sexta-feira, 31 de maio de 2019

JESUS É O MODELO DE FAMÍLIA


O mês de maio é tradicionalmente denominado como o Mês da Família. Então, também é costume, durante este mês de maio, refletir sobre questões relacionadas às nossas famílias, buscando encontrar modelos bíblicos que nos servissem de paradigmas para nossas vidas diárias.
Hoje, neste último dia do mês e crendo ser a igreja compreendida como uma família em Deus, quero partir da instrução paulina para refletir: “sede imitadores de Cristo como filhos amados” (Ef 5:1).
Sendo a igreja uma família, Jesus Cristo é o nosso modelo; e é deste modelo filial que busco ouvir as palavras: depois de ter multiplicado pães e peixes, e enquanto apresentava à multidão a sua missão, Jesus disse explicitamente: “eu desci (…) para fazer a vontade daquele que me enviou” (Jo 6:38).
O próprio Jesus esteve entre os homens com a intenção exclusiva de cumprir aquilo que lhe foi atribuído pelo Pai que lhe enviou; e nós que queremos seguir o seu modelo devemos conduzir a nossa vida para que ela seja também exclusivamente um cumprimento da vontade do Pai.
Tudo o que somos e queremos deve sucumbir ante a vontade soberana de Deus que deve imperar em nossa vida.
Adiante, na sua Oração Sacerdotal (Jo 17), Jesus foi além quando se apresentou como modelo daquilo que espera que façamos. Ele falou sobre a missão dos discípulos, falou da santidade que se deve ter mas apresentou o objetivo disto tudo: “a fim de que sejam um; e com és tu, ó Pai, em mim e eu em ti” (verso 21).
Jesus rogou ao Pai que fôssemos iguais a ele: assim como há unidade entre Deus-Pai e Deus-Filho, deve haver unidade real entre nós – filhos – e nosso Pai celeste, e também entre nós mesmos. Esta é a vontade de Deus e este é o modelo proposto por Jesus para a igreja – família de Deus.
Tomemos o modelo de Jesus como nosso padrão. Assim seremos uma família segundo a vontade do Pai, para sua glória.


terça-feira, 28 de maio de 2019

PLÍNIO E O CRISTIANISMO PRIMITIVO


Caio Plínio, conhecido como Plínio o jovem, foi um orador, poeta, jurista e político romano que viveu entre os séculos I e II da era cristã. Em 111 d.C. ele foi nomeado governador da Bitínia (atual Turquia). Chegando lá, teve de lidar com diversas situações relativas à população e a administração, entre eles estava um grupo até então desconhecido para ele e que eram conhecidos como cristãos. Foi então que ele resolveu escrever para o imperador Trajano expondo a situação, indicando as providências que havia tomado e pedindo apoio do Império.
Na carta, além reconhecer que verdadeiros cristãos nunca “veneravam vossa imagem e as estátuas dos deuses, amaldiçoando a Cristo”, Plínio assim descreveu as práticas e costumes cristãos, e o seu culto nos seguintes termos:


(…) quod essent soliti stato die ante lucem convenire, carmenque Christo quasi deo dicere secum invicem seque sacramento non in scelus aliquod obstringere, sed ne furta ne latrocinia ne adulteria committerent, ne fidem fallerent, ne depositum appellati abnegarent. Quibus peractis morem sibi discedendi fuisse rursusque coeundi ad capiendum cibum, promiscuum tamen et innoxiu.


(…) em reunir-se regularmente em certo dia antes do nascer do sol, entoar alternadamente entre os presentes um hino em honra de Cristo, como se de um deus se tratasse, e comprometer-se mediante juramento a não perpetuar alguns tipos de crimes, como se comenta, a não cometer furto nem roubo, nem adultério, a não faltar com a palavra dada e a não se negar a restituir um depósito quando chamados a pagar. Também manifestaram que, uma vez cumpridos esses ritos, tinham o costume de retirar-se e voltar a se reunir mais tarde para celebrar com comida, composta, ao contrário do que foi dito, de alimentos normais e inocentes.


Estas considerações do governador nos dizem basicamente duas coisas sobre a prática do culto cristão primitivo:
Uma – que o culto durante o período da igreja primitiva acontecia frequentemente nas primeiras horas do dia num “certo dia” (stato die), o que pode nos levar a interpretar como significando o domingo. E sempre era conduzido por cânticos de adoração a Cristo, considerando-o com verdadeiro Deus – sendo isso o que incomodou ao imperador e ao seu culto.
E outra – que as reuniões cristãs no primeiro século consistiam de celebrações em que se comia uma refeição completa em comum. Hoje entendemos que se tratava daquilo que denominamos de o partir do pão ou a Ceia do Senhor onde não apenas reavivam a memória do sacrifício de Cristo como comprimento da aliança e das profecias antigas e como a certeza das vindouras.

Observe que estas duas características do culto primitivo, mesmo representando ritos diferentes, mas deveriam ser compreendidas como compondo uma mesma estrutura de culto. Além do mais, os dois ritos em conjunto, como marcas do culto no período da igreja primitiva, indicavam que ela – a igreja – procurou destacar em sua celebração tanto as afirmações e anúncios contidos na Ceia do Senhor (como destacou Paulo na sua instrução em 1Co 11:26) quanto sua crença na divindade daquele a quem adoravam (Cl 1:15-20 e Hb 1:6).

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Doenças da alma - AUTISMO


Outra doença da alma que deve merecer atenção nessa nossa série de reflexões é o autismo. E antes que eu diga algo errado, deixe-me passar a palavra à APA – Associação Americana de Psiquiatria que identificou o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) como "um transtorno complexo do desenvolvimento que pode causar problemas com o pensamento, o sentimento, a linguagem e a capacidade de se relacionar com os outros".
Então aqui, nessa reflexão sobre o autismo, vou evitar o termo "doença da alma" e preferir "transtorno da alma". E nesse aspecto devo acrescentar que, embora diferente das moléstias com as quais temos nos deparado nesta série, por não se apresentar com infecções, rupturas ou danos físicos, o autismo precisa ser listado quando se aborda os males humanos.
Como a própria definição já indica, o autismo é um transtorno que faz o portador não desenvolver a capacidade de se relacionar adequadamente com as pessoas e o mundo que o cercam, tendo dificuldade até de falar e interagir. Além de que, é comum a incidência de movimentos estereotipados e repetitivos e certa deficiência mental.
Causas genéticas e fatores ambientais são citadas pelos estudiosos modernos como responsáveis pelo desenvolvimento do autismo e, sendo considerado um distúrbio crônico, não há tratamento padrão ou garantias de cura para este transtorno.
Indo além em nossa observação sobre o autismo da alma, ele é um transtorno do desenvolvimento grave que tem prejudicado a capacidade de muitos cristãos de se comunicarem e interagirem, tanto com o próximo e irmão e até com o Deus-Pai.
Algumas vezes, este transtorno passa despercebido na vida de muitos cristãos – estamos tão ocupados com a vida e a agenda eclesiástica que nem notamos os outros! Mas penso que a ocupação e correria da vida e agenda são apenas disfarces para o real problema: estamos acometidos de autismo espiritual.
Sei que transtornos como esse começam a se manifestar logo na infância, e se não tratados adequadamente podem se desenvolver em diversos graus de intensidade, dos mais leves com os quais com um pouco de cuidado é possível uma boa convivência, até mais graves que impossibilitam uma saudável interação cristã.
Há cristãos que na infância espiritual já manifestam este transtorno de desenvolvimento. Certamente eles terão dificuldade em desenvolver uma vida espiritual adequada que os faça interagir e se desenvolver em meio à comunidade e comunhão dos santos.
Mas quando os sintomas começam a aparecer, só há uma providência a ser tomada. Buscar a ajuda adequada do único terapeuta capaz de, não somente identificar o transtorno no seu nascedouro, como também promover o tratamento correto que possa mais que minimizar os efeitos, mas eliminá-lo por completo garantindo uma vida de relacionamentos espirituais saudáveis.
Jesus é o terapeuta. Só ele tem o domínio completo de todas as técnicas de cura para qualquer transtorno. E o seu tratamento é todo baseado no amor – mas não um amor-sentimento qualquer – o amor como somente ele é capaz de demonstrar.
Observe as caraterísticas do tratamento amoroso deste santo terapeuta. Em primeiro lugar ele é o único que tem amor suficiente para comprometer sua vida por um autista que não consegue devolver este amor (alinhe Jo 15:13 e Rm 5:7-8).
Sabe mais, a terapia amorosa promove realmente a cura completa de todo transtorno, tenha ele a origem que tiver, o alcance que tiver, as implicações e profundidade que tiver. Jesus, quando inicia o tratamento, o faz por completo – a cura é total e definitiva, pois ele vai até o fim (veja o que diz Jo 13:1).
E finalmente. Nada se compara à promessa de que, por mais estragada que esteja uma vida cristã e seus relacionamentos, Jesus fará novas todas as coisas, inclusive aquelas vidas que se fecharam transtornadas. É verdade, o TEA – Transtorno Espiritual do Autismo não mais causará dano (considere Rm 6:14 e principalmente a palavra divina escrita em Ap 21:5).


terça-feira, 21 de maio de 2019

UMA PRIMAZIA CRISTÃ - Bonhoeffer e a Graça preciosa


Em dois textos Dietrich Bonhoeffer (1906-1945) expõe seu conceito fundamental sobre aquilo que é realmente importante para o serviço litúrgico da igreja e para o cristão no mundo: Discipulado (publicado iniciantemente em 1937 – em alemão: Nachfolge) e Ética (obra que não chegou a ser concluída).
Inicialmente, preciso destacar que a percepção de Bonhoeffer vai além de apenas uma vida de devoção pessoal exclusiva, a vida litúrgica do cristão e da igreja no mundo deve partir do contato sagrado com o Jesus encarnado e crucificado para se transformar em ações concretas que façam diferença na sociedade.
Foi neste direcionamento ele escreveu sua teologia opondo dois conceitos a partir do tema da graça como peça fundamental do universo doutrinário cristão: a graça barata e a graça preciosa.
Por graça barata, Bonhoeffer entende como sendo aquele sentimento de relaxamento cristão por se acreditar que em se obter a graça divina isto nada implica na vida cotidiana do cristão. Afirma ainda que este tipo de concepção da graça é fruto de um culto do literalismo que prega um perdão sem arrependimento e um batismo sem disciplina. Esta graça não faz diferença na vida do cristão e, por isto mesmo, não faz nenhuma diferença na atuação da igreja no mundo.
Do outro lado está o conceito de graça preciosa, por ter custado a Deus a vida de seu Filho. Esta graça exige disciplina de um comprometimento exclusivo com a pessoa de Jesus Cristo. Ou seja, a vida litúrgica do cristão e da igreja tem que ser de um comprometimento ético disciplinado que indique o reflexo de um seguir a Jesus Cristo.
Para Bonhoeffer, este conceito de ética deveria ser a expressão exata de experiência de Cristo. Na vida do Jesus encarnado, crucificado e ressurreto está toda demonstração do engajamento cristão que se espera do discípulo.
Na ética do discipulado, que implica seguir a Jesus, está expresso também um dos conceitos mais caros para a teologia de Bonhoeffer: a relação entre o último e o penúltimo. O último é, e sempre deverá ser, o evento justificador da parte de Deus. A palavra justificadora de Deus jamais abandona sua posição de última palavra.
É no processo de justificação oriundo da graça de Deus que o ser humano atinge o seu fim último, fim este em relação ao qual tudo o mais se torna transitório e penúltimo. Daí que a liturgia disciplinada do cristão deve ser sempre na direção e na intenção do último através da concretização de penúltimos.
Nas palavras do próprio Bonhoeffer: Derradeiro e penúltimo estão intimamente ligados. Cabe aqui, pois, reforçar o penúltimo através de uma pregação mais enfática do derradeiro, bem como proteger o derradeiro através da preservação do penúltimo.
Mas, ainda refletindo na obra sobre o discipulado, depois de compreender sobre os conceitos de graça e suas implicações, Bonhoeffer apresenta um estudo sobre o Sermão da Montanha para compreender que a Comunhão dos Santos não é a comunhão ideal de pessoas isentas de pecado e perfeitas (…). Ao contrário, é a comunhão que se mostra digna do Evangelho do perdão.
Ou seja: A disciplina permeia toda a vida da Igreja. Nela existe uma ordem de sequência fundamentada no serviço da misericórdia. A origem de qualquer prática disciplinar é a pregação da Palavra de acordo com as duas chaves. Ela não se restringe à reunião litúrgica, porquanto o oficiante, em nenhuma circunstância, está licenciado de sua missão. “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta como toda longanimidade e doutrina.” (2 Tm 4.2) Esse é o início da disciplina eclesiástica.




sexta-feira, 17 de maio de 2019

HAVIA UMA GRANDE PEDRA


A família do Lázaro era muito próxima a Jesus. Sempre que o Mestre passava por Betânia, ele recebia acolhida naquela casa. Acontece que o texto de João 11 nos conta que Lázaro ficou doente e veio a falecer. Esta foi a situação que Jesus encontrou ao chegar naquela ocasião.
O texto diz que, ao ver isto, ele chorou e pediu para ver onde tinham colocado o corpo de Lázaro. Mas também é dito que havia uma grande pedra obstruindo a entrada da gruta onde jazia o morto.
Prontamente Jesus dá uma ordem: Tirem a pedra (Jo 11:39). Aqui começa a virada da história. Sob o poder divino a morte foi vencida. E embora deva crer que todos os elementos narrados como reais; posso compreendê-los de modo figurado para extrair lições para nossa vida.
Acompanhe comigo.
De um lado da pedra está morto um amigo de Jesus, do outro lado está Jesus com poder para ressuscitar. Ele então ordena que a pedra seja removida. Do mesmo modo, a pedra é aquilo que se coloca entre a minha história e a ação miraculosa de Deus. Mas o que seria esta pedra em minha vida hoje?
Posso apresentar três respostas:
(a) A pedra representa a preguiça e o comodismo que não me deixa agir e ainda bloqueia a ação divina – Pv 6:6 condena a atitude preguiçosa.
(b) A pedra também pode representar a incredulidade pois quem tem pouca fé não pode ver a manifestação do poder de Deus – Mt 8:26 questiona a falta de fé dos discípulos.
(c) A pedra ainda pode representar o pecado que impede Deus de agir com liberdade em minha vida – Is 59:1-2 diz claramente que são as iniquidades que separam o fiel de Deus.
Nesta vida passamos todos nós por problemas e privações e sempre há pedras que impedem a ação livre e soberana de Cristo em nossas vidas. Obedeçamos a Jesus e tiremos as pedras que estão entre nós e nosso Deus, e ele fará maravilhas em nosso meio.


quarta-feira, 15 de maio de 2019

A PINTURA DE JESUS


Geralmente eu primeiro escrevo os textos, releio o que escrevi para possíveis correções – reconheço que algumas vezes erros me escapam – e, depois, quando chega a hora de publicar aqui no Escrevinhando, é que vou procurar uma imagem que ilustrar um pouco a ideia do que foi escrito – ou simplesmente para não ficar “sem cor” a publicação!
Desta vez resolvi fazer o contrário. E a razão se justifica. Procurando outras coisas na internet, acabei por encontrar esta imagem aí (no sítio supercuriosos.com). Então resolvi partir da imagem para a reflexão.
Reconheço que a internet está bastante recheada de imagens e ilustrações das mais diversas sobre o tema. Depois de cruzar com esta, tirei um tempo e fui catar outras tantas – achei coisas interessantíssimas. Mas como foi ela que primeiro me chamou a atenção, quero tomá-la como ponto de partida aqui.
O artigo na página respectiva é intitulado de: “Essas são 5 das mais antigas pinturas de Jesus Cristo da história” e foi postada em março de 2018 (mas só vi agora). Ali, esta imagem é descrita como O Bom Pastoruma representação pouco habitual de Jesus Cristo, nesta pintura, Cristo aparece com um carneiro nos ombros – um símbolo das almas que ele salvou. Essa imagem foi encontrada nas Catacumbas de Calisto, em Roma, e acredita-se que tenha sido feita em meados do século 3.
Algumas observações a partir da própria descrição da imagem. Realmente, Jesus Cristo é o nosso Bom Pastor. Ele foi e é o centro de nossa fé. Representá-lo em imagens pode até ter um aspecto pedagógico, em especial contextualizando seus traços e ministério, e isso não é ruim. Mas sempre haverá um risco de descambar em idolatria. E mais:

(a) A representação é realmente pouco habitual. As imagens que se popularizaram, principalmente no Ocidente cristão, costumam mostrar um Jesus barbudo, sisudo, másculo, de feições pouco semitas. Aqui Jesus mais parece um garoto romano (também não semita!). De qualquer forma, não se tornou padrão.
(b) Por falar em estilização, no Oriente o que se tornou padrão foram os ícones de Jesus, chamados de Pantocrator – o Onipotente.
(c) Chamou a atenção também a figura do carneiro. Jesus foi apresentado por João Batista como o Cordeiro de Deus (figuração que o Apocalipse vai reaproveitar). Mas aqui ele é quem carrega o cordeiro. Acho que seria uma boa ilustração para Jo 10:11 e os Sl 23:1 e Sl 100:3.
(d) Sobre as almas que ele salvou, é bom notar que o tema da salvação como resultado da ação exclusiva de Cristo em manifestar sua graça já estava presente desde os primórdios da fé cristã.
(e) Embora eu reconheça as situações sociais e embates que levaram os primeiros cristãos a adorarem nas catacumbas, não deixa de ser significativo que foi lá entre os mortos que algumas das marcas mais duradouras da fé daqueles irmãos ficaram gravadas. Somente o verdadeiro cristianismo (está na moda chamar de raiz!) pode levar vida a um lugar onde jaz a morte.

Contudo, para mim, o principal que evoca olhar imagens com o essa é trazer um pouco mais de historicidade à minha fé e riqueza à minha herança cristã e cultural. Que o Bom Pastor nos faça fieis a ele pois sei ele nunca vai deixar que os lobos devorem seus carneiros.
SDG

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Doenças da Alma – VIROSES


Com certeza, essa situação é bem comum. Uma série de sintomas e mal-estar nos leva ao médico, e o doutor pronuncia seu diagnóstico: – É virose! E, para os ouvidos leigos, essa sentença se impõe com uma ambiguidade quase pior que a própria doença. – O que será que eu tenho!?
Antes que o mal cause estragos maiores, vamos entendê-lo. Por virose se diz de todo mal e doença causado por um vírus – minúsculos agentes infeciosos que invadem nossos corpos e trazem transtornos vários. Ou seja, virose não uma doença específica (por isso, no título usei o plural).
Em geral os sintomas físicos são febres, vômitos e diarreias – que é o corpo reagindo ao agente do mal e tentando expulsá-lo – dores espalhadas pelo corpo e falta de apetite. Nas viroses mais simples os sintomas costumam desaparecer em poucos dias, é que o próprio corpo ganhou a batalha contra os invasores.
Viroses também infectam nossa alma e causam sintomas espirituais. A febre, que é um calor doentio. Vômitos e diarreias, na tentativa de extirpar o mal espiritual. Dores, pois a alma já está sofrendo. Falta de apetite, quando a luta se torna mais complicada.
Então, para não ficar nestes diagnósticos generalizados, permita-me citar algumas mais comuns viroses da alma que podem acometer um cristão:
Sarampo – Os sintomas em geral são as manchas na pele (embora possa vir acompanhado de febre, dores, tosse e corrimento nasal). O sarampo mancha a alma do cristão e é transmitido pela saliva contaminada pelo vírus da malícia e maledicência.
Rubéola – É bem parecido com o sarampo, embora seu agente infeccioso seja diferente, com diagnóstico de manchas avermelhadas. O perigo maior é quando infecta grávidas, pois causa malformações no feto. O cristão doente de rubéola espiritual precisa de tratamento urgente para que não gere cristãos também deformados.
Catapora – Também conhecida como varicela. Apresenta como sintoma, além dos comuns a outras viroses, bolhas e caroços generalizados. Essa doença requer cuidados especiais por que costuma deixar sinais e imperfeições na alma que ficam como traumas e sequelas para a vida toda.
Dengue – E aqui faço acompanhar das suas irmãs: chikungunya e zica. Tida como doença tropical, a dengue infecta a alma e ali permanece em período de incubação, quando não apresenta sintomas, até que finalmente expõe todo o seu mal. Geralmente debilita o cristão, incapacitando-o para seu trabalho santo, e algumas vezes termina em morte espiritual.
Caxumba – Ou papeira. Visivelmente a marca mais característica é o inchaço das glândulas da saliva (no pescoço) o que implica na dificuldade de ingerir o sólido alimento espiritual. Se não tratada pode levar inclusive à surdez espiritual, mal que vai comprometer a boa saúde da alma, e à infertilidade.
Varíola – Essa está entre as mais antigas moléstias conhecidas da humanidade, porém hoje a doença é tida como erradicada. Ela trazia como sintomas o aparecimento fístulas que são caroços que deformam completamente o corpo. Todo mal que deforma nossa alma também deve ser erradicado.
Raiva – Virose que ataca o sistema nervoso central provocando sintomas como confusão mental, agressividade, alucinações, paralisia motora e salivação excessiva entre outros. Ela é transmitida no contato com animais infectados. Na alma, esta doença causada pelo contato com bestas espirituais raivosas, provoca toda espécie de transtorno, destruindo o sistema espiritual central e levando fatalmente à morte.
Estas são apenas algumas viroses (sei que há outras que também infectam nossa alma). Mas em todo caso o importante é a prevenção que se dá, na maioria dos casos, através de vacinação apropriada e principalmente com a adoção de medidas de higiene e alimentação adequada.
Veja o que o Médico recomenda como medida de prevenção à qualquer virose:
Tomem a santa e correta vacina divina que os fará resistir ao diabo, mantenha-a em dia. Cuidem da higiene espiritual: limpem as mãos e purifiquem seus corações (leia a profilaxia completa em Tg 4:7-10).


terça-feira, 7 de maio de 2019

NOS ÚLTIMOS DIAS



No texto de 2Tm 3:1-5, o apóstolo Paulo lista uma série de características que dominarão os seres humanos e as sociedades nos últimos dias, dias que o próprio texto bíblico chama de tempos terríveis (em grego: καιροί χαλεποί). Veja a relação a seguir e, sem nenhum alarmismo escatológico, perceba como ele está descrevendo a nossa cultura e momento.

# Egoístas – φίλαυτος (única vez no NT) – amante de si mesmo, egocêntrico. Uma sociedade que considera o eu, o self e a própria imagem em primeiro lugar.
# Avarentos – φιλάργυρος (também em Lc 16:14) – amante do dinheiro, dos bens, das coisas. Quando o ter vale mais que o ser.
# Presunçosos – ἀλαζών (também em Rm 1:30) – pedante, alguém que fica falando de suas próprias realizações. Vive-se das exposições em redes sociais.
# Arrogantes – ὑπερήφανος (mais outras quatro vezes no NT) – altivo, orgulhoso. Alguém que se julga e a seus pares superiores aos outros.
# Blasfemos – βλάσφημος (mais outras três vezes no NT) – caluniador, mentiroso. A valorização e irresponsabilidade em espalhar fake news.
# Desobediente aos pais – γονεῦσιν ἀπειθής (mais cinco vezes no NT) – alguém que não segue as instruções dos pais, hesitante. Uma sociedade que não considera os valores herdados, mais que busca o novo pelo novo.
# Ingratos – ἀχάριστος (também em Lc 6:35) – não grato, mal agradecido. Um tempo onde a graça é escassa.
# Ímpios – ἀνόσιος (também em 1Tm 1:9) – irreverente, profano, não devoto. Já não se reconhece valores ou decretos divinos a serem respeitados.
# Sem amor pela família – ἄστοργος (também em Rm 1:31) – sem afeição, frio, duro, destituído de amor por aqueles que naturalmente o exigem. Isolamento social e falta de busca pelo contato a conchego sincero e familiar.
# Irreconciliáveis – ἄσπονδος (também em Rm 1:31) – implacável, alguém cuja hostilidade não lhe permite trégua. A dominação das batalhas e disputas virtuais e sociais,
# Caluniadores – διάβολος (mais outras 36 vezes no NT, tanto no sentido adjetivo como aqui, como indicando o nome do Acusador: Diabo) – acusador, aquele que promove intriga na esperança de conseguir algum benefício. A culpa é sempre do outro.
# Sem domínio próprio – ἀκρατής (única vez no NT) – incontinente, sem autocontrole, dissoluto, estourado. Uma sociedade que não quer reconhecer seus próprios limites.
# Crueis – ἀνήμερος (única vez no NT) – incivilizado, selvagem, bárbaro, brutal, briguento. A lei da força sobre a razão e bom senso.
# Inimigos do bem – ἀφιλάγαθος (única vez no NT) – alguém que não ama o bem, que prefere o mal. Os valores estão trocados na sociedade.
# Traidores – προδότης (também em Lc 6:16 e At 7:52) – alguém que trai o seu país ou que não cumpre com seu juramento ou palavra. A honra e verdade perderam importância.
# Precipitados – προπετής (também em At 19:36) – atrevido, imprudente, alguém que age sem pensar nas consequências. A valorização do aqui, rápido e urgente em detrimento do perene e eterno.
# Soberbos – τετυφωμένος, particípio perfeito passivo de τυφόομαι (também em 1Tm 3:6 e 6:4) – orgulhar-se, exaltar-se, encher-se com fumaça. Uma sociedade sem consistência em seus reais valores.
# Mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus – φιλήδονος μᾶλλον φιλόθεος (ambos os substantivos só aparecem aqui no NT) – alguém que prefere os prazeres mais que de Deus. Sobressai a cultura da satisfação e do prazer sobre a obediência e amor a Deus.
# Tendo aparência de piedade – ἔχοντες μόρφωσιν εὐσεβείας (a expressão completa só aparece aqui, o termo isolado para ‘aparência’ também em Rm 2:20) – alguém com reverência ou piedade aparente, apenas na forma mas sem conteúdo. O cinismo da hipocrisia do politicamente correto que disfarça um coração e atitude preconceituosa e vil.
# Mas negando-se ao poder – τὴν δὲ δύναμιν αὐτῆς ἠρνημένος – aqui, particípio perfeito médio de ἀρνέομαι (como verbo ou particípio, também aparece outras 31 vezes no NT) – alguém que se dispõe a pôr em prática uma mentira, uma negação prática. Anarquia prática, quando as regras básicas de autoridade são desconsideradas.

Diante disso tudo, a ordem é direta: Afaste-se desses também. Aqui não é nosso lugar.


sexta-feira, 3 de maio de 2019

SOB A PERSPECTIVA PROFÉTICA


O centro do culto no AT era o sistema de sacrifícios e holocaustos; através dos seus rituais os seres humanos se tornavam aptos para comparecerem na assembleia, diante de Deus, tinham seus pecados perdoados, sua adoração aceita e orações respondidas.
Era na imolação de animais que o adorador encontrava refúgio no Senhor, e este se lhe tornava favorável (veja o caso do altar construído por Davi na eira de Araúna em 2Sm 24:25).
Mas aquilo que era para ser instrumento tornou-se um fim em si mesmo, e o rito passou a ocupar – ele mesmo – a finalidade da adoração.
É neste contexto que Deus veio através do profeta recolocar as coisas nos seus devidos lugares. Primeiramente Oseias apresentou a proposta do Senhor: o centro do culto e da adoração não está no ritual ou na forma em que ele se desenrola e sim na atitude do coração com que o adorador se achega ao altar (leia Os 6:6. Jesus vai afirmar que o Reino de Deus deve estar dentro do adorador – Lc 17:21).
No oráculo profético está a advertência contra aqueles que se confiavam no fato de os ritos continuarem sendo ministrados, para poderem viver suas vidas de maneira irresponsável perante a Lei.
Deus diz através de Oseias que seu desejo é realmente que seus fieis o conheçam e mantenham um coração misericordioso. Tendo primeiro estabelecido estes princípios, então os ritos poderiam ser executados e aceitos perante o Senhor.
Para entender melhor a extensão desta palavra de Oseias, deixe-me fazer uma leitura de outro profeta. Amós é mais duro e incisivo em suas críticas à religiosidade ritual e superficial:
Eu odeio e desprezo as suas festas religiosas; não suporto as suas assembleias solenes. Mesmo que vocês me tragam holocaustos e ofertas de cereal, isso não me agradará. Mesmo que me tragam as melhores ofertas de comunhão, não lhes darei a menor atenção. Afastem de mim o som de suas canções e a música das suas liras. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene!”
(Am 5:21-24).
Neste texto de Amós, Deus está dizendo que cansou – está farto – das celebrações, festividades e cultos apresentados pelos filhos de Israel.
O culto em si, por melhor que seja e se apresente, não era garantia de ser aceito pelo Senhor. Pelo contrário, um culto que não expressasse a vida do adorador diante do altar chegava a irritar a Deus!
Não era que o culto estava ritualmente errado, ou a forma e a liturgia do culto precisasse ser reavaliada, ou melhor trabalhada. Numa interpretação em linguagem mais livre, é como se Deus dissesse:
Vocês entenderam tudo errado!
A palavra profética ao avaliar o culto israelita não ia em direção a análise da forma, do estilo, do que poderia ou não ser oferecido como elemento sacrificado. O profeta trouxe e expôs a necessidade de haver coerência entre o culto apresentado ao Senhor e a vida de ética pessoal e responsabilidade social.
O mesmo Deus que instituiu as leis referentes ao culto e sua forma é quem exigia amor ao próximo e conduta reta e santa como prerrogativas do culto.