Os
gregos nos legaram a concepção de um ser humano particionado. De
um lado a alma e/ou espírito (para o que eu quero trazer aqui não
vai fazer muita diferença se em um ou dois) e do outro o corpo, como
essências distintas. Sinceramente acho difícil um hebreu entrar
nessa discussão. Mas isso é só um pretexto para começar o que
vou dizer.
A
Bíblia diz que do pó da terra Deus moldou o ser humano – homem e
mulher – e nele soprou o hálito da vida (confira em Gn 2:7). Todo
o ser humano é uma criação única de Deus: o pó e o hálito se
mesclaram de tal forma que se tornaram uma obra-prima singular.
Com
essas considerações, quero iniciar aqui algumas reflexões sobre
doenças e males que afligem o ser humano e em especial o cristão.
Eu as estou chamando de doenças da alma, mas são males que nos
maculam, entortam, enfeiam, sujam e danificam por inteiro.
A
primeira dessas doenças da alma é o torcicolo.
Na internet, o sítio Wikipédia
define este mal como uma "contração, espástica ou não, de
músculos do pescoço, de modo que a cabeça permanece inclinada para
um dos lados e o queixo chega a projetar-se para o lado oposto."
Mas
não é só o corpo que sofre, o ser humano inteiro padece com o mal
do torcicolo.
Conhece
aquelas pessoas que vivem olhando apenas para um lado – ou para
trás – como se toda a verdade e
essência estivesse lá? Ou gente que repete sumas do tipo: —
Bom era naquele tempo!
São
homens e mulheres a quem o tempo enrijeceu o pescoço e já não
conseguem viver ou sequer olhar para outro lado que não um passado
memorável. Eles sofrem de torcicolo da alma.
Parece
que a vida se exauriu no que ficou para trás e por isso não lhes
resta mais vida adiante. O pescoço duro não permite ao menos
observar que o Deus que agiu poderosamente no passado continuou
agindo.
Veja
que o problema não está em elogiar ou negar o passado. Ele ficou
lá com seus triunfos e fracassos. E realmente algumas vezes devemos
confessar que foi bom tê-lo vivido.
O
problema do torcicolo da alma que acomete o cristão é quando sua
vida se resume a esse passado.
Mas
deixe-me ler alguma coisa na Bíblia sobre o tema. Não há
receituário melhor para tratar das nossas doenças da alma.
O
primeiro verso que encontro que denuncia este mal vem da sabedoria do
pregador: Não diga: "Por que os dias do passado foram
melhores que os de hoje? Pois não é sábio fazer tais perguntas."
(Ec 7:10).
Realmente,
quem vive na perspectiva das boas novidades (já considerou o
significado do termo evangelho?) nunca pode se apegar aos dias
passados como se eles fossem os melhores – isso é torcicolo na
alma.
Além
do mais, vivemos na expectativa da promessa daquele que diz fazer
novas todas as coisas (declaração diante da gloriosa visão da
Jerusalém celeste em Ap 21:5).
Também
cuidado! Ter o pescoço espiritual curado também não significa
esquecer o passado. Afinal, estamos rodeados de tão grande nuvem de
testemunhas (fraseado de Hb 12:1).
Sim,
a história, e o legado dos heróis, que nos chegou até aqui é uma
herança riquíssima que não pode ser esquecida nem desprezada.
Então ter o pescoço endurecido e vidrado apenas nas novidades sem
considerar a fé dos pais é também uma forma de torcicolo da alma
tão nociva quanto qualquer outra.
Ora!
Deus nos criou perfeitos e com toda a musculatura do pescoço apta
para olhar e direcionar nossa atenção para todos os lados. Há
histórias, bênçãos, riquezas e manifestações divinas espalhadas
por todo lado. E eu não devo me empobrecer preso num torcicolo
espiritual que me impede de enxergar o dedo de Deus onde quer que ele
aconteça.
Mas
quero terminar esta primeira reflexão sobre as doenças da alma –
e em especial sobre o torcicolo espiritual – apontando o mais
eficiente antídoto para qualquer torcicolo. Conservemos os
nossos olhos fixos em Jesus, pois é por meio dele que a nossa fé
começa, e é ele quem a aperfeiçoa (Hb 12:2).
Nenhum comentário:
Postar um comentário