terça-feira, 6 de março de 2018

VIDAS SECAS


Lendo o livro do professor João Ferreira sobre livro "Vida cristã e participação política" (publiquei uma resenha recentemente, veja aqui), a certa altura, comentando sobre a triste realidade que a corrupção chegou ao Brasil a bordo das caravelas de Pedro Álvares Cabral – logo não pode atribuída como cria do governo petista (p. 89) – ele apresenta dois termos gregos clássicos: 'eulabeia' e 'foerbeia' (literalmente: vergonha e cabresto) para analisar o que estão querendo fazer conosco.
Lendo o texto do mestre, eis que me veio logo à lembrança a canção de Luiz Gonzaga e Zé Dantas composta em 1953 para criticar a atitude humilhante e pouco eficiente das elites que governaram o país por décadas e nunca resolveram o problema da seca nordestina, mas apenas nos ofereceram humilhações e discursos vazios.
Mas vou deixar toda conversa mole e apenas transcrever a letra. Ela fala por si só.

Seu doutô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão

É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê
Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage

Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage
Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão
Como vê nosso distino mercê tem nas vossa mãos


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