Apesar
de não ser brasileiro de nascimento, o Dr. Russell P. Shedd (1929-2016),
desenvolveu o seu ministério missionário e acadêmico no Brasil por várias
décadas.
Depois
da publicação de várias outras obras de caráter mais exegético-teológica, em
1987 veio à luz a obra Adoração Bíblica que, segundo é dito
pelos editores no prefácio, tinha por objetivo levar os que acham a “rotina
dominical vazia” a repensarem “todas as nossas idéias sobre o culto e a
verdadeira adoração ao soberano Deus”.
Assim se
estrutura o livro:
Capítulo I – O culto
e a Adoração que Deus almeja
Capítulo II – O
Vocabulário Bíblico
Capítulo III – A
essência do Culto na Bíblia
Capítulo IV – A
adoração e os sentidos
Capítulo V – O
preparo para a adoração
Capítulo VI – A
prática da adoração
Capítulo VII – Os
efeitos da adoração
Capítulo VIII –
Exemplos de adoração
Capítulo IX –
Obstáculos à adoração
Capítulo X – A
adoração na Igreja contrastada com a do Antigo Testamento
Vejamos
um pouco sobre o pensamento de Shedd expresso no livro.
A base
de toda a argumentação apresentada por Shedd é que toda expressão cultual e
litúrgica cristã é motivada pelo fato de que “Deus ordena que o adoremos”. A adoração bíblica é sempre uma resposta do
crente obediente de estar na presença de Deus buscando obedecê-lo e comungar
com ele daquilo que lhe foi feito em Cristo Jesus.
Citando um
escritor desconhecido, ele afirma que “a adoração transforma o adorador na
imagem do deus diante do qual ele se curva”, o que o leva a refletir sobre a
adoração na “igreja secularizada” onde é comum “professar a fé em Cristo, mas
não se preocupar em expressar amor a Deus, que exige toda a sua força”.
O que
leva ao questionamento sobre se a Igreja no Brasil tem feito de sua adoração e
liturgia alicerces para a suas vidas cotidianas. Ao que o próprio Shedd responde:
Dividimos nossas vidas em dois compartimentos. Um, envolvendo nossas atividades religiosas,
exemplificadas pelo nosso cantar, orar, falar e testemunhar; outro envolvendo
todas as atividades não religiosas: nossa conversa, sociabilidade, tempo de
trabalho e lazer, sentados à mesa, ou atentos aos programas de televisão. Uma dicotomia notável caracteriza a vida
daqueles que reivindicam comunhão com Deus, afirmando ser residência do Seu
Espírito.
Para
Shedd, esta compartimentalização da vida do cristão secularizado é a completa
desvirtuação do sentido próprio da adoração bíblica, que propõe a união entre
Deus e seres humanos, união não somente expressa na liturgia mas que deve se estender
em todos os aspectos da vida do crente,
Porque essa união sincera com Deus, em si mesma,
juntamente com a prontidão em obedecer e adorar a Deus de modo aceitável, o
conduz a louvá-lo através de seu ser e a glorificá-lo por meio de todos os seus
atos.
Também
deve ser notado que Shedd compreende a adoração bíblica não se revestindo
somente se obrigações e responsabilidades.
Tem que ser prazerosa. Ele cita
Agostinho: “Deus encontra prazer em nós quando encontramos prazer nele”. Assim, Shedd compreende com sendo estes os
efeitos da adoração:
1. Segurança;
2. Comunhão e reconhecimento mútuos;
3. Santificação;
4. Visão transformada;
5. Evangelização;
6. Preocupação com a alegria de Deus.
Relacionando
a liturgia com a responsabilidade cristã no mundo, Russell Shedd conclui que a
adoração cristã traz implicações claras:
As reuniões públicas da igreja devem ter
constantemente este objetivo em vista.
Seus membros, ao participarem da liturgia, devem ser estimulados a
praticar atos de amor agapë e boas
obras (Hb 10:24). Reunida ou dispersa, a
Igreja deve ser uma comunidade glorificadora.
Apenas esta adoração de duas faces é digna dele, que Se entregou pela
Igreja com a intenção de garantir a sua perfeição (Ef 5:27). (...) Pois não somos de nós mesmos, mas fomos
comprados por um preço (1Co 6:20), e isto significa que os cristãos têm tanto
tempo livre quanto os escravos!
Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer,
fazei tudo para a glória de Deus (1Co 10:31).