sexta-feira, 30 de novembro de 2018

UMA BREVE CITAÇÃO


Os textos de Mt 26:30 e Mc 14:26 remontam a cena em que Jesus Cristo tinha acabado de celebrar os ritos pascoais com seus discípulos.
Num momento psicologicamente tenso, pois todos pressentiam que algo terrível já estava em curso e que mudaria por completo a história deles (e hoje digo: mudaria a história da humanidade), quando Jesus anunciou a traição do Iscariotes e estabeleceu seu sangue como o selo da nova aliança.
Os Evangelhos dizem simplesmente que “cantaram um hino” e depois seguiram para o Horto do Getsêmane – e só.
O hino cantado deve ter sido tirado do Hallel (um grupo de Salmos – 113-118 – que eram entoados naquelas ocasiões e cujo refrão em geral era o Sl 115:18). Não havia nada mais para ser dito.
Se o momento se mostrou solene, a celebração foi simples e introspectiva. Todo o ritual foi cumprido estritamente. Mas não foi um ritual vazio, ele veio carregado de emoções e significados, fazendo com que cada participante podesse refletir e compreender seu papel no desenrolar dos fatos que estariam por acontecer.
Apesar da brevidade da citação, quero que me permita desdobrá-la na leitura para compreender alguns de seus significados e extensão naqueles que dela participaram.
O contexto é a celebração da Páscoa entre Jesus e seus seguidores. Para os judeus, a Páscoa era uma cerimônia íntima que deveria ser celebrada em família (Êx 12:2) e, como Mateus sempre enfatiza, Jesus cumpriu toda a Lei (veja Mt 5:17). Assim os ritos pascoais foram cumpridos.
Isso já dá uma dimensão de como o Mestre entendia e previa esta celebração entre seus discípulos. Jesus sabia que os ritos, embora imbuídos de conexões culturais, não podiam ser desprezados.
Ao cumprir a formalidade da cerimônia, Jesus estava enfatizando que a adoração tem que respeitar a solenidade que a presença divina exige (em Hc 2:20 a exigência do silêncio pressupõe a solenidade necessária diante da presença do Senhor).
Mas em Jesus o ritual não é um fim em si mesmo: os atos de culto não devem se voltar a si mesmo; eles precisam estar repletos de significados e cada elemento apontar uma mensagem.
É como se Deus falasse aos cultuantes novamente cada vez que os elementos formais do culto fossem evocados. Embora a essência não estivesse nos ritos, Jesus sabia que a repetição deles haveria de conferir um caráter perene a celebrações com seus discípulos.
Outra observação mais clara nas citações estar na simplicidade com que os evangelistas indicam o cântico do hino. Parecem querer dizer que, embora a adoração a Deus possa ser bela e rica, cantar louvores a Deus deve ser algo tão natural entre os que seguem a Jesus que não há necessidade de extravagância. Ou seja, simplesmente a adoração e o cântico deveriam apontar ao louvor a Deus – este sim deveria sobressair.
Então eles cantaram: Mas nós bendiremos o Senhor desde agora e para sempre! Aleluia! (Sl 115:18).
Ao concluir a cerimônia com o cântico do hino, Jesus e seu círculo mais íntimo foram ao Monte das Oliveiras. Lá o Cristo viveria as experiências dolorosas do Getsêmane.
Tendo cumprido suas obrigações rituais solenes e adorado a Deus com simplicidade de coração, Jesus estava pronto para cumprir sua missão.
Somente um culto e uma adoração levada a efeitos nestes moldes pode produzir um resultado assim.


terça-feira, 27 de novembro de 2018

Três perspectivas sobre a religião – KARL MARX


O segundo pensador é Karl Marx (1818-1883). Nascido na Prússia, viveu a maior parte de sua vida em Londres. Foi filósofo, sociólogo, jornalista e considerado um revolucionário socialista. Sua principal obra foi O Capital (em alemão: Das Kapital), um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) onde faz uma análise crítica do capitalismo que conheceu.
Dos três pensadores, com precisão, Marx é o que menos se ocupada do tema da religião, tanto por não lhe dedicar uma obra exclusiva de análise do tema, como por considerá-la apenas como mais um aspecto no sistema de luta de classes que determina e delimita a própria vivência social. Além de que, de modo geral, ele via a religião como algo completamente desnecessário, quando a sociedade finalmente superasse a dialética da luta de classes, o que a levaria a ser obsoleta e extinta.
A citação clássica e mais conhecida de Marx sobre o tema da religião – muitas vezes referida completamente fora de contexto e depredada da compreensão completa – é retirada da obra Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, publicada em 1884. Ele diz:

A angústia religiosa é, por um lado, a expressão da angústia real e, por outro, o protesto contra a angústia real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, a alma de um mundo sem coração, tal como é o espírito de condições sociais, de que o espírito está excluído. Ela é o opium do povo.

