Tive a oportunidade de estar com o Professor
Merval Rosa em sala de aula em dois momentos.
O primeiro foi no final de minha graduação
em Teologia no Seminário em Recife. Já
havia cumprido a disciplina Psicologia
Pastoral - logo não havia mais a necessidade acadêmica - mas aproveitei uma
folga no horário para assistir algumas ministrações do mestre.
Uma década e meia depois, estava de volta ao
Recife para as aulas de Mestrado e agora deveria cumprir a disciplina Religião e Personalidade com o
professor. Oportunidade aproveitada. Penso que é dispensável dizer que as aulas
foram por demais interessantes.
Desse segundo momento, porém, o melhor, sem
dúvida alguma, não foram as obrigações acadêmicas. Terminados os horários de exigências dos
créditos, tínhamos ocasião para longas conversas - informais e despretensiosas
- reunidos em grupo: mestre e discípulos, juventude e maturidade, experiência e
jovialidade.
Numa dessas conversas de corredor, um dos
colegas questionou o mestre sobre qual a
principal vantagem de envelhecer?
Em sala de aula, o professor Merval havia
exposto sobre os encantos que cada fase da vida pode ter e como eles podem ser
bons veículos para uma religião saudável e rica. E foi assim que o assunto se esticou...
Lembro que fizemos citações de seus ensinos
de décadas atrás e de como eles pareciam ter evoluídos - ou amadurecidos - com
o tempo.
Sinceramente, o que não me lembro são dos
detalhes da resposta nem de todos os pontos ou argumentos daquela aula (sim!
uma conversa daquela valia qualquer aula de teologia, filosofia ou psicologia
que fosse).
Mas até hoje guardo a imagem da cena do
velho mestre, colocando gentil e suavemente a mão no ombro do questionador e
formulando a pérola:
— Filho,
a principal vantagem da maturidade é que se perde a ilusão da eternidade.
Talvez a minha memória tenha feito o sentido
real da frase se diluir no tempo e na distância. Mas tenho que confessar que para mim não
pareceu uma confissão de resignação ou frustração. Pelo menos nunca a interpretei assim.
E dessa forma, até hoje tenho ruminado
aquelas palavras e elas ainda soam como um desafio à busca de uma genuína
maturidade cristã, quando a fé e a caminhada deixam de ser impulsionadas pelos
arroubos pueris e alcançam a serenidade da dependência daquele que tudo pode.
Uns
confiam em carros, outros em cavalos... Entendi que essa é a ilusão da eternidade: eu
tenho força e capacidade. Eu posso. Eu sou eterno. Ilusão!!!
Mas a maturidade faz escoar a miragem e
desfaz a ilusão. E o que sobra ante à
pequenez e finitude não é nem desespero nem vazio, pois eu as aceito e me
entrego em confiança plena : ... Nós
porém temos como referência o nome do nosso Deus (Sl 20).
Já não há autoconfiança desenfreada. Nem ansiedade apressada. Muito menos dogmas de fé a serem digladiados.
Com a perda da ilusão da eternidade ficou
somente a madura confiança que traz paz. A saudável religião - re-ligação - e fé que agora me faz
esperar apenas e inteiramente na graça que nos é ofertada por Jesus (leia as
palavras de 1Pe 1:13-18).
Que lindo pensamento, eu que já estou passando da maturidade, sei bem que não sou eterna fisicamente, mas espiritualmente, vou morar eternamente com Jesus. É verdade!. Ycléa Cervino
ResponderExcluirSim, é verdade, tia. Espero no Senhor também poder chegar a essa maturidade espiritual em poder confiar somente e plenamente naquele que eterno.
ExcluirAbr