Você fez duas questões distintas:
1.
Qual minha visão?
2.
Os Batistas são Calvinistas?
De antemão deixe-me dizer logo que essas questões
não são simples, do tipo que um sim ou não responde.
Há algumas complexidades que precisam ser
entendidas. Mas vou tentar lhe
apresentar uma resposta resumida.
Sei que esse tema do Calvinismo está na moda em
alguns círculos eclesiásticos – com defensores e detratores (e alguns chatos e
radicais).
Então, para responder a sua questão, entendo que é
importante situar os dados.
João Calvino foi um pensador, jurista e teólogo francês
do século XVI. Como líder político e
escritor ele influenciou tanto a religião quanto a vida social e econômica a
partir de Genebra/Suíça – onde foi alcaide.
Detalhe
1. Do ponto de vista socioeconômico, Calvino
criou o Consistório de Genebra (espécie de Tribunal de Inquisição) que se
ocupava até dos detalhes das vidas dos cidadãos – desde o corte de cabelo até
com o que se gastavam as finanças pessoais e públicas.
Detalhe
2. O próprio Calvino nunca exerceu o exercício
pastoral e também não se sentia à vontade com a expressão: Calvinismo /
Calvinista.
Quanto às teses teológicas de Calvino, sua
principal obra foi: "Instituição da Religião Cristã", em latim Christianae
Religionis Institutio, ou simplesmente As Institutas (cuja edição em
latim, revisada pelo próprio autor, se deu no ano de 1559).
Nessa obra, Calvino se propôs a fazer um
"resumo quase completo da piedade, abrangendo tudo que, quanto à doutrina
da salvação, é necessário conhecer" (citação da apresentação da própria
obra).
No século XX, seus seguidores criaram o acróstico
TULIP (em inglês) para tentar resumir os cinco princípios da doutrina
Calvinista:
1.
Depravação total
2.
Eleição incondicional
3.
Expiação limitada
4.
Graça irresistível
5.
Perseverança dos santos
Cada um desses pontos mereceria um estudo
aprofundado com prós e contras mediante análise histórica e teológica cristã
(mas como aqui só é resumo, vou seguir).
Os Batistas não são oriundos dos
reformadores do século XVI, mas, como grupo cristão distinto, surgem na
Inglaterra e Holanda no século seguinte. Logo, na sua origem, não têm vínculo
necessário com a obra de Lutero, Calvino, Melancton nem Armínio.
Por característica própria – desde a sua origem –
os Batistas nunca adotaram um sistema de Credo fechado com regras e posturas
doutrinárias monolíticas.
Pelo contrário. Os Batistas se somaram à herança comum bíblica
e do Credo Apostólico e se sentiram familiarizados com as Solas
postuladas pelo movimento da Reforma Protestante. Contudo se firmaram e distinguiram por adoção
de princípios gerais que os norteiam. A saber:
1.
A suficiência das Escrituras
3.
O batismo consciente de crentes
4.
A segurança eterna dos salvos
5.
Batismo e ceia como ordenanças e não como sacramentos
6.
O sacerdócio universal de todos os salvos
7.
A autonomia da igreja local
8.
A separação entre igreja e estado
Detalhes
1. A Confissão de Fé de Londres de 1689 é uma boa
descrição do que criam os Batistas desde sua origem
Detalhe
2. Eu me refiro aqui aos Batistas sempre no
plural (nunca a Igreja Batista) pois entendo que assim expressa melhor o
entendimento do que são: plural
Depois de toda citação, e antes que fique
cansativo, vou tentar responder suas questões.
1.
Qual minha visão?
2.
Os Batistas são Calvinistas?
Começando pela última. Historicamente vários líderes Batistas se
identificaram com os postulados Calvinistas e reformados; mas essa postura
nunca foi consenso, tanto é que vários outros adotaram linhas de interpretação
teológicas distintas.
Assim deve ser (e aqui já vou me incluir). Pelos nossos princípios Batistas – aquilo que
nos faz ser o que somos – cremos e afirmamos que somente a Bíblia é
inquestionável e tem a Palavra final. Logo,
todas as interpretações são passíveis de questionamentos.
Nunca houve um pensamento unívoco entre os
Batistas. Sendo assim, há Batistas calvinistas,
há Batistas arminianos, há Batistas liberais, há Batistas conversadores, há
Batistas no domingo, há Batistas no sábado, há Batistas milenaristas, há
Batistas amilenistas ... e por aí vai ...
O importante é que mantemos nossa capacidade de
divergir e continuar amando e cooperando.
E vem a questão da predestinação. Particularmente entendo que melhor que
Calvino, quem expressou de forma teológica e conceitual, de maneira mais clara,
a questão do tempo e da presciência de Deus foi Agostinho de Hipona (quase mil anos antes do reformador europeu), principalmente
na segunda parte de suas Confissões e em Cidade de Deus.
O teólogo africano afirmou:
"Na eternidade nada passa, tudo é
presente, ao passo que o tempo nunca é todo presente."
"Em Deus não há, como em nós, a previsão
do futuro, a visão do presente e a recordação do passado. É totalmente
diferente a sua maneira de conhecer, ultrapassando, muito acima e de muito
longe, os nossos hábitos mentais."
A tese de Agostinho é que Deus, sendo eterno em
essência, está fora e é sobre o tempo. Ao
contrário do ser humano que é finito e está submetido de forma inexorável ao
tempo.
Então,
tentar encaixar Deus em postuladas temporais humanos é, de certo modo,
esvaziá-lo de sua própria divindade.
Exposição simples porém profundamente piedosa e pertinente. Obrigado
ResponderExcluirA glória e o reconhecimento seja unicamente ao que é Digno.
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