terça-feira, 20 de março de 2018

A MISSÃO COMO PROCLAMAÇÃO

Segunda parte das considerações sobre o livro Compromiso y Misión de Orlando Costas, publicado em 1979.

Tendo observado a trajetória que trouxe a missão da igreja desde a sua chegada às terras latino-americanas até aos impasses de hoje quando tem que se decidir entre a ênfase na tradição ou a busca pela reconstrução – tendo principalmente que encontrar um meio termo entre as duas visões por compreender que ambas são indispensáveis a integridade da missão; Costas se lança à tarefa de analisar teologicamente a missão em si em seus vários aspectos.
Um primeiro aspecto a se observar é a missão como proclamação. A Palavra de Deus – onde se fundamenta toda a fé cristã – é em última análise a proclamação de Deus ao ser humano. E esta palavra de Deus afirma que “a fé segue a mensagem, e a mensagem ao anúncio” (Rm 10:17). Toda a missão cristã principia pela proclamação, pelo anúncio. João anunciou a chegada do Messias e Jesus a chegada do Reino; daí a igreja ficou incumbida da missão de proclamar o Reino e as boas novas de Deus, Senhor do Reino, ao ser humano. A igreja é enviada a pregar, o que faz dela um arauto do reino, mas esta proclamação é efetivamente dinâmica o compromete toda a vida e a vida toda da comunidade cristã e não somente o “profissional religioso”. Além do que esta é uma tarefa “contínua e ininterrupta” (p. 30).
Ainda sobre a missão como proclamação é bom observar que o conteúdo da proclamação pode ser compreendido em três sentidos: proclamação do nome de Deus; proclamação do reino de Deus e proclamação do momento de Deus. A proclamação cristã anuncia o nome de Deus – ou seja: ele mesmo (Lv 24:11) – como sendo a razão de ser todas as coisas. A proclamação cristã anuncia o reino de Deus como uma realidade escatológica que é chegada para julgar o ser humano. A proclamação cristã anuncia o momento de Deus como um chamado a conversão e a mudança de vida.
Neste ponto, uma frase de Costas nos chama a atenção:
Não parece haver nenhuma evidência bíblica ou teológica sólida para a nítida e clara distinção que se encontra nas teologias protestantes tradicionais entre conversão e santificação. Pelo contrário, a santificação parece estar implícita na conversão e a conversão na santificação (p. 41).
Tradicionalmente a Teologia protestante tem compreendido que salvação é um ato único e histórico, resultado exclusivo da graça e a santificação como um processo transitório que cada cristão vai galgando ao longo de sua vida. Costas parece concordar com J. Stott que compreende as duas: salvação e santificação, andando lado a lado, ato e processo que precisam ser desenvolvidos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário