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terça-feira, 22 de julho de 2025

SEPARAÇÃO IGREJA x ESTADO – um pouco de história

 


A Reforma Protestante que chegou a Inglaterra nos séculos XVI e XVII foi provocada originalmente pela opção política do rei Henrique VIII de romper com a Igreja de Roma e assumir o controle da estrutura eclesiástica no seu país insular.  Ele não visava nenhuma questão doutrinária ou moral, pelo contrário, tinha como pano de fundo a justificativa de legitimar a quebra de seus votos conjugais.

Nesse contexto alguns sinceros cristãos ingleses entenderam que seria preciso deixar a tutela da igreja estatal inglesa e produzir uma verdadeira reforma que purificasses as congregações e seus fiéis dos erros históricos que foram acumulados, trazendo de volta a igreja a sua fidelidade primitiva. 

Entre esses cristãos estavam o ministro John Smyth e o advogado Thomas Helwys, que, num exílio na Holanda, deram início a um movimento que se entendia a partir da herança comum bíblica e do Credo Apostólico e se sentia familiarizado com as Solas postuladas pelo movimento da Reforma Protestante.  Contudo se firmaram e distinguiram por adoção de princípios gerais que os nortearam.

Entre esses princípios, é importante destacar: a suficiência das Escrituras; a liberdade de opinião; o sacerdócio universal de todos os salvos; a autonomia da igreja local; e a separação entre a igreja e o estado.

Com tais princípios gerais o grupo, que logo foi apelidado de Batistas – em referência a prática do batismo praticado por imersão – se expandiu e estruturou mantendo seus valores fundamentais.

O primeiro e principal princípio batista que nos distingue desde a origem é a intransigência quanto ao apego à Bíblia como única regra de fé e pratica.  Entre nós não há Credo preestabelecido por Concílio autorizado por poder superior, mas a Palavra de Deus nos é suficiente para estabelecer e embasar todos os nossos princípios de crença e conduta, de teologia e de ética, de doutrina e relacionamentos.

Partindo dessa compreensão bíblica, os batistas afirmaram como princípio desde a sua origem – os identificando como grupo cristão distinto – a afirmação de que cada crente em si exerce o seu sacerdócio diretamente diante de Deus com quem se relaciona também diretamente, prestando contas somente a ele como Senhor de sua vida – mesmo vivendo em comunidade eclesiástica.

Derivando também daí, afirmou-se primordialmente a liberdade de cada ser humano de expressar livremente suas mais diversas opiniões quanto às questões que tocam sua vida e sua comunidade – inclusive quanto ao tema da fé.  Em consequência, os crentes que seu reúnem em uma igreja local devem ter a autonomia suficiente para tratar, administrar e resolver suas questões locais, sem que nenhuma autoridade superior e alheia lhe determine como agir e proceder e crer.

Por extensão na defesa das liberdades individuais, como princípio fundante dos batistas sempre esteve a defesa de que a Igreja, enquanto instituição local e histórica, nunca deveria se submeter a que o rei – ou o poder político temporal – determinasse seu sistema de crenças e valores.  Nem deveria a instituição social – igreja – interferir nas decisões estatais.  Ficando cada uma a exercer seu domínio no seu campo específico.

Continuando na caminhada histórica, depois do primeiro momento europeu do grupo batista, e buscando encontrar um lugar para poder viver livremente seus princípios, parte do grupo migrou para a América do Norte.  Ali ajudou de maneira indelével na formação moral e social da nação a ponto de que alguns de seus princípios fossem incorporados como valores nacionais.

Essa influência batista, na formação dos Estados Unidos, foi tão forte – inclusive na questão das liberdades individuais e da separação da igreja e estado que foi atestada por Thomas Jefferson, um dos pais fundadores da nação.  Disse ele: “eu contemplo com reverência soberana que age de todo o povo americano, que declarou que sua legislatura deve 'fazer nenhuma lei respeitando um estabelecimento da religião, ou proibindo o seu livre exercício', assim, construindo um muro de separação entre Igreja e Estado”.

