terça-feira, 29 de novembro de 2022

CORBAN E O PRINCÍPIO DA COMPAIXÃO



Ainda trabalhando as lições que podem ser aprendidas a partir dos embates entre Jesus e os doutores da lei de seu tempo, é necessário observar que o foco da intepretação dada por Jesus à Lei sempre mantinha um viés específico: a observância às regras divinas e religiosas nunca devem se sobrepor ao clamor pela vida humana e sua dignidade.  A isso eu chamo de o princípio da compaixão.

No episódio narrado no capítulo sete do Evangelho de Marcos, quando os doutores da lei argumentaram pelo Corban como justificativa para negligenciar os ditames sociais da lei – julgados por eles como secundários – Jesus os confrontou alertando sobre o que realmente importa e quais os princípios que devem prevalecer nas práticas piedosas.

Pessoalmente, eu entendo que nesse princípio da aplicação da Lei divina está o cerne e o ponto mais importante daquilo que Deus deixou normatizado para a vida humana.

Mas, vamos ler nos Evangelhos como Jesus deixou claro esse princípio da compaixão durante seu ministério.

Certa feita, questionado por que seus discípulos colhiam espigas num sábado, Jesus usou desse princípio da compaixão, que o Corban fariseu não era capaz de abarcar, lembrando da narrativa do grande Davi que, quando com fome, comeu dos pães da propiciação os quais lhe eram interditos pela Lei divina e, mesmo assim Deus o acolheu (a narrativa original está em 1Sm 21:1-9 e a citação de Jesus em Lc 6:3-4).

Noutra vez, foi mais duro ao criticar o casuísmo fariseus sem compaixão:

 

– Coitado de vocês, Escribas e Fariseus cínicos!  Vocês pagam o dízimo até dos temperos, mas negligenciam o mais importante na Lei: a justiça, a compaixão e a fidelidade.  É necessário fazer isso sem esquecer o resto.
(Mt 23:23)

 

Ainda outra ocasião, quando questionado sobre a hierarquia dos mandamentos, Jesus comparou o amor a Deus ao amor ao próximo (leia em Mt 22:34-40).  E ainda disse mais: do cumprimento desses dois depende toda a interpretação da Revelação Bíblica.

Destaque pode ser dado também ao sermão escatológico que Mateus registra quando Jesus define quem estará ao seu lado no Reino citando atitudes de compaixão aos mais necessitados em diversas circunstâncias e não por terem praticado atos de piedade espiritual ou aderindo a ritos e credos (em Mt 25:34-40).

E é enriquecedor pontuar o argumento lembrando as palavras proféticas de Oseias quando diz que para Deus é melhor ter misericórdia e compaixão que oferecer culto (em Os 6:6).

Sem dúvida, fazer votos e os cumprir diante de Deus é importante – e o Senhor valoriza.  É correto se comprometer com a sã doutrina.  Obrigatório também é prestar um culto ao que é unicamente digno.  Mas o que realmente importa para se estabelecer um relacionamento com Deus é vivenciar a compaixão por todos e cada um ser humano: alvo preferencial do amor divino.

E que nosso compromisso com o Senhor se coadune com o princípio divino da compaixão e nos faça amar aqueles que vemos como demonstração sincera do amor por aquele que não vemos (faço referência a 1Jo 4:20-21).

 

 

§ Leia toda a série de reflexões que escrevi sobre o tema do Corban – baseada na passagem de Mc 7.   

 

+ CORBAN – JESUS E OS RELIGIOSOSlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA ABRANGÊNCIAlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA AUTORIDADElink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA COERÊNCIAlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA INTENCIONALIDADElink

 

§ Se quiser ainda estudar mais sobre o termo Corban, eu fiz uma pequena análise exegética e ofereço no link:

 

+ CORBAN – SANCTUM DONUM DEI link

 

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