sexta-feira, 31 de agosto de 2018

COMO TRATAR O PECADO?


No último domingo, celebramos em nossa Congregação a Ceia do Senhor. E como costumo dizer, dia de celebração de Ceia é dia de dizer as mesmas coisas… de novo… e de novo… Assim tem de ser, pois Ceia é memorial. Então, para lembrar, repete-se as mesmas histórias, as mesmas afirmações, as mesmas crenças. E toda a celebração se enche de significado e vida.
Mas, onde entra o pecado nessa conversa? – até para justificar o título lá em cima!
Eu até confesso que pecado não é meu assunto preferido para falar. Mas, fazer o quê!? Está na Bíblia, e não tenho como fugir dessa realidade.
Paulo, escrevendo aos cristãos da Igreja de Roma, afirmou que todos pecaram e por isso estão destituídos da graça de Deus (confira Rm 3:23).
Permita-me logo duas observações sobre os verbos encontrados na língua original do texto apostólico. 1. O primeiro verbo ali usado deve ser traduzido mesmo como pecar, mirar num alvo errado – o mesmo verbo que Lucas usa para se referir a atitude do filho pródigo em Lc 15:18; e 2. O outro permite conceitos mais amplos, porém todos implicando em falta, carência e exclusão – na mesma parábola contada no Evangelho, é o que o garoto começou a sentir depois de ter desperdiçado a herança, em Lc 15:14.
Nessa perspectiva, é certo dizer que pecado, não somente é uma infeliz realidade espiritual, como também que provoca carências na alma que por si mesmas são incuráveis.
E foi e com essa certeza que celebramos a Ceia do Senhor. Se o pecado é real e um mal incurável por esforços humanos (a carência e vazio são gigantescos!), como remediá-lo sob a ótica da cruz que rememoramos na Ceia cristã? Como tratar o pecado? Que fazer com ele?
Então fomos buscar na Bíblia exemplos e lições que nos guiassem. E pelo menos três atitudes se mostraram possíveis – duas trágicas e uma recomendável. Vamos a elas:
A primeira atitude em relação ao pecado foi a de Judas Iscariotes. Tomado de profundo remorso e tristeza, ele tentou por si só desfazer a besteira que tinha feito, devolvendo o dinheiro da traição. Como não foi possível – nunca é! – ele acabou se enforcando (leia em Mt 27:5). Uma tragédia.
Outra atitude também de fim trágico foi a dos filhos do sacerdote Eli. O texto bíblico os descreve como não se importando com as coisas do Senhor (vá a 1Sm 2:12-17). E essa postura de desleixo, desprezo e descuido com o sagrado, como se o pecado realmente não provocasse nenhuma consequência, deu lugar à sentença divina.
Mas há a atitude do rei Davi. Essa sim deve servir de modelo e parâmetro para nossa ação em relação ao pecado. Depois de ser confrontado pelo profeta Natã em relação ao seu pecado de adultério e assassinato, Davi escreveu o Salmo 51. E é esse padrão de conduta ditado por disposição interior que deve orientar nossa postura quando celebramos a Ceia diante da cruz:
Tem misericórdia de mim, ó Deus,
por teu amor;
por tua grande compaixão
apaga as minhas transgressões.
Cria em mim um coração puro, ó Deus,
e renova dentro em mim um
espírito estável.
Não me expulses da tua presença,
nem tires de mim o teu Santo Espírito.
Arrependimento verdadeiro – não remorso emocional. Confissão sincera – não descaso arrogante. E da cruz nos vem a graça e perdão imerecidos que recebemos com piedade e adoração. É assim de se deve tratar o pecado. É assim que celebramos a Ceia do Senhor.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

100 nomes que todo evangélico brasileiro precisa conhecer – 1ª parte


Os anos de história do cristianismo nos deixaram de herança incontáveis nomes de homens e mulheres. Alguns nos dão orgulho, outros nem tanto. Alguns estão entre os preferidos, outros os conheço por obrigação.
Aqui fiz uma lista com os 100 nomes que entendo que todo cristão evangélico brasileiro precisa conhecer. A lista não é completa – nunca é. Aqui apresento a primeira parte em ordem alfabética.

