Debatendo com os líderes religiosos de seu tempo,
Jesus questionou algumas vezes sobre quem teria o respaldo para dar a última palavra
em questões de intepretação da Lei divina, apontar as reais intenções e
objetivos dos Mandamentos e julgar aqueles que os quebrasse – além de
estabelecer seu alcance e desdobramentos.
Vou chamar esse posicionamento do Mestre de o princípio da autoridade.
Na situação narrada por Marcos (capítulo sete)
quando os fariseus apontaram o Corban com princípio que justificaria o uso
dos artifícios legais para discernir a Lei antiga, o argumento usado pelos homens
judeus foi de que a tradição estabelecida no uso da oferta volitiva a Deus
seria suficiente para balizar a autoridade deles sobre a interpretação e uso
correto daquilo que Deus em verdade tinha determinado.
Observe logo que, de acordo por essa concepção farisaica,
a tradição deles mesmos seria suficiente para estabelecer a autoridade final
sobre todo e qualquer dispositivo da Lei de Deus.
Onde está o cerne do princípio da autoridade?
Indo direto ao ponto: a crítica de Jesus foi contundente:
‒ Vocês anulam a palavra de Deus, por meio
da tradição que vocês mesmos transmitiram.
(Mc
7:13)
O problema não estava em ter ou não tradição. Jesus nunca se incomodou com as tradições em
si – e até eventualmente as cumpriu por aceitar interessante!
As tradições e costumes fazem parte da vida humana
em sociedade e o Mestre não questionou a validade delas. Deus nos criou para ser gregários. A vida no conjunto social sempre fez parte do
projeto divino para a humanidade. E,
vivendo dessa maneira, criamos nossos costumes e os legamos às gerações futuras. Assim se comporta naturalmente toda
comunidade saudável.
Os Evangelhos narram inclusive que Jesus
compareceu a cerimônia de casamento, esteve em rituais de velórios e até
questionou por que não foi lhe foi concedida a prática comum da unção ao chegar
para uma refeição – tudo isso era tradição.
Esse nunca foi o ponto do problema.
O questionamento de Jesus, quando o Corban
foi usado como argumento, esteve em sobre quem tem a autoridade para estabelecer
o que é certo e decisivo quando se tratar de conhecer e obedecer a Lei de Deus.
Quem tem a última palavra? Quem dita os critérios?
Quem tem autoridade de interpretação? Quem estabelece valores e paradigmas de
certo e errado?
Para o Mestre Jesus, a tradição humana, seja ela
qual for: próxima ou longínqua, boa ou ruim, forte ou fraca, não é o critério nem
a autoridade de validação de nada. E isso não é negociável, pois toda tradição é
humana e a Lei é divina.
A tradição precisa ser julgada e avaliada pela sua
concordância com os princípios da Lei Eterna e não o contrário. Uma tradição jamais será critério de autoridade
para estabelecer se qualquer atitude ou procedimento está de acordo ou não com
a vontade de Deus.
Aqui eu me lembro do filósofo Platão que questionava
a tradição: bastava antes dizer que algo foi dito pelos antigos para que se tornasse
socialmente válido (no grego: παλαι λεγεται).
Penso que Jesus também faria uma crítica nesse sentido:
só porque é tradicional não implica em ser bom e válido ou ruim e errado. Até o Corban e a tradição precisam
passar pelo crivo da verdadeira autoridade: o Deus justo.
Que o próprio Senhor nos faça reconhecer que toda autoridade
provém única e exclusivamente dele e que toda nossa tradição se submeta ao seu
querer.
§ Leia toda a série
de reflexões que escrevi sobre o tema do Corban – baseada na passagem de
Mc 7.
+ CORBAN – JESUS E OS RELIGIOSOS – link
+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA ABRANGÊNCIA – link
+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA COERÊNCIA – link
+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA COMPAIXÃO – link
+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA INTENCIONALIDADE – link
§ Se quiser ainda
estudar mais sobre o termo Corban, eu fiz uma pequena
análise exegética e ofereço no link:
+ CORBAN – SANCTUM DONUM DEI – link
Muito bom Deus abencoe mano
ResponderExcluirMinha prece é para o Mestre nos fazer alinhados com os seus princípios e a sua autoridade.
ExcluirDeus abençoe sempre.