terça-feira, 31 de julho de 2018

MALIGNIDADES


Deixe-me começar dizendo que não vou apresentar um tratado de demonologia – um estudo sobre o demônio ou coisa parecida – nem do ponto de vista da Teologia, nem da cultura ou da história. Aqui é só um levantamento preliminar da terminologia referente aos seres do mal na tradição judaico-cristã (alguns chamam de anjos caídos ou decaídos).

Vamos lá. Em geral os termos de referência são (na lista, em ordem alfabética):
  • Abadon – Palavra hebraica que significa destruição (אבדון). No texto de Ap 9:11 o nome é dado ao anjo do abismo (o equivalente grego é Apolion – Ἀπολλύων).
  • Anticristo – Do grego ντίχριστος, literalmente o opositor a Cristo. Na epístola de 1Jo ele é citado como o que, no final dos tempos, haverá de se levantar e se caracteriza por não confessar que Jesus procede de Deus.
  • Asmodeus – Entidade do mal na mitologia judaica citada como governante de Sodoma e associada à luxúria. Seu nome em hebraico é אשמדאי e foi absorvido do zoroastrismo persa. Na literatura hebraica é citado no livro de Tobias.
  • Astarote – De acordo com a mitologia cananeia, esta deusa seria uma entre as esposas do deus Baal. Seus principais centros de adoração ficavam em Sidom e Tiro. Também é conhecida como Astarte (em hebraico עשתרת – na Bíblia em Jz 2:13).
  • Azazel – Em três usos: Nome hebraico dado ao bode expiatório citado em Lv 16. Na mitologia judaica extrabíblica, o anjo que tem a incumbência de relatar os pecados humanos diante do tribunal divino. Na catalogação de demônios da tradição católica, um dos sete demônios principais. Em hebraico a grafia é עזאזל.
  • Baal – No hebraico primitivo, a palavra בעל significava senhor, marido. Veio posteriormente a se tornar um nome genérico de vários deuses pagãos cananeus ou especificamente ao deus da tempestade dos povos semitas orientais.
  • Bafomé – Era um deus pagão representado com uma cabeça de carneiro ou de bode, um símbolo comum de procriação e fecundidade. O termo entrou no ideário cristão a partir da Idade Média e não encontra referência na Bíblia.
  • Belfegor – Divindade da antiga Palestina cuja estátua geralmente representava um homem de barba, corpo atlético e chifres. Na mitologia católica é uma dos sete espíritos que governam o inferno. Na Bíblia é citado em Nm 25:3 – בעל־פעור – quando a adoração idólatra ascende a ira de Deus.
  • Belial – Em hebraico, בליעל significa literalmente sem valor ou rebelde, daí ímpio ou imoral. No NT, o termo aparece em 2Co 6:15 e é usado para se referir ao Maligno, como a essência pessoal do mal.
  • Belzebu – Transliteração, aproximada, de Baal-zebub, que era o nome fenício do deus da cidade de Ecron (no grego: Βεελζεβούλ). Jesus usa o termo para se referir ao príncipe dos demônios (Lc 11:15ss).
  • Capeta – É usado em relação ao diabo em referência às antigas representações de sua figura com capa vermelha (daí o termo: capeta – pequena capa), além dos chifres e tridente. Esse termo é criação da língua portuguesa e não aparece na Bíblia.
  • Dagom – Nome do antigo deus cananeu e babilônico que, segundo o mito, teria sido o pai de Baal (em hebraico דגוןJz 16:23). Sua estátua representava uma figura de corpo humano com cabeça de peixe e se tornou o deus oficial dos filisteus.
  • Demônio – No grego clássico, δαιμῶν é uma força, ou potestade, que exerce algo. No NT o termo é usado, por exemplo, em Mt 8:31 se referindo aos espíritos malignos que atormentavam o gadareno, e em 1Co 10:20-21 demonstrando a oposição do culto verdadeiro a Cristo e da adoração idólatra.
  • Diabo – No grego, o adjetivo διάβολος significa caluniador, difamador. A expressão aparece no NT em textos como 2Tm 3:3 (aqui no plural) num sentido genérico e em 1Pe 5:8 como designação própria do Inimigo.
  • Dragão – Animal mitológico citado em Ap 12:9 como uma referência simbólica a Satanás (em grego: δράκων).
  • Hades – No grego ἅδης, era o nome do deus do mundo subterrâneo na mitologia grega, daí, o além-túmulo, a habitação dos mortos para onde vão todos os justos e injustos. Neste sentido equivale ao hebraico שאולsheol.
  • Legião – No exército romano (em latim legio), um destacamento com tropas de infantaria e cavalaria. Os Evangelhos (veja Mc 5:9) narram um exorcismo praticado por Jesus cujo demônio se autointitulou legião, por serem muitos.
  • Leviatã – Réptil mitológico fenício que, no texto de Jó 41 (em hebraico: לויתן), representa a figura do mal.
  • Lilith – Segundo uma antiga tradição judaica, seria a primeira mulher de Adão que se rebelou porque queria ser igual a ele. É uma figura sedutora de longos cabelos e que voa como uma coruja à noite procurando gerar descendência. Por extensão os judeus a associavam à figura de um demônio feminino. Em hebraico: לילית.
  • Lúcifer – A palavra latina Lucifer significa o que leva a luz, a estrela da manhã. O texto de Is 14 usa em referência ao rei da Babilônia talvez em referência deste a Satanás.
  • Mamom – Termo de origem semítica (aramaico: ממון, via grego: μαμωνᾶς) que aparece em textos como Mt 6:24 e personifica as riquezas – daí a divindade maligna que governa a cobiça.
  • Moloque – Um deus de origem amonita, cujo culto era celebrado com orgias e sacrifícios humanos pelo fogo. Sua estátua era representada com corpo humano e cabeça de touro e seu nome deriva da língua fenícia significando rei (em hebraico: מלךLv 18:21).
  • Potestade – Do latim potestas, poder, potência. Por extensão, as forças sobrenaturais que atuam no mundo.
  • Satanás – O termo hebraico שטןvia grego σατάν ou σατανᾶς – era usado inicialmente como referência a qualquer adversário (como em Mt 16:23). Mais tarde passou a personificar o Diabo, como adversário, ou inimigo, de Deus (veja em textos como Zc 3:1-2 e Lc 22:31-32).

Além destes nomes, a cultura popular atribui a estas malignidades vários outros nomes: Capeta (este já citei lá em cima), tinhoso, encardido, coisa-ruim, capiroto, demo, rabudo e outros tantos que a criatividade for acrescentando.
E quanto a todos eles, só resta afirmar: “Filhinhos, sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo” (1Jo 4:4).




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