E, a partir daí, esses valores e princípios passaram a nortear todo o ocidente, onde se compreende que o estado deve se manter equidistante das questões de fé.  Inclusive no Brasil, que inseriu em sua Constituição de 1988, no seu artigo 5º – inciso VI, que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.”

(Da Revista DIDASKAIA – 1º quadrimestre / 2023 – IBODANTAS)

 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

TOMÁS DE AQUINO – a imagem e a moeda

 


Um colega, aqui conversando aqui comigo, via zap, fez uma citação do mestre Tomás de Aquino quando o teólogo apresentou uma analogia entre a imagem de Deus e a moeda romana com a imagem de César.

Na conversa, ofereci uma reposta para manter o diálogo, mas depois fiquei com o assunto na cabeça.  Tenho pesquisado sobre o tema, pois pretendo escrever um livro sobre os capítulos iniciais da Bíblia.

Então aqui vai um misto do que eu respondi no zap com algo que pesquisei depois.

 

Antes.  Sobre o pensador.  Tomás de Aquino foi um filósofo/teólogo da Escolástica católica que viveu e escreveu no século XIII na região de Aquino – centro da Itália.  Sua abordagem filosófica foi de linha aristotélica e tratava a própria Teologia como uma ciência.

 

Quanto a citação de Tomás de Aquino, o que achei nas minhas pesquisas, folheando a “Suma Teológica” (a edição que uso aqui tem mais de quatro mil páginas) diz ipsis litteris:

 

 “Tanto no homem como na mulher está a imagem de Deus, quanto a aquilo em que, principalmente, consiste a essência da imagem, a saber, a natureza racional” (Questão 93 – art. 4).

“Diz-se que o homem é a imagem de Deus, não por ser essencialmente imagem, mas por trazer no espírito impressa tal imagem; assim como se diz que a moeda é a imagem de Cesar, por ter a imagem deste. Por onde, não é necessário introduzir a imagem de Deus em qualquer parte do homem” (Questão 93 – art. 6).

 

Aproveitando a pesquisa: encontrei no site do Vaticano:

 

Em Tomás de Aquino, a imago Dei possui uma natureza histórica, enquanto passa por três fases: a imago creationis (naturae), a imago recreationis (gratiae) e a imago similitudinis (gloriae) (S. Th. I q. 93 a. 4). Para o Aquinatense, a imago Dei é o fundamento da participação na vida divina. A imagem de Deus se realiza principalmente em um ato de contemplação no intelecto (S. Th. I q. 93 a.4 e 7).

 

Minhas considerações a partir do argumento do teólogo latino:

 

A analogia de Tomás de Aquino, comparando uma moeda com a imagem de Deus (Imago Dei em latim como usou o teólogo italiano), pode enriquecer bastante a compreensão – embora seja uma exegese tardia.

Porém, não penso que o autor bíblico tivesse com tal analogia em mente quando escreveu as palavras sagradas.  Pelo contexto geral, talvez a melhor analogia seria com as esculturas de divindades dos povos ao redor que exibiam a imagem de seus deuses, enquanto que a imagem do Elohim Criador (יעש אלהים – expresso em Gn 1:7) estaria impressa na sua obra prima: o ser humano.

Lendo mais o texto de Gênesis, observo que em Gn 5:3 novamente o termo hebraico צלם (imagem) é usado junto com דמות (semelhança/modelo) para se referir ao filho gerado por Adão.  Neste caso a analogia da moeda perde mais paridade ainda.  Novamente consigo entender que o autor bíblico tem em mente a reprodução da imagem e semelhança viva (Adão gerou outra vida!) em um outro ser.

 

Em resumo, em minha Teologia, leio o poema sagrado do Gêneses querendo comparar a feitura do ser humano com os contornos divinos dando-lhe atributos que espelhassem o Criador.