E aqui duas observações precisam ser colocadas. Primeiramente que na interpretação de Marx sobre a religião, ele deixa claro: na relação entre infraestrutura e superestrutura social que movem e são movidas pela luta de classe em qualquer sociedade, a religião pode aparecer apenas como elemento legitimador das estruturas de dominação forjando o espírito subalterno e resiliente das classes trabalhadoras.
Em segundo, que a religião também pode funcionar como o combustível incentivador para que a criatura oprimida se lance à batalha de transformação histórica e social, num protesto contundente e consequente.
Nesse sentido, partindo das ideias de Marx, a religião pode apresentar respostas para o ser humano contextualizado neste tempo, tanto entorpecendo sua angústia – fornecendo um escape necessário à sobrevivência social e à sanidade – quanto oferendo horizontes utópicos pelos quais realmente valeria a pena lutar.

Leia ainda sobre Émile Durkheim e Max Weber.


terça-feira, 20 de novembro de 2018

Três perspectivas sobre a religião – ÉMILE DURKHEIM


A despeito do que previram vários pensadores clássicos, principalmente ligados ao Iluminismo e ao Positivismo, a religião no século XXI não está decadente nem em vias de se extinguir. Pelo contrário, o que se percebe com nitidez é que a espiritualidade, a busca pelo transcendente, e as diversas formas e manifestações religiosas estão cada vez mais em moda no ser humano secularizado e pós-moderno.
Somente esta constatação já justificaria a volta à leitura dos estudos clássicos sobre a Sociologia da Religião. Permita-me propor algumas leituras: Émile Durkheim; Karl Marx e Max Weber.

O francês David Émile Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo. Entre suas principais obras estão: Da Divisão do Trabalho Social (1893), As Regras do Método Sociológico (1895) e O Suicídio (1987).
Também importante é seu escrito: Formas Elementares da Vida Religiosa, publicado originalmente em 1912, onde ele analisa o sistema totêmico na Austrália. Nele, Durkheim faz as seguintes colocações teóricas sobre a religião:

A força religiosa é apenas o sentimento que a coletividade inspira a seus membros, mas projetado fora das consciências que o experimentam.
Temos a impressão que nos relacionamos com duas espécies de realidades distintas, e que uma linha de demarcação claramente estabelecida separa uma da outra; de um lado, o mundo das coisas profanas, e do outro, o das coisas sagradas.
A religião surge nos estados de efervescência social, em que o tempo sagrado interrompe o tempo profano das atividades sociais e econômicas.

Para Durkheim, nada há nas coisas e relações sociais que possam ser intrínseca, necessária e essencialmente sagrados, mas os contextos sociais e os valores que se dão a eles é o que tornam sagrado e religioso. Sendo assim, a religião funciona como um dado social que é útil para que a organização social possa funcionar a contento.
Assim é que neste mundo secularizado, a religião continua vívida pois ainda pode fornecer um mínimo de elemento agregador e sentido de valor à sociedade e aos indivíduos que dela fazem parte, principalmente neste tempo de pós-modernidade desagregadora.

Leia ainda sobre Karl Marx e Max Weber.


