sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

UMA CRIANÇA NASCEU – Mensagem de Natal

  

Na postagem anterior eu me ocupei com alguma observação de certas palavras que me saltam da profecia de Is 9:6.  Foi mais um trabalho linguístico rápido.  Mas, se quiser enriquecer seu conhecimento, volte lá (link aqui).

Agora, vou retomar dos primeiros parágrafos daquela postagem e refletir sobre a mensagem do Natal, tendo como pano de fundo as palavras proféticas.

 

Nessa época de Natal, é sempre bom pensar nas profecias antigas.  Então eu volto os meus olhos para as palavras do Isaías – escritas sete séculos antes da era cristã – e ler o que está ali.

O capítulo nove do Livro das Profecias de Isaias sempre nos chama a atenção nessa época.  Todo o texto é inspirador.  Aqui, porém quero destacar apenas o verso # 6.  As suas palavras eu decorei ainda criança e já as repeti incontáveis vezes.

 

Pois uma criança nasceu para nós,
Um filho nos foi dado;
E a soberania estará sobre seu ombro.
Então seu nome será proclamado:
Consolador admirável,
Deus forte,
Pai eterno,
Príncipe da paz.

 

O evangelista Mateus anunciou o início do ministério terreno de Jesus se referindo às palavras de Isaias: “Para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaias ...” (Mt 4:14 – e segue citando Is 9:1-2).

Essa é uma boa referência da compreensão cristã de que as palavras antigas devem ser lincadas a Jesus.  Ou seja, os cristãos primitivos viram naquele oráculo o anúncio e as características do Messias – e ele era Jesus de Nazaré.

E então devo continuar lendo o texto na mesma perspectiva.

 

A criança celebrada no Natal é a que nos foi dada como manifestação suprema da graça de Deus.  Ela não foi gerada por vontade humana, é a demonstração histórica daquilo que o Eterno tinha de mais significativo para nos conceder em seu amor – simplesmente uma criança, um filho.

 

Porque a criança é uma criança para nós.

 

Acontece que essa criança concedida pela graça, mesmo assumindo a forma humana e frágil, ela reúne em si toda a força e potência da criação, pois todo o poder lhe foi dado nos céus e na terra (palavras de Mt 28:18).

Um filho nos foi dado e sobre seus ombros repousa o governo e a soberania do mundo e da história. 

O Todo-Poderoso em si é a dádiva da criança que nasceu no Natal.

 

Assim podemos então celebrar e proclamar, reconhecendo seus atributos singulares:

 

Uma criança nasceu.  E ela é aquele que consola de maneira admirável!  Sua maravilhosa ação recolhe nossas lástimas e lágrimas pois se dispôs a andar conosco no vale de sombras e morte.

Uma criança nasceu.  E ela é um Deus Onipotente.  Não há força, potestade, governo ou riqueza que sequer faça frente ao seu controle.  Seu poder é absoluto e sua graça infindável.  Diante dele tremem os poderosos da terra.

Uma criança nasceu.  E ela é o próprio Pai Eterno.  A história, o futuro e a eternidade estão sob os desígnios daquele que é divino de eternidade em eternidade.

Uma criança nasceu.  E ela tem a dignidade do príncipe da paz!  Ela veio para nos ministrar paz.  Ela é o que põe em paz os nossos limites.  É ela quem tudo comanda com a sua Shalom.

 

Louvada seja a criança que nasceu no Natal!

 

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

UMA CRIANÇA NASCEU – algo de exegese

 

Nessa época de Natal, é sempre bom pensar nas profecias antigas.  Então eu volto os meus olhos para as palavras do Isaías – escritas sete séculos antes da era cristã – e ler o que está ali.

O capítulo nove do Livro das Profecias de Isaias sempre nos chama a atenção nessa época.  Todo o texto é inspirador.  Aqui, porém quero destacar apenas o verso # 6.  As suas palavras eu decorei ainda criança e já as repeti incontáveis vezes. 

Pois uma criança nasceu para nós,
Um filho nos foi dado;
E a soberania estará sobre seu ombro.
Então seu nome será proclamado:
Consolador admirável,
Deus forte,
Pai eterno,
Príncipe da paz.

 

Mas antes do trabalho do teólogo-exegeta, permita-me alguma observação de certas palavras que me saltam da profecia – vou seguir a ordem do texto hebraico.

 

§ Criança – no original a palavra é ילד.  0 sentido aqui se refere a um garoto, um jovem.  A palavra inglesa child, ou a italiana fanciullotalvez traduzam bem o sentido.

