Nas várias vezes em que Jesus precisou debater com
os líderes religiosos judeus de seu tempo, uma questão veio à toma: as Leis
dadas por Deus implicavam o ser humano em quais aspectos de sua existência? Nesses
embates, Jesus sempre defendeu a compreensão que o interesse divino em
promulgar suas Leis aos humanos abarcaria toda vida de homens e mulheres –
tanto individual como socialmente.
Ou seja, Deus tem interesse no ser humano por
inteiro, então nenhum aspecto (nem interior nem exterior) pode ser esquecido. É o que eu chamaria de o princípio da coerência.
Antes de olhar para o episódio em que os fariseus
usaram o argumento do Corban para justificar sua aplicação peculiar da
Lei (citado em Mc 7), entendo que é bom apontar como o Deus que se revelou no AT
e estabeleceu suas Leis, como ele via suas criaturas humanas. E para isso vou fazer uma citação minha, num
artigo que escrevi sobre a Imagem e Semelhança de Deus
(link aqui):
Se
somos a imagem refletida de Deus e a verdade bíblica é que Deus é uno, então
nós também devemos ser assim, indivisíveis.
Só somos imagem quando somos pó, fôlego e alma – e um
nunca existe sem o outro.
Quando
fomos criados, fomos feitos pó, fôlego e alma. Quando pecamos, decaímos no pó, fôlego
e alma. Quando somos restaurados em
Cristo, somos refeitos pó, fôlego e alma.
É
por isso que nossa confissão de fé insiste: creio na ressurreição do corpo.
(...)
Por refletirmos a imagem de um Deus único, não deve haver particionamento em nosso
ser.
Se ao cumprir os requisitos morais e rituais
exteriores dos votos comprometidos com Deus isso fossem suficientes para me desobrigar
do restante da Lei – como defendiam os doutores da lei no argumento do Corban,
então seria o mesmo que afirmar haver uma distinção entre o aspecto interior do
Mandamento – as intenções do coração – e as práticas de rituais religiosos.
Pelo princípio da coerência na compreensão da Lei
de Deus, toda vida humana em toda a sua extensão e em todos
os seus aspectos – físicos, morais, espirituais, sociais etc. – são igualmente fundamentais
e precisam também ser de maneira igual observados. Um não anula ou substitui o outro em hipótese
alguma.
Assim, o princípio farisaico da Corban, ao particionar
a Lei, dando primazia a um aspecto em detrimento de outro, claramente contraria
a intenção do legislador divino.
E como bem afirmou Tiago em sua epístola:
‒ Porque qualquer que guardar toda a
lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos. (Tg 2:10)
Entendo que a crítica veemente que Jesus fez aos religiosos
que se ocupavam das minúcias dos rituais de sua fé e se esqueciam da coerência na
aplicação de toda a Lei tem que nos alertar para o cuidado com todos os
aspectos da intenção de Deus para conosco.
Então, que a nossa vida cristã e de fé hoje possa
se manter coerente em todos os aspectos da Lei – como foi a intenção do próprio
Senhor.
§ Leia toda a série
de reflexões que escrevi sobre o tema do Corban – baseada na passagem de
Mc 7.
+ CORBAN – JESUS E OS RELIGIOSOS – link
+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA ABRANGÊNCIA – link
+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA AUTORIDADE – link
+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA COMPAIXÃO – link
+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA INTENCIONALIDADE – link
§ Se quiser ainda
estudar mais sobre o termo Corban, eu fiz uma pequena
análise exegética e ofereço no link:
+ CORBAN – SANCTUM DONUM DEI – link
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