O texto bíblico de Eclesiastes
é uma antologia de frases proverbiais e de sabedoria, aforismos e axiomas
atribuída ao mestre (gosto do título em hebraico: קהלת – qohelet – o erudito), rei em
Jerusalém.
O
tema repetido quase como um refrão no texto é que tudo nessa vida é vaidade
(essa palavra em hebraico é הבל – habel
– vazio, nulo – citada quase 30 vezes no livro).
Muitos
comentadores se referem ao texto com um conjunto de citações de “um velho rabugento,
frustrado com a vida”.
Mas não é sobre esses temas introdutórios que
pretendo escrever aqui. Pessoalmente,
sem dúvida, olho para o texto de Eclesiastes como um documento canônico –
inspirado e divinamente autorizado – logo, normativo para minha vida espiritual
e social – regra de fé e prática!
Assim sendo, vou focar num fraseado que ecoou para
mim essa semana a partir de uma postagem recente que vi nas redes sociais:
— Não seja justo demais, nem sábio
demais. Por que você destruiria a si mesmo?
(Ec
7:16)
E como texto sagrado, ele se revela como
extremamente atualizado!
Num ambiente religioso onde há a pretensão de reagir
– e rechaçar – o liberalismo (com destaque a questões morais e de costumes) dos
tempos fluidos, o fundamentalismo investe em firmar posições cada vez
intransigentes.
(eita!! Essa frase ficou bem teórica – vou
refazer)
Hoje em dia, em cada conversa, em cada citação, em
cada pregação, em cada postagem, em cada zap, parece que estão
levantando bandeiras de batalhas, defendendo verdades imutáveis, divinas e
eternas.
Guardiãs da moralidade, da justiça, da verdade –
gente “de bem” – sempre se apresentam como baluartes de valores sagrados.
(Atenção: eu não confundo o religioso com o
fariseu!)
É aqui que o texto bíblico se revela como
extremamente atualizado! Em tempos onde
diferentes justiças e verdades digladiam por primazia. Em tempos de fake news com validade de
conveniência. Em tempos de embates entre
cosmovisões (não achei outra palavra para essa frase!). Nesses tempos, a Palavra continua eterna e
suas lições relevantes.
O mestre bíblico – o qohelet – instrui com
convicção:
— Não seja justo demais. Não seja intolerante com seu senso de
justiça. Não queira ser o martelo da
justiça do mundo (os latinos diriam: malleo mundi). Não seja zeloso demais com o que é
certo. Não seja chato. Ouse abrir exceções! Ouse deixar a vida simplesmente fluir!
— Não seja sábio demais. Não seja o critério da verdade e da sua
interpretação. Não queira ser o detentor
de toda a sabedoria e verdade. Não seja sisudo
demais com o que é certo. Não seja
chato. Ouse não saber! Ouse aprender!
— Afinal, atitudes assim corrompem a vida e
atraem a morte. Pessoas e sociedades definham
e falecem com excesso de justiça e de verdade.
Isso é fatal!
Então, minha atenção é atraída necessariamente a
Cristo – fundamento primário de nossa fé.
Se, em nome do meu cristianismo, eu postulo justiças e conhecimentos que
seriam estranhos ao Jesus de Nazaré, alguma coisa está muito errada.
Jesus foi justo – mas deu abrigo aos injustos e
pecadores em seu grupo mais íntimo. ELE
disse: “vá e não peque mais” – mas só depois de ter dito: “eu também não lhe
condeno”.
Ouse não ser nem justo demais, nem sábio demais! Ouse ser apenas cristão!
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