§ Nasceu – a curiosidade é que o verbo usado aqui vem da mesma raiz etimológica da palavra anterior.  Fica delicioso o trocadilho no original – כי ילד ילד לנו.

§ Estará – o básico verbo ser, estar, acontecer (hebraico: היה).  A forma verbal usada também é básica (qal).  O que tiver que acontecer, assim o será de forma direta e simples.

§ Soberania – esse termo só aparece aqui no AT hebraico (משרה – nos versos 6 e 7).  Joguei essa palavra no Google Translation e ele ofereceu como tradução: trabalho.  Mas a maioria dos tradutores bíblicos – inclusive em outras línguas modernas – aponta para governo ou poder como sendo o significado da palavra.

§ Ombro – A palavra (שכם) se refere de forma explícita a parte do corpo que liga o pescoço ao braço.  Mas na poesia do texto, a riqueza é bem maior: o corpo que tomou sobre si nossas dores e enfermidades (Is 53:4) é o mesmo onde está depositado o governo e a soberania do mundo e da história.

 

Parêntesis:  gosto como a versão “La Biblia de las Américas” (em espanhol) traduziu esse trecho:

 

... y la soberanía reposará sobre sus hombros.

 

Depois seguem os títulos messiânicos (entendo sempre em dupla):

 

§ Consolador admirável (פלא יועץ) – a presença do verbo na expressão dá uma conotação interessante: aquele que consola [é] admirável! (segui a sugestão de Jerônimo nessa opção de tradução – Admirabilis).

§ Deus forte (אל גבור) – o tema da força e soberania divina é recorrente na Bíblia.  Inclusive cantado nos Salmos: “Quem é este Rei da Glória?  O Eterno forte e poderoso” (Sl 24:8).

§ Pai eterno (אביעד) – novamente, gosto da versão de Jerônimo: Pater futuri sæculi – o Pai dos séculos futuros.

§ Príncipe da paz (שר שלום) – aqui o coroamento: aquele que comanda a shalom.

 

 

Bem, depois dessa observação de certas palavras que me saltam da profecia, vou deixar para outra postagem a reflexão natalina baseada nesse versículo profético (confira no linkUMA CRIANÇA NASCEU – Mensagem de Natal).

 


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

GEOGRAFIA E CARTOGRAFIA BÍBLICAS

  


Em termos de Geografia, os fatos e eventos narrados na Bíblia se concentram na região do oriente entre o Mar Mediterrâneo e as planícies do Rio Jordão (onde hoje se situa o Estado de Israel).

Olhando amiúde, o foco das narrativas parece sempre apontar para o Monte Sião (ou Monte Moriá), na região central da Palestina. 

 

Aí vai a primeira curiosidade: nos mapas, o ponto georreferenciado para o Monte Sião é:  31° 46' 18" N 35° 13' 43" E.

 

Várias são as referências ao lugar: ali Abraão deveria sacrificar Isaque.  Davi conquistou uma fortaleza local dos jebuseus e então edificou sua cidadela.  Salomão construiu seu famoso templo sobre aquele monte.  Jesus foi crucificado nos seus arredores.  Também ali estavam os discípulos quando receberam o Espírito no episódio de Pentecoste. 

E os mulçumanos o tem como o lugar da ascensão de Maomé ao paraíso (mais tarde, no século VII, o Califa Omar mandou construir ali a Mesquita de al-Aqsa).

 

Duas curiosidades:

(1) A cidade de Jerusalém é citada mais de novecentas vezes nos textos do AT (em hebraico: ירושלם) e mais de duzentas no Novo (em grego: Ἰερουσαλήμ).

(2) O nome Palestina foi dado à região pelos romanos em referência a citação grega da terra dos Filisteus (em grego: Παλαιστίνη, em latim: Palæstīna, em hebraico: פלשתי e em árabe: فلسطين).

 

A narrativas bíblicas, porém, vão além.  Outras regiões onde fatos bíblicos ocorreram vão do atual Iraque (maior número de episódios, depois das terras de Israel) e do Egito até a península itálica.

 

Mais uma curiosidade: pelo aplicativo do Google Maps, a distância entre Bagdá (capital atual do Iraque) e Roma é de 3.892 km, o que daria perto de quatro horas de voo num avião moderno.

 

Olhando ainda as terras dos eventos bíblicos e suas extensões e limites, é interessante listar também seus extremos:

 

# Extremo Norte –

A cidade mais ao norte citada na Bíblia é Roma (41° 53' 36" N 12° 28' 58" E).

