Lembro-me
de uma conversa que tive há 13 anos na América com um jovem pastor
francês.
Simplesmente,
nos pusemos a perguntar um ao outro sobre o que afinal desejávamos
da vida. Então ele disse: eu gostaria de tornar-me um santo (e eu
acredito que ele o conseguiu). Aquilo me impressionou profundamente.
Mesmo assim eu me opus e disse, com efeito, que eu gostaria de
aprender a crer. Por muito tempo não compreendi a profundidade deste
contraste. Pensei que pudesse aprender a ter fé, vivendo eu mesmo
algo como uma vida santa...
Mais
tarde eu experimentei e experimento até este momento que só vivendo
plenamente neste mundo aprendemos a crer. Quando desistimos
completamente de fazer algo importante de si mesmo, ou seja, ser um
santo ou um pecador convertido ou um eclesiástico, um justo ou um
injusto, um doente ou são.
Viver
plenamente neste mundo significa viver na plenitude das tarefas, dos
problemas, dos sucessos e fracassos, das experiências e
perplexidades, assim nos lançamos completamente nos braços de Deus,
e não mais levamos tão a sério os nossos próprios sofrimentos,
mas levamos a sério o sofrimento de Deus no mundo, e então vigiamos
com Cristo no Getsemane, e penso que isto é fé, isto é
arrependimento. Assim nos tornamos cristãos e homens. Quem se
tornaria arrogante com os sucessos ou desanimado com os fracassos,
tendo uma vida assim, participando dos sofrimentos de Deus?
Creio
que entendes o que quero dizer, mesmo que o diga assim em poucas
palavras. Sou muito grato por ter podido descobrir isso e sei que só
o pude mesmo reconhecer no caminho que tive de andar. Por isso
lembro com gratidão e em paz do que passou e permaneço assim no
presente...
Deus
nos guie com sua bondade através dessa época, mas acima de tudo
Deus nos guie até a sua presença.
Carta
escrita por Dietrich Bonhoeffer no presídio de Tegel (Berlim) para
Eberhard Bethge em 21/07/1944.
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