 

E antes de finalizar, mais uma citação.  Dessa vez de Esteban Voth e Milton Acosta Benitez no “Comentário Bíblico Latino-Americano”:

 

 “Sugerimos que a imagem de Deus nos fala da capacidade que temos para nos relacionar com Deus.  Deus nos estampou algo que permite a ele estabelecer conosco uma relação íntima, por meio de comunicação verbal, alianças etc.”

 

(Na imagem lá em cima, uma reprodução de uma moeda romana estampada a face do Imperador Tibério – 14-37 A.D.  Fonte:  wikipedia.org)

 

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

AGOSTINHO – O som e o silêncio

 


Com efeito, o que não é absolutamente, denomina-se “nihil” (nada), e ninguém que ouve ou fala latim fica sem entender o que significam estas duas sílabas.

Como entende, a não ser quando o sentido percebe o que é, e pela sua privação conhece também o que não é? Assim também, quando se diz “vazio”, considerando o “cheio” de um corpo, entendemos o que significa “vazio” pela privação que é contrária a “cheio”; assim como julgamos pelo sentido da audição não somente o que diz respeito a vozes, mas também ao silêncio.

Assim, pela vida que o homem possuía, poderia precaver-se do contrário, ou seja, da privação da vida que se denomina morte; o próprio motivo, pelo qual perderia o que amava, ou seja, qualquer ação sua que o levasse a perder a vida, com quaisquer sílabas com que se denominasse, tal como em latim se diz “peccatum” (pecado) ou “malum” (mal), entenderia como sinal da morte, e isso discerniria com a mente.

Pois, como nós podemos entender quando se diz “ressurreição”, pela qual nunca passamos? Não será porque sentimos o que seja viver, e à sua privação denominamos morte, e a volta ao que sentimos, denominamos ressurreição? E se em qualquer língua denomina-se a mesma coisa com outro nome, o sinal se insinua certamente à inteligência pela voz dos que falam, de modo que, soando o nome, pode reconhecer o que estaria pensando mesmo sem o sinal.

Causa admiração o fato de a natureza, mesmo sem ter experiência, evitar a perda do que possui. Com efeito, quem ensinou aos animais evitar a morte, a não ser o sentido da vida? Quem ensinou à criança se agarrar a seu berço, se for ameaçada de ser jogada ao chão? Este modo de reagir começa depois de um certo tempo, mas antes de se ter experiência de algo semelhante.

Agostinho de Hipona
Comentário de Gênesis
Capitulo XVI.34

(Na imagem:
Fac-simile da obra original latina
“De Genesi ad Litteram”. 
Fonte: https://bibliotheca-laureshamensis-digital.de)

 

quarta-feira, 17 de abril de 2024

O CRISTÃO E A POLÍTICA – nossa herança



Sobre o cristão e a política é importante destacar que esse sempre será um tema de interesse e atualidade.  Por isso também devemos observar qual a herança recente da igreja nessa área específica e como ela tem se posicionado nos últimos tempos.

Em relação a herança e a contribuição dos cristãos para o ocidente e seus conceitos de civilidade, democracia e humanismo, convém citar as palavras de Ariovaldo Ramos:

“Nós construímos uma sociedade de direitos, lutamos por e reconhecemos direitos civis, e não podemos abrir mão disso; não podemos abrir mão da civilização que ajudamos a construir e a solidificar, onde mulheres, homens e crianças são protegidos em sua integridade e garantidos em seus direitos.  Na democracia que ajudamos a reinventar, onde cada ser humano vale um voto, tudo pode e deve ser discutido segundo as regras da civilidade.” (in guiame.com.br)

Ao longo dos últimos cem anos, alguns nomes cristãos se destacaram por suas atuações políticas e contribuições para suas respectivas comunidades e nações.  Nomes como o do metodista sul-africano Nelson Mandela que catalisou a liberdade racial no seu país.  O diácono batista Jimmy Carter que presidiu os Estrados Unidos.  E o anglicano Tony Blair que se destacou como premier britânico.

