

O que disse a mulher?  Aqui está o problema.  Considerando o contexto, é pouco provável que ela tenha realmente falado para Jó dizer uma fórmula de bênção enquanto aguardava a morte.  Ela deveria ter usado outra expressão (!).

 

– Seria um erro de tradução?

 

Alguns linguistas bíblicos tentam contornar o problema falando em apenas eufemismo literário e que os copistas posteriores teriam optado por substituir o verbo pesado por uma palavra não ofensiva à divindade e com isso evitariam cair na sentença de morte por blasfemar contra Deus (prevista em Lv 24:16).  Eles teriam adotado um método semelhante em 1Rs 21:10 e 13.

Pessoalmente acho que essa saída nem só não resolve de maneira definitiva o problema da expressão como cria outro problema: trocaram a palavra!!!???

Alguns tentam agregar o significado de maldição como uma antítese contida na própria palavra hebraica.  No léxico e no uso comum da palavra é difícil embasar esse argumento.

 

Voltando: O que disse a mulher?  Lendo o texto do livro de Jó, e se deixando ser absorvido pelo estilo literário dele, parece me soar que a imprecação da mulher está carregada de sarcasmos e ironia cruel e ferina:  

 

– Arrume qualquer coisa ‘boa’ para dizer aí para Deus! Quem sabe isso lhe mate!

 

A resposta de Jó.  Se fosse nordestino, Jó diria:

 

– Você está doida, mulher!!!  Vira essa boca pra lá!!!

 

sexta-feira, 1 de abril de 2022

ADORANDO NOS SALMOS

 

Venham! Vamos cantar ao Eterno!
Vamos dar um grito de alegria à Rocha da nossa salvação!
(Sl 95:1)
 

O Livro bíblico dos Salmos é, na verdade, uma compilação de vários cânticos e orações.  Ele se constituiu como um Hinário do culto no Templo de Jerusalém, e como tal expressou a fé e a devoção do povo de Israel. 

Alguns aspectos nos chamam a atenção no cântico dos Salmos:

Primeiro.  A adoração a Deus deve ser o brado de lamento e esperança diante de um Deus que tem tudo em suas mãos.  Com os Salmos cantamos a certeza que mesmo diante de um tremendo poço de lama e desespero eu ainda podemos continuar tendo esperança e clamando, pois ele sempre ouve nosso brado (Sl 40:1-2).

Segundo.  Mesmo Deus em toda a sua majestosa grandiosidade ainda assim atenta para os seres humanos tratando-os com dignidade e favorecimento.  Nosso Deus tem seu nome e glória preenchendo toda a terra, mas, ainda assim, ele tem cuidado, atenção e amor para os seus (Sl 138:6).

E terceiro.  Nos Salmos, com o povo de Deus, damos voz à certeza de que o nosso Deus está presente no templo, no meio da congregação (Sl 11:4).  Então, diante isso, faz-se necessário um comprometimento ético bem mais sério para qualquer um comparecer diante deste Deus (Sl 15).

Visando a adoração tirada do exemplo bíblico, vamos celebrar com os Salmos que são a voz de Deus que por nós fala mostrando a verdadeira adoração.

(A partir de uma reflexão do livro "No Baú da Adoração", publicado em 2004)