quarta-feira, 23 de abril de 2025

SOBRE A EXPIAÇÃO LIMITADA

  


Em primeiro lugar, é complicado falar em “perspectiva batista” quando se trata de qualquer assunto – inclusive teológico.  Um dos nossos postulados principais e mais caros é a nossa liberdade em Cristo para interpretar a Palavra e elaborar nossas formulações teológicas – guiados pelo Espírito Santo.

 

Nunca houve um pensamento unívoco entre os Batistas.  Sendo assim, há Batistas calvinistas, há Batistas arminianos, há Batistas liberais, há Batistas conservadores, há Batistas no domingo, há Batistas no sábado, há Batistas milenaristas, há Batistas amilenistas ... e por aí vai ...

O importante é que mantemos nossa capacidade de divergir e continuar amando e cooperando.

 

Sobre o tema especifico, fui dar uma busca em documentos históricos e oficiais de nossa Convenção e achei pouca coisa – ou quase nada – explícito sobre a “expiação limitada”.

→ Na Confissão de Fé Batista de 1689 (no Capítulo XI) confessamos que “aqueles a quem Deus chama eficazmente, Ele também livremente justifica, não por meio da infusão de justiça neles, mas por perdoar os seus pecados e por considerar e aceitar as suas pessoas como justos”.  Ou seja, não trata diretamente do tema do ato de expiação, mas da justificação que é operada por Cristo.

→ Na Declaração Doutrinária da CBB, também nada é encontrado de modo explícito sobre a expiação.

(Opinião pessoal: penso que por não haver unanimidade, optou-se por declarações genéricas!)

→ Procurei por outras publicações e, em geral, só quem trata especificamente do tema são os autores de linha calvinista.  No mais, o assunto é abordado como parte da doutrina da salvação.

 

Mas sugiro duas leituras rápidas que talvez possam ajudar:

* O Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho publicou uma palestra sobre os Grandes Princípios Batistas, e entre eles, apontou “A Segurança Eterna dos Salvos” (link).

* Respondendo a um outro questionamento que me foi feito, eu analisei sobre os Batistas, Calvinistas e a Doutrina de Deus (link).

 

Ainda:  entendendo o termo –

Segundo o dicionário: expiação é o ato de purificação de crimes ou sofrimento compensatório de culpa.

Sobre a doutrina da “expiação limitada”, ela é de base calvinista e prega que a morte de Jesus foi de efeito limitado apenas aos eleitos – ou seja, aos predestinados.  Porém, como é defendida hoje, não está nos textos originais de Calvino, mas foi elaborada no Sínodo de Dort (1618-19) e tida como uma doutrina do Hipercalvinismo.

Ou seja, o próprio Calvino não tratou do alcance da obra salvífica do Calvário, mas apenas daqueles que efetivamente seriam salvos.  Mas seus seguidores esticaram suas ideias afirmando a incapacidade e ineficácia da expiação para alguns.

 

Em contrapartida a essa posição radical de que a obra da Cruz só pode alcançar alguns e que o próprio Deus não teria interesse em redimir e expiar a culpa de todos os seres humanos eu posso citar o texto sagrado:

 

+ Começo citando o Evangelho de João já no prólogo em que o texto fala que o objetivo do Batista foi dar testemunho da LUZ a fim de que todos cressem (Jo 1:7). E ainda que a todos os que creram foi-lhes dado o direito de virem a ser filhos de Deus (Jo 1:12).

 

+ No clássico Jo 3:16 que sabemos de cor, recitamos que “... todo aquele que não pereça, mas tenha a vida eterna”.  Aqui o verso seguinte ajuda na compreensão: “Deus enviou o Filho ao mundo não para julgá-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3:17).

Pela minha exegese, o argumento de Jesus exposto a Nicodemos é de que a missão do Filho não seria de julgar ou condenar o mundo, mas de que este (o mundo todo) pudesse ser alcançado e salvo.

 

E lendo a partir do próprio Calvino:

+  Comentando o texto de Mt 23:37 onde Jesus diz que “quis reunir os teus filhos”, o teólogo genebrino observou que Deus “chama todos os homens indiscriminadamente para a salvação” e que ele “deseja reunir tudo para si mesmo”.

+ Também comentando o texto de Rm 3:22-23, ainda Calvino declarou que Cristo “é oferecido a todos”.  Sobre esse mesmo texto, o congolês D.M. Kasali afirma: “por causa de uma condenação universal, faz-se necessária uma justiça universal que só pode ser obtida por meio da fé em Jesus Cristo” (CBA – grifos meus).

 

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