Adoniram Judson (1788-1850) – EUA – Missionário na Birmânia. Tradutor da Bíblia. Através de seu trabalho foi criada a primeira associação de apoio missionário da América.
Agostinho de Hipona (354-430) – Hipona (norte da África) – Bispo e principal pensador cristão antigo. Refletiu sobre todos os mais importantes temas da fé cristã. Principais obras: A Cidade de Deus e Confissões.
Aimee Semple McPherson (1890-1944) – Canadá / EUA – Evangelista e pregadora. Fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular. Pioneira do uso das mídias modernas como instrumento de evangelização.
Albert Schweitzer (1875-1965) – Alsácia (Alemanha) / Gabão – Doutor em Filosofia e Teologia. Trocou a academia teológica europeia pelo trabalho missionário e humanitário na África. Ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1952.
Antônio Teixeira de Albuquerque (1840-1887) – Brasil – Considerado o primeiro batista brasileiro e o primeiro pastor batista brasileiro.
Antônio Vieira (1608-1697) – Portugal / Brasil – Padre católico, foi exímio orador e pregador, além de filósofo e escritor. Contestou a ordem vigente religiosa e politica no Brasil colônia. Deixou mais de 200 sermões escritos.
Arthur Lakschevitz (1901-1980) – Letônia / Brasil – Tendo nascido na Europa, migrou para o Brasil com os cristãos letos no início do século XX. Músico excepcional, foi um dos mais respeitados compositores e arranjadores da música evangélica no Brasil.
Ashbel Green Simonton (1833-1867) – EUA / Brasil – Missionário norte-americano fundador da Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro.
Bartolomeu de las Casas (1478-1566) – Espanha / México – Considerado o primeiro sacerdote ordenado na América. Foi cronista e teólogo. Viajou por toda a América espanhola pregando o cristianismo e defendo os indígenas dos abusos dos conquistadores.
Bento de Núrsia (480-574) – Úmbria (Itália) – Monge asceta. Criador da principal regulação da vida e ordens monásticas.
Bernardo de Claraval (1090-1153) – Itália / França – Líder espiritual da igreja durante a Idade Média. Pregava a necessidade da meditação e leitura bíblica como disciplinas indispensáveis ao cristão.
Billy Graham (1918-2018) – EUA – Principal pregador batista norte-americano do século XX. Sua ação evangelística chegou a todos os continentes alcançando mais de dois bilhões de pessoas e influenciando sucessivos líderes políticos dos EUA,
C.S. Lewis (1898-1963) – Reino Unido – Professor universitário, crítico e ensaísta. Suas principais obras foram: Cristianismo Puro e Simples e a coletânea As Crônicas de Nárnia.
Charles Finney (1792-1875) – EUA – Pregador, professor, teólogo, abolicionista e avivalista. Considerando um dos líderes do Segundo Grande Despertar Espiritual dos EUA.
Charles Spurgeon (1834-1892) – Inglaterra – Pregador batista. A ele são atribuídos os títulos de Príncipe dos Pregadores e Último dos Puritanos.
Charles Wesley (1707-1788) – Inglaterra / EUA – Junto com seu irmão John, foi um dos principais pregadores responsável pelo avivamento protestante-evangélico do século XVIII.
Daniel Berg (1884-1963) – Suécia / Brasil – Missionário e evangelista pentecostal. Fundador da Igreja Assembleia de Deus no Brasil.
David Gomes (1919-2003) – Brasil – Pastor e um dos principais líderes entre os batistas brasileiros. Missionário e executivo da JMN/CBB. Fundador da Escola Bíblica do Ar. Escritor e conferencista internacional.
Davíd Martins de Miranda (1936-2015) – Brasil – Pastor evangélico pentecostal. Fundador da Igreja Pentecostal Deus é Amor.
Dietrich Bonhoeffer (1906-1945) – Alemanha – Pastor luterano. Líder da Igreja Confessante alemã de resistência ao nazismo. Mártir cristão do século XX (morreu num campo de concentração). Entre seus principais escritos estão: Resistência e Submissão, Ética e Vida em Comunhão.
Dwight L. Moody (1837-1899) – EUA – Ficou conhecido como o maior evangelista do século XIX. De linguagem simples, fez diversas campanhas evangelísticas no EUA e Canadá.
Elias Brito Sobrinho (1922-1974) – Brasil – Pastor batista. Pioneiro do trabalho evangélico em Brasília. Um dos líderes da Renovação Espiritual a partir dos anos 1960 e da Convenção Batista Nacional.
Enéas Tognini (1914-2015) – Brasil – Pastor batista. Um dos mais influentes líderes da renovação no Brasil a partir dos anos 1960.
Erasmo de Roterdã (1466-1536) – Holanda / Suíça – Teólogo e humanista. Um dos principais influenciadores da Reforma Protestante. Publicou uma edição crítica do Novo Testamento Grego que serviu de base para diversas traduções modernas.