sexta-feira, 16 de novembro de 2018

NO ANO EM QUE MORREU O REI


No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; 
e o seu séquito enchia o templo.         
A profundidade da adoração de Isaías é significativa e tocante para nós hoje (vou tomar como base o texto de Is 6). Seu desenrolar se apresenta como um modelo de ordem de culto que precisa ser examinado e seguido, por expressar uma adoração abrangente o suficiente pois agrada a Deus e refaz o cultuante.
Tudo começa quando a presença de Deus acontece. É verdade que Deus é espírito transcendente e jamais pode ser visto pelo ser humano pois o brilho de sua glória o mataria (isso ele disse a Moisés em Êx 33:20). Mas também é verdade que por seu amor Deus se revela àqueles que o aceitam (note que Jo 1:18 tem o seu sentido completado com as palavras do verso 14).
A presença de Cristo é prometida para o meio da sua igreja (tanto em Mt 18:20 como em 28:20). É esta presença que transforma uma reunião qualquer em um culto e em adoração a Deus. Ou seja, para que, juntos, um grupo de crentes adore ao Senhor, é imprescindível que experimentem, pela fé, a presença gloriosa de Deus.
Estando envolvido nesta presença, por ter vivenciado o encontro com Cristo, a adoração tem que necessariamente se iniciar com o louvor e o reconhecimento da glória e da santidade de Deus. Este momento inicial do culto tem que gerar contemplação, admiração e reconhecimento do mistério e da graça envolvidos na revelação divina e no ato de adorar. Somente num culto que se inicia glorificando ao Senhor por sua santidade é que o espiritual e sobrenatural de Deus poderão ser vivenciados.
Tendo reconhecido e expresso a glória de Deus em adoração, a visão do cultuante deve voltar-se a sua própria condição finita. Neste momento, o terror pelo pecado e morte sobressai (lembre que nada está oculto a Deus com é dito no Sl 139).
Um culto verdadeiro traz sempre à tona pecados e imperfeições. Mas quem adorou o Senhor pela sua santidade, também reconhece seu amor leal e sabe que se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça (1Jo 1:9).
Por isso, adoração deve incluir confissão. E a confissão sincera produz arrependimento e purificação. O mesmo verso da epístola de João citado já diz que Deus é fiel e justo em purificar toda nossa injustiça. Quando cultuamos ao Senhor em sua santidade e isto gera confissão, o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo o pecado (1Jo 1:7).
O cancelamento das penas aplicáveis pela justiça divina ao pecado é o resultado da graça que vem a nós pelo sangue do Cordeiro. Isto é experimentado de maneira eficaz na celebração do culto e também deve produzir mais louvor e dedicação.
Tomando como base o culto de Isaías, apenas mais uma parte precisa ser citada. O culto, como encaminhamento final, desafia o adorador a anunciar a palavra de Deus. Quando adoramos ao Senhor Santíssimo e experimentamos seu amor misericordioso e perdoador em nossa vida – que é a essência do encontro com Deus expresso no culto – somos compungidos a levar sua mensagem e anunciar suas grandezas (este objetivo pode ser lido em 1Pe 2:9).
Como modelo de culto, temos então uma adoração que deve começar invariavelmente com o louvor da glória de Deus; deve fazer com que pecados sejam confessados para serem purificados; e de maneira igual deve necessariamente resultar em um espírito evangelístico e missionário – só assim a culto poderá ser considerado concluído e aceitável ao Senhor.



terça-feira, 13 de novembro de 2018

NÃO HERDARÃO - um estudo em 1Co 6:9-10


O texto de 1Co 6:9-10 traz uma lista de práticas que excluem do Reino de Deus. Mas, antes de esmiuçar esta relação, é importante entender o contexto. Paulo vem exortando os crentes de Corinto sobre o erro de se levar a tribunais mundanos questões internas da igreja. E adverte que só o ato de levar ao tribunal já é um atestado de derrota para a igreja – independente de qualquer veredito.
Em todo caso, o apóstolo chama os briguentos de injustos. Então é aqui que começa a citação que estudamos. Vamos começar com o primeiro argumento, destrinchando um pouco o grego.

+ Ou não sabeis (Ἢ οὐκ οἴδατε;) – uma pergunta retórica somente para enfatizar a tese que vem a seguir.
+ Os injustos (ἄδικος – aqui no plural – literalmente: os sem justiça: +‎ δίκη). Uma referência clara a qualquer um que despreza a justiça divina em favor da humana – ainda que seja um cristão, ele é um injusto (como foi o caso citado no início do capítulo).
+ Herdarão (κληρονομέω) – o verbo dá a ideia de herdar. Com o negativo no futuro pode ser traduzido: não entrarão em plena posse.
+ Não se enganem (πλανάω) – o imperativo presente médio grego com negação indica: não continuem sendo iludidos / enganados.

A tradução pode ficar assim:

Vocês não sabem que os injustos não vão tomar posse do Reino de Deus?
Não continuem se iludindo com isso!