Dois nomes nessa relação, porém, merecem destaque especial: o pastor batista Martin Luther King Jr. (1929-1968) que liderou a nação norte-americana no fim de suas leis racistas e a aprovação dos direitos civis a partir de suas pregações bíblicas em sua igreja em Atlanta e seu engajamento social e político, sendo reconhecido com vários prémios, inclusive com o Nobel da Paz.

Também destaque merece o nome do luterano alemão Dietrich Bonhoeffer (1906-1945).  A partir de estudos bíblicos e de ética cristã ele se recusou a apoiar a política nazista alemã, fundou comunidades cristãs no seu país comprometidas com a verdadeira confissão cristã.  E por conta de seu comprometimento cristão ele acabou preso e morto num campo de concentração.  Porém deixando um verdadeiro legado de como os cristãos podem – e devem – se posicionar frente às demandas políticas de sua nação.

(Da Revista DIDASKALIA – 1º quadrimestre / 2023 – IBODANTAS)

terça-feira, 4 de abril de 2023

A DINASTIA DE HERODES

 


Uma figura importante no desenrolar das narrativas do Novo Testamento é o rei Herodes.  O nome dele, associado a eventos diversos e em datas distintas, muitas vezes causa ambiguidade nos estudantes das narrativas bíblicas, e por isso é importante fazer algumas distinções.

Considerando o século I a.C. e o seguinte na história dos hebreus (que vai do período anterior ao nascimento de Jesus até ao final do primeiro século cristão), o nome de Herodes está ligado a uma dinastia de reis que governaram em Jerusalém sob a tutela de imperadores romanos.

 

Curiosidade: O nome Herodes (em hebraico: הורדוס – em grego: Ἡρῴδης – em latim: Herodus) provavelmente deve significar "heroico" (do grego: ἥρως).

 

O primeiro deles, conhecido como Herodes, o Grande era de origem edomita e reinou entre os anos 37 e 4 a.C.  Depois de ganhar a confiança do imperador romano Augusto César, este primeiro Herodes se notabilizou por suas obras de construção (incluindo o Templo de Jerusalém) e exerceu seu reinado banhado de muito sangue e crueldade, não tendo poupado sequer filhos, mulher e outros parentes próximos (foi sob suas ordens que aconteceu a matança em Belém citada em Mt 2:16).

 

Seu primeiro filho, Herodes Arquelau esteve no trono por apenas dez anos (de 4 a.C. a 6 d.C.) e pelas suas crueldades foi levado ao exílio dando lugar ao seu irmão no trono.  No Novo Testamento ele é citado quando da volta de Jesus do exílio egípcio (em Mt 2:22).

 

O segundo filho de Herodes, conhecido como Herodes Antipas reinou entre os anos 6 e 39 d.C.  Era casado com Herodias e foi sob a influência desta que João, o Batista foi executado (confira em Mc 6:14-29).  Foi ele também que participou do julgamento e condenação de Jesus (conforme Lc 23:7).

 

O quarto nome da dinastia de Herodes foi seu neto Herodes Agripa I, que se assentou no trono no ano 41 ocupando-o até o ano 44 d.C.  Este é o rei que mandou matar Tiago, o irmão de João (no verso At 12:2) e foi ele quem morreu por não ter dado glória a Deus (conforme diz At 12:23 – só para citar: a historiografia oficial diz apenas que ele morreu de complicações abdominais).

 

Concluindo a dinastia herodiana, com a morte de Agripa I assumiu seu filho Herodes Agripa II e reinou até o ano 70 d.C., quando o general Tito, à frente de tropas romanas, invadiu Jerusalém e o destronou (foi perante ele que Paulo fez sua defesa em At 25 e 26).

 

* Em 2012 eu escrevi uma reflexão sobre o episódio da morte de Herodes Agripa (narrado em At 12) onde chego à seguinte conclusão:

 

Do embate entre Herodes e Deus, aprendo então que convém depositar minha confiança no Senhor, e não nos poderosos deste mundo, pois todos passarão enquanto a Palavra de Deus permanece para sempre.

