sexta-feira, 23 de março de 2018

A 13ª EMENDA – um documentário


Estou cansado de viver todo dia sob ameaça de morte
Martin Luther King –
pastor e ativista negro norte-americano
citado em "A 13ª Emenda"
Atendendo a requisitos acadêmicos, assisti recentemente um documentário na televisão: "A 13ª Emenda" (em inglês 13th) produzido e dirigido por Ava DuVernay sobre o sistema prisional norte-americano com cerca de 1h40’. O documentário foi produzido pela Kandoo Films em 2016 e lançado no mesmo ano pela rede de streaming Netflix. Deixe-me compartilhar um pouco aqui sobre ele.
O filme apresenta fatos, dados estatísticos e depoimentos tendo como mote a 13ª emenda da Constituição Americana que diz: "não haverá, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito a sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados, salvo como punição de um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado". Assim, a partir da análise desta lei e de suas consequências, as questões raciais, históricas, socioeconômicas e culturais são apresentadas como característica marcante da nação norte-americana.
A narrativa começa com as consequências da Guerra Civil Americana ainda no século XIX quando foi promulgada a 13ª emenda à Constituição Americana. E de lá para cá, como a brecha da lei sobre a condenação por crime foi usado sucessivamente para manter o status quo daqueles que detêm o poder em detrimento dos menos afortunados.
Seguindo a mesma linha, o documentário cita a película de 1915 "O Nascimento de uma Nação" (em inglês: The Birth of a Nation) onde o negro é apresentado como figura caricata, irresponsável, indolente e sempre disposto a ações violentas. E a constatação é direta: Materiais como estes influenciaram na formação cultural dos EUA como uma nação altamente racista e desigual.
A 13ª Emenda segue com vários depoimentos e análise em primeira pessoa com o registro de sucessivos episódios como o programa Law and Order do presidente R. Nixon nos anos 1970 e seus desdobramentos no mandato do presidente Reagan. O documentário declara: "O que era retórica em Nixon passou a ser literal em Reagan". E por consequência, passou a ocorrer um verdadeiro "genocídio em comunidades pobres e de cor".
Continua citando as ações do presidente B. Clinton e os casos da ativista Angela Y. Davis – perseguida pelo FBI por suas posições contrárias às políticas racistas. Mas principalmente como o caso das drogas foi usado para legitimar as ações policiais e a exploração e exclusão perpetradas sobre negros e latinos norte-americanos.
Também merece citação aqui a boa análise da atuação da ALEC na fomentação de políticas segregacionistas e de como tais políticas têm feito enriquecer a alguns brancos e suas corporações sobre a exploração do trabalho de negros e migrantes.
Antes que descreva mais spoiler a respeito do excelente documentário, permita-me alguma reflexão pessoal sobre a impressão que ele me passou.
Em primeiro lugar, confirmou o que já sabia que toda a propaganda norte-americana sobre eles serem um país livre, justo e exemplo para o mundo nada mais é que isso mesmo: propaganda. Os EUA não são justos e nem servem de paradigma de valores cristão para o mundo que eles pretendem liderar. As chagas, mazelas e dívidas sociais internais são gritantes e com certeza o Deus que eles dizem professar vai requer o sangue do todos os inocentes americanos que eles covardemente deixaram derramar.
Mas também o documentário me trouxe a refletir sobre o Brasil e o racismo daqui, muitas vezes disfarçado, mas que tem privado muitos de nossos irmãos brasileiros de vida digna – e o pior, em diversas vezes com a aquiescência e legitimação das igrejas cristãs!
Além de recomendar o filme como material obrigatório para reflexão e análise a todos que se entendem agentes do Reino de Deus nesse tempo, quero finalizar com o questionamento que inquieta no final do documentário:
Qual o valor da vida?


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