quinta-feira, 21 de março de 2013

COM DUAS PERNAS


Deus me fez com duas pernas! Creio piamente em cada uma das palavras desta frase.  Discussões sobre criacionismo à parte, acaso ou necessidade, esta frase, de verdade, tem muito a dizer sobre a minha fé.
Mas, por que eu estou falando isso tudo? Já vou dizer: Esta semana uma crise de ácido úrico me deixou de "bota branca" (a foto está aí para comprovar, é verdade!).  E nestes momentos é que nos damos conta de várias coisas.  Então deixe-me compartilhar um pouco.  Para começar, é claro que o tempo forçosamente livre – estive de licença médica e limitado pela condição – estimula as ideias, não só porque elas ajudam a passar as horas como também arejam a mente contribuindo para sanidade.
Em tempo, não quero em absoluto me comparar com aqueles que vivem de modo perene com limitações físicas, não há juízo de valor ou qualquer outro referencial.  Vou apenas falar de ideias que me povoaram a cabeça nestes dias "no estaleiro".
Entre outras tantas que pipocaram, pelo menos duas eu quero destacar para compartilhar, e para isso vou me permitir ser ancorado por duas palavras.
A primeira é agenda.  Mais que um caderno de notas (agora já é eletrônico!), a ideia da agenda reporta para relação de compromissos marcados e inadiáveis, mas veja: Sem muita opção, me vi forçado a simplesmente não fazer nada – esperar a crise passar e o dedo parar de doer.  E não é que todas as urgências esperaram uma semana! Prioritário é ter saúde...
Por falar nisto, lembrei-me de Rubem Alves chamando a atenção para nosso credo: "creio na ressurreição do corpo..." Sim, de vez em quando é preciso lembrar novamente que agenda é para organizar projetos de vida (que nos é dada em abundância) e não sufocar o cotidiano.
A outra palavra eu trago da África: ubuntu (Desmond Tutu sugere traduzir esta expressão como: "existo porque pertenço").  Significativo foi perceber que com a limitação das circunstâncias aflorou mais uma vez a certeza que não vivo sozinho – eu preciso dos outros até para ser eu mesmo.
Deus me fez com duas pernas, é verdade, mas também me colocou para viver em sociedade e sem ela – a sociedade – eu jamais alcançarei ser aquilo para o que eu fui criado.
E antes que esqueça: como sou grato pelo Senhor ter me dado uma família maravilhosa que cuidou de mim nestes dias!
'Taí: sei que cada uma destas ideais mereceriam um desenvolvimento maior e com certeza muitas outras verdades e lições surgiriam, mas só tenho duas pernas e agradeço a Deus por cada uma delas.  Que outros me acompanhem nesta caminhada e a levem adiante.  


sexta-feira, 8 de março de 2013

Salmo 90 – CONTANDO OS DIAS


Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria” (Sl 90:12).
Ainda lendo o Salmo Noventa, devo me deter um pouco no verso 12: Ensina-nos a contar os nossos dias...  Tradicionalmente este texto é usado em festividades de aniversário – e não está errado – mas aqui quero me dá a liberdade de trabalhar com o significado do termo usado na nossa tradução, atribuindo-lhe significados:
CONTAR pode significa numerar.  O salmo instrui a numerar os meus dias, saber quantos são para que tenhamos consciência de minha finitude e fragilidade.  Numerar os dias também me aponta para a urgência de nossa vida, o tempo está passando e com ele a minha existência aqui.  Por isso, contando o passar do tempo vou tomando também consciência de que me resta pouco tempo e por isso devo aproveitá-lo da melhor maneira possível – creio que este é o sentido mais preciso do que o salmista tinha em mente.
Considere ainda que esta numeração dos dias deve me fazer comparar a finitude humana com a eternidade divina.  Veja que enquanto um dia para o Senhor é como mil anos a minha vida passa depressa e nós voamos (no mesmo Salmo 90, nos versos quatro e dez respectivamente).
Mas CONTAR também, em língua portuguesa, pode me induzir a pensar em narrar.  Assim o conselho do salmista seria no sentido de que devo aprender a narrar a minha vida e todas as experiências que tenho na vivência com Deus.  Este é o único meio de conhecê-lo!  Por isso preciso desta vivência para que minha vida em Cristo faça sentido.  Narrando minha vida com Deus reafirmo minha fé e certeza da companhia e do cumprimento das promessas feitas em Cristo Jesus.
Concluindo ainda é preciso observar que para contar os dias se faz necessário aprender a fazê-lo; por isso a súplica do salmista: Ensina-nos Senhor...
Que faça eu tal súplica e que aprenda a contar os meus dias para que esta vida faça sentido.

terça-feira, 5 de março de 2013

DOS OLHOS E DA ALMA




Os olhos são a candeia do corpo (Mt. 6:22).  Com esta afirmação Jesus introduz um novo enfoque no projeto de Discipulado Radical: os olhos.  E como início de abordagem sobre este tema já posso afirmar que, para o Mestre, os olhos – aqui talvez mais num sentido físico mesmo mas com implicações espirituais – são mais que simples reflexos da alma; são janelas que podem arejar ou aprisionar a alma.
Como janelas, os olhos demonstram claramente de que modo eu vejo!  Meus olhos podem ver com maldade – enxergando maldosamente a todos os que me rodeiam (acompanhe a descrição medonha em Rm 1:28-32 e a advertência de Pv 3:29).  Também podem ver com cobiça – desejando o que não deve me pertencer (2Pe 2:17-19 aborda esta perspectiva).  Ou ainda podem ver com julgamento – me tornando um crítico do meu semelhante (o alerta pode ser visto em Rm 14:4).  É com esta visão que meus olhos tornam-se grades que prendem a alma – trevas tremendas! (Mt 6:23).
De outro lado, os meus olhos podem ver diferentemente.  Meus olhos podem ver com bondade – oferecendo um voto de confiança àqueles que me rodeiam (Rm 12:10 é um desafio).  Também podem ver com doação – oferecendo-me ao próximo (o mandamento de Jesus pode ser lido em Jo 15:17).  Ou ainda podem ver com compaixão – acolhendo com carinho e cuidado (leia ainda 1Pe 1:22).  Assim meus olhos se tornam janelas abertas para a alma que trazem renovo e luz.
A candeia que são os meus olhos deve ser instrumento para o discipulado radical.  Que eles possam arejar e irradiar luz e vida para dentro e para fora da minha alma.  Para glória do Senhor.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Salmo 90 – NO TEMPO ETERNO DE DEUS

 De fato, mil anos para ti são como o dia de ontem que passou, como as horas da noite” (Sl 90:4).
A ênfase parece bastante óbvia: a dimensão do tempo é diferente para nós e para Deus.  Eu e você vivemos submetidos na dimensão do tempo, e dele não podemos fugir, e mesmo que lhe demos um tratamento psicológico: ele é para nós inexorável!  Ele sempre passa!  Mas para Deus não tem que ser assim: Ele está acima desta dimensão e a faz acontecer conforme a sua exclusiva vontade.  Deus tem o controle das épocas em suas mãos e nada o impedirá de agir no momento em que quiser – nem a nossa presunção humana!
Em sua eternidade, Deus é inteiramente livre para agir conforme o seu próprio querer.  Não há como determinar ou especificar um tempo para que Deus se submeta ao nosso calendário.  Para o Senhor o tempo não passa como para nós; por isso sempre devemos aprender a confiar e descansar na ação divina e não nos ater a datas ou a tempos, como se Deus só fosse agir quando marcarmos na agenda.
E a maior de todas as demonstrações deste poder e controle foi o envio do seu Filho para remir o ser humano.  No tempo certo Deus enviou Jesus Cristo, que cumpriu a sua missão dando a sua vida por mulheres e homens de todas as eras e assim resgatá-los segundo o propósito e amor divino (leia Gl 4:4).  Não foi antes nem depois do momento perfeito.  A vinda de Cristo é o ápice da criação e do relacionamento entre Criador e criaturas, e Deus o fez quando havia chegado o momento apropriado; e assim toda a humanidade em todo o lugar e em todo o tempo pode ser alcançada pela sua graça.
Neste momento agora, que é hoje em nosso calendário, mas é eterno na contagem de Deus, vamos nos submeter graciosamente ao tempo de Deus e celebrar-lhe a vinda de seu Filho que no momento justo nos alcançou.