Eurico Nélson (1891-1975) – Suécia / Brasil – Primeiro missionário batista a pregar e fundar igrejas evangélicas na Amazônia.
Eusébio de Cesareia (265-339) – Palestina – Bispo e historiador da igreja. Sua principal obra foi História Eclesiástica que narra sobre os primeiros anos do cristianismo.
F.F. Bruce (1910-1990) – Escócia – Professor, escritor, erudito da Bíblia, e um dos fundadores da moderna compreensão evangélica da Bíblia.
Fanny Crosby (1820-1915) – EUA – Fiel metodista. Cega desde a infância. Ela é uma das compositoras mais conhecidas de hinos sacros da América do Norte.
Feliciano Amaral (1920-2018) – Brasil – Pastor batista. O mais longevo cantor evangélico brasileiro (contanto inclusive do Livro dos Recordes).
Felipe Melancton (1497-1560) – Alemanha – Discípulo de Lutero. Um dos primeiros sistematizadores do protestantismo. Também discorreu sobre Astronomia, Física e Psicologia.
Fountain E. Pitts (1808-1874) – EUA – Ministro metodista e Capelão Confederado. Ele estabeleceu missões metodistas no Brasil e na Argentina.
Francis Schaeffer (1912-1984) – EUA – Filósofo, teólogo, pastor e ativista político. Ele defendeu o envolvimento cristão nas questões humanitárias e de direito civil.
Francisco de Assis (1182-1226) – Itália – Depois de uma significativa experiência de conversão, tornou-se um homem de espiritualidade profunda, chegando a ser citado pelos seus contemporâneos como “o mais perfeito seguidor de Jesus Cristo”.
Friedrich Osvald Sauerbronn (1784-1867) – Alemanha / Brasil – Primeiro pastor luterano no Brasil e na América Latina.
George Müller (1805-1898) – Inglaterra – Evangelista e filantropo. Notável por sua fé na providência de Deus e pela sua obra em favor das crianças desamparadas, através da construção de orfanatos.
George Whitefield (1714-1770) – Inglaterra / EUA – Pastor anglicano. Foi um dos principais influenciadores da Grande Renovação nas colônias britânicas norte-americana. Seu nome também está ligado a origem da ideologia americana.
Gilberto Freire (1900-1987) – Brasil – Grande expoente da cultura brasileira. Foi sociólogo, antropólogo e ensaísta. Teve formação evangélica, manifestando inclusive desejo de seguir a vocação pastoral na juventude.
Gunnar Vingren (1879-1933) – Suécia / Brasil - Missionário e evangelista pentecostal. Um dos fundadores da Igreja Assembleia de Deus no Brasil.
Harold Edwim Willians (1913-2002) – EUA / Brasil – Missionário e pregador. Trouxe a Igreja do Evangelho Quadrangular para o Brasil.
Helena de Constantinopla (250-330) – Constantinopla – Mãe do imperador Constantino. Numa peregrinação à Palestina ela se dedicou a identificar os alegados locais da vida de Jesus.
Henry Maxwell Wright (1849-1931) – Portugal / Brasil – Filho de ingleses. Foi o compositor e tradutor de mais de 200 hinos que formaram o repertório evangélico brasileiro, contribuindo com hinários de diversas denominações.
Irineu de Lyon (130-202) – Turquia / França – Bispo, escritor, teólogo e apologeta cristão. Defendeu firmemente a doutrina cristã contra as heresias gnósticas.
Isaltino Gomes Coelho Filho (1948-2013) – Brasil – Pastor batista. Foi um dos principais pensadores evangélicos brasileiros.
Jaci Correa Maraschin (1930-2009) – Brasil – Professor, mestre, poeta, músico e pastor da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.
Jacob Armínio (1560-1609) – Holanda – Significativo formulador da doutrina da graça como ação preveniente de Deus mas que exige uma resposta humana.
Jerônimo (347-420) – Dalmácia / Judeia – Teólogo, historiador e doutor da Igreja. Sua obra mais conhecida é tradução da Bíblia para o latim chamada de Vulgata Latina.
João Calvino (1509-1564) – França / Suíça – Principal líder e influenciador da Reforma no centro da Europa. Os pontos de sua doutrina são: Depravação total do ser humano; eleição incondicional; expiação limitada; graça irresistível; perseverança dos santos. Nunca foi ordenado pastor ou bispo.
João Crisóstomo (374-407) – Síria / Ponto (Ásia Menor) – Seu nome deriva do apelido dado a ele em língua grega: o boca de ouro, pela força e eloquência de suas pregações e defesa da fé cristã.
João Ferreira de Almeida (1692-1691) – Portugal – Primeiro missionário reformado no sul da Índia. Seu trabalho mais conhecido foi a tradução da Bíblia para o português.
João Wycliff (1328-1384) – Inglaterra – Um dos principais precursores da Reforma Protestante na Europa ao defender que somente a Bíblia deveria servir de base doutrinária para a igreja.


