Dia
desses, mexendo num quarto de depósito em casa, eu me deparei com uma velha
cruz de madeira, empoeirada e esquecida em meio a outras tantas coisas
empilhadas.
Estava procurando algo que depois nem foi mais
importante e vi uma ponta da madeira. A
princípio nem percebi do que se tratava, mas, depois, tirando outros itens
amontoados de cima, pude vê-la ali.
(A foto está aí para registrar o achado)
Foi fácil então lembrar sua história: aquela cruz
de madeira me serviu para uma decoração por ocasião da Páscoa há alguns anos.
Mas o tempo passou e a cruz foi para o depósito. E
ali ficou esquecida...
Obviamente as engrenagens teológicas de minha
mente começaram a se mover! E enquanto
se moviam, quase que por intuição, comecei a cantarolar uma velha canção (é
tremendo o poder das antigas melodias):
Sim, eu amo a mensagem da cruz
Até morrer eu a vou proclamar
Levarei eu também minha cruz
Até por uma coroa trocar.
Uma cruz esquecida! Um paradigma da vida
cristã! Pode ser!
Que a cruz é símbolo cristão, hoje não restam
dúvidas. E por falar nisso, em 2016 eu escrevi uma reflexão sobre o sinal da
cruz na qual eu enfatizei:
"A cruz nos identificou, demarcou nossos
espaços sagrados, deu-nos sentido histórico e esperança escatológica. A cruz nos fez o que somos: cristãos."
(Esse texto está no meu livro "Parábola das Coisas".)
As engrenagens teológicas continuaram girando...
Talvez no começo de nossa caminhada cristã, ou
quando algo reacendeu o pavio espiritual, tenhamos atentado para o madeiro do
Calvário com significativo olhar de gratidão por ser ele o lugar onde minha
maldição foi cravada, minha vergonha exposta e meu pecado perdoado (considere Gl
3:13; Hb 13:13; 1Pe 2:24).
Mas a agenda cheia – inclusive e principalmente
eclesiástica –; as prioridades e urgências acumuladas; e talvez o pior de tudo,
o desgaste do memorial transformado em rito pelo rito (leio com perplexidade a
reprimenda à Igreja de Éfeso em Ap 2:4-5); tudo isso tenha levado a cruz para
um depósito empoeirado de minha vida e existência cristã.
Eu sabia que ela estava lá, fui eu mesmo que a pus
ali. Só que, de verdade, eu nem mais
pensava nela. Ela estava esquecida,
guardada, entulhada.
E assim tem sido o Cristianismo da cruz esquecida.
A cruz sempre estará lá – mas no
depósito do fundo. Ela teve seu papel e
momento na história – mas foi deixada sob outras quinquilharias religiosas. A cruz já não é nossa referência – ficou guardada.
Negar-se a si mesmo e tornar a cruz teve de ceder
a primazia a outras agendas.
É aqui que o apóstolo Paulo nos desafia
insistentemente:
"Para mim, porém, que nada me venha a ser
motivo de orgulho, somente a cruz do Nosso Senhor Jesus Cristo; pois foi nessa
cruz que o mundo foi crucificado para mim, e eu para ele" (Gl 6:14).
E quanto à cruz esquecida no meu depósito? Esse ano pretendo tirá-la de lá e trazê-la de
volta para a porta de entrada de minha sala principal.
Antes de finalizar: algumas sugestões de leituras
pascais:
◇ Sobre a vergonha da cruz – O VITUPÉRIO DE CRISTO –
link
◇ Sobre a preparação – TEMPO DE QUARESMA – link
◇ Sobre minha relação com a cruz – EU MATEI JESUS – link
◇ Sobre o Getsêmani – NO JARDIM DO GETSÊMANI – link
No YouTube,
para ouvir mensagens sobre a Páscoa e a vitória sobre a morte:
◇ QUANDO TERMINOU OSÁBADO – link
◇ HÁ UM MOMENTO PARA ESTAR SÓ – link
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