sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

PANOS DE HONRA


Estive ocupado em tarefas domésticas e, enquanto as desenvolvia, algumas migalhas de lembranças começaram a se intrometer em minhas ideias. Deixei-as germinar. Lembrei um estudo que ouvi quando ainda seminarista no qual uma mestra atualizava a figuração paulina dos diversos vasos que servem de utensílios em uma casa: vasos de honra e vasos de desonra (o texto seria Rm 9:20-21). Na atualização proposta, em vez de se referir aos vasos ela se referiu aos diversos panos de uma casa.
Assim, mesmo não conseguindo reunir mais que fragmentos das lembranças, ou já nem podendo diferenciar entre lembranças e elaboração posterior (nem o nome da professora eu tenho mais certeza, daí, para evitar imprecisão, devo propositadamente omitir), vou tentar compartilhar algo sobre panos de honra.
O texto bíblico diz: "Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?". Quem decide para qual objetivo cada vaso será utilizado é o oleiro – ou a dona da casa.
Da mesma forma, em qualquer casa ainda hoje há diversos panos confeccionados para distintas utilizações. Todo enxoval de uma casa deve conter panos de uso comum ou apenas pessoal: toalhas, lençóis, panos de prato, flanelas, panos de chão, colchas, guardanapos, fronhas e por aí vai...
Além das visíveis diferenças de tamanho e proporção, os distintos usos dos panos de uma casa nos ajudam a compreender melhor os ensinamentos bíblicos. E para não precisar citar todos tipos e usos, podemos tomar apenas dois como exemplo: há panos de prato e panos de chão.
Então, atentando para este dois panos em casa, tiremos lições.
Primeiro. Em geral a matéria prima é a mesma: algodão. Do mesmo algodão, é possível fazer diversos tipos de panos – e mais roupas delicadas ou grosseiras e outras tantas aplicações. Mas note, já na confecção de cada tecido, mesmo a partir de um mesmo algodão, o pano de prato e o de chão são diferenciados: a delicadeza da trama dos tecidos e os detalhes de acabamento sugerem qual destinação cada um terá.
O texto bíblico aqui quer enfatizar a soberania de Deus em fazer e escolher tudo e todos a partir de sua vontade absoluta. Deus escolhe fazer um pano mais fino e outro mais rústico, e ninguém tem nem o direito nem a prerrogativa de questioná-lo. Fomos feitos por Deus para sermos exatamente conforme a sua vontade.
No nosso caso, a Palavra do Tecelão nos garante que fomos criados para a glória de Deus (leia a constatação profética em Is 43:7). Deus nos teceu caprichada e cuidadosamente, cheio de amor e boa vontade, para sermos panos de honra e assim habitarmos em lugar de destaque em sua casa e o exaltarmos em sua glória.
Segundo. Mesmo sendo feitos para a honra, o desgaste e as intempéries da vida e do uso acabam por indicar à dona da casa que um tecido de origem mais nobre deve ser desonrado e rebaixado à condição de pano de chão. E o que tinha sido criado para ser uma toalha ou uma colcha agora é retalhado para servir como pano de chão e passe a cumprir tal papel.
É fácil fazer a associação com o sal que para nada mais presta e só lhe resta o destino de ser pisado pelos homens (Jesus usou esta ilustração em Mt 5:13). Assim, o pano é rebaixado às funções desonrosas de limpar chão de banheiro ou de outras imundícies quaisquer numa casa, conforme o uso e a necessidade da própria dona de casa.
E novamente olhando para o nosso caso, mesmo vivendo no mais desonroso que um ser humano possa chegar, o milagre pode acontecer (considere a parábola do filho pródigo em Lc 15). A dona de casa – na parábola, o Pai – pode nos receber de volta em casa e devolver à situação de honra que perdemos e nos restaurar à destinação para o qual fomos criados.
Deus nos criou para sermos panos de honra. O pecado nos despiu e envergonhou, condenando-nos ao chão e à desonra. Mas o próprio Senhor, por sua misericórdia e poder sempre está disposto a manifestar sua graça sobre nós devolvendo a honra de vivermos para sua glória.


Nenhum comentário:

Postar um comentário