 

 

# Extremo Sul –

Embora os textos bíblicos se refiram a lugares como Líbia e Etiópia (que ficaria na parte sul do Egito), estas são apenas citações de regiões, sem nenhuma precisão cartográfica.

O lugar hoje conhecido com citação mais ao sul nas páginas bíblicas é a cidade egípcia de Alexandria (31° 11' 53" N 29° 55' 9" E).

 

# Extremo Leste –

As terras hoje ocupadas pelo Iraque são bastante citadas na Bíblia.  E mais a leste – a oriente do Rio Tigres – há citações de regiões do atual Irã (antes chamada de Pérsia).  Ainda no livro de Ester há uma referência ao reinado de Assuero até os limites da Índia.

Porém, pelos achados arqueológicos, o lugar mais a leste que pode ser identificado é a cidade original de Abraão – Ur dos Caldeus (30° 57′ 44″ N, 46° 06′ 16″ L).

 

# Extremo Oeste –

Paulo escrevendo aos Romanos se refere a sua intenção de ir a Espanha (provavelmente uma referência ao limite ocidental do Império Romano na Península Ibérica), mas também a localização cartográfica não é precisa.

Com precisão de mapa, a cidade citada na Bíblia mais a oeste também é Roma (41° 53' 36" N 12° 28' 58" E).

 

Aproveitando: aqui estão sugestões de leitura no Escrevinhando para enriquecer seu conhecimento geográfico:

 

PAÍSES NA BÍBLIAlink

Uma lista com países em seus nomes atuais e que foram citados nas Escrituras.

 

O DESTINO DOS APÓSTOLOSlink

Seguindo a ordem como Mateus apresenta, veja um pouco sobre cada um dos apóstolos e o destino que tiveram.

 

PARA ALÉM DE ATOS DOS APÓSTOLOSlink

Alargando a visão histórica é possível perceber que o cristianismo primitivo, ainda no primeiro século, atingiu muitos outros lugares além das fronteiras romanas.

 

MAPA DOS TEÓLOGOS CRISTÃOSlink

Alguns mapas com a marcação do local de nascimento e/ou atuação de alguns dos principais teólogos e pensadores cristãos ao longo da história.

 

 

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

CORBAN E O PRINCÍPIO DA INTENCIONALIDADE

 


Quero pensar sobre mais um fio condutor de interpretação a se destacar no embate de Jesus com os mestres da Lei quanto a abordagem dos compromissos religiosos com Deus e de como eles precisam demostrar as verdadeiras intenções do fiel.  De modo claro Jesus deixou transparecer que tratar da vida humana de modo individual e em sociedade a partir de apenas casuísmos jurídicos e espirituais, desconsiderando os valores em si, é incoerente.

Eu vou nomear isso de o princípio da intencionalidade.

No ocorrido citado em Mc 7 os fariseus mestres da lei argumentaram que, por terem consagrado o Corban ao Senhor, eles estariam assim desobrigados com outros aspectos legais, sociais e espirituais.  Ou seja, nessa concepção, ao cumprirem o que julgavam ser o ponto principal da Lei os demais preceitos se tornaram dispensáveis.

A inversão de valores demonstrada pelos opositores de Jesus estava na aplicação das Leis a partir de apenas casuísmos e não na busca pelo princípio espiritual norteador do Mandamento.

E para não ficar apenas na citação de termo jurídico, veja como o dicionário define casuísmo: “argumento ou medida fundamentada em raciocínio enganador ou falso e baseada muitas vezes em casos concretos e não em princípios fortemente estabelecidos”.

Nessa prática farisaica a atenção se voltava para tratar de casos específicos – em geral exceções – e não levar em conta todo o princípio que fez gerar a Lei e que a rege.  Fazendo assim, ficava demonstrado que a intenção não seria cumprir o que Deus determinou com sendo o bem, nem buscar um relacionamento sincero e construtivo com ele, mas tentar encontrar atalhos para burlar a própria lei e assim se ver livre para apenas deixar acontecer suas própria vontades e inclinações – e isso com uma cínica justificativa legal e espiritual.

Por isso estou chamando esse princípio de intencionalidade.

Ao trazer a discussão para o Corban, a questão a ser debatida passa de apenas um “estudo de caso” – por mais relevante que esse seja – mas que não reflete nem o padrão humano e nem muito menos o direcionamento divino, para as verdadeiras intenções.  Assim, o que transparece ficar no foco é cuidar de picuinhas casuísticas para fugir das reais implicações da obediência a Deus e suas Leis.

O questionamento é direto: “Com que intenção vocês alegam estar querendo seguir as Palavras de Deus, para agradá-lo ou para disfarçar a intolerância, vontades e preconceitos próprios?” 

 

‒ Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.
(em Mc 7:6 – Jesus citando o profeta Isaias em Is 29:13)

 

Pela lógica e argumento apresentados por Jesus, a intenção da fidelidade e observância da Lei de Deus tem que necessariamente refletir o princípio da intencionalidade que fez com que Deus estabelecesse seus preceitos e normas.  E essa intenção divina sempre foi o bem de todos e de cada uma de suas criaturas e não atender a caprichos e de poucos que usurpam a autoridade para si.

E lembrando que Jesus foi certeiro em seu princípio da intencionalidade quando afirmou que a Lei – o sábado – foi estabelecido para servir o ser humano e não o contrário (conclusão apresentada em Mc 2:27).

Para o Mestre Jesus, a intenção do coração em reconhecer a vontade suprema de Deus e em seguir a sua Lei é realmente mais importante que apenas atentar e cumprir dispositivos legais e espirituais específicos.

Que o Senhor nos faça seguir suas Leis e Princípios para que nossa adoração também seja resultado de um coração que se volta na intenção do Altíssimo.

 

 

 

§ Leia toda a série de reflexões que escrevi sobre o tema do Corban – baseada na passagem de Mc 7.   

 

+ CORBAN – JESUS E OS RELIGIOSOSlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA ABRANGÊNCIAlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA AUTORIDADElink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA COERÊNCIAlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA COMPAIXÃOlink

 

§ Se quiser ainda estudar mais sobre o termo Corban, eu fiz uma pequena análise exegética e ofereço no link:

 

+ CORBAN – SANCTUM DONUM DEI link

 

terça-feira, 29 de novembro de 2022

CORBAN E O PRINCÍPIO DA COMPAIXÃO



Ainda trabalhando as lições que podem ser aprendidas a partir dos embates entre Jesus e os doutores da lei de seu tempo, é necessário observar que o foco da intepretação dada por Jesus à Lei sempre mantinha um viés específico: a observância às regras divinas e religiosas nunca devem se sobrepor ao clamor pela vida humana e sua dignidade.  A isso eu chamo de o princípio da compaixão.

No episódio narrado no capítulo sete do Evangelho de Marcos, quando os doutores da lei argumentaram pelo Corban como justificativa para negligenciar os ditames sociais da lei – julgados por eles como secundários – Jesus os confrontou alertando sobre o que realmente importa e quais os princípios que devem prevalecer nas práticas piedosas.

Pessoalmente, eu entendo que nesse princípio da aplicação da Lei divina está o cerne e o ponto mais importante daquilo que Deus deixou normatizado para a vida humana.

Mas, vamos ler nos Evangelhos como Jesus deixou claro esse princípio da compaixão durante seu ministério.

Certa feita, questionado por que seus discípulos colhiam espigas num sábado, Jesus usou desse princípio da compaixão, que o Corban fariseu não era capaz de abarcar, lembrando da narrativa do grande Davi que, quando com fome, comeu dos pães da propiciação os quais lhe eram interditos pela Lei divina e, mesmo assim Deus o acolheu (a narrativa original está em 1Sm 21:1-9 e a citação de Jesus em Lc 6:3-4).

Noutra vez, foi mais duro ao criticar o casuísmo fariseus sem compaixão:

 

– Coitado de vocês, Escribas e Fariseus cínicos!  Vocês pagam o dízimo até dos temperos, mas negligenciam o mais importante na Lei: a justiça, a compaixão e a fidelidade.  É necessário fazer isso sem esquecer o resto.
(Mt 23:23)

 

Ainda outra ocasião, quando questionado sobre a hierarquia dos mandamentos, Jesus comparou o amor a Deus ao amor ao próximo (leia em Mt 22:34-40).  E ainda disse mais: do cumprimento desses dois depende toda a interpretação da Revelação Bíblica.

Destaque pode ser dado também ao sermão escatológico que Mateus registra quando Jesus define quem estará ao seu lado no Reino citando atitudes de compaixão aos mais necessitados em diversas circunstâncias e não por terem praticado atos de piedade espiritual ou aderindo a ritos e credos (em Mt 25:34-40).

E é enriquecedor pontuar o argumento lembrando as palavras proféticas de Oseias quando diz que para Deus é melhor ter misericórdia e compaixão que oferecer culto (em Os 6:6).

Sem dúvida, fazer votos e os cumprir diante de Deus é importante – e o Senhor valoriza.  É correto se comprometer com a sã doutrina.  Obrigatório também é prestar um culto ao que é unicamente digno.  Mas o que realmente importa para se estabelecer um relacionamento com Deus é vivenciar a compaixão por todos e cada um ser humano: alvo preferencial do amor divino.

E que nosso compromisso com o Senhor se coadune com o princípio divino da compaixão e nos faça amar aqueles que vemos como demonstração sincera do amor por aquele que não vemos (faço referência a 1Jo 4:20-21).

 

 

§ Leia toda a série de reflexões que escrevi sobre o tema do Corban – baseada na passagem de Mc 7.   

 

+ CORBAN – JESUS E OS RELIGIOSOSlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA ABRANGÊNCIAlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA AUTORIDADElink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA COERÊNCIAlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA INTENCIONALIDADElink

 

§ Se quiser ainda estudar mais sobre o termo Corban, eu fiz uma pequena análise exegética e ofereço no link:

 

+ CORBAN – SANCTUM DONUM DEI link

 

terça-feira, 22 de novembro de 2022

CORBAN E O PRINCÍPIO DA COERÊNCIA

 


 

Nas várias vezes em que Jesus precisou debater com os líderes religiosos judeus de seu tempo, uma questão veio à toma: as Leis dadas por Deus implicavam o ser humano em quais aspectos de sua existência? Nesses embates, Jesus sempre defendeu a compreensão que o interesse divino em promulgar suas Leis aos humanos abarcaria toda vida de homens e mulheres – tanto individual como socialmente. 

Ou seja, Deus tem interesse no ser humano por inteiro, então nenhum aspecto (nem interior nem exterior) pode ser esquecido.  É o que eu chamaria de o princípio da coerência.

Antes de olhar para o episódio em que os fariseus usaram o argumento do Corban para justificar sua aplicação peculiar da Lei (citado em Mc 7), entendo que é bom apontar como o Deus que se revelou no AT e estabeleceu suas Leis, como ele via suas criaturas humanas.  E para isso vou fazer uma citação minha, num artigo que escrevi sobre a Imagem e Semelhança de Deus (link aqui):

 

Se somos a imagem refletida de Deus e a verdade bíblica é que Deus é uno, então nós também devemos ser assim, indivisíveis.  Só somos imagem quando somos , fôlego e alma – e um nunca existe sem o outro.

Quando fomos criados, fomos feitos , fôlego e alma.  Quando pecamos, decaímos no , fôlego e alma.  Quando somos restaurados em Cristo, somos refeitos , fôlego e alma.

É por isso que nossa confissão de fé insiste: creio na ressurreição do corpo.

(...) Por refletirmos a imagem de um Deus único, não deve haver particionamento em nosso ser.

 

Se ao cumprir os requisitos morais e rituais exteriores dos votos comprometidos com Deus isso fossem suficientes para me desobrigar do restante da Lei – como defendiam os doutores da lei no argumento do Corban, então seria o mesmo que afirmar haver uma distinção entre o aspecto interior do Mandamento – as intenções do coração – e as práticas de rituais religiosos. 

Pelo princípio da coerência na compreensão da Lei de Deus, toda vida humana em toda a sua extensão e em todos os seus aspectos – físicos, morais, espirituais, sociais etc. – são igualmente fundamentais e precisam também ser de maneira igual observados.  Um não anula ou substitui o outro em hipótese alguma.

Assim, o princípio farisaico da Corban, ao particionar a Lei, dando primazia a um aspecto em detrimento de outro, claramente contraria a intenção do legislador divino. 

E como bem afirmou Tiago em sua epístola:

 

‒ Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.  (Tg 2:10)

 

Entendo que a crítica veemente que Jesus fez aos religiosos que se ocupavam das minúcias dos rituais de sua fé e se esqueciam da coerência na aplicação de toda a Lei tem que nos alertar para o cuidado com todos os aspectos da intenção de Deus para conosco.

Então, que a nossa vida cristã e de fé hoje possa se manter coerente em todos os aspectos da Lei – como foi a intenção do próprio Senhor.

 

§ Leia toda a série de reflexões que escrevi sobre o tema do Corban – baseada na passagem de Mc 7.   

 

+ CORBAN – JESUS E OS RELIGIOSOSlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA ABRANGÊNCIAlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA AUTORIDADElink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA COMPAIXÃOlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA INTENCIONALIDADElink

 

§ Se quiser ainda estudar mais sobre o termo Corban, eu fiz uma pequena análise exegética e ofereço no link:

 

+ CORBAN – SANCTUM DONUM DEI link