Os
exemplos de voto na Bíblia são sempre complicados. Como este tema é
delicado, nem sempre os personagens bíblicos souberam adequadamente
fazê-lo ou que tipo de expectativa gerar a partir dele. Sabemos,
porém que o texto sagrado não esconde erros e falhas de seus
herois. Mesmo apontando para a intervenção benéfica de Deus, os
fatos equivocados estão narrados na Bíblia a fim de que até deles
possamos extrair lições para a nossa vida de disciplina hoje.
Vejamos três casos citados no AT.
Em
primeiro lugar vejamos o patriarca Jacó. Depois de ter enganado seu
pai e fugir de sua presença, Jacó dormiu e sonhou com a presença
do Senhor em forma de uma escada que partia do céu e chegava a
terra. Ao acordar ele teve medo (Gn 28:17) – note que embora seja
uma motivação possível, esta não é a melhor para se buscar o
Senhor e com ele estabelecer um pacto. A partir do medo, pela
consciência da presença do Senhor naquele lugar, Jacó propôs um
acordo com Deus, e deste acordo – segundo Jacó – haveria uma
necessária implicação divina e uma contrarresposta do patriarca.
Observe
que o voto de Jacó começou com uma condicional: se Deus estiver
comigo... (Gn 28:20), e terminou com o seu compromisso: ...certamente
te darei o dízimo (Gn 28:22). O erro de Jacó foi querer condicionar
Deus ao seu voto. A companhia divina é certa e suas bênçãos são
sempre independentes de nossas ações (veja Mt 28:20 e 1Co 12:11).
Jacó ainda precisava aprender que sua atitude para com Deus devia
ser sempre resposta à manifestação da graça e não uma
provocação.
O
segundo personagem que citaremos é Jefté. No caso dele, o voto está
comprometido com uma série de incorreções, veja o texto:
E
Jefté fez um voto ao SENHOR: "Se entregares os amonitas nas
minhas mãos, aquele que estiver saindo da porta da minha casa ao meu
encontro, quando eu retornar da vitória sobre os amonitas, será do
SENHOR, e eu o oferecerei em holocausto".
(Jz
11:30-31)
Jefté
repetiu o erro de Jacó em querer condicionar Deus e acrescentou uma
promessa de entregar ao Senhor em holocausto aquele que viesse ao seu
encontro. O erro do juiz de Israel estava em implicar uma terceira
pessoa no seu voto (como disciplina o voto deve ser sempre pessoal) e
acreditar que Deus seria honrado se uma vida humana lhe fosse
entregue morta em holocausto. Ora, todas as vidas já são de Deus
(veja Ez 18:10) e não há prazer divino na morte de ninguém (veja
Ez 18:32).
O
voto de Jefté foi precipitado por que não avaliou estas questões.
Deus poderia dar a vitória sobre os amonitas independente do voto,
como o fez em diversas outras ocasiões, e Jefté poderia ter
oferecido a Deus outros sacrifícios de gratidão já previstos na
própria Lei (veja a prescrição sobre ofertas pacíficas em Lv
7:11-21). E o resultado não poderia ser mais triste: quem saiu ao
encontro de Jefté foi sua única filha, a qual teve que ser morta
para pagar um voto desnecessário (veja Jz 11:34 e 39).
A
santa mulher de Deus Ana é o terceiro exemplo de voto. Por se sentir
desprezada em relação a Penina diante do seu marido Elcana, já que
não tinha filhos, Ana fez um voto ao Senhor, e neste voto ela
suplicou que sua humilhação fosse retirada recebendo a graça de
gerar uma criança. A contrapartida de Ana seria que ela dedicaria ao
Senhor o seu filho (veja 1Sm 1:11).
É
importante acompanhar a história e perceber que o voto de Ana não
foi um ato desesperado, nem foi inconsequente. O que mais aquela
mulher queria era poder gerar um filho, seria sua maior graça, e ela
estava disposta a devolvê-lo ao Senhor. Note a diferença entre Ana
e Jefté: enquanto Jefté prometeu e entregou ao Senhor uma morte com
tristeza de coração; Ana prometeu e devolveu ao Senhor uma vida
como prova de sua gratidão!
E
mais. O voto de Ana foi acompanhado de oração e quebrantamento na
presença do Senhor (veja 1Sm 1:12-13). O voto era o compromisso
pessoal da serva do Senhor em ofertar daquilo que tinha recebido das
mãos poderosas, graciosas e divinas e não uma forma de querer
"comprar" Deus.
Na
sua oração, Ana se colocou em seu devido lugar aguardando a
manifestação livre e soberana de Deus. Mais uma vez o resultado foi
bem diferente em relação a Jefté. A criança que Deus deu a Ana
foi Samuel, o juiz-profeta que marcou de maneira singular a história
de Israel naqueles dias.
O
voto livre, consciente e consequente de Ana não mudou os planos de
Deus, mas permitiu que sua família fosse abençoada em participar de
tais planos.
Um
voto assim impacta toda nossa vida espiritual.
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