 

Você pode ler toda a reflexão no seguinte linkEscrevinhando


Na imagem, fragmento de uma ânfora descoberta na adega do Herodium 

declara que foi comprada pelo rei Herodes.  Fotografia de Alamy/ACI. 
Fonte: nationalgeographic.pt

 

sexta-feira, 3 de março de 2023

BATISTAS, CALVINISTAS e a DOUTRINA DE DEUS

Você fez duas questões distintas:

1. Qual minha visão?

2. Os Batistas são Calvinistas?

 

De antemão deixe-me dizer logo que essas questões não são simples, do tipo que um sim ou não responde.

Há algumas complexidades que precisam ser entendidas.  Mas vou tentar lhe apresentar uma resposta resumida.

 

Sei que esse tema do Calvinismo está na moda em alguns círculos eclesiásticos – com defensores e detratores (e alguns chatos e radicais).

 

Então, para responder a sua questão, entendo que é importante situar os dados.

 

João Calvino foi um pensador, jurista e teólogo francês do século XVI.  Como líder político e escritor ele influenciou tanto a religião quanto a vida social e econômica a partir de Genebra/Suíça – onde foi alcaide.

 

Detalhe 1.  Do ponto de vista socioeconômico, Calvino criou o Consistório de Genebra (espécie de Tribunal de Inquisição) que se ocupava até dos detalhes das vidas dos cidadãos – desde o corte de cabelo até com o que se gastavam as finanças pessoais e públicas.

Detalhe 2.  O próprio Calvino nunca exerceu o exercício pastoral e também não se sentia à vontade com a expressão: Calvinismo / Calvinista.

 

Quanto às teses teológicas de Calvino, sua principal obra foi: "Instituição da Religião Cristã", em latim Christianae Religionis Institutio, ou simplesmente As Institutas (cuja edição em latim, revisada pelo próprio autor, se deu no ano de 1559).

Nessa obra, Calvino se propôs a fazer um "resumo quase completo da piedade, abrangendo tudo que, quanto à doutrina da salvação, é necessário conhecer" (citação da apresentação da própria obra).

 

No século XX, seus seguidores criaram o acróstico TULIP (em inglês) para tentar resumir os cinco princípios da doutrina Calvinista:

1. Depravação total

2. Eleição incondicional

3. Expiação limitada

4. Graça irresistível

5. Perseverança dos santos

Cada um desses pontos mereceria um estudo aprofundado com prós e contras mediante análise histórica e teológica cristã (mas como aqui só é resumo, vou seguir).

 

Os Batistas não são oriundos dos reformadores do século XVI, mas, como grupo cristão distinto, surgem na Inglaterra e Holanda no século seguinte.  Logo, na sua origem, não têm vínculo necessário com a obra de Lutero, Calvino, Melancton nem Armínio.

Por característica própria – desde a sua origem – os Batistas nunca adotaram um sistema de Credo fechado com regras e posturas doutrinárias monolíticas.

Pelo contrário.  Os Batistas se somaram à herança comum bíblica e do Credo Apostólico e se sentiram familiarizados com as Solas postuladas pelo movimento da Reforma Protestante.  Contudo se firmaram e distinguiram por adoção de princípios gerais que os norteiam.  A saber:

1. A suficiência das Escrituras

2. A liberdade de opinião

3. O batismo consciente de crentes

4. A segurança eterna dos salvos

5. Batismo e ceia como ordenanças e não como sacramentos

6. O sacerdócio universal de todos os salvos

7. A autonomia da igreja local

8. A separação entre igreja e estado

 

Detalhes 1.  A Confissão de Fé de Londres de 1689 é uma boa descrição do que criam os Batistas desde sua origem

Detalhe 2.  Eu me refiro aqui aos Batistas sempre no plural (nunca a Igreja Batista) pois entendo que assim expressa melhor o entendimento do que são: plural

 

Depois de toda citação, e antes que fique cansativo, vou tentar responder suas questões.

