Já tendo analisado quase toda a obra Vida em Comunhão (reveja a parte 1, a parte 2, e a parte 3 dessa resenha), chegamos a quarta e última parte dessa resenha, onde vamos observar as considerações de Bonhoeffer sobre a confissão e a santa ceia – expressões complementares da vida em comunhão cristã.
Parte-se da constatação de que todo ser humano traz em si a essência do mal. O homem natural – numa linguagem calvinista – é um decaído. Esse mal que habita homens e mulheres, por fim isola-os e os conduz a ruína. E pior, “quem fica sozinho com o seu mal, fica totalmente só”.
Para resolver este problema, somente a graça divina expressa em Jesus. Aqui reconheço este tema central na teologia de Dietrich Bonhoeffer: Jesus Cristo encarnado, crucificado e ressurreto é a razão de ser da Igreja, seu modelo e sua realização.
Sendo assim, a confissão de pecados que deve ser dirigida a Cristo, pois somente ele enquanto divino perdoa pecados, tem que ser expressa na comunidade fraterna e cristã, lugar onde se manifesta neste tempo presente a graça salvadora de Cristo para este mundo, “assim o chamado à confissão e à absolvição fraterna dentro da comunhão cristã é conclamação à grande graça de Deus na comunidade”.
É a cruz de Cristo a garantia da vitória do projeto cristão sobre qualquer projeto que este mundo possa apresentar; por isto, que o cristão deve se espelhar nela para a sua verdadeira humanização. E todo este projeto da cruz passa para a igreja através da confissão. Nas palavras Bonhoeffer:
Na confissão acontece o irrompimento para a cruz. A raiz de todo pecado é a soberba. Quero viver para mim mesmo, tenho direito a mim mesmo, a meu ódio e minha cobiça, minha vida e minha morte. Mente e carne da pessoa estão inflamadas de soberba, pois justamente em seu mal a pessoa quer ser igual a Deus. A confissão a um irmão é a mais profunda humilhação; machuca, torna-o pequeno, abate a soberba horrivelmente.
Esta humilhação, Bonhoeffer compara à de Jesus, fazendo o sacrifício dele relevante para nós:
Foi o próprio Jesus Cristo que sofreu publicamente em nosso lugar a morte-vergonha do pecador. Não se envergonhou de ser crucificado como malfeitor. E não é nada mais que a comunhão com Jesus Cristo que nos conduz à morte vergonhosa da confissão, para que de fato tenhamos comunhão na cruz de Cristo. Essa cruz destrói toda a soberba. Não encontraremos a cruz de Cristo se não formos até onde ela pode ser encontrada, a saber, na morte pública do pecador.
E finalmente Bonhoeffer nos conduz à conclusão de que “se esta ordem se aplica a cada culto, a cada oração, quanto mais valerá para a celebração da Santa Ceia”.
Na celebração eucarística cristã está depositada toda a experiência litúrgica que faz com que a vida do cristão seja relevante neste mundo moderno. A liturgia em comunhão atinge seu alvo. “A vida em comunhão dos cristãos sob a Palavra atinge seu alvo no sacramento”.
Para conhecer um pouco mais sobre Dietrich Bonhoeffer, sugiro ainda as seguintes leituras:
§ Bonhoeffer - teólogo e pastor – link
§ Bonhoeffer e a andoração brasileira – link
§ Vida em Comunhão - a esperência de Finkenwalde – link
§ Bonhoeffer e a graça preciosa – link
§ Bonhoeffer: liturgia e comunhão – link
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