segunda-feira, 31 de outubro de 2022

CORBAN – SANCTUM DONUM DEI

  


No texto de Marcos 7 o evangelista usa o termo transliterado Corban para se referir à oferta destinada a Deus.

 

§ Assim está registrado no texto:

 

Texto em grego –

ὑμεῖς δὲ λέγετε Ἐὰν εἴπῃ ἄνθρωπος τῷ πατρὶ ἢ τῇ μητρί Κορβᾶν,
ὅ ἐστιν Δῶρον, ὃ ἐὰν ἐξ ἐμοῦ ὠφεληθῇς,
(Mc 7:11 – Nestle 1904)

 

Texto em latim –

Vos autem dicitis: Si dixerit homo patri, aut matri, Corban (quod est donum)
quodcumque ex me, tibi profuerit,
(Mc 7:11 – Vulgata Clementina)

 

Texto em português –

Mas vocês afirmam que se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: ‘Qualquer ajuda que vocês poderiam receber de mim é Corbã’, isto é, uma oferta dedicada a Deus,
(Mc 7:11 – NVI)

 

§ Vamos analisar o termo Corban (a partir de “Concordância de Strong”) –

 

Corban
Palavra original em grego: κορβᾶν
Ortografia fonética: (kor-ban')
Definição: uma oferta, um presente, qualquer coisa consagrada a Deus
Ocorrência no NT grego: 01 ocorrência – Mc 7:11

Qorban 
Palavra original em hebraico:
קרבן
Ortografia fonética: (kor-bawn')
Definição: oferta, oblação
Ocorrências no AT hebraico: 82 ocorrências (1ª ocorrência: Lv 1:2)

 

§ Algumas observações:

 

#1. Na versão grega do AT (LXX) a grafia κορβᾶν – Corban não ocorre.  Para traduzir o termo hebraico correspondente (como em Lv 1:2 – קרבן) os gregos preferiram a expressão δῶρον.

#2. O texto de Marcos em hebraico moderno usa a expressão קרבן (o Google Translate oferece com tradução para a palavra hebraica: vítima)

#3. Em Mt 27:6 pode ser lida uma variante desse termo: κορβανᾶν, que é em geral traduzida apenas como tesouro (em relação aos numerários confiados e administrados pelo Templo Central em Jerusalém).

#4. No texto sinótico paralelo de Mt 15:5 o evangelista optou por não transliterar, mas traduzir o termo hebraico: δῶρον (essa palavra já aparece no texto de Marcos como uma explicação do termo técnico Corban).

#5. A palavra grega δῶρον é de sentido geral para oferta, presente, dádiva no uso da língua Koiné e ocorre cerca de vinte vezes no NT, em contextos diferentes (inclusive em Ef 2:8).

 

§ Versões e traduções modernas –

 

Grego moderno – Ελληνική σύγχρονη

... Κορβαν, τουτεστι δωρον, ειναι ο (...) αρκει... – GMV

 

Inglês – English

... It is Corban, that is to say ... – KJV

... is Corban (that is, devoted to God) ... – NIV

 

Alemão – Deutsch

... "Korban," das ist, "es ist Gott gegeben," ...  Luther 1912

 

Italiano – Italiano

... è Corban (vale a dire, offerta a Dio) ... – Riveduta 1927

 

Espanhol – español

... Es Corbán (quiere decir, don mío á Dios) ... – Reina Valera 1909

 

Ucraniano – українська

... Корван (що єсть: Дар) ...

 

Francês – Français

... Je déclare korbân c'est-à-dire offrande sacrée ... – La Bible de Jérusalem

 

§ Conhecendo melhor o termo:

 

Começando com Abel, que ofereceu uma oferta – um tributo – ao Senhor (em Gn 4:3 – aqui a palavra hebraica ainda é מנחה), o culto nos tempos do AT estava baseado na oferenda de sacrifícios e outras dádivas ao Senhor. 

Com a legislação da vida e do culto em Israel a partir do Sinai, o termo que passou a ser usado para normatizar o ritual das oferendas trazidas ao Senhor no serviço sagrado foi Corbanקרבן.  Assim, o Livro da Lei (em nossas Bíblias: Levítico) adotou a expressão para descrever tanto as ofertas de sacrifício de sangue quanto as ofertas de cereais e outros víveres, quer sólidos ou líquidos.

O que estava implicado nesse Corban (קרבן) era o voto, o compromisso de ofertar, assumido solenemente diante de Deus.  O que fazia dessa oferta algo santificado e consagrado de modo exclusivo ao Senhor e, portanto, que deveria ser trazido somente para sua dedicação ao santuário no Tabernáculo – e posteriormente no Templo Central em Jerusalém.

Com o passar dos tempos, e o acúmulo de tradições, o termo Corban passou a ter uma conotação do dízimo ou imposto em dinheiro devido ao santuário (lembre-se que no princípio as ofertas eram apenas em animais ou produtos).

Então a digressão do sentido do termo o levou a ser usado no tempo do NT como significado de uma obrigação ritualista e apenas religiosa de entregar à estrutura cultual e institucional do Templo a oferta.  E uma vez tendo feito isso, o ofertante teria cumprido todas as suas obrigações legais com o Senhor e, logo, se desobrigaria de qualquer outro compromisso sagrado ou social.

Foi contra essa mentalidade que Jesus se opôs radicalmente em seus embates contra fariseus e Mestres da Lei judaica de seu tempo.

 

§ Leia também uma série de reflexões que escrevi sobre o tema do Corban – baseada na passagem de Mc 7.   

 

+ CORBAN – JESUS E OS RELIGIOSOSlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA ABRANGÊNCIAlink

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