 

1. Qual minha visão?

2. Os Batistas são Calvinistas?

 

Começando pela última.  Historicamente vários líderes Batistas se identificaram com os postulados Calvinistas e reformados; mas essa postura nunca foi consenso, tanto é que vários outros adotaram linhas de interpretação teológicas distintas.

 

Assim deve ser (e aqui já vou me incluir).  Pelos nossos princípios Batistas – aquilo que nos faz ser o que somos – cremos e afirmamos que somente a Bíblia é inquestionável e tem a Palavra final.  Logo, todas as interpretações são passíveis de questionamentos.

Nunca houve um pensamento unívoco entre os Batistas.  Sendo assim, há Batistas calvinistas, há Batistas arminianos, há Batistas liberais, há Batistas conversadores, há Batistas no domingo, há Batistas no sábado, há Batistas milenaristas, há Batistas amilenistas ... e por aí vai ...

O importante é que mantemos nossa capacidade de divergir e continuar amando e cooperando.

 

E vem a questão da predestinação.  Particularmente entendo que melhor que Calvino, quem expressou de forma teológica e conceitual, de maneira mais clara, a questão do tempo e da presciência de Deus foi Agostinho de Hipona (quase mil anos antes do reformador europeu), principalmente na segunda parte de suas Confissões e em Cidade de Deus.

O teólogo africano afirmou:

"Na eternidade nada passa, tudo é presente, ao passo que o tempo nunca é todo presente."

"Em Deus não há, como em nós, a previsão do futuro, a visão do presente e a recordação do passado. É totalmente diferente a sua maneira de conhecer, ultrapassando, muito acima e de muito longe, os nossos hábitos mentais."

A tese de Agostinho é que Deus, sendo eterno em essência, está fora e é sobre o tempo.  Ao contrário do ser humano que é finito e está submetido de forma inexorável ao tempo.

Então, tentar encaixar Deus em postuladas temporais humanos é, de certo modo, esvaziá-lo de sua própria divindade.

 

domingo, 15 de janeiro de 2023

PREVISÕES DO FIM DO MUNDO – séculos XIX e XX

 

Preciso não perder de vista a afirmação de Jesus que sobre a data fixada em calendário para o fim do mundo e sua volta gloriosa ninguém sabe (confira em Mt 24:36).

Retomando: já apresentei duas listas de previsões erradas do fim do mundo pregadas desde o início do cristianismo (reveja aquilink).

Continuando a relação.  Com a chegada dos séculos XIX e XX as profecias sobre o fim do mundo prosseguiram estabelecendo datas (e consequentemente errando!).  Também não faltaram esquisitices.

Veja aí uma relação extremamente resumida dessas previsões que eu listei.

 

1805 – Christopher Love, pregador presbiteriano inglês, previu a destruição do mundo por um terremoto em 1805, seguido de uma era de paz eterna em que Deus seria conhecido por todos.

1806 – Em Leeds, Inglaterra, uma galinha começou a botar ovos com a frase "Cristo está vindo" escrita. Posteriormente, foi descoberto que se tratava de uma farsa. A dona da galinha, Mary Bateman, tinha escrito nos ovos com uma tinta corrosiva para causticá-los e então reinseriu os ovos no oviduto da galinha.

1814Joanna Southcott, de 64 anos de idade, afirmou que estava grávida (com Cristo em seu ventre), e que ele nasceria em 19/10/1814.  Ela morreu no final daquele ano sem ter dado à luz a uma criança; e uma autópsia provou que ela não estava grávida.

1844 – William Miller, líder adventista, com base em seus estudos do livro bíblico de Daniel, afirmou que o fim do mundo se daria com a volta de Cristo em 21/03/1844.  Como o fim não chegou – o que ficou conhecido como o “Grande Desapontamento”, seus seguidores reinterpretaram suas profecias e recalcularam as datas sucessivas vezes.

1853 – O início da Guerra da Crimeia, nos Balcãs, levou muitas a acreditar que essa seria a Batalha do Armagedom citada no Apocalipse.

