Outro aspecto que jugo importante a se destacar na
formação do culto na igreja cristã e a sua relação com a religiosidade grega do
primeiro século são os cultos de mistérios.
Na religião popular grega os ritos de mistério eram frequentes. Enquanto Asclépio curava, os ritos de
mistério de Elêusis, que associava promessas religiosas a garantias na
agricultura, ofereciam também a certeza de renascimento depois da morte. O culto eleusino estava ligado à deusa
Demeter – deusa da agricultura – e à sua filha Perséfone. Segundo a mitologia, Perséfone foi raptada
por Hades. Quando sua mãe sentiu sua
falta ela saiu à sua procura. Durante a
viagem, Demeter foi recebida pelos habitantes de Elêusis, um sítio sagrado
perto de Atenas. Como gratidão a deusa
lhes ensinou os ritos secretos dos deuses que garantiam aos mortais tanto a
certeza de boas colheitas (a fertilidade da terra) quanto o retorno da vida
após a morte (a periodicidade das estações).
Convém destacar que este culto atendia às duas características básicas
da religiosidade: em primeiro lugar respondia aos anseios da vida e sua
preservação aquém e além da morte, contudo também rompia com os cultos
nacionais que se reservavam às camadas mais abastadas da população abrindo-se
para qualquer homem ou mulher que tivesse conhecimento dos ritos secretos
(mistérios) revelados. Robert Coleman,
em The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge observa que
nos cultos de mistério "homens e mulheres, cativos e livres" obtinham
as benesses da divindade através de um ritual de iniciação, ou purificação (myēsis)
que os qualificava para a admissão em um culto anteriormente confinado aos
cidadãos". E completa:
A abertura do
santuário eleusino aos atenienses coincidiu com uma onda de reavivamento
religioso, o qual (expandindo para o território semítico no século sexto a.C.)
infundiu na mente dos homens a ideia de uma possibilidade definida de
felicidade numa vida futura, condicionada a uma comunhão íntima com os deuses
que era alcançada na oferta do sacrifício.
Purificação é a chave do culto de mistério; pela palavra mistério se
entende um rito no qual muitas coisas sagradas são exibidas, as quais não podem
ser obtidas pelo cultuante sem ele ter passado completamente pela purificação
prescrita.
Sabemos muito pouco como aconteciam as liturgias
nos cultos de mistério pois suas práticas só eram reveladas aos iniciados que
juravam mantê-las em segredo, assim não é possível comparar prática a prática
os mistérios gregos e o cristianismo.
Contudo, como no primeiro século o cristianismo era difundido às escuras
devido às constantes perseguições sofridas pelos adeptos do novo culto e por a
pregação cristã afirmar a certeza da ressurreição em Cristo Jesus como a
garantia da vitória sobre a morte (1Co 6:14 e 15:55-57), bem como o ingresso na
comunidade se dar através do batismo (At 2:42 passim) o qual poderia ser
interpretado como um ritual de purificação e salvação (1Pe 3:21), somos levados
a entender que, na mentalidade sincretista popular grega, as duas práticas
cultuais acabariam por trocar influências entre si.
Este amálgama religioso, porém, também mereceu críticas da nascente
igreja, como foi no caso do culto a Asclépio citado antes, mas com um
acréscimo: mesmo reconhecendo que provisoriamente ainda há mistérios na mensagem
cristã, o evangelista Lucas cita declaração do próprio Cristo ao afirmar que
"não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não
venha a ser conhecido" (Lc 12:2); além do mais a razão de ser de tais
mistérios cristãos é que o oculto "resultará em louvor, glória e honra,
quando Jesus Cristo for revelado" (1Pe 1:7).
Do livro: DE ADÃO ATÉ HOJE – um estudo de CultoCristão.
A imagem lá
em cima: ruinas de Elêusis (Ελευσίνα), Grécia –
crédito da imagem: Google Maps
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