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

DEUS É FIEL


Ao longo das eras, a Igreja tem cultuado e servido a um Senhor real – presente – e que se tem revelado na história. Desta revelação apreendo qualidades e características que são próprias de Deus e que têm sido confirmadas na vida do povo.
No capítulo 32 de Deuteronômio eu posso ler que “...Deus é fiel e sem iniquidade; justo e reto é ele” (v. 4). Aqui é ponto fundamental: Creio num Deus que é fiel em sua essência. Mas, o que é possível compreender a partir desta certeza?
Afirmar que Deus é fiel é crer que ele não muda em nenhuma circunstância (confira Ml 3:6). Posso crer na fidelidade de Deus por que ele é e sempre será o mesmo – cuidado para não confundir com um deus imóvel! Nós, os seres humanos, estamos sempre mudando, nunca podemos ser completamente confiáveis pois, como seres inacabados, estamos sempre na iminência de mudanças. Com Deus não é assim, pois ele é perfeito e completo em sua eternidade.
Mais. Creio que Deus é fiel também porque sei que suas palavras são inteiramente confiáveis. Tudo o que ele disse cumprirá a seu tempo (confirma mais em 1Rs 8:56). Como no passado, também hoje posso confiar que o Senhor cumprirá tudo o que prometeu: nisto está a sua fidelidade.
E ainda. Deposito minha confiança na fidelidade de Deus por que esta fidelidade não depende de nenhum dos meus critérios. Ainda que em minha trajetória de vida venha a trair e falhar com o Senhor, ele permanece sempre fiel ao meu lado como Pai amoroso que se dispõe a ajudar (confira também 2Tm 2:13). A fidelidade de Deus não está condicionada a minha maneira de se comportar, mas consiste nos critérios de sua soberana vontade.
Por crer num Deus fiel, devo então louvá-lo por isto e me colocar ao seu inteiro dispor para que também ele me agracie em fazer-me fiel aos seus desígnios.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

ENTENDES O QUE LÊS?


O livro Entendes o que Lês dos norte-americanos Gordon D. Fee e Douglas Stuart foi publicado originalmente nos EUA em 1981 sob o título How to Read the Bible for All Its Worth (numa tradução livre: Como Ler a Bíblia por Todo o Seu Valor) e se propõe a ser um guia para entender a Bíblia com o auxílio da exegese e da hermenêutica.
A primeira edição em Português saiu em 1984 e já no meu tempo de Seminário era uma leitura obrigatória nas aulas de Exegese e Hermenêutica.
A obra é dividida em treze capítulos mais apêndice e índices. Veja o que os autores dizem sobre cada assunto:

1. Introdução: a necessidade de interpretação
O alvo de toda boa interpretação é simples: chegar ao “significado claro do texto”. E o ingrediente mais importante para cumprir essa tarefa, e que nunca podemos deixar de lado, é o bom senso suficientemente aguçado. O teste de uma boa interpretação está em saber se esta expõe o correto sentido do texto. Portanto, a interpretação correta tanto consola a mente, como pode também incitar ou irritar o coração (p. 24).

2. Ferramenta básica: uma boa tradução
Há dois tipos de opções que os tradutores têm de fazer: uma é de caráter textual e a outra de caráter linguístico. O primeiro tipo se relaciona à busca por encontrar o que realmente foi registrado no texto original. O segundo tem a ver com a teoria da tradução (p. 43).

3. Epístolas: aprendendo a pensar contextualmente
Assim, muitas vezes nos voltaremos às epístolas em busca da teologia cristã; elas estão carregadas dela. No entanto, devemos sempre conservar em mente que, em princípio, não foram escritas para fazer uma exposição da teologia cristã. É sempre uma teologia aplicada ou direcionada a uma necessidade específica (p. 71).

4. Epístolas: questões hermenêuticas
A grande questão entre os cristãos que aceitam a Escritura como a Palavra de Deus tem a ver com os problemas da relatividade cultural: o que é cultural e, portanto, pertence exclusivamente ao século I, e o que transcende a cultura e, portanto, é uma Palavra para todos os tempos (p. 87-88).

5. Narrativas do Antigo Testamento: seu emprego apropriado
Nossa preocupação é guiá-lo ao entendimento do modo como a narrativa hebraica “se desenvolve” para que você possa ler a Bíblia com mais conhecimento e mais apreciação pela história de Deus (p. 109).

6. Atos: o problema do precedente histórico
Nossa suposição, compartilhada por muitas outras pessoas, é essa: sem que a Escritura nos mande fazer alguma coisa de forma explícita, aquilo que é apenas narrado ou descrito não funciona de um modo normativo (i.e., obrigatório) – a menos que possa ser demonstrado por outros motivos que o autor pretendia que o texto funcionasse desse modo. Há boas razões para fazermos essa suposição (p. 145).

7. Evangelhos: uma história, muitas dimensões
Em certo sentido, portanto, os evangelhos funcionam como modelos hermenêuticos para nós, insistindo, por sua própria natureza, que nós também narremos de novo a mesma história em nossos próprios contextos do século XXI (p. 156).