1862 – John Cumming, clérigo escocês, afirmou que em 1862 havia passado 6000 anos desde a Criação e que o mundo acabaria.

1874 – Charles Taze Russell, fundador das Testemunhas de Jeová, previu o retorno de Jesus para 1874; e após esta data, reinterpretou a previsão e disse que Jesus tinha de fato voltado numa forma invisível.

1910Camille Flammarion previu que a chegada do Cometa Harley naquele ano impregnaria a atmosfera terrestre levando a extinção da humanidade.  Por conta disso "Pílulas de cometa" foram vendidas para proteção contra gases tóxicos.

1925Margaret Rowen, uma adventista, afirmou que o anjo Gabriel teria aparecido a ela numa visão e dito que o mundo acabaria à meia-noite do dia 13/02 daquele ano.

1935Wilbur Glenn Voliva, defensor da terra plana e criador de sua própria versão da Igreja Católica americana, anunciou que o mundo "explodiria e desapareceria" em setembro de 1935.

1967 – George Van Tassel, baseado em seus contatos com OVNI, afirmou que o dia 20/08 marcaria o começo do terceiro mal do Apocalipse, em que o Sudeste dos EUA seria destruído por um ataque nuclear soviético.

1969 – Charles Manson, famoso criminoso norte-americano, previu que uma guerra racial apocalíptica ocorreria naquele ano.

1977 – William Marrion Branham, televangelista americano, previu que o Arrebatamento ocorreria no máximo até 1977.

1980 – A seita brasileira conhecida como “Borboletas Azuis” anunciou em 1978 que em 13/05/1980 haveria um dilúvio que poria fim na humanidade.

1982 – John Gribbin, astrofísico britânico, escreveu que forças gravitacionais combinadas com planetas alinhados causariam diversas catástrofes, incluindo um enorme terremoto na falha de Santo André em 10/03.

1982 – Pat Robertson, pastor pentecostal afirmou em 1976, num programa de TV chamado Club 700, que o mundo acabaria em 1982.

1990 – Elizabeth Clare, mística norte-americana, disse que uma guerra nuclear começaria em 23/04, e refugiou-se com seus seguidores com estoque de suprimentos e armas.

1991 – Louis Farrakhan, líder americano da “Nation of Islam” afirmou que a Guerra do Golfo seria o Armagedon e ela seria a guerra final da humanidade.

1993 – David Berg, líder dos “meninos de Deus”, previu que a Grande Tribulação começaria em 1989 e a Segunda Vinda ocorreria em 1993.

1994 – Harold Camping, radialista norte-americano, publicou um livro onde afirmava que Jesus voltaria em setembro desse ano.  Depois recalculou a data para outubro de 2011.

1999 – Segundo Nostradamus (1503-1556), o mundo acabaria em setembro de 1999.

 

 

Sobre o ano 2000; bem, foram tantas e tão diversas as profecias, previsões, vaticínios, cálculos etc. que fica difícil numerar.  Até tentei começar uma lista, mas desisti...

Além de interpretações bíblicas e apocalípticas (algumas sinceras, mas erradas e outras esdrúxulas), a sociedade tecnicista aguardou o bug do milênio.  Mas a vida insistiu em continuar na Terra...

E não pense que o século XXI fez arrefecer o ímpeto dos oráculos.  Passamos pelo Calendário Maia, por luas de sangue, pela inversão dos polos planetários terrestres, pelo HAARP (Colisor de Partículas), pelo aquecimento global e camada de ozónio e...

E eu agora posso olhar pela minha janela e ver que chegamos a 2023.  Hoje o sol amanheceu e ainda estamos aqui.

 

O que posso dizer para terminar?

 

– E o fim do mundo?

 

Jesus disse: – Não andem aperreados com o dia de amanhã [nem com o fim], o mal de cada dia já lhe é suficiente! (Mt 6:34).

 

Você pode rever algumas relações de PREVISÕES DO FIM DO MUNDO:

Do início do Cristianismo até a Reformalink

Da Reforma ao século XVIIIlink