Estou
cansado de viver todo dia sob ameaça de morte
Martin Luther King –
pastor e ativista negro norte-americano
citado em "A 13ª Emenda"
Martin Luther King –
pastor e ativista negro norte-americano
citado em "A 13ª Emenda"
Atendendo
a requisitos acadêmicos, assisti recentemente um documentário na
televisão: "A
13ª Emenda"
(em inglês 13th)
produzido e dirigido por Ava DuVernay sobre o sistema prisional
norte-americano com cerca de 1h40’. O documentário foi produzido
pela Kandoo Films em 2016 e lançado no mesmo ano pela rede de
streaming
Netflix. Deixe-me compartilhar um pouco aqui sobre ele.
O
filme apresenta fatos, dados estatísticos e depoimentos tendo como
mote a 13ª emenda da Constituição Americana que diz: "não
haverá, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito a sua
jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados, salvo como
punição de um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente
condenado". Assim, a partir da análise desta lei e de suas
consequências, as questões raciais, históricas, socioeconômicas e
culturais são apresentadas como característica marcante da nação
norte-americana.
A
narrativa começa com as consequências da Guerra Civil Americana
ainda no século XIX quando foi promulgada a 13ª emenda à
Constituição Americana. E de lá para cá, como a brecha da lei
sobre a condenação por crime foi usado sucessivamente para manter o
status quo daqueles que detêm o poder em detrimento dos menos
afortunados.
Seguindo
a mesma linha, o documentário cita a película de 1915 "O
Nascimento de uma Nação" (em inglês: The
Birth of a Nation)
onde o negro é apresentado como figura caricata, irresponsável,
indolente e sempre disposto a ações violentas. E a constatação é
direta: Materiais como estes influenciaram na formação cultural
dos EUA como uma nação altamente racista e desigual.
A
13ª Emenda segue com vários depoimentos e análise em primeira
pessoa com o registro de sucessivos episódios como o programa Law
and Order
do presidente R. Nixon nos anos 1970 e seus desdobramentos no mandato
do presidente Reagan. O documentário declara: "O que era
retórica em Nixon passou a ser literal em Reagan". E por
consequência, passou a ocorrer um verdadeiro "genocídio em
comunidades pobres e de cor".
Continua
citando as ações do presidente B. Clinton e os casos da ativista
Angela Y. Davis – perseguida pelo FBI por suas posições
contrárias às políticas racistas. Mas principalmente como o caso
das drogas foi usado para legitimar as ações policiais e a
exploração e exclusão perpetradas sobre negros e latinos
norte-americanos.
Também
merece citação aqui a boa análise da atuação da ALEC na
fomentação de políticas segregacionistas e de como tais políticas
têm feito enriquecer a alguns brancos e suas corporações sobre a
exploração do trabalho de negros e migrantes.
Antes
que descreva mais spoiler
a respeito do excelente documentário, permita-me alguma reflexão
pessoal sobre a impressão que ele me passou.
Em
primeiro lugar, confirmou o que já sabia que toda a propaganda
norte-americana sobre eles serem um país livre, justo e exemplo para
o mundo nada mais é que isso mesmo: propaganda. Os EUA não são
justos e nem servem de paradigma de valores cristão para o mundo que
eles pretendem liderar. As chagas, mazelas e dívidas sociais
internais são gritantes e com certeza o Deus que eles dizem
professar vai requer o sangue do todos os inocentes americanos que
eles covardemente deixaram derramar.
Mas
também o documentário me trouxe a refletir sobre o Brasil e o
racismo daqui, muitas vezes disfarçado, mas que tem privado muitos
de nossos irmãos brasileiros de vida digna – e o pior, em diversas
vezes com a aquiescência e legitimação das igrejas cristãs!
Além
de recomendar o filme como material obrigatório para reflexão e
análise a todos que se entendem agentes do Reino de Deus nesse
tempo, quero finalizar com o questionamento que inquieta no final do
documentário:
Qual
o valor da vida?
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