Há o mundo, a terra, o universo. Eles estão aí. São reais. Existem. Meus sentidos podem perceber. E assim como os espaços e coisas, também o tempo com sua flecha, do passado para o futuro.
— Mas, como tudo isso começo? Qual sua origem?
A Bíblia, com convicção reverente, afirma categoricamente que em princípio, foi Deus quem criou tanto os céus quanto a terra (Gn 1:1). E partindo daí tudo é desdobramento dessa verdade inicial.
Do ponto de vista teológico e filosófico, entendo que quem melhor apresentou uma interpretação para a realidade existente – coisas e tempo – foi Agostinho de Hipona (recomendo a leitura).
Mas os seres humanos, ao longo de suas trajetórias, tentaram oferecer respostas para esse começo. Veja algumas de forma resumida:
Os gregos antigos diziam que no início só havia o Caos vivendo nas trevas, no nada, então ele resolveu criar Gaia, Eros, Nyx e Tártaro. Gaia, por sua vez, criou Urano e eles geraram os primeiros deuses. E daí vieram os humanos.
Na Mesopotâmia eles criam que tudo começou com Apsu e Tiamat que deram origem aos outros deuses. Um dia, num ataque de fúria, Apsu quis matar seus filhos, mas em um contra-ataque Enki – um dos filhos – matou Apsu e do seu corpo morto criou a terra e o céu.
A crença entre os egípcios era de que tudo começou quando Atum, o primeiro deus, surgiu do Num, o caos aquático primordial, e expeliu Shu e Tefnut que, por sua vez, procriaram gerando Osíris, Isis, Seth e Néftis. Outra variante do mito afirmava que das águas do Num emergiu uma ilha e ali as divindades masculinas colocaram suas sementes sobre a flor de lótus e a fecundaram. A flor então se fechou durante a noite e quando se abriu de manhã dela saiu o deus Rá na forma de um menino que criou o mundo.
De acordo com a antiga mitologia chinesa Panku, também conhecido como Hoen-Tsin, que representa o caos primordial, cresceu 30 quilômetros por dia durante 11.500 anos e das pequenas criaturas em seu corpo, carregadas pelo vento, nasceram os seres humanos e animais espalhados pelo mundo.
Na cosmogonia guarani tudo que existe nasceu e foi nomeado a partir de um som produzido no mundo superior, o Espírito-Música, o Grande Som Primeiro, esse som desdobrou-se em formas que seriam pais e mães de seus filhos, as palavras-almas.
A mitologia nórdica acreditava que a terra fazia parte de um disco cósmico junto a outros reinos. Asgard, terra dos deuses, Jotunheim, terra dos gigantes, e Niflheim, a terra dos mortos governadas por Hela. Porém, de modo geral, não se indica com detalhes como tudo surgiu.
E hoje, as ciências em suas fronteiras, como a física quântica e a cosmologia, também buscam respostas. Elas falam sobre coisas como o big bang, probabilidades e singularidades. E procuram respostas sobre o como aconteceu e acontece (esse é o ofício deles).
Mas algumas perguntas ainda assustam: por que existe algo e não apenas o nada? Qual o sentido final do cosmo?
E como sei que há complexidades entrelaçadas nessas questões, vou apenas buscar resposta na beleza poética do salmista:
Enquanto me encanto com o firmamento, arte
dos teus dedos,
a lua e a estrelas que desenhaste,
eu me questiono: que há na humanidade
para que possas lhe dar atenção?
E em um indivíduo para que te importes?
Porém a verdade é que os fizeste apenas pouco
aquém da divindade,
e de glória e honra os adornaste.
(Salmo 8)
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