terça-feira, 15 de novembro de 2022

CORBAN E O PRINCÍPIO DA AUTORIDADE

 


Debatendo com os líderes religiosos de seu tempo, Jesus questionou algumas vezes sobre quem teria o respaldo para dar a última palavra em questões de intepretação da Lei divina, apontar as reais intenções e objetivos dos Mandamentos e julgar aqueles que os quebrasse – além de estabelecer seu alcance e desdobramentos.  Vou chamar esse posicionamento do Mestre de o princípio da autoridade.

Na situação narrada por Marcos (capítulo sete) quando os fariseus apontaram o Corban com princípio que justificaria o uso dos artifícios legais para discernir a Lei antiga, o argumento usado pelos homens judeus foi de que a tradição estabelecida no uso da oferta volitiva a Deus seria suficiente para balizar a autoridade deles sobre a interpretação e uso correto daquilo que Deus em verdade tinha determinado.

Observe logo que, de acordo por essa concepção farisaica, a tradição deles mesmos seria suficiente para estabelecer a autoridade final sobre todo e qualquer dispositivo da Lei de Deus.

Onde está o cerne do princípio da autoridade?

Indo direto ao ponto: a crítica de Jesus foi contundente:

 

‒ Vocês anulam a palavra de Deus, por meio da tradição que vocês mesmos transmitiram.
(Mc 7:13)

 

O problema não estava em ter ou não tradição.  Jesus nunca se incomodou com as tradições em si – e até eventualmente as cumpriu por aceitar interessante! 

As tradições e costumes fazem parte da vida humana em sociedade e o Mestre não questionou a validade delas.  Deus nos criou para ser gregários.  A vida no conjunto social sempre fez parte do projeto divino para a humanidade.  E, vivendo dessa maneira, criamos nossos costumes e os legamos às gerações futuras.  Assim se comporta naturalmente toda comunidade saudável.

Os Evangelhos narram inclusive que Jesus compareceu a cerimônia de casamento, esteve em rituais de velórios e até questionou por que não foi lhe foi concedida a prática comum da unção ao chegar para uma refeição – tudo isso era tradição.  Esse nunca foi o ponto do problema.

O questionamento de Jesus, quando o Corban foi usado como argumento, esteve em sobre quem tem a autoridade para estabelecer o que é certo e decisivo quando se tratar de conhecer e obedecer a Lei de Deus.

Quem tem a última palavra? Quem dita os critérios? Quem tem autoridade de interpretação? Quem estabelece valores e paradigmas de certo e errado?

Para o Mestre Jesus, a tradição humana, seja ela qual for: próxima ou longínqua, boa ou ruim, forte ou fraca, não é o critério nem a autoridade de validação de nada. E isso não é negociável, pois toda tradição é humana e a Lei é divina.

A tradição precisa ser julgada e avaliada pela sua concordância com os princípios da Lei Eterna e não o contrário.  Uma tradição jamais será critério de autoridade para estabelecer se qualquer atitude ou procedimento está de acordo ou não com a vontade de Deus.

Aqui eu me lembro do filósofo Platão que questionava a tradição: bastava antes dizer que algo foi dito pelos antigos para que se tornasse socialmente válido (no grego: παλαι λεγεται). 

Penso que Jesus também faria uma crítica nesse sentido: só porque é tradicional não implica em ser bom e válido ou ruim e errado.  Até o Corban e a tradição precisam passar pelo crivo da verdadeira autoridade: o Deus justo.

Que o próprio Senhor nos faça reconhecer que toda autoridade provém única e exclusivamente dele e que toda nossa tradição se submeta ao seu querer.

 

§ Leia toda a série de reflexões que escrevi sobre o tema do Corban – baseada na passagem de Mc 7.   

 

+ CORBAN – JESUS E OS RELIGIOSOSlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA ABRANGÊNCIAlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA COERÊNCIA – link

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA COMPAIXÃOlink

+ CORBAN E O PRINCÍPIO DA INTENCIONALIDADElink

 

§ Se quiser ainda estudar mais sobre o termo Corban, eu fiz uma pequena análise exegética e ofereço no link:

 

+ CORBAN – SANCTUM DONUM DEI link

 

2 comentários:

  1. Muito bom Deus abencoe mano

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    1. Minha prece é para o Mestre nos fazer alinhados com os seus princípios e a sua autoridade.
      Deus abençoe sempre.

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