sexta-feira, 8 de março de 2019

Doenças da alma - TORCICOLO


Os gregos nos legaram a concepção de um ser humano particionado. De um lado a alma e/ou espírito (para o que eu quero trazer aqui não vai fazer muita diferença se em um ou dois) e do outro o corpo, como essências distintas. Sinceramente acho difícil um hebreu entrar nessa discussão. Mas isso é só um pretexto para começar o que vou dizer.
A Bíblia diz que do pó da terra Deus moldou o ser humano – homem e mulher – e nele soprou o hálito da vida (confira em Gn 2:7). Todo o ser humano é uma criação única de Deus: o pó e o hálito se mesclaram de tal forma que se tornaram uma obra-prima singular.
Com essas considerações, quero iniciar aqui algumas reflexões sobre doenças e males que afligem o ser humano e em especial o cristão. Eu as estou chamando de doenças da alma, mas são males que nos maculam, entortam, enfeiam, sujam e danificam por inteiro.
A primeira dessas doenças da alma é o torcicolo. Na internet, o sítio Wikipédia define este mal como uma "contração, espástica ou não, de músculos do pescoço, de modo que a cabeça permanece inclinada para um dos lados e o queixo chega a projetar-se para o lado oposto."
Mas não é só o corpo que sofre, o ser humano inteiro padece com o mal do torcicolo.
Conhece aquelas pessoas que vivem olhando apenas para um lado – ou para trás – como se toda a verdade e essência estivesse lá? Ou gente que repete sumas do tipo: Bom era naquele tempo!
São homens e mulheres a quem o tempo enrijeceu o pescoço e já não conseguem viver ou sequer olhar para outro lado que não um passado memorável. Eles sofrem de torcicolo da alma.
Parece que a vida se exauriu no que ficou para trás e por isso não lhes resta mais vida adiante. O pescoço duro não permite ao menos observar que o Deus que agiu poderosamente no passado continuou agindo.
Veja que o problema não está em elogiar ou negar o passado. Ele ficou lá com seus triunfos e fracassos. E realmente algumas vezes devemos confessar que foi bom tê-lo vivido.
O problema do torcicolo da alma que acomete o cristão é quando sua vida se resume a esse passado.
Mas deixe-me ler alguma coisa na Bíblia sobre o tema. Não há receituário melhor para tratar das nossas doenças da alma.
O primeiro verso que encontro que denuncia este mal vem da sabedoria do pregador: Não diga: "Por que os dias do passado foram melhores que os de hoje? Pois não é sábio fazer tais perguntas." (Ec 7:10).
Realmente, quem vive na perspectiva das boas novidades (já considerou o significado do termo evangelho?) nunca pode se apegar aos dias passados como se eles fossem os melhores – isso é torcicolo na alma.
Além do mais, vivemos na expectativa da promessa daquele que diz fazer novas todas as coisas (declaração diante da gloriosa visão da Jerusalém celeste em Ap 21:5).
Também cuidado! Ter o pescoço espiritual curado também não significa esquecer o passado. Afinal, estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas (fraseado de Hb 12:1).
Sim, a história, e o legado dos heróis, que nos chegou até aqui é uma herança riquíssima que não pode ser esquecida nem desprezada. Então ter o pescoço endurecido e vidrado apenas nas novidades sem considerar a fé dos pais é também uma forma de torcicolo da alma tão nociva quanto qualquer outra.
Ora! Deus nos criou perfeitos e com toda a musculatura do pescoço apta para olhar e direcionar nossa atenção para todos os lados. Há histórias, bênçãos, riquezas e manifestações divinas espalhadas por todo lado. E eu não devo me empobrecer preso num torcicolo espiritual que me impede de enxergar o dedo de Deus onde quer que ele aconteça.
Mas quero terminar esta primeira reflexão sobre as doenças da alma – e em especial sobre o torcicolo espiritual – apontando o mais eficiente antídoto para qualquer torcicolo. Conservemos os nossos olhos fixos em Jesus, pois é por meio dele que a nossa fé começa, e é ele quem a aperfeiçoa (Hb 12:2).

Nenhum comentário:

Postar um comentário