sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

SAUDADE – um hino antigo


Escrevi recentemente algo sobre a nossa palavra saudade (reveja aqui - link) e a curiosidade me atiçou quando lembrei que há um hino tradicional que diz logo na primeira estrofe: … eu tenho de Jesus saudade ... Se a expressão é apenas portuguesa, como foi parar em um hino americano?
Fui atrás. Aqui vai algo do que achei. E no fim vou aproveitar o tema para pensar um pouco – eu gosto disso!
O hino que consta de alguns de nossos mais antigos hinários evangélicos brasileiros (nº 484 CC / 592 SH / 453 HE / 340 HA entre outros) surgiu como uma composição popular de Stephen Collins Foster em 1851 intitulada “Old Folks at Home” que cantava a lembrança do Rio Swanee. Mais tarde Fanny J. Crosby escreveu um poema intitulado “The Homeland Shore” (em 1890), onde o anseio é sobre o mundo porvir. Daí, com um arranjo de Ira David Sanke, o hino passou a ser cantado nas igrejas americanas.
No Brasil, a música chegou através do trabalho de tradução do missionário metodista Justus Henry Nelson em 1891 que entendeu o anseio como saudade. E assim passamos a cantar: qual filho, de seu lar saudoso, eu quero ir.
Quanto ao uso sacro de um tema popular, ou folclórico, não vou entrar aqui na discussão porque penso trazer pouca contribuição que agregue valor à reflexão. Tem gente que transita bem por essa trilha – e ainda cita Lutero e Bach. Mas também tem outros que acham inapropriado ou profanação do culto. Argumentos não faltam e acho que nunca chegaremos a um consenso mínimo.
O certo é que a melodia se tornou tradicional e, mesmo alguns se recusando a cantá-la (como Rolando de Nassau), sua letra já faz parte das nossas mais antigas lembranças e ainda embalam nossa fé e esperança. Cantamos que os terrestres esplendores são passageiros e insuficientes e que ansiamos para o céu voar (Hb 13:14 diz algo assim e Ap 21 fala do dia do encontro).
Quando o assunto é um anseio melancólico ou nostalgia de uma pessoa, lugar ou coisa que está longe, seja no espaço ou no tempo – uma sonoridade vaga e sonhadora por fenômenos que nem mesmo podem existir na terra natal (lembra-se da citação da BBC?), então só as velhas canções conseguem exprimir a saudade que nos inunda.
Quanto a nós, tal anseio melancólico que mais fundo nos toca como cristãos é o desejo de estar para sempre e novamente com o amado. Dele tenho saudade sim. E só em português consigo dizer isso. Então a velha melodia que entoo desde a minha infância me ajuda a continuar confiando, pois não tenho nenhuma dúvida: Jesus me deu fiel promessa, vem me buscar, e mais: sua vinda ao mundo é certa, embora, quando, não o sei.
As velhas canções têm esse poder e fascínio: realimentam a saudade e inspiram a esperança.
Sim, eu tenho saudade de Cristo! E por enquanto, essa melancolia e nostalgia saudosa é o que me faz suspirar pelo porvir e ainda deixa um gosto ausente na alma. E não sei se é uma questão de lugar ou coisa, espaço ou tempo, mas é inegável que falta a esta existência de agora algo que a complete, que a faça fazer sentido, que preencha de tudo o nada que se agiganta a cada momento.
Quando será que vou?

2 comentários:

  1. Pr. Jabes Filho como sempre muito bem direcionado ao escrever suas postagens em Escrevinhando. O nome Fanny J. Crosby me traz singelas lembranças na notória beleza de seus escritos, enfim de suas necessárias contribuições a poética de nossa rica honódia.

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    1. Que bom que você escreveu. Isso só acrescenta a todos nós. Escreva sempre.
      Realmente Fanny J. Crosby com a sua poesia contribuiu muito para enriquecer nossa fé e história com beleza e devoção.
      Abr

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