terça-feira, 26 de março de 2024

ATÉ A CRUZ



Seguindo a narrativa de Lucas, preso à traição, Jesus foi julgado pelo menos quatro vezes: pelo Sinédrio sob a acusação de blasfêmia; por Pilatos, acusado de agitação social e política; por Herodes, sendo por este desprezado e novamente por Pilatos que, mesmo não encontrando crime, cedeu à pressão dos acusadores e entregou Jesus ao martírio.

Em todos estes julgamentos, o mais importante a se destacar é que Jesus era justo.  Ele morreu sem culpa ou pecado.  Isto foi inclusive reconhecido pelo malfeitor que o acompanhou na cruz (confira Lc 23:41) e pelo centurião na hora da morte (24:47).

A morte de Jesus não foi resultado de seus erros e crimes, mas para levar a efeitos os planos de Deus e cumprir as profecias, e por fim tomar posse definitiva de sua glória (observe o que o próprio Cristo disse no caminho de Emaús em Lc 24:26-27).

Outro detalhe a ser notado é que no trajeto final até a cruz, seus discípulos mais próximos estiveram ausentes, mas um grupo fiel de mulheres não o abandonou, lamentando o ocorrido (leia Lc 23:27).  Elas que acompanharam o ministério de Jesus desde o início (reveja Lc 8:1-3) e depois testemunharam a ressurreição (em Lc 24:1-3) não foram ignoradas por Jesus neste momento de dor (leia 23:27-32).

 

O método de execução por crucificação praticado pelos romanos era extremamente cruel e humilhante.  O sentenciado era pregado em um madeiro e ali ficava exposto ante à vergonha pública enquanto sentia suas últimas forças vitais irem embora lentamente.

Foi num instrumento assim que Jesus morreu (a narrativa da crucificação encontra-se em Lc 23:33 em diante).  Levado ao monte Calvário, Jesus foi preso à cruz sob o olhar de todos.  Contudo as reações foram as mais diversas: o povo apenas observava com curiosidade; as autoridades e o soldados zombaram, e dos dois malfeitores que também foram crucificados, um blasfemou e o outro suplicou por clemência.

Mas é preciso destacar e procurar compreender as palavras e atitudes de Jesus naquela hora fatal.  A grandeza do homem que é Deus esteve estampada em cada uma delas.

Logo ao chagar ao lugar do sacrifício e estar preso ao madeiro, Jesus se dirigiu ao Pai pedindo perdão para aqueles que o matavam (leia Lc 23:34).  É nesta hora que Jesus demonstrou todo o amor e cuidado por aqueles que precisavam de seu perdão, por estarem ignorantes no que faziam.

Para o malfeitor arrependido, Jesus lhe abriu as portas do paraíso (em Lc 23:43).  Esta era a razão principal de sua missão, atrair pessoas para o convívio eterno com Deus.  E ele não negaria a um pecador arrependido.

E com o último suspiro, Jesus entregou seu espírito ao Pai (em Lc 23:46).  Com tal declaração, ele estava anunciando sua fidelidade absoluta ao Deus todo-poderoso que julga e redime os seus.

Há uma ironia, contudo, que deve ser notada na cruz.  O título estampado sobre Jesus – como era costume romano fazer, declarando a culpa do sentenciado – é a mais perfeita verdade do evangelho: Este é o Rei dos Judeus (Lc 23:38).


(A partir da Revista "Lucas" – Editora Sabre)

 

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