Para então vir a relação dos que também não tomarão posse (veja a relação a partir do grego – no texto, todos estão no plural):

Πόρνοςuma pessoa promíscua, imoral. Quem vive sem regras na área da sexualidade. Não confundir com o feminino πόρνη que seria a profissional do sexo ou prostituta sagrada dos cultos pagãos (a palavra aparece 12 vezes no NT grego).
Εἰδωλολάτρηςidólatra. Quem adora ídolos (6 vezes no NT grego).
Μοιχόςadúltero, amante. O termo se refere a um homem que só procura mulher casada (4 vezes no NT grego).
Μαλακόςefeminado. Na Grécia clássica, se referia ao parceiro passivo nas relações homossexuais. A palavra é da mesma raiz de μαλακία – literalmente doença, mas como gíria: moleza – daí: fraco, submisso (apenas 4 vezes no NT grego).
Ἀρσενοκοίτηςhomossexual. Etimologicamente: aquele que se deita com um homem. Em oposição ao termo anterior, é o parceiro ativo (apenas nesse verso e em 1Tm 1:10 no NT grego).
Κλέπτηςladrão – de onde vem o termo cleptomaníaco (18 ocorrências no NT grego).
Πλεονέκτηςavarento, explorador. Alguém que não mede esforços, ainda que imorais ou antiéticos, para atingir seus objetivos (no NT grego, somente Paulo usa esse termo: três vezes aos Coríntios e uma aos Efésios).
Μέθυσοςbêbado (no NT grego, somente aqui e na relação de 1Co 5:11).
Λοίδοροςcaluniador, difamador, blasfemo. Alguém que usa de linguagem abusiva (no NT grego, também somente aqui e na relação de 1Co 5:11).
Ἅρπαξavarento, estelionatário, vigarista. Diz-se daquele que pratica a extorsão como modo de ganho (6 vezes no NT grego).

Quatro observações importantes antes de concluir:
(1) Esta é apenas uma relação linguística a partir dos termos citados pelo apóstolo. Para um trabalho exegético, será necessário um aprofundamento maior no próprio texto bíblico, seu contexto e teologia. E mais: lembre que um texto único não faz doutrina – é apenas citação!
(2) Certamente, Paulo era um homem do seu tempo e estava pela primeira vez mesclando as tradições judaicas e helênicas na construção de sua doutrina cristã. Isso implica em que devemos andar com bastante cuidado nessa trilha, sem nunca desconsiderar as matrizes culturais do apóstolo.
(3) Também é bom ter cuidado para não destacar – ou pinçar – um pecado em detrimento a outros. Qualquer uma dessas máculas, borram o selo da herança (mas aqui já é uma janela para outra avenida teológica).
(4) E uma regra fundamental: interpretar e tratar o texto a partir de uma leitura literal de termos e expressões, além de não ser leal ao Espírito da Revelação, traz mais problemas que entendimento, mais trevas que luz à compreensão, mais regras que amor. CUIDADO!

* Porém o mais importante é que de todos estes pecados já fomos lavados (ἀπολούω), santificados (ἁγιάζω) e justificados (δικαιόω) em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus (1Co 5:11 – e para quem gosta do estudo da língua grega: os três verbos aqui estão no aoristo).


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

CULTUANDO COM NOÉ – 2ª parte


A adoração prestada por Noé é claramente um ato de celebração. E como tal configura-se em movimento completo e perfeito a ser analisado na busca de uma compreensão melhor de nossa adoração hoje.
Em primeiro lugar o que Noé ensina é que antes de tudo, deve prevalecer a atitude de prestar um culto a Deus (no que Jesus vai concordar em Mt 6:36). Logo ao sair da arca Noé ofereceu um holocausto em sacrifício ao Senhor. Antes de qualquer iniciativa o que deve ser prioridade em nossa vida e em nossa agenda tem que ser a adoração. Somente depois de ter estado diante do altar de Deus em adoração é que posso ir trabalhar em meus afazeres.
Observe ainda que o culto de Noé não se volta para a imensidão do vazio. Ele encontra eco no trono de Deus. Sei que culto é sempre um momento de encontro do humano com o divino. Deus vem ao encontro do cultuante. Sempre é assim: quando busco a Deus e lhe ofereço um sacrifício de louvor, ele vem e fala com quem lhe adora.
O perfume da adoração chega ao lugar sagrado e ali Deus é tocado. E mais, como demonstra a história do altar construído por Noé, um culto que é prestado com coração sincero e em santidade (animais e aves puros como diz Gn 8:20) sobe como aroma agradável. Deus fica satisfeito com o culto que recebe.
Esta constatação leva a uma outra compreensão da adoração. Quem tem que se satisfazer com o culto é o Senhor da Igreja, e não os membros. Ou seja, o culto e a adoração devem apaziguar o coração de Deus, pois somente para isso ele é prestado.
Com o coração divino satisfeito por causa da adoração que lhe foi prestada, Deus sempre se compromete com seu povo. Não que haja um condicionamento de uma coisa a outra. Deus é o Soberano Senhor e nada pode alterar esta realidade e quando ele decide agir ele o faz como quer (considere atentamente as palavras de Is 43:13).
A verdade contudo é que Deus tem prazer em abençoar os seus e por isso se compromete voluntariamente com quem lhe presta culto. Nosso Deus é um Deus que faz alianças, e o faz por sua livre e soberana decisão. Mas é na adoração que cada homem e mulher pode entrar em contato com as alianças divinas e delas participarem.
Além do encontro glorioso de Noé com seu Deus expresso na satisfação divina em aceitar o culto pelo cheiro agradável, o culto aqui demonstrado é uma grande celebração. É como se naquele momento o ser humano estivesse dizendo a Deus: o castigo, o caos e a desordem já passaram, agora junto com este Deus que providenciou libertação vou celebrar a nova vida que ele nos ofereceu.
Certamente ao se construir um altar para Deus com um coração assim, está-se também celebrando a certeza de que somente em Deus o mundo pode ser refeito.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

