terça-feira, 28 de maio de 2019

PLÍNIO E O CRISTIANISMO PRIMITIVO


Caio Plínio, conhecido como Plínio o jovem, foi um orador, poeta, jurista e político romano que viveu entre os séculos I e II da era cristã. Em 111 d.C. ele foi nomeado governador da Bitínia (atual Turquia). Chegando lá, teve de lidar com diversas situações relativas à população e a administração, entre eles estava um grupo até então desconhecido para ele e que eram conhecidos como cristãos. Foi então que ele resolveu escrever para o imperador Trajano expondo a situação, indicando as providências que havia tomado e pedindo apoio do Império.
Na carta, além reconhecer que verdadeiros cristãos nunca “veneravam vossa imagem e as estátuas dos deuses, amaldiçoando a Cristo”, Plínio assim descreveu as práticas e costumes cristãos, e o seu culto nos seguintes termos:


(…) quod essent soliti stato die ante lucem convenire, carmenque Christo quasi deo dicere secum invicem seque sacramento non in scelus aliquod obstringere, sed ne furta ne latrocinia ne adulteria committerent, ne fidem fallerent, ne depositum appellati abnegarent. Quibus peractis morem sibi discedendi fuisse rursusque coeundi ad capiendum cibum, promiscuum tamen et innoxiu.


(…) em reunir-se regularmente em certo dia antes do nascer do sol, entoar alternadamente entre os presentes um hino em honra de Cristo, como se de um deus se tratasse, e comprometer-se mediante juramento a não perpetuar alguns tipos de crimes, como se comenta, a não cometer furto nem roubo, nem adultério, a não faltar com a palavra dada e a não se negar a restituir um depósito quando chamados a pagar. Também manifestaram que, uma vez cumpridos esses ritos, tinham o costume de retirar-se e voltar a se reunir mais tarde para celebrar com comida, composta, ao contrário do que foi dito, de alimentos normais e inocentes.


Estas considerações do governador nos dizem basicamente duas coisas sobre a prática do culto cristão primitivo:
Uma – que o culto durante o período da igreja primitiva acontecia frequentemente nas primeiras horas do dia num “certo dia” (stato die), o que pode nos levar a interpretar como significando o domingo. E sempre era conduzido por cânticos de adoração a Cristo, considerando-o com verdadeiro Deus – sendo isso o que incomodou ao imperador e ao seu culto.
E outra – que as reuniões cristãs no primeiro século consistiam de celebrações em que se comia uma refeição completa em comum. Hoje entendemos que se tratava daquilo que denominamos de o partir do pão ou a Ceia do Senhor onde não apenas reavivam a memória do sacrifício de Cristo como comprimento da aliança e das profecias antigas e como a certeza das vindouras.

Observe que estas duas características do culto primitivo, mesmo representando ritos diferentes, mas deveriam ser compreendidas como compondo uma mesma estrutura de culto. Além do mais, os dois ritos em conjunto, como marcas do culto no período da igreja primitiva, indicavam que ela – a igreja – procurou destacar em sua celebração tanto as afirmações e anúncios contidos na Ceia do Senhor (como destacou Paulo na sua instrução em 1Co 11:26) quanto sua crença na divindade daquele a quem adoravam (Cl 1:15-20 e Hb 1:6).

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