Este
item amplia a liberdade da igreja. Ela
não está subordinada ao Estado e ela e o Estado têm esferas diferentes. A igreja é cidadã deste mundo e sujeita-se a
leis de justiça e de bom senso. Mas deve
dizer: “Mas Pedro e João, respondendo, lhes disseram: Julgai vós se é justo
diante de Deus ouvir-nos antes a vós do que a Deus” (At 4.19). A lealdade última da igreja é para com Deus e
sua Palavra. Sua pátria mais amada é a
celestial. O Estado também está sob a
lei da justiça divina. No Antigo
Testamento, Iahweh escolheu Israel, mas é Senhor de todas as nações e toda a
terra. Devemos nos lembrar disto.
Na
Escandinávia, os pastores luteranos são pagos pelo Estado. No Brasil, constantemente, verbas públicas
são usadas para recuperar igrejas católicas, sob desculpa de patrimônio
arquitetônico ou cultural. Mas são
lugares de cultos. Isto é contra nosso
princípio de um Estado leigo, que não deve investir em nenhuma religião nem
beneficiar nenhum culto.
Diferentemente
de grupos anabatistas e outros radicais do século 16, os batistas não
questionam o Estado por ser Estado. Mas
não o sacralizam. O Apocalipse mostra o
Cordeiro contra um Estado que deseja ser Deus.
Nosso compromisso é com a justiça, com a honestidade e com a dignidade
humana. Podemos nos rejubilar de termos
em nossa história um Prêmio Nobel da Paz, o Pr.
Martin Luther King Jr, assim agraciado pela sua luta pelos direitos dos
negros norte-americanos. Mas, quando a
turma de formandos do Seminário do Sul, em 1968, o tomou como seu paraninfo,
alguns dos missionários americanos que lecionavam no Seminário, bem como parte
da cúpula batista brasileira, ficaram indignados com os alunos. Sintonizados com o regime militar, achavam
que King era um comunista, um agitador. Que
miopia! E perda de senso de história!
Uma
igreja batista não é da direita nem da esquerda nem mesmo do centro. É de cima.
Seus valores são espirituais e celestiais. Uma igreja batista faz parte da igreja de
Cristo, que é multirracial, multi-étnica, multigeográfica. Sou brasileiro e não me envergonho disto. Digo como Fernando Pessoa: “minha pátria é a
língua portuguesa”, ou seja, tenho uma identidade lingüística. Amo meu idioma, dizendo como Olavo Bilac: “em
que da voz materna ouvi: ‘meu filho’”. Foi
na língua portuguesa, no Brasil, que ouvi minha mãe, Nelya Werdan, uma filha de
suíços, me chamar de “filho”. Foi neste
país, o Brasil, que duas famílias estrangeiras, os portugueses Gomes Coelho e
os suíços Werdan Suhett me deram origem.
Mas, mais que brasileiro e descendente de portugueses e suíços, sou
cidadão do reino do céu. Os princípios
do reino celestial devem reger minha vida.
Deus
não é brasileiro nem tem nacionalidade alguma.
Devemos ser patriotas, mas devemos discordar do Estado quando este
invade área que não é sua. Não lhe
compete nos ditar fé ou perspectivas religiosas. Pagamos impostos, servimos ao exército, damos
nossa parcela para este país. Mas não o
sacralizamos nem o deificamos. O culto
ao Estado produziu a aberração chamada “Cristãos Alemães”, que queria uma
igreja germânica, de raça pura. Mas não
admitimos a ingerência do Estado em nossa vida.
Nem transigimos nossos padrões por causa do Estado. As casas de prostituição pagam taxas e são
estabelecidas legalmente, mas a prostituição é pecado. O que é legal nem sempre é moral. O casamento de homossexuais pode ser tolerado
civilmente, mas é pecado. Uma batista
deve dizer como Lutero: sua consciência é cativa da Palavra de Deus.
Somos
cidadãos como todos os demais e não devemos esperar tratamento especial. É errado igrejas batistas pedirem ônibus às
prefeituras e órgãos públicos para fazerem piqueniques. Se não têm dinheiro para alugar um ônibus,
não andem de ônibus! Vão a pé ou não façam piquenique! Se nos incomoda ver
dinheiro público sendo usado para levantar estátuas a Iemanjá em cidades da
orla marítima, deveria nos incomodar também o uso de dinheiro público para
monumentos à Bíblia. O poder civil não
pode patrocinar nenhuma religião! Nem a nossa!
Nunca
fomos subversivos. Mas não podemos ser
coniventes com um Estado desumano, corrupto, desvalorizador do homem. Nosso norte são os valores da Palavra de Deus. Olhamos para eles e seguimos nossa jornada. O que se desvia deles, isso recriminamos. Não é se nos beneficia, mas se é um princípio
bíblico.
Extraído de uma palestra preparada pelo Pr. Isaltino Gomes Coelho Filho (1948-2013) para
um congresso doutrinário em Altamira, Pará, novembro de 2009.
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