8. Parábolas: você entende a lição?
As parábolas com história funcionam como um meio de evocar uma resposta por parte do ouvinte. Em certo sentido, a própria parábola é a mensagem. Ela é contada para dirigir-se aos ouvintes e cativá-los, a fim de fazê-los parar e pensar acerca das suas próprias ações, ou levá-los a dar alguma resposta a Jesus e ao seu ministério (p. 183).

9. Lei(s): as estipulações da aliança para Israel
E esse é o papel da Lei na história de Israel. Era uma dádiva de Deus para o povo o fato de estabelecer o modo como os israelitas tinham de viver em comunidade, relacionando-se um com o outro, e garantir a relação com Javé, seu Deus, e o culto a ele. Ao mesmo tempo, a Lei estabelecia limites no que diz respeito à relação dos israelitas com as culturas ao redor. Realmente, uma tarefa formidável! (p. 196).

10. Profetas: fazendo cumprir a aliança em Israel
Devemos, portanto, ter sempre em mente que os profetas não inventaram as bênçãos ou as maldições que proclamavam. Podem ter expressado essas bênçãos e maldições de modos novos e cativantes, como foram inspirados a fazer. Contudo, eles reproduziam a Palavra de Deus, e não a sua própria palavra (p. 221).

11. Salmos: as orações de Israel e as nossas
Como essas palavras faladas para Deus funcionam para nós como uma Palavra da parte de Deus? A resposta? Exatamente como funcionaram primeiro para Israel – como oportunidade de falar a Deus com palavras que ele inspirou outras pessoas a falar a ele em tempos passados (p. 267).

12. Sabedoria: então e agora
A literatura sapiencial, portanto, tende a focalizar-se nas pessoas e no seu comportamento – em como elas são bem-sucedidas em fazer escolhas piedosas e se elas aprenderam ou não a como aplicar as verdades em suas experiências (p. 273).

13. Apocalipse: imagens do juízo e da esperança
Assim, o Apocalipse é a Palavra de Deus de consolo e encorajamento aos cristãos que sofrem, especialmente cristãos que sofrem nas mãos do estado por serem precisamente cristãos. Deus está no controle. O Cordeiro imolado triunfa sobre o dragão (p. 314).

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

CONTINUA PESADO!


Em janeiro de 2010 – ainda a frente do trabalho batista no conjunto Sol Nascente em Aracaju – eu escrevi uma reflexão comentando sobre as notícias alarmantes daquele começo de ano. Passado agora todo esse tempo, é fácil perceber que as notícias que estampam as manchetes atuais continuam nada animadoras!
Naquela ocasião eu intitulei o texto de Começou Pesado. Agora pretendo reler o que escrevi ali sob a mesma ótica bíblica – a começar pelo título: Continua Pesado.
Vamos passear pelo texto sagrado e ver o que ele diz para nosso tempo.
Começo relacionando algumas passagens que me ajudem a refletir sobre o mundo caótico que se descortina tanto no Brasil como no mundo. O ponto de partida não poderia ser outro: o sermão profético do Mestre, pois é lá que eu leio sobre os dias difíceis que ainda nos virão; mas mesmo diante de tanta desgraça entendo que este momento ainda não é final ou definitivo (veja em especial Mt 24:6).
Outro texto que me vem à mente de imediato é o conselho de nunca achar os dias antigos melhores que os atuais, pois isso não seria uma atitude sábia. Sei que diante de tanta tragédia e apreensão é difícil concordar, mas é o que diz a Bíblia (leia Ec 7:10).
Contudo o foco de minha mente se volta para as palavras de Paulo aos Coríntios. Em poucos lugares da Bíblia eu posso ler uma declaração de fé e esperança como no final da primeira carta (confira 1Co 15). Acompanhe comigo a lógica do NT tendo como pano de fundo as palavras paulinas.
É inegável que ainda vivemos em meio ao caos (não se esqueça de Jo 16:33), porém Paulo declara que todo este estado de coisas está condenado a se acabar, pois até o último inimigo – a morte – já foi vencido por Cristo na ressurreição (compare 1Co 15:26 com o verso 57 e com textos como Mt 24:35; 2Pe 3:10 e Ap 21:1).
Assim, embora estejamos esperando o fim, e até por conta disto mesmo, as notícias alarmantes de política, insegurança, economia, tragédias e qualquer outra que se derrube de maneira pesada sobre nós não deve nos assustar pois ainda não chegou o dia derradeiro.
O que fazer então? Paulo fala em continuarmos trabalhando sabendo que não será inútil nosso esforço (veja 1Co 15:58), isso é importante.
Penso, porém que o mais importante é dar graças a Deus pela vitória de Cristo sobre todas estas atribulações (volte ao verso 1Co 15:57). Então minha mente volta ao Mestre com a ilustração da mulher grávida: embora sentindo dores momentâneas, ela sabe que logo a alegria chegará com o nascimento do filho (escrito em Jo 16:21).
Ou seja, mesmo que haja um pesado turbilhão, devemos continuar dando graças a Deus porque em Cristo somos mais que vencedores e até o último inimigo já foi derrotado no túmulo vazio (alinhe Rm 8:37 com 1Co 15:54 e com Ap 4:9-11).
Glorifique a Deus!