CULTUANDO COM NOÉ – 1ª parte


O texto bíblico diz que o patriarca Noé executou as ordens exatamente como Deus predeterminou; então o dilúvio aconteceu; e somente aqueles que entraram na arca foram salvos.
Depois de passado o dilúvio com suas chuvas e todo o movimento das águas, Noé e sua família puderam descer da arca e liberar os animais que com eles foram preservados.
Aqui faço o destaque inicial: depois que saiu da arca a primeira previdência de Noé foi construir um altar e sobre ele oferecer em holocausto animais e aves puros. Diante de algo tão extraordinário, a atitude mais necessária e primordial a se tomar seria apresentar sacrifícios de louvor ao Deus salvador.
Mais tarde o salmista haveria de conclamar a todos a repetirem o gesto: Que eles ofereçam sacrifícios de ação de graças e anunciem as obras com cânticos de alegria (Sl 107:22).
A fumaça produzida pela queima da oferta subiu até Deus: O Senhor sentiu o cheiro (Gn 8:21). Posso visualizar a cena em que Noé constroi um altar, sobre ele coloca as vítimas, sacrifica-as e acende o fogo sobre o holocausto. Mesmo não fazendo uma leitura literal da narração, é possível continuar visualizando a fumaça subindo e Deus, do seu trono celeste, percebendo o culto que a ele era prestado.
É esta percepção divina – e sua reação à mesma – que vai merecer maior destaque. O texto diz que para Deus isso foi como um cheiro suave (ou aroma agradável).
Claramente vejo no texto que o culto e adoração oferecida por Noé ultrapassou os limites terrenos e, mais que isso, o holocausto queimado no altar agradou a Deus.
A expressão cheiro suave vai ecoar mais adiante na narrativa bíblica (na lei em Êx 29:18; na profecia em Ez 20:40-41 quando Deus declara aceitar o culto de Israel como um incenso aromático e Paulo em Ef 5:2 vai se referir ao sacrifício de Cristo como um aroma agradável oferecido a Deus).
O que aprendo no episódio do altar erguido por Noé e com o holocausto queimado é que tal adoração foi satisfatória para Deus. Depois do ato punitivo de Deus com o dilúvio, agora o coração do Senhor se mostra apaziguado e satisfeito por que aquele homem fiel e obediente estava lhe oferecendo um culto de gratidão, sincero e santo.
O cheiro que subiu do altar levou a adoração de Noé até a morada divina e lhe tocou profundamente. Sabemos que Deus é imutável (leia em Ml 3:6), mas a adoração de Noé satisfez de tal maneira o coração de Deus que ele se comprometeu em jamais destruir os seres vivos com outro dilúvio:
Estabeleço uma aliança com vocês:
Nunca mais será ceifada nenhuma forma de vida pelas águas de um dilúvio;
nunca mais haverá dilúvio para destruir a terra
.
(Gn 9:11)
Com a fumaça que subiu da adoração de Noé, Deus se agradou e decidiu se pactuar com suas criaturas. O final desta história é a citação de que um sinal foi posto no céu como demonstração visível daquilo que o Senhor tinha falado (registrado em Gn 9:17).

Leia a segunda parte aqui (link - 2ª parte)