terça-feira, 22 de novembro de 2022

CORBAN E O PRINCÍPIO DA COERÊNCIA

 


 

Nas várias vezes em que Jesus precisou debater com os líderes religiosos judeus de seu tempo, uma questão veio à toma: as Leis dadas por Deus implicavam o ser humano em quais aspectos de sua existência? Nesses embates, Jesus sempre defendeu a compreensão que o interesse divino em promulgar suas Leis aos humanos abarcaria toda vida de homens e mulheres – tanto individual como socialmente. 

Ou seja, Deus tem interesse no ser humano por inteiro, então nenhum aspecto (nem interior nem exterior) pode ser esquecido.  É o que eu chamaria de o princípio da coerência.

Antes de olhar para o episódio em que os fariseus usaram o argumento do Corban para justificar sua aplicação peculiar da Lei (citado em Mc 7), entendo que é bom apontar como o Deus que se revelou no AT e estabeleceu suas Leis, como ele via suas criaturas humanas.  E para isso vou fazer uma citação minha, num artigo que escrevi sobre a Imagem e Semelhança de Deus (link aqui):

 

Se somos a imagem refletida de Deus e a verdade bíblica é que Deus é uno, então nós também devemos ser assim, indivisíveis.  Só somos imagem quando somos , fôlego e alma – e um nunca existe sem o outro.

Quando fomos criados, fomos feitos , fôlego e alma.  Quando pecamos, decaímos no , fôlego e alma.  Quando somos restaurados em Cristo, somos refeitos , fôlego e alma.

É por isso que nossa confissão de fé insiste: creio na ressurreição do corpo.

(...) Por refletirmos a imagem de um Deus único, não deve haver particionamento em nosso ser.

 

Se ao cumprir os requisitos morais e rituais exteriores dos votos comprometidos com Deus isso fossem suficientes para me desobrigar do restante da Lei – como defendiam os doutores da lei no argumento do Corban, então seria o mesmo que afirmar haver uma distinção entre o aspecto interior do Mandamento – as intenções do coração – e as práticas de rituais religiosos. 

Pelo princípio da coerência na compreensão da Lei de Deus, toda vida humana em toda a sua extensão e em todos os seus aspectos – físicos, morais, espirituais, sociais etc. – são igualmente fundamentais e precisam também ser de maneira igual observados.  Um não anula ou substitui o outro em hipótese alguma.

Assim, o princípio farisaico da Corban, ao particionar a Lei, dando primazia a um aspecto em detrimento de outro, claramente contraria a intenção do legislador divino. 

E como bem afirmou Tiago em sua epístola:

 

‒ Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.  (Tg 2:10)

 

Entendo que a crítica veemente que Jesus fez aos religiosos que se ocupavam das minúcias dos rituais de sua fé e se esqueciam da coerência na aplicação de toda a Lei tem que nos alertar para o cuidado com todos os aspectos da intenção de Deus para conosco.

Então, que a nossa vida cristã e de fé hoje possa se manter coerente em todos os aspectos da Lei – como foi a intenção do próprio Senhor.

 

§ Leia toda a série de reflexões que escrevi sobre o tema do Corban – baseada na passagem de Mc 7.   

 

+ CORBAN – JESUS E OS RELIGIOSOSlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA ABRANGÊNCIAlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA AUTORIDADElink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA COMPAIXÃOlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA INTENCIONALIDADElink

 

§ Se quiser ainda estudar mais sobre o termo Corban, eu fiz uma pequena análise exegética e ofereço no link:

 

+ CORBAN – SANCTUM DONUM DEI link

 

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