terça-feira, 14 de agosto de 2018

IDENTIDADE BATISTA EM TEMPOS DE MUDANÇA


Há Igrejas Batistas na Rússia que são chamadas "Cristãos Evangélicos". Na Alemanha são chamadas "Igreja do Evangelho Livre". Algumas Igrejas Batistas na América do Norte são chamadas "Igrejas da Comunidade", e algumas na África são identificadas pelo nome da agência missionária que as deu origem. Em tempos de mudança, quando procuramos entrar em contato com uma cultura secular alienada, obviamente um número de Batistas em todo mundo sentem que o nome "Batista" não é necessariamente essencial para comunicar nosso alvo primário que é ganhar almas para Jesus Cristo como Senhor e Salvador! No entanto, em todas as nossas missões e evangelismo nosso alvo não é fazer batistas, mas fazer cristãos!!
Mas, isto significa que não temos uma identidade ou distintivo batista? Pelo contrário, é necessário lembrar que em nossos dias a herança a tradição Batistas nos é importante e por isso precisamos entender para comunicar a fé que proclamamos em Cristo Jesus como nosso único Senhor e Salvador!
Certamente como todos os cristãos históricos e ortodoxos, confirmamos as doutrinas básicas da Trindade, da divindade de Cristo, seu nascimento virginal, sua crucificação e ressurreição, bem como sua segunda vinda! Afirmamos com a Reforma Protestante a doutrina de "somente pela fé e pelas Escrituras, somente por Cristo e pela graça".
Então, em que os Batistas se distinguem e nos dá identidade, e que são marcadores importantes de nossa tradição em relação a outros cristãos?
  1. Batismo de crentes versus aspersão de crianças – os Batistas creem que uma pessoa quando chega à idade adulta deve fazer uma decisão pessoal de seguir a Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor. Isto não pode ser feito em nosso lugar por um parente ou pela Igreja.
  2. Igreja livre versus religião estatal – os Batistas creem que a religião não pode ser coagida ou forçada pelo Estado ou por qualquer autoridade religiosa. Com certeza este conceito de liberdade religiosa e separação da Igreja do Estado é nossa maior contribuição à história religiosa da humanidade.
  3. Política congregacional versus autoritarismo episcopal – o princípio democrático de ser a congregação local a Igreja de Jesus Cristo em determinada área é um importante princípio eclesiológico dos Batistas. Os Batistas sentem que o cargo de bispo no Novo Testamento é diferente do autoritarismo dos bispos de hoje. Pela livre eleição de seus oficiais (pastores, bispos, diáconos, etc.), a Igreja local consegue sua liderança, e é crucial a participação dos leigos, homens e mulheres, na missão da Igreja.
  4. Associacionalismo versus relacionamento – em relação ao conceito de democracia congregacional acima descrito, há, no entanto, um forte entendimento histórico de que a Igreja local não está sozinha, mas está ligada com outras Igrejas locais da comunidade. Mas, é na base do voluntariado, sem nenhuma autoridade de uma igreja sobre a outra. Eis aí porque nossa união é na base do princípio do voluntariado.
  5. Liberdade de alma e lealdade à Bíblia versus coerção de credos e doutrinas – tendo visto a tragédia da inquisição, a queima de hereges e perseguição religiosa, os Batistas durante o período da reforma reconheceram que cada indivíduo deve fazer sua própria profissão de fé diante de Deus. Portanto, os credos podem ajudar na explicação da fé, mas não podem ser o instrumento para exclusão do universo da igreja. Em vez de credos, que são por natureza exclusivistas, os Batistas enfatizam a Bíblia, como a única autoridade em matéria de fé. A liberdade da alma pela liderança do Espírito Santo, tem sido o princípio que guia a interpretação bíblica da vida e da vitalidade na congregação. É por isto que os Batistas dizem que todos os Princípios de Fé não devem estar presos a credos, mas estes são apenas uma ajuda e devem sempre ser fiéis à Bíblia.
Outros historiadores e teólogos Batistas podem adicionar mais a nossa identidade Batista. O que foi dito aqui é apenas uma ligeira visão para ajudar os Batistas em todo o mundo a considerar a importância de nossa Eclesiologia Batista nas muitas mudanças de paradigmas e de situações nas quais devemos ministrar e fazer missões para espalhar o Reino de Cristo em nossas Igrejas locais e no mundo!
Denton Lotz
Secretário-Geral da Aliança Batista Mundial (entre 1988 e 2007).
Lá em cima, na imagem, a membresia da PIB Aracaju em frente ao templo na década de 1920.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

ATÉ OS CONFINS DA TERRA


É um desafio de nossa Igreja ganhar nossos vizinhos para Cristo e estabelecer o Reino de Deus entre nós, vencendo as forças do maligno que querem imperar por aqui. Por compreender a importância e a necessidade de nosso desafio, então: por que, neste contexto, se envolver e fazer missões além de nossas fronteiras? Se ainda nem alcançamos nossos vizinhos, por que nos preocupar com os haitianos, africanos e chilenos?
Para buscar uma resposta, quero partir da citação de Paulo que estava disposto a fazer tudo por causa do evangelho, para ser coparticipante dele (confira 1Co 9:23). E indo um pouco além, deixe-me apresentar pelo menos três razões porque devo fazer missões mundiais e por Cristo ir até aos confins da Terra.
Em primeiro lugar por que Deus viu e amor o mundo. Da mesma forma, é preciso que da minha igreja veja e ame o mundo (nenhum texto se compara a Jo 3:16). Mesmo estando nos céus, Deus olhou com amor pelas almas perdidas de todo o mundo e tudo o que fez foi movido por esta compaixão (veja Rm 5:8). É porque este amor me alcançou que devo buscar transmiti-lo na mesma dimensão a todo o mundo (ainda cito 1Jo 4:19).
Ainda convém enfatizar que a extensão da minha visão do Reino de Deus deve determinar o alcance da minha missão e do evangelho que estou a pregar. Se creio que o Reino abrange todo o mundo, também minha missão deve alcançá-lo.
Em segundo lugar porque como Cristo foi enviado ao mundo, também a igreja está debaixo do mesmo compromisso (Jesus disse isso em Jo 20:21). Jesus tinha uma missão a cumprir e nada o haveria de deter. Neste senso de determinação e objetividade, o próprio Mestre repassou sua missão de ganhar o mundo para o evangelho para seus seguidores (lembro de Jo 13:15). É porque fui enviado que não posso me esquecer da missão ao mundo.
Observe que a minha consciência clara, específica e mundialmente abrangente da missão é que estabelecerá o meu comprometimento com ela. Por ter tal consciência não posso descuidar antes de tê-la alcançado (veja ainda a instrução em 2Tm 4:5).
E em terceiro lugar porque o senso de urgência demonstrado por Cristo deve me influenciar de modo profundo (ainda Jesus em Jo 9:4). A certeza de que o tempo estava para se cumprir em breve motivou Jesus a ir sempre além e deve também mover minha igreja a continuar até os confins da Terra (já é clássico Mc 16:15). É porque sei que o tempo está próximo que não posso diminuir o alcance de minha missão.
Esta associação é fundamental: a convicção dos sinais dos tempos tem que me impulsionar a fazer missões no mundo. Se estou vendo os sinais acontecendo, preciso cumprir logo a missão (veja a advertência em Lc 21:31).
Como disse lá em cima, temos um compromisso com a expansão do Reino e do Evangelho aqui. Mas sei que nossa missão é muito maior, por estar na dimensão do amor enviado e urgente de Deus por este mundo todo. Que nada nos faça abandonar a missão e que possamos repetir com convicção: por Cristo vou até os confins da Terra.
(A partir de uma postagem no sítio ibsolnascente.blogspot.com em 12 de março de 2010)

terça-feira, 7 de agosto de 2018

MAPA DOS TEÓLOGOS CRISTÃOS


Para atender a curiosidade de quem gosta de Geografia, História e Teologia, aí vão alguns mapas com a marcação do local de nascimento e/ou atuação de alguns dos principais teólogos e pensadores cristãos (tomei como base as imagens do Google Earth e indiquei os pontos).
Logicamente a lista não é completa – até porque isso seria impossível – e em cada imagem você vai sentir falta de alguém, mas já dá para uma ideia de como o cristianismo se moveu através dos anos.

Do século I até o Concílio de Niceia (ano 325) –


De Niceia até o início da Idade Média (ano 476) –


Idade Média –


Era da Reforma na Europa –


Séculos XVIII e XIX (Europa) –


Séculos XVIII e XIX (América) –


Século XX (Europa) –


Século XX e XXI (América) –


Pensadores cristãos Brasileiros contemporâneos –



sexta-feira, 3 de agosto de 2018

O VOTO NA BÍBLIA


Os exemplos de voto na Bíblia são sempre complicados. Como este tema é delicado, nem sempre os personagens bíblicos souberam adequadamente fazê-lo ou que tipo de expectativa gerar a partir dele. Sabemos, porém que o texto sagrado não esconde erros e falhas de seus herois. Mesmo apontando para a intervenção benéfica de Deus, os fatos equivocados estão narrados na Bíblia a fim de que até deles possamos extrair lições para a nossa vida de disciplina hoje. Vejamos três casos citados no AT.
Em primeiro lugar vejamos o patriarca Jacó. Depois de ter enganado seu pai e fugir de sua presença, Jacó dormiu e sonhou com a presença do Senhor em forma de uma escada que partia do céu e chegava a terra. Ao acordar ele teve medo (Gn 28:17) – note que embora seja uma motivação possível, esta não é a melhor para se buscar o Senhor e com ele estabelecer um pacto. A partir do medo, pela consciência da presença do Senhor naquele lugar, Jacó propôs um acordo com Deus, e deste acordo – segundo Jacó – haveria uma necessária implicação divina e uma contrarresposta do patriarca.
Observe que o voto de Jacó começou com uma condicional: se Deus estiver comigo... (Gn 28:20), e terminou com o seu compromisso: ...certamente te darei o dízimo (Gn 28:22). O erro de Jacó foi querer condicionar Deus ao seu voto. A companhia divina é certa e suas bênçãos são sempre independentes de nossas ações (veja Mt 28:20 e 1Co 12:11). Jacó ainda precisava aprender que sua atitude para com Deus devia ser sempre resposta à manifestação da graça e não uma provocação.
O segundo personagem que citaremos é Jefté. No caso dele, o voto está comprometido com uma série de incorreções, veja o texto:
E Jefté fez um voto ao SENHOR: "Se entregares os amonitas nas minhas mãos, aquele que estiver saindo da porta da minha casa ao meu encontro, quando eu retornar da vitória sobre os amonitas, será do SENHOR, e eu o oferecerei em holocausto".
(Jz 11:30-31)
Jefté repetiu o erro de Jacó em querer condicionar Deus e acrescentou uma promessa de entregar ao Senhor em holocausto aquele que viesse ao seu encontro. O erro do juiz de Israel estava em implicar uma terceira pessoa no seu voto (como disciplina o voto deve ser sempre pessoal) e acreditar que Deus seria honrado se uma vida humana lhe fosse entregue morta em holocausto. Ora, todas as vidas já são de Deus (veja Ez 18:10) e não há prazer divino na morte de ninguém (veja Ez 18:32).
O voto de Jefté foi precipitado por que não avaliou estas questões. Deus poderia dar a vitória sobre os amonitas independente do voto, como o fez em diversas outras ocasiões, e Jefté poderia ter oferecido a Deus outros sacrifícios de gratidão já previstos na própria Lei (veja a prescrição sobre ofertas pacíficas em Lv 7:11-21). E o resultado não poderia ser mais triste: quem saiu ao encontro de Jefté foi sua única filha, a qual teve que ser morta para pagar um voto desnecessário (veja Jz 11:34 e 39).
A santa mulher de Deus Ana é o terceiro exemplo de voto. Por se sentir desprezada em relação a Penina diante do seu marido Elcana, já que não tinha filhos, Ana fez um voto ao Senhor, e neste voto ela suplicou que sua humilhação fosse retirada recebendo a graça de gerar uma criança. A contrapartida de Ana seria que ela dedicaria ao Senhor o seu filho (veja 1Sm 1:11).
É importante acompanhar a história e perceber que o voto de Ana não foi um ato desesperado, nem foi inconsequente. O que mais aquela mulher queria era poder gerar um filho, seria sua maior graça, e ela estava disposta a devolvê-lo ao Senhor. Note a diferença entre Ana e Jefté: enquanto Jefté prometeu e entregou ao Senhor uma morte com tristeza de coração; Ana prometeu e devolveu ao Senhor uma vida como prova de sua gratidão!
E mais. O voto de Ana foi acompanhado de oração e quebrantamento na presença do Senhor (veja 1Sm 1:12-13). O voto era o compromisso pessoal da serva do Senhor em ofertar daquilo que tinha recebido das mãos poderosas, graciosas e divinas e não uma forma de querer "comprar" Deus.
Na sua oração, Ana se colocou em seu devido lugar aguardando a manifestação livre e soberana de Deus. Mais uma vez o resultado foi bem diferente em relação a Jefté. A criança que Deus deu a Ana foi Samuel, o juiz-profeta que marcou de maneira singular a história de Israel naqueles dias.
O voto livre, consciente e consequente de Ana não mudou os planos de Deus, mas permitiu que sua família fosse abençoada em participar de tais planos.
Um voto assim impacta